Discurso durante a 175ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Presidente Lula e a seu Governo.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas ao Presidente Lula e a seu Governo.
Publicação
Publicação no DSF de 10/10/2007 - Página 34606
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, GOVERNO, TENTATIVA, APROVAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), DESVIO, DESTINAÇÃO, VERBA, SAUDE, AGRAVAÇÃO, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, SAUDE PUBLICA, INSUFICIENCIA, SALARIO, MEDICO, EXCESSO, TAXAS, TRIBUTOS, AUMENTO, ONUS, POPULAÇÃO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que preside esta sessão, Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros que aqui estão e que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado: 1º de outubro. Senador Paulo Paim, V. Exª me diz que o dia 1º de outubro é um dia de homenagem aos aposentados - houve, inclusive, aquela solenidade bonita liderada por V. Exª -, mas eu perguntaria ao País: como vão os nossos aposentados?

Paim, triste do país que não respeita seus aposentados. Juscelino, que fez isso tudo, disse que a velhice é triste e que, desamparada, é uma desgraça.

Os nossos aposentados aí estão, e pior, Paim. Heráclito, enganaram os nossos velhinhos. Sibá, não sei aonde a mentira vai nos levar. Heráclito, lembro-me que, nas eleições, foram ao nosso Piauí, onde nasci; Luiz Inácio tomou banho, disse que ia terminar o porto iniciado por Epitácio Pessoa. Sibá, nem uma pedra. Levou também, não vou dizer que ele é velhinho, o Alberto Silva, que tem uma mente jovem e tal, muito amante, eu acho que ele ficou tão envergonhado, Heráclito, que nunca mais foi a Parnaíba. Vi, minha gente, Luiz Inácio pegar o nosso Alberto Silva e dizer que ia botar os trens para funcionar. O Alberto Silva é aquele engenheiro ferroviário, Sibá. Foi o primeiro emprego dele: engenheiro de estrada de ferro. Vi adentrar, Heráclito, trazendo a primeira locomotiva de óleo no Piauí. Aí o Luiz Inácio disse que ia botar, Heráclito, os trens para funcionar. Juntou o Prefeito do PT, de Parnaíba, o Governador do PT, o Luiz Inácio, nosso Alberto Silva. Heráclito, eu vi o trem quando era menino, e até eu, que era candidato, quase voto nesses bichos, porque mentiram com tanta fidelidade... E eu me lembrava quando era criança, indo para a praia de trem, na maria-fumaça. E levaram os votos todos do Piauí, da Parnaíba.

Heráclito Fortes, eles inventaram um negócio de aeroporto internacional. Agora chegou um aviãozinho, ô Heráclito, pode ir lá, mas não tem nada com o Governo. Foi o empresário Abdon Teixeira, empresário de muito êxito do Rio de Janeiro, que tem uma indústria de produtos de limpeza, tem firma no Paraná, que botou uma dessas linhas mamárias. Eu e o Heráclito tínhamos conseguido a OceanAir, mas acontece que o PT não pagou as passagens, e eles tiraram. Cinco anos sem avião nacional, Heráclito; agora, esse empresário botou, mas o trem do Luiz Inácio... O Alberto Silva não foi mais lá, na Parnaíba. Heráclito, não trocaram nem um dormente. Dormente, Sibá, é aquele pau para segurar os ferros do trilho. E assim foi.

E os velhinhos, Heráclito? Eu fui a duas procissões na minha cidade. Ô Paim, você deve estar entristecido. No meu tempo de rapaz, tinha muito cabaré - e era no País todo -, e não sou contra nem a favor, acho que era até cultural: se aprendia a dançar. Isso são coisas da vida. Agora não tem, não, Heráclito. Sabe o que tem agora? É financeira. Tem mais que motel. Tem mais do que motel no Piauí. Meu grande Delcídio Amaral, financeira. Qualquer bodeguinha não é mais. Antigamente tinha farmácia, agora é financeira, para emprestar, enganar os velhinhos com dinheiro emprestado. E os velhinhos, não deram óculos, se atrapalham e está tudo chorando; tem velhinho suicidando-se, são honrados, são corretos, são decentes. Tinham um orçamento, Paim. Aí, eles chegam e dizem: “Eu ganhava salário, agora me tiram R$120, R$150, R$160... Enganaram os velhinhos, Paim, e eles estão desequilibrados.

