Discurso durante a 177ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Debate sobre a produção de etanol no Brasil.

Autor
Sibá Machado (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Machado Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Debate sobre a produção de etanol no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2007 - Página 34793
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • ANALISE, PRODUÇÃO, ALCOOL, BRASIL, IMPORTANCIA, VIAGEM, AMBITO INTERNACIONAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DIVULGAÇÃO, TECNOLOGIA, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, Biodiesel, ELOGIO, ATENÇÃO, GOVERNO FEDERAL, INCENTIVO, ECONOMIA FAMILIAR, REGIONALIZAÇÃO, CULTIVO, MATERIA-PRIMA.
  • DEFESA, ATENÇÃO, COBRANÇA, MERCADO INTERNACIONAL, PROTEÇÃO, TERRAS, PRODUÇÃO, ALIMENTOS, PROIBIÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, ALCOOL, UTILIZAÇÃO, TRABALHO ESCRAVO, DESMATAMENTO, NECESSIDADE, REALIZAÇÃO, ZONEAMENTO, OBJETIVO, CONTROLE, CULTIVO, CANA DE AÇUCAR.
  • COMENTARIO, PESQUISA CIENTIFICA, UNIVERSIDADE ESTADUAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), TECNOLOGIA, ALCOOL, MATERIA-PRIMA, MANDIOCA, IMPORTANCIA, DIVULGAÇÃO, AMPLIAÇÃO, DEBATE, ELOGIO, PESQUISADOR, EMPRESA, REGISTRO, DADOS, DETALHAMENTO, VANTAGENS, DEFESA, INCENTIVO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), AUMENTO, PRODUTIVIDADE, PEQUENA PROPRIEDADE, PRIORIDADE, REGIÃO AMAZONICA, SEMELHANÇA, PAIS ESTRANGEIRO, MALASIA, INDONESIA, EXPECTATIVA, PARCERIA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE (UFAC).

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho acompanhado, na medida do possível, o debate que se faz no Brasil inteiro a respeito do etanol.

O Presidente Lula viajou por diversos países e brilhantemente tem feito uma defesa - em muitos casos até apaixonada - do etanol brasileiro, tecnologia hoje completamente concluída.

O Brasil inteiro convivendo com essa realidade; o mundo agora se voltando ao nosso Brasil para tratar desse importante assunto que é os biocombustíveis.

Sobre o biodiesel, o Governo Federal, o Presidente Lula teve um cuidado muito grande no sentido de regionalizar as principais fontes de matéria-prima voltadas ao biodiesel. Teve também o cuidado de estender à produção familiar, aos beneficiários da reforma agrária, a produção de oleaginosas para vir a se transformar em biodiesel.

Ultimamente temos assistido, tanto por parte de europeus quanto por parte de norte-americanos, a preocupação no sentido de que o etanol brasileiro não pode, no afã de um crescimento para as exportações, prejudicar terras que antes produziam fontes de alimentos, ser comercializado o álcool onde seja encontrada situação de trabalho escravo e muito menos onde possa ter sido feita conversão de florestas em cultivo de cana.

Esse debate, Sr. Presidente, em um determinado momento, é importante, e acho que o Brasil tem feito pouco esforço em seu dever de casa no sentido de trabalhar nessa direção. Muita gente tem exigido que se faça o zoneamento para a cana-de-açúcar no Brasil. Acho que todos nós também concordamos com esse zoneamento, e isso me despertou a curiosidade de podermos estudar outras fontes, outras matérias-primas para a produção de álcool, diferentes da cana-de-açúcar, como no esforço feito para o biodiesel. 

O biodiesel trabalha óleos conforme o clima brasileiro e as diversas estações do ano e conforme a situação das regiões pela cultura popular, apontando para que o Nordeste avance com a mamona, apontando para que a Amazônia possa avançar com o dendê e apontando para que o Centro-Oeste e o Sudeste possam trabalhar com outras fontes, inclusive a soja.

