Discurso durante a 202ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo ao PSDB no sentido de que vote contra a prorrogação da CPMF.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLAÇÃO ELEITORAL. TRIBUTOS.:
  • Apelo ao PSDB no sentido de que vote contra a prorrogação da CPMF.
Aparteantes
Osmar Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 07/11/2007 - Página 39138
Assunto
Outros > LEGISLAÇÃO ELEITORAL. TRIBUTOS.
Indexação
  • APREENSÃO, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, OBJETIVO, RENOVAÇÃO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, VIAGEM, ORADOR, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, OBSERVAÇÃO, ELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • ANALISE, POLITICA PARTIDARIA, BRASIL, FALTA, LIDERANÇA, OPOSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • CONCLAMAÇÃO, REJEIÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), REPUDIO, CORRUPÇÃO, CRIAÇÃO, VOTO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SAUDE PUBLICA, PROTESTO, EXCESSO, INCIDENCIA, TRIBUTAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Gerson Camata, que preside esta reunião parlamentar, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Osmar Dias, essa história política nos recorda a frase: “Se é para o bem do povo e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico”. Luiz Inácio sabe essa história. Luiz Inácio, como pensam, estudou no Senai. Este País era organizado. O Senai é uma grande instituição. Expedito Júnior, ele sabe do “Dia do Fico”.

            Desenha-se isso, Osmar Dias. Atentai bem, Professor Cristovam Buarque, o perigo é iminente. Primeiro, o fraquejar das oposições. Senador Expedito Júnior, fui à Argentina, e estava, agora, conversando com o Senador Camata sobre a Argentina, onde fui observador das últimas eleições. Povo bravo, povo heróico - San Martín - povo lutador, povo inteligente, povo rico. Na 2ª Guerra Mundial, ô Senador Osmar Dias, eles não entraram. Venderam alimentos para todos os lados. Venderam para Hitler, venderam para Mussolini, venderam para Franklin Delano Roosevelt, para o Japão, venderam carne e trigo. E aí construíram, Senador Camata, aquela que é a Paris da América do Sul: Buenos Aires. Ganharam na guerra. A guerra, ô Senador Gilvam Borges, acabou com a Europa, com as Américas, teve reflexo em todo o mundo todo. Então, por isso que Buenos Aires é uma cidade maravilhosa. O mundo se acabou, Osmar Dias, na última guerra. Eles, não. Então, eles são politizados.

            Mas, Osmar, estou preocupado, V. Exª não é, infelizmente, o líder de todas as oposições. V. Exª é firme, V. Exª é bravo. E eu analisei por que três meses antes já estava eleita a mulher do Presidente da República. Dois meses antes, já estava consagrada, já sabiam o resultado. E eu indaguei pelo simples fato, nós sabemos, de que eles tiveram um período militar duríssimo, não foi como o nosso. Os nossos militares... Olha, lá, morreram 30 mil pessoas.

            Então, surgiu o ídolo Alfonsín, o primeiro civil a governar depois do militar, se tornou um ícone o seu partido. Aí o outro partido, tradicionalmente histórico, Justicialista, de Perón; depois de Alfonsín, Menem volta numa alternância da Democrática ao partido de Alfonsín, porque a capital, Buenos Aires, sempre rebelde, e foi eleito de la Rúa; de la Rúa renunciou, saiu. Buenos Aires rebelde, oposição. Mais o povo argentino não acreditou na oposição mais. Esse que é o risco aqui. 

            Quer queiramos ou não, o PSDB encara, hoje, a oposição: “To be or not to be: that’s the question.” O povo botou e teve esse extraordinário homem de bem - Alckmin. Eu perdi com ele, mas perdi ganhando. Então, é o povo que botou. A oposição é a oposição. Rui Barbosa está ali porque ele era oposição. V. Exª e eu estamos aqui. Então, essa oposição daqui está quase ficando desmoralizada. Simbolicamente, é o PSDB; foi ele que disputou. O meu não é, embora eu seja, mas o meu Partido há muito que não tem coragem de uma disputa eleitoral. Assemelha-se com a Argentina. Mas lá se pode criar partidos estaduais. Assim, o Osmar criaria o dele lá; o Mão Santa, o dele no Piauí. Então, o PMDB hoje está aí, com lideranças regionais, e o PSDB não se comporta como oposição. Leonel Brizola morreu, e o PDT caiu nas mãos desse Lupi, que escreveu a mais vergonhosa página deste Senado, uma carta imoral, indecente, envolvendo o grande líder Saturnino Braga, um dos melhores prefeitos. Então, o PDT... Infelizmente, Brizola morreu. Então, se fraquejar a oposição... Ô Camata, vamos ficar como a Argentina: o Governo vai fazer o que ele quiser e quando quiser. Não tem mais alternativa. Terá outras, a candidata Carrió, uma brava mulher como o foi Heloisa Helena, mas que não tem a estrutura partidária. Então, havia 14 candidatas à Presidência da República. Este PSDB fraquejando... Estamos “lascados”. Esse raciocínio do Governador de Minas e do de São Paulo, que vão pegar nada... Ou eles se comportam como oposição, ou já fraquejaram. A não ser que o Osmar Dias, numa bênção de Brizola, fosse presidente do PDT. Aí eu ia logo para lá.

            Essa é a verdade. E digo por quê: CPMF, voto; não tem esse negócio de fidelidade não. Deve ser decidido no voto, porque é uma mentira. Ó Deus, lance um raio neste Senado se continuarmos a enganar o povo do Brasil! Já encheram. Aqui sou eu. Aqui é o Piauí. Não vim para trair. Mentira no nome: CPMF; provisória. Como vamos fazer uma coisa baseada na mentira? Pior, Osmar Dias... Ó Camata, eu disse que votava em V. Exª para Presidente - V. Exª ou Pedro Simon. Senão, estou na fila, porque os outros todos não são melhores do que eu. Só abro, para o PMDB, para vocês dois. Se for outro, vamos disputar. Estou olhando os Senadores aqui, tenho um bocado de votos. 

            Luiz Inácio, homem correto, decente. Ele disse: “Trezentos picaretas”. Vou pedir uma audiência ao Luiz Inácio para ele dar os nomes, porque acho que aumentou.

            Olha o que vamos fazer. De quatro em quatro anos, a Copa. Em que ano é, Gilvam? (Pausa.) Em 2014. Todo o mundo. Nós estamos instituindo a copa da malandragem, da bandidagem, da traquinagem, da enganação. Em 2003, nós votamos; em 2007... Em 2011, os trezentos picaretas... Vamos de novo. Vamos votar. Tem tucano pensando em botar por um ano para daqui a um ano... Aí é o mensalão, é o Ministério, é a troca, é o favor, é a bandidagem, são os picaretas que o Luiz Inácio denunciou. Quer dizer, estamos instituindo o campeonato da safadeza. É, de quatro em quatro anos. Se é legal a Copa...

            Esse negócio, saúde, é coisa séria. Tem que estar no orçamento como a educação, isso é para fazer lei justa e séria, Camata. Então é isso.

            Outra mentira: que vai para a saúde. Ó Luiz Inácio, ninguém nesse país sabe mais de saúde do que eu. Eu vou fazer 41 anos de médico - mas médico mesmo, de Santa Casa. Nunca a saúde - bota aí e vamos para a ética - esteve tão esculhambada como está hoje. É a dengue, é a rubéola. As gestantes vão ter monstros. Está voltando a tuberculose, a malária... No Rio de Janeiro, Camata, se opera com material de marceneiro, se bota tala de papelão. Então, Osmar, a saúde está aí, os pobres falando. Com a palavra esse grande líder que faz a grandeza deste Senado, Osmar Dias.

            O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Sr. Presidente, eu vou cumprir o tempo determinado para o aparte, só que V. Exª tem que colocar lá no painel se não eu não consigo falar. Apenas para apoiar toda a fala do Senador Mão Santa, começando pelos candidatos à Presidência do Senado, que acho que ele escolheu bem. Eu sei que esse assunto está proibido no PMDB, mas não está no PDT. Nós já estamos discutindo a sucessão no Senado, dentro do PDT. E os nomes que V. Exª colocou aí nós apoiamos, inclusive o seu próprio.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não, mas eu e o Garibaldi somos camisas azuis. Verde-amarela são Pedro Simon e Camata.

            O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - É, mas aí eu acho que o PMDB tem que decidir e nós vamos atrás dessa decisão, desde que sejam nomes, como esses citados por V. Exª, que mereçam a nossa confiança. E a outra questão V. Exª bateu na veia! Esse negócio de querer negociar para um ano, para depois se cacifar e valorizar o passe daqui a um ano fica complicado. V. Exª interpretou muito bem essa proposta, que tem de ser refutada. Ou é contra, ou é a favor. Não tem esse negócio de meio-termo. Parabéns Senador Mão Santa.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Cristo está aí. Ele disse: “Eu sou a verdade, o caminho e a vida”. Como é que nós vamos apoiar a mentira? Mentira, quando os desgraçados, os aloprados do Governo vêm aqui e dizem para o povo que quem paga esse imposto é branco, é rico, é o que tem cheque. E não é isso. É embutido, em cascata. Quem paga mais é o pobre. Um pelo outro: um pobre, em um ano, vai pagar R$400,00 a R$500,00. É muito pouco, Luiz Inácio, para os aloprados que têm um cartão cooperativo, mas não para a família pobre, Gilvam Borges. Com esse dinheirinho, ele não vai desaparecer, brasileiras e brasileiros, vai ficar nas mãos das mães, das mais inteligentes - não é na do Mantega, não! Na mão da mãe brasileira, da dona-de-casa. Essa, Expedito Júnior...

(Interrompe-se o som.)

            O SR. PRESIDENTE (Gerson Camata. PMDB - ES) - V. Exª dispõe de um minuto.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Em um minuto, Cristo fez o pai-nosso.

            Essa mãe que, à imagem de Nossa Senhora, pega o dinheiro e o multiplica como Cristo multiplicou os peixes e os pães. Esse dinheiro vai ficar com a dona-de-casa, a melhor economista, séria e austera. Vocês que me ouvem, brasileiros e brasileiras, que trabalham e que não estão na lista dos aloprados... Vinte e cinco mil aloprados a meterem na cabeça de Luiz Inácio o terceiro mandato para ficarem no lugar... São 25 mil aloprados! Alguns deles ganham R$10.448,00. Quarenta Ministros, muitos incapazes, incompetentes e que jamais terão lugar. Então, aí é o perigo! São esses que vão exigir de Luiz Inácio que continue esse reino.

           Shakespeare disse: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”. E eu digo: aqui também. Com a CPMF, com jogadas de Congresso com trezentos picaretas, estamos destruindo a democracia, transformando-a em cleptocracia. É o governo do roubo, do ladrão. Senador Osmar Dias, V. Exª sabe que vêm para cá os ladrões que roubam o mensalão, que roubam o dinheiro público da saúde. Vamos instalar a cleptocracia e a plutocracia, o governo dos ricos que roubaram. Temos de enterrar, para salvar o Congresso Nacional e a democracia, a CPMF, porque assim estaremos dando um basta na mentira, fazendo como Cristo, que disse: “Em verdade, em verdade vos digo”...

           Eu defendo este País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/11/2007 - Página 39138