Discurso durante a 233ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Necessidade de um controle de qualidade rigoroso para as obras do Programa Nacional do Livro Didático, em razão dos absurdos presentes na coleção de livros didáticos Nova História Crítica.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Necessidade de um controle de qualidade rigoroso para as obras do Programa Nacional do Livro Didático, em razão dos absurdos presentes na coleção de livros didáticos Nova História Crítica.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2007 - Página 45399
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, LIVRO DIDATICO, HISTORIA, UTILIZAÇÃO, ESTUDANTE, ESCOLA PARTICULAR, ESCOLA PUBLICA, BRASIL, ENSINO FUNDAMENTAL.
  • DEMONSTRAÇÃO, DESRESPEITO, LIVRO DIDATICO, HISTORIA, PROCLAMAÇÃO, REPUBLICA, BRASIL, DEFESA, DITADURA, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA, CHINA.
  • CRITICA, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), APROVAÇÃO, UTILIZAÇÃO, LIVRO DIDATICO, DISCIPLINA ESCOLAR, HISTORIA.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, imaginem um livro didático que compara o quadro de Pedro Américo, retratando a Proclamação da Independência a “um anúncio de desodorante, com aqueles sujeitos levantando a espada para mostrar o sovaco”. Um livro em que Dom Pedro Segundo é descrito como um “velho esclerosado e babão”. A princesa Isabel é uma mulher “feia como a peste e estúpida como uma leguminosa” e seu marido, o Conde d’Eu, um “gigolô imperial” que mandava meninas paraguaias para os bordéis do Rio de Janeiro.

É difícil acreditar, mas disparates como esses estão presentes na coleção de livros didáticos Nova História Crítica, de autoria de um professor chamado Mário Schmidt, e que já foi usada por milhões de estudantes no País. Incluída no Programa Nacional do Livro Didático, teve quase 1 milhão de exemplares adquiridos pelo governo federal, entre 2005 e 2007, e distribuídos a escolas públicas, para alunos da quinta à oitava séries. Só neste ano, os gastos com ela somaram R$944 mil, de acordo com editorial publicado na Folha de S. Paulo de hoje (quinta-feira).

Os absurdos que a Nova História Crítica contém não se limitam à linguagem vulgar com que descreve figuras da história brasileira. O autor ataca a propriedade privada, que, segundo ele, “aumenta o egoísmo e o isolamento entre as pessoas”, e diz que o MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, é “um importante instrumento na luta pela justiça social no Brasil do começo do século 21”. Mao Tsé-tung, o ditador responsável pela morte de milhões de chineses, é apresentado como um “grande estadista”. A Revolução Cultural chinesa, um verdadeiro massacre em que perdeu a vida um número incontável de inocentes, recebe do autor a qualificação inacreditável de “uma experiência muito original” em que se lutou “contra os quatro velhos: velhos hábitos, velhas culturas, velhas idéias, velhos costumes”.

Outro ditador, Fidel Castro, só recebe elogios, especialmente pelos fuzilamentos que ordenou. E o fim do comunismo na União Soviética é atribuído aos profissionais com curso superior, que tinham “inveja” da classe média dos países capitalistas.

Custa crer que o Ministério da Educação tenha endossado uma obra que merece a lata de lixo como destino. Depois que o jornalista Ali Kamel denunciou, em artigo publicado terça-feira no jornal O Globo, as imbecilidades que a coleção contém, o MEC se pronunciou, afirmando que os livros foram “aprovados com ressalvas”, porque “resvalavam no maniqueísmo”. Ora, diante do amontoado de asneiras, da pobreza da linguagem, das distorções históricas e do claro propósito de doutrinação ideológica, eles deveriam ter sido sumariamente rejeitados, caso a avaliação pedagógica fosse criteriosa.

Poucos programas governamentais têm objetivos tão meritórios quanto o Programa Nacional do Livro Didático. Ele proporciona, gratuitamente, 120 milhões de volumes a 30 milhões de alunos de escolas públicas. Seu orçamento para 2007 é de 620 milhões de reais. Editoras disputam a inclusão de suas obras entre as selecionadas, pois isto é garantia de faturamento. A dimensão do Programa torna obrigatório um controle de qualidade rigoroso, para evitar que casos como o da aprovação dessa obra desonesta se repitam.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2007 - Página 45399