Discurso durante a 240ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao centenário de nascimento do arquiteto Oscar Niemeyer Soares Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 21/12/2007 - Página 46294
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONFIANÇA, POVO, JUSTIÇA, LIBERDADE, SOLIDARIEDADE, REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, HISTORIA, POLITICA NACIONAL, COMPROMISSO, COMBATE, INJUSTIÇA.

A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Cumprimento o Presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, Senador Garibaldi Alves; de forma muito carinhosa, o Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Arlindo Chinaglia; o Senador Marco Maciel, Presidente da Comissão de Constituição e Justiça e do Instituto Oscar Niemeyer; a Drª Edenize Sousa, que preside a Fundação Oscar Niemeyer; o neto do nosso querido arquiteto, Sr. Carlos Oscar; os Senadores Inácio Arruda e Aloizio Mercadante, com quem fizemos esse requerimento; demais Parlamentares; autoridades e embaixadores presentes.

Mas quem eu quero cumprimentar mesmo, porque a teleconferência permite isto, é você, Oscar Niemeyer, arquiteto de dois séculos. Você arquitetou esses dois séculos no País.

Você já disse que: “A data não é importante. A idade não é importante. O tempo não é importante. A arquitetura não é importante. O que nós criamos não é importante. Somos muito insignificantes, o que importa é ser tranqüilo e otimista”. Tranqüilo você é indiscutivelmente ao longo desses 100 anos e otimista, não tenho dúvida, porque só uma pessoa otimista mantém, ao longo de 100 anos, essa confiança no povo, na justiça, na liberdade, na fraternidade, de que o mundo pode e deve ser melhor, cada vez melhor, e cada um tem obrigação de contribuir para que isso aconteça.

Por isso, não tem jeito, você pode dizer que não é importante, mas, pedindo perdão, quero dizer que você, nosso arquiteto, ao comemorar 100 anos no dia 15 de dezembro, não temos como não considerar essa idade e essa data importante e fundamental. No seu caso, Oscar Niemeyer, não dá para falar de insignificância.

É inadmissível para nós considerar o que você representa, o que você fez, o que você simboliza com insignificância, até porque você passou pela efervescência do entre guerras; você passou por momentos difíceis durante a ditadura no nosso País; você participou ativamente da reconstrução democrática no nosso País; você teve posicionamento e ação política internacional em momentos muito difíceis do nosso planeta; você ajudou a construir Brasília, que orgulha tanto o nosso País, e você continua a edificá-la. Você é esse arquiteto de dois séculos. Você chega ao Século XXI, para fazer inveja a muito arquiteto, a muito militante do movimento político, produzindo como poucos. Por isso, mais do que o nosso arquiteto mais famoso, mais importante, para nós brasileiros, você é um homem com uma postura crítica, uma consciência social e política rara.

É muito conhecida, muito famosa a sua frase: “Jamais fui hostil a movimentos de protesto, inclusive dos países socialistas. É necessário protestar contra a miséria, as injustiças, as desigualdades. Toda palavra dita com coragem só pode merecer a minha estima.”

Portanto, Oscar, o seu compromisso com os movimentos sociais, com as lutas dos oprimidos, dos discriminados, é inquestionável. Comunista convicto, a sua luta pela democracia é marcante. Eu só tive a oportunidade de conhecê-lo neste ano, na estréia do show do Chico Buarque de Hollanda, num momento para mim de muita, muita emoção, porque eu estava convivendo com pessoas que são ícones, como a Fernanda Montenegro, a Marília Pêra, a Marieta Severo. Você estava recém-casado, amor novo. E eu quero chegar - não vou dizer aos 100 anos, em hipótese alguma - aos 60 anos com um amor novo, porque uma pessoa que tem capacidade de produzir e amar permanentemente merece de todos nós respeito, carinho e admiração.

Então, eu o conheci em janeiro deste ano no show de estréia de Chico Buarque. Eu quero terminar as minhas palavras lembrando como o Chico Buarque se referencia em você. Ele conta sempre essa história. Ele diz que havia um projeto de uma casa para a família de Chico Buarque que você tinha feito e que nunca foi construída, e todos se referiam a ela como a casa do Oscar. Chico Buarque fazia Arquitetura e desistiu para se dedicar à Música. Então, ele deixou de ser aprendiz do Oscar para ser aprendiz do Tom Jobim. Chico Buarque sempre declara: “Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom. Mas música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar”.

Portanto, Oscar Niemeyer, você é a referência, a referência maior da perfeição. 

O poeta Ferreira Gullar o homenageia - para homenagear um artista, só outro artista - num poema muito lindo, que termina da seguinte forma: “Oscar nos ensina que a beleza é leve”.

A beleza é leve. Você é leve, Oscar Niemeyer. Você nos levita. Você nos faz colocar tudo que é importante, imprescindível, num patamar de importância e de responsabilidade.

Por isso, da mesma forma como, muito emocionada, eu o beijei em janeiro deste ano no Canecão, quando você estava acompanhado do seu novo amor, agora, também muito emocionada, como não posso beijá-lo por teleconferência, peço-lhe que receba no seu coração o beijo de toda a Nação brasileira, que o respeita, que o ama, que o admira, com a significância e a importância que você conseguiu conquistar nesses cem anos de vida. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/12/2007 - Página 46294