Luiz Inácio disse que não gosta de ler, não gosta de estudar... Ô Delcídio, ele disse que ler uma página de um livro dá uma canseira. Mas ele foi verdadeiro quando disse agora que ele gosta mesmo é de ver novela. Na certa, Serys, ele ficou encantado com aquela última, a Bebel, não é? Mas falou a verdade, merece... Ô Sibá, V. Exª está lendo muito. Eu lhe mandei até um livro do Carlos Lacerda, e o portador deve estar me ouvindo, é o Francisco Soares. Ele é metido com essas ONGs, mas eu acho que ele está com raiva do Heráclito e não lhe entregou o livro. Mas eu quero lhe dizer, Sibá, que eu já li uns cinqüenta livros de Abraham Lincoln - eu vou fazer 65 anos - e desde menino eu lia.

Serys, leia sobre as eleições de Abraham Lincoln e leia, hoje, a da Hillary Clinton, mulher como V. Exª, a do Bush, ou a do Bill Clinton, é a mesma! É, Euclydes Mello, é a mesma! Pode ler! Ô Paim, e nós? Cadê a nossa reforma política? Neste País se acostumou a enganar o povo. Não tem poder, não! Vamos acabar com essa conversa de Poder Executivo! Que poder? Um grupo de aloprados! Aqui, que poder? Estamos desmoralizados... A Justiça, que poder? Houve o maior imbróglio, quebrando no pau com os mais fracos, que são os vereadores. Está tudo transtornado. Estão todos praticando, hoje, ilegalidades pelo sistema atual, porque era o fim no dia 05 de outubro. E, agora, eles mudaram.

Heráclito, veja este quadro. Eu vou dizer sobre este quadro e repetir. Rui Barbosa dizia que a gente aprende uma coisa quando repete sete vezes. Heráclito Fortes, Átila Lira foi um extraordinário homem público. Eu disputei o Governo com ele. Ganhei. Mas é um homem de bem, um Secretário da Educação extraordinário. Aí, um vereador... Paim, e o instrumento da Justiça? Reflita. Um vereador que honraria esta Casa: Professor Iweltman. Tem vereadores que são universitários, professores... Nós não temos? No mesmo nível nosso, ô Paim! Aí, Heráclito, ele chegou para mim e sabe o que é que ele disse? Interessante para ver como o Brasil está.

Euclydes, ele disse assim: “Interessante... o Átila Lira larga o partido depois da eleição, quer dizer, larga a mulher na lua-de-mel”. E deu suas razões. Disse que o prefeito, do partido dele, o traiu, não votou nele. Aí o professor disse: “Eu agora, com 17 anos, estava em um partido, mas não quis mais. Vou dar uma saidinha, uma desquitada, uma divorciada e aí cassam o meu mandato?” Isso mostra o imbróglio em que nós vivemos.

Não me falem mais em Poder Executivo e Poder Legislativo. Somos instrumentos da democracia. Poder é o povo que paga a conta, e conta cara! Poder é o povo que trabalha. Ó Deus, somos instrumentos! Vamos baixar a bola. Vamos baixar a bola, porque aqui não tem nada de poder. E os outros também não. Não há nada superior. Está tudo no imbróglio.

Estamos vivendo o momento mais difícil. Vou fazer 65 anos no dia 13 de outubro, véspera do Dia das Professoras e dos Professores. Como tratam nossos professores? Dia 18 é o Dia do Médico. Sou médico e nunca vi tanto sofrimento como agora.

Havia um médico em minha cidade, Senador Paulo Paim, Cândido Almeida Athaíde - aliás, foi ele quem fez o parto em que nasceu João Paulo dos Reis Velloso. Euclydes de Mello, eu taquei uma medalha no peito dele; ele com 94 anos.

Ele morreu com 95 anos, na Santa Casa, e operou na véspera. O médico hoje ganha tão pouco, as aposentadorias são tão ridículas que ele tem dignidade, ele tem vergonha, porque no curso de medicina, Paim, há o juramento de Hipócrates, que é um código de ética e de deontologia. E nós não temos ética, não temos vergonha, essa é a verdade! Cadê as nossas reformas, Garibaldi? Cadê a reforma? Cadê Renan? Cadê Chinaglia?

