Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre "o escândalo dos cartões corporativos".

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO.:
  • Manifestação sobre "o escândalo dos cartões corporativos".
Aparteantes
Jefferson Peres.
Publicação
Publicação no DSF de 13/02/2008 - Página 1193
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CARTÃO DE CREDITO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, EXCESSO, DISTRIBUIÇÃO, CARTÃO DE CREDITO, SERVIDOR, EXECUTIVO, PERDA, OBJETIVO, MODERNIZAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, AMPLIAÇÃO, MALVERSAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS.
  • DECLARAÇÃO, AUSENCIA, ACORDO, GOVERNO, LIMITAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, COMPROMