Discurso durante a 199ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre as eleições presidenciais na Argentina.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Reflexões sobre as eleições presidenciais na Argentina.
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2007 - Página 38623
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, ANTERIORIDADE, POLITICA, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, REDUÇÃO, DESEMPREGO, VALORIZAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, INCENTIVO, PRODUÇÃO AGRICOLA, INFLUENCIA, CRESCIMENTO ECONOMICO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Alvaro Dias, Parlamentares, brasileiros e brasileiras aqui presentes e que nos acompanham pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Heráclito Fortes, obediente à Liderança de V. Exª, que preside com muita competência a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado da República, fui como observador dessa Comissão e do Senado da República às eleições na Argentina.

Senador Paulo Duque, os hermanos argentinos são amantes da democracia. Eles tiveram San Martín, que, sem dúvida alguma, tornou aquele país independente da Espanha, como Simón Bolívar o fez nos países restantes.

O argentino, acostumado à luta, teve um período militar e ditatorial, como tivemos no Brasil, mas, Senador Expedito Júnior, lá foi uma violência extraordinária, de tal maneira que os argentinos choram 30 mil mortos, e a volta à democracia, como dizem, foi um movimento civil que aceitou como líder Alfonsín. Eu o vi votar. Ele, com quase 90 anos de idade, comandando o então civismo da democracia, foi votar. Mas a grande vitória é dos que estão no Governo, Néstor Kirchner, Senador Expedito Júnior.

Realmente, depois do período militar, tiveram como líder civil Alfonsín; seguiu-se a Era Menem; depois, os partidários de Alfonsín levaram ao governo De la Rúa, que renunciou, Sibá. Eis o quadro da Argentina.

Então, a expectativa de oposição são os partidários de Alfonsín, que simbolizavam, Geraldo Mesquita, aqui para nós, aquela luta dos nossos líderes: Ulysses, Teotonio, Tancredo, Juscelino, esses que tombaram fazendo renascer a democracia.

Com o Partido de Alfonsín perdendo para os peronistas, Menem conseguiu voltar depois da sua força na capital federal, Buenos Aires, não na Província, o Estado todo. De la Rúa saiu de lá e foi Presidente, mas renunciou, e o peronismo, o Partido Justicialista, muito forte, fez os decretos para que se pedisse a volta do terceiro mandato de Menem, aquilo que nós tivemos no passado, a sublegenda. Eis que apareceu o Kirchner, de província pequena, frio, no sul; daí eles serem apelidados hoje de pingüins.

Não houve o segundo turno pela desistência de Menem, e todos os outros candidatos deflagraram apoio a Kirchner.

Kirchner encontrou o País com dificuldades, que tinha 30% de desempregados; hoje, reduziram a 10%. Tem os programas sociais, que o Governo brasileiro também tem. Tem bolsa de alimento, tem ajuda aos desempregados, mas, sobretudo, o que conquistou a Argentina foi o combate ao desemprego. Exemplificando a política deles, inteligente, ô Sibá Machado: em restaurantes - pode olhar as cartas de vinho - só tem vinho argentino; nem para chileno eles dão colher de chá. Ele diz que reconhece a China como país industrial no comércio mundial, mas lá não entra nem uma camisa chinesa para concorrer com eles. O parque industrial, até nosso Vice-Presidente da República tem importante indústria têxtil naquele País.De tal maneira que aquele País tem crescido 9% ao ano.

Mas por que a vitória retumbante, Senador Geraldo Mesquita? Porque houve a falácia, o desencanto do partido da oposição. O partido de Alfonsín, que voltou ao poder com De la Rúa - e ele renunciou -, então, desencantou o combativo argentino. O governo ficou muito forte.

A estrutura política de lá é diferente da nossa. Cada província pode até, vamos dizer, o Geraldo Mesquita pode criar o seu próprio partido no Acre, um partido provinciano, um partido que seria estadual. Então, tem mais partidos do que aqui, porque, além dos partidos nacionais, tem os que se interessam somente pela sua província. E as chapas. Eles não usam a urna eletrônica. É o que eles chamam de boleto; são os impressos. E é comum o eleitor argentino levar tesoura para a cabine, porque muitos querem votar no candidato a Senador de um, no Deputado de outro e no Presidente de outro. E ele corta ali e faz sua chapa. Os Senadores são 72. Atentai bem, Expedito Júnior. Então, um partido forte bota dois Senadores na lista, eleitos em convenções partidárias.

Nós não temos essa cultura. Aqui há partido cujo dono ia botar ele, a mulher e o filho na lista. Nós não temos essa cultura de lista. Seria uma falácia. Lá é em convenção.

Para senador, por exemplo, o partido que tiver mais votos aproveita os dois, o segundo lugar leva um, de tal maneira que a oposição está presente. Realmente, o povo argentino está muito mais educado do que nós, muito mais! Aqui é uma barbárie.

Ô Senador Paulo Duque, fui orientado pelo Embaixador Mauro Vieira e pelo Segundo Secretário Pablo Duarte Cardoso e tivemos a companhia do SBT, com seu repórter brasileiro que lá reside, e freqüentamos, primeiro, o lado econômico.