Resolvi procurar informações sobre outras experiências com álcool no Brasil, diferentemente da cana-de-açúcar. Acabo de visitar então os Municípios de Botucatu e São Pedro do Turvo, em São Paulo, onde fui informado de que a Universidade Estadual de São Paulo - Unesp, por meio do Cerat (Centro de Estudos de Raízes e Amidos Tropicais), avançou muito em tecnologia de álcool a partir da mandioca.

Então, Sr. Presidente, acabo de vir - digamos assim - com uma inspiração muito grande no sentido de iniciar um debate no Senado e de divulgarmos isso ao máximo, com uma visão de que, dentro da regionalização dos óleos para biodiesel, podemos fazer também uma regionalização do álcool, da produção de etanol. Nesses casos, os números sobre a mandioca no Brasil são muito promissores.

Desta visita, quero saudar e parabenizar, agradecendo pela recepção, o Dr. Cláudio Cabello, que é o Diretor da Cerat/Unesp, em Botucatu; a Drª Magali Leonel, que também é pesquisadora do Cerat; e todos os seus funcionários e também das empresas que visitamos.

Visitamos lá a Halotek-Fadel, especializada em amido, voltada 100% para a indústria do papel. Visitamos a usina Coraci, que destila álcool de mandioca, de milho e de arroz, e a indústria de polvilho Ouro de Minas, que também está em fase final de implantação de uma planta para a produção de álcool de mandioca.

Dessas experiências todas, os números foram muito provocativos. A Malásia, segundo eles, é hoje a maior produtora de mandioca, voltada quase que 100% para o abastecimento do mercado da China, com uma produção eminentemente familiar.

Sr. Presidente, quanto aos números, comparando-se com a cana, temos todas as condições de incentivar a nossa Embrapa e todos os centros de pesquisa de raízes e tubérculos do Brasil, para que a gente possa ter agora uma nova visão, como é o caso da Universidade do Tocantins, que estuda a batata-doce, e agora esse caso da Unesp, que estuda a mandioca, a fim de que a gente pudesse trabalhar nessa regionalização.

O que me chama a atenção é que o álcool de mandioca, segundo as informações, produz um tipo de álcool cujas moléculas de carbono, que são formadas por três átomos, não produz resíduos, como é o caso da própria cana-de-açúcar, que produz quatro moléculas de carbono. Então, o C4 para a cana-de-açúcar e o C3 para o álcool de mandioca.

Esse álcool, o C3, já vem numa condição que os japoneses e chineses usam na fórmula de fabricação de bebidas. Segundo eles, o C4 produz metano, que é um elemento químico danoso à saúde humana.

Então estou aqui muito bem impressionado porque se a gente vai para a produtividade, a mandioca em primeiro lugar. Acho que todas as pessoas no Brasil conhecem um pé de mandioca, sabem plantar, tratar e colher um pé de mandioca. Os indígenas fazem isso, com uma altíssima tecnologia que possa ter de mecanização. Então, mandioca é para todos.

Se se disser que a cana-de-açúcar não poder ir para a Amazônia - realmente é uma coisa a ser pensada -, poderíamos então fazer uma substituição: a Amazônia continuar produzindo álcool, mas álcool a partir da batata-doce ou da mandioca.

Então, vem aí o primeiro desafio: que a nossa Embrapa juntamente com as universidades da região e outros centros de pesquisa avancem em tecnologia de altíssima produtividade da mandioca. Porque tínhamos, num passado não tão distante, uma produtividade na Amazônia em torno de 12 toneladas por hectare. Hoje, já se fala no Estado do Acre em 19 toneladas por hectare. No próprio Estado de São Paulo já se chega a 33 toneladas por hectare. Ouvi falar que no Paraná passa de 40 toneladas por hectare. Os números da cana-de-açúcar, a média de cerca de 85 toneladas por hectare. Mas, na produção de álcool, a mandioca bate de dois a um na cana-de-açúcar. Porque enquanto que com uma tonelada de cana se chega a 90, 100 litros de álcool, nós podemos ter na mandioca entre 150 e 170 litros de álcool. Outra: o álcool da cana-de-açúcar é um álcool menos nobre. O da mandioca é um álcool muito especial, já sai um álcool muito mais puro - próximo do álcool neutro. Esse álcool é base industrial para uma série de setores, como é o caso da indústria de perfumes, como é o caso da indústria de bebidas, e tantas outras coisas que podem ser utilizadas. Como ele é um C3, segundo a informação química, é um álcool que não traz nenhum dano à saúde humana.