Olha, o Bornhausen fez uma aqui muito da boa, não sou do partido de Bornhausen não, mas fez uma reforma muito boa, muito inteligente, muito decente. Nós é que somos fracos, os preguiçosos, os incompetentes e os indecentes. Cadê a reforma? E o Judiciário não errou, não; porque é um Poder contra o outro; nós não fizemos, eles cutucaram. E aí está o imbróglio. É o contra-poder. Mas vivemos isso.

Garibaldi, V. Exª, ontem, fez o discurso mais bonito. E aí falam do Che Guevara, que disse: “Se tremes de indignação por uma injustiça, és meu companheiro”. E Garibaldi aqui estava que nem o Che Guevara. Quanta injustiça fizeram contra os nossos companheiros Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos! Estava tremendo de indignação. Belo discurso. Nem o Aluísio Alves fez uma discurso daquele. Seu pai deve estar orgulhoso do filho.

Recebi um e-mail, Heráclito, sobre imoralidade. Sei que negócio de imposto... O nome está dizendo, Luiz Inácio! Imposto! Não é voluntário.

Ninguém gosta de imposto. Eu não gosto, mas pago; pagamos. Quem trabalha paga. Até aperrearam Cristo! É justo pagar aqui o imposto de César? Quem está aí na moeda? É César? “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Mas Ele não disse que era bom, não. Todavia nós pagamos. Mas pagamos demais: são 76 impostos!

Recebi um e-mail que mostra isso, Garibaldi. Muitos! Ele dá umas tacadas no Luiz Inácio. Mas eu não vou dar... Só o bom, não é? Ele diz aqui: “Nós brasileiros pagamos o dobro de imposto que os americanos”. Somos aqui a voz rouca das ruas. A grandeza disso está na denúncia. Estou falando aqui pelo José Valmir da Cruz. Ele nasceu no Pará e está morando no Acre. Ele diz aqui: “Nós pagamos o dobro dos americanos”. E continua: “A água disponível no Brasil é 25% da reserva mundial”. Pagamos 60% a mais de água, de telefone e de eletricidade! E a nossa produção de energia é hidroelétrica: mais barata do que as americanas. Ele diz mais: “Os americanos defendem com unhas e dentes o combustível. É US$0,30 ou R$0,60”. E quanto é aqui o mototáxi? É por isso que digo que gosto de Buenos Aires, porque o preço da corrida de um carro é igual ao de um mototáxi no Brasil. Olhem aqui: lá nos Estados Unidos é US$0,30 ou R$0,60.

Ele diz mais... Ô Delcídio Amaral, que tem um bocado de carros, ele diz e está aqui, pois prova com a tabela dele, que nos Estados Unidos um carro custa R$20 mil; aqui é R$40 mil, por causa dos impostos.

Ô Luiz Inácio! O sabonetinho, o xampu que a Dona Marisa usa, façamos com que cheguem às “marisas” e às “adalgisinhas” do trabalhador. São 52% de imposto. Vamos tirar isso para as mulheres ficarem mais cheirosas, ô Luiz Inácio. Você não gosta de cheirar a Marisa, e eu, a Adalgisinha? Vamos tirar isso! É 52%! Se o xampu fosse R$2, sairia por menos de R$1, se déssemos um basta nisso...! Está aqui, com os americanos.

Ô Garibaldi, nós que governamos os nossos Estados, sabe quanto é, nos Estados Unidos, esse negócio que é o ICMS nosso? O nosso é 18%, Luiz Inácio; 18%! Nos Estados Unidos são dois: Imposto de Valor Agregado: 2%; e mais 4% do Federal. Dá 6%! Ô Garibaldi!

Então, é isso e essas coisas. Mais ainda diz o nosso povo. Aqui falamos pelo povo. Só tem valor isso. É a denúncia e o representar o povo. Posso dizer que isso é uma vergonha, Luiz Inácio! Todo mundo não pode dizer. O Boris Casoy, que era forte... A vergonha maior foi afastá-lo. A independência dele e da imprensa.

Ô Jonas, o povo do Brasil tem a paciência de Jonas para suportar isso tudo. Mas vou mais ainda. Eu não. Ele!

Ele diz o seguinte: “É isento nos Estados Unidos, que é o rico. Mas o Bush só emprega 4.500. O Luiz Inácio está seguindo. Há 25 mil aloprados nomeados dele. O Bush - está certo que ele é melhor que o Luiz Inácio, graças a Deus -; mas o Bush só nomeou 4.500 pessoas. Lá nos Estados Unidos tem 15 Ministros, aqui tem quase 40 aloprados! E esse, no maior dia desta Casa... Valter Pereira, V. Exª cresceu! Ramez Tebet abençoou quando V. Exª, nessa tribuna, escreveu a mais bela página deste Senado: foi quando enterramos os aloprados, o Sealopra! E o pior é que ele está cantando e reclamando numa língua que ninguém conhece, o aloprado. Ele fala, a gente não entende, mas o povo aplaudiu. Valter Pereira, Ramez Tebet... V. Exª merece substituir o grande Ramez Tebet.

Mas lá eles isentam, Delcídio Amaral, V. Exª, que é internacional, e que é homem que entende de lei. Lá é isento quem ganha até R$6 mil - US$3 mil é R$6 mil. Só paga imposto quem ganha lá acima de R$6 mil ou US$3 mil. Aqui é R$1.200. E os americanos, a gente sabe que têm polícia. Ô Sibá, manda o Luiz Inácio, pelo menos, assistir filme, ele disse que só gosta de novela. Os caubóis são cheios de polícia! Nós temos segurança neste País, e os americanos têm escola, eles mandam seus filhos à escola pública que tem livro, tem tudo. E são boas!

            Então é isso que nós queremos dizer. Eu só tenho um caminho, uma saída. Rui Barbosa disse que a lei é o caminho, a justiça, a salvação. Este Senado está no imbróglio. Aliás, todos nós, instrumentos da democracia, só temos uma...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, V. Exª já usou 20 minutos, vou lhe dar mais um.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Em um minuto Jesus Cristo ensinou o “Pai Nosso”. Pelo menos, neste minuto, eu vou dizer: “Só tem uma saída: nós enterrarmos a CPMF.

Ô Luiz Inácio, é contribuição provisória; é provisória! Já temos 76 impostos. E dizer que isso é coisa de banco, que pobre não tem cheque é uma mentira deslavada. Quem paga mais é o pobre. Quando ele vai comprar o sabonete ali, já rodaram dezenas de cheques. Por isso ele é caro: impostos. E vou lhe dizer mais Luiz Inácio: eu estou aqui, mas os aloprados estão te enganando. Não o PT! Tem um PT bom. Tem o PMDB do B, que a turma diz que é o “PMDB do Bem”, tem também o “PT do Bem”. Está aí o “PT do Bem”...

Mas vou dizer, Luiz Inácio, só para ensinar o Luiz Inácio.

Dá meio minutinho porque ele não entende assim rápido, não.

Eu tenho que... Não é 0,38%. Ô Sibá, brasileiros e brasileiras que querem trabalhar... Rui Barbosa, Paim, que está aí como V. Exª, disse que primazia é o trabalho e o trabalhador porque são eles que fazem a riqueza.

Ô Jonas PInheiro se você tem um afilhado que quer trabalhar no Mato Grosso e ele vai tirar R$1 mil do banco, para começar um negócio, então ele paga 0,38%. Daqui a trinta dias, sessenta dias, o banco o chama para ele devolver. É mais 0,38%. Então esse imposto é 0,76%, Luiz Inácio; esse imposto, esse dinheiro, não vai desaparecer, vai ficar nas mãos da mãe de família honrada, do trabalhador honrado, fazendo as riquezas da Pátria.

Ô, Luiz Inácio, V. Exª levou meu voto e disse que o trabalhador merecia uma cervejinha no fim de semana. Esse dinheiro - quinhentos, seiscentos reais - vai ficar para a cervejinha de que V. Exª falava. Não vá fazer como fizeste no Piauí, prometendo porto, prometendo trem, enganando nossa gente. Então, renuncie a isso. Esse dinheiro vai ficar nas mãos da família dos brasileiros.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/10/2007 - Página 34606