Quem preside a eleição é o Ministro do Interior, quem conta os votos é o Correio. Algo diferente do que ocorre no Brasil, onde cada partido tem fiscais e aquela pugna. Forte contingente de militares e oficiais das três Armas está presente com civismo, respeito, moralizando sem cabalar. É um pleito educado, cívico.

Há exigência de participação mesmo antevendo-se uma vitória fácil. Não pelo regime, mas porque fraquejou - atentai bem, Geraldo Mesquita - o partido mais forte da oposição. Ô Antonio Carlos Valadares, quem é o tucano que está aqui? Se os tucanos fraquejarem, entraremos na mesma falácia. Fraquejou o partido maior da oposição, o partido de Alfosín, que seria o Fernando Henrique, que chegou à Presidência. Eles chegaram duas vezes com o De la Rúa.

Esse partido fraquejou, decepcionou, então surgiram candidaturas como a de uma mulher muito interessante, Elisa Carrió, mas sem estrutura partidária, como a nossa brava Heloísa Helena, que teve extraordinária votação, mas não despertava a crença em uma vitória.

Na Argentina é diferente. Cada governador marca suas eleições, de tal maneira que, nesse pleito, só oito governadores disputavam as eleições. Mesmo assim, o governo perdeu na capital de Buenos Aires. A candidata da oposição ganhou com extraordinária votação na capital de Buenos Aires, cujo prefeito é da oposição e também é presidente do Boca Juniors. Ele assumira há dois meses, e a população diz que ele teve, vamos dizer, uma atuação social.

De tal maneira, que o Presidente Kirchner ganhou na Província de Buenos Aires. O seu Vice-Presidente é o Governador da província; ele é da região do Tigre.

A Presidenta, para mostrar independência, apesar dessa sua vitória, perdeu na sua região, na sua cidade, na cidade de La Plata - casou-se com Kirchner e foram morar em Santa Cruz, lá no sul, onde tem neve e é frio. Daí ser chamado pingüim.

Mas Kirchner aumentou a sua bancada no Senado e na Câmara de Deputados. O seu Vice-Presidente é o Governador da Província de Buenos Aires e elegeu a sua mulher a primeira Presidenta.

E o povo, jocoso... Aqui tem um livro muito interessante... Como Sebastião Nery, que faz humor com a política, tem um grande autor, Nik, que faz um editorial. Numa das piadas, ele diz que um candidato, Geraldo Mesquita, é de centro-direita, o Lavagna; outro, de centro-esquerda; e Cristina Kirchner é do centro comercial, do shopping. Mas é uma mulher elegante, uma mulher simpática, uma mulher preparada. O seu marido foi eleito várias vezes Governador de Santa Cruz, e ela, antes, foi Deputada Federal e hoje é Senadora.

Mas para que tenham uma noção. Senador Jefferson, na Província de Formosa, o Governador Gildo Isfran elegeu-se para o seu quarto mandato consecutivo com cerca de 75% dos votos. Mas isso também acontece nos Estados Unidos: Bill Clinton foi quatro vezes Governador de Arkansas. Os primeiros mandatos tinham dois anos e, depois, quatro anos. Dizem que o Kirchner poderia ser eleito...

(Interrupção do som.)

 

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares. Bloco/PSB - SE) - Senador Mão Santa, V. Exª já está com o seu tempo esgotado. Já lhe dei, além do tempo regulamentar, quatro minutos. Vou lhe conceder mais um minuto para V. Exª encerrar o seu pronunciamento. Ficarei muito honrado com a obediência ao nosso Regimento e com a sua compreensão. Há outros oradores inscritos. Inclusive, o Senador Jefferson Péres é o próximo orador inscrito, como Líder, e, depois, o Senador César Borges.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Nós encerraremos, mas queremos afirmar que a Argentina dá um ensinamento de democracia. Nota-se, Jefferson Péres, que nós vivemos uma barbárie. Eu acompanhei o pleito pela televisão e não vi uma discussão.

Tem a lei seca, o povo é bem mais educado, bem mais educado.

Nós vivemos uma barbárie. Ô Jefferson Péres, eu, com Adalgisa, a gente sai quatro horas da manhã. Agora desafio o Antonio Carlos Valadares, com alguma garota, a conseguir andar no seu Estado pela noite. Eu desafio o Presidente Luiz Inácio a pegar a sua encantadora Marisa e andar na Rúa da cidade brasileira que é o Rio de Janeiro. Ô Senador Paulo Duque, eu desafio o Presidente Luiz Inácio a pegar a sua encantadora Marisa e andar de braço dado na Cinelândia, na Praça Paris do Rio de Janeiro, na Rúa do Ouvidor ou mesmo na minha Teresina. Nós vivemos uma barbárie!

Sou otimista como Juscelino, acho que tudo pode melhorar se cultivarmos a democracia e fugirmos da “cleptocracia” e da plutocracia que se instalam no Brasil: é o Governo do roubo e dos ricos e poderosos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2007 - Página 38623