Então, vamos imaginar a nossa situação amazônica, e ali o nosso Estado do Acre. Poderemos então iniciar um trabalho de elevar a nossa produtividade das atuais 19 toneladas por hectares para cerca de - média de São Paulo - 33, 35 toneladas, com um número de litros tirados da ordem de 170 litros por tonelada, temos, no balanço final, um empate com a cana-de-açúcar.

A outra vantagem: é um produto que pode ser eminentemente produzido a partir da agricultura familiar. A outra ainda é que podemos elevar o padrão de renda - agora o preço da mandioca em São Paulo está na ordem de R$130,00 a tonelada. Fazendo uma conta básica, um preço linear de R$100,00, teríamos ali uma produção - uma família com três hectares de mandioca plantados - com rentabilidade da ordem de dois salários mínimos. Então uma transferência de renda muito grande.

Nesse caso, por que o Brasil não avança nisso? A produção da Malásia e a produção da Indonésia são eminentemente de minifúndios, é uma coisa de fundo de quintal. A informação que tenho é que o maior produtor não possui mais que cinco hectares naqueles dois países. Então, se pode lá, pode aqui. Imaginemos aqui ...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Peço a V. Exª que conclua. Dois minutos para a conclusão, Senador Sibá.

O SR. SIBÁ MACHADO (Bloco/PT - AC) - ...a cana-de-açúcar com o seguinte zoneamento: o Centro-Oeste, o Sudeste e parte do Nordeste produzindo álcool a partir de cana-de-açúcar. Toda a Região Norte, toda a Amazônia podendo produzir, então, álcool a partir da mandioca ou da batata-doce.

Ponto número um: investimento em tecnologia. É preciso fazer a pesquisa avançar. Quero aqui lançar o desafio - antes de fazer uma visita à Embrapa - para que trabalhemos na direção de termos, na Amazônia, um centro de referência para estudos da mandioca e de raízes dessa natureza voltado a esse tipo de tecnologia.

O segundo passo é buscar investimentos empresariais para termos usinas muito mais baratas que a usina de cana-de-açúcar. Para se instalar uma usina de cana-de-açúcar para moer cerca de três milhões de toneladas ao ano, é preciso um investimento mínimo da ordem de US$80 milhões, enquanto que para produzir muito mais álcool do que isso a partir da mandioca seriam necessários investimentos, no máximo, de US$12 milhões. Esse seria o custo dessa planta.

Além disso, estaríamos regionalizando o Brasil no que diz respeito à produção do etanol, desafiando o mundo com mais uma matriz, descentralizando renda, fazendo divisão de renda no Brasil e revivendo uma cultura - não digo milenar, porque vamos considerar de Pedro Álvares Cabral para cá, mas secular - que garante hoje a possibilidade de inserção dos pequenos e dos mais pobres do campo brasileiro nesse desafio.

Encerrando, Sr. Presidente, agradeço muito a recepção que tive em Botucatu e em São Pedro, em São Paulo, agradeço aos empresários que me receberam. Quero dizer do desafio de iniciar um intercâmbio tecnológico entre o Cerat, lá de São Paulo, e a nossa Universidade do Acre e a Embrapa, do desafio de formar pessoal capacitado. Podemos criar um mestrado especial nessa área, uma escola técnica voltada para essa realidade e colocar o nosso Estado do Acre em posição promissora na produção de etanol a partir da mandioca e da batata-doce.

Vou até pedir uma conversa entre o Governador Binho Marques e o Governador do Estado do Tocantins para que a gente troque experiências antes de enfrentar, nos dois Estados, esse novo desafio.

Recomendo isso para nossa bancada. Estou muito feliz com a visita que fiz e acho que estamos agora com mais um novo e grande desafio para os nossos Estados.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2007 - Página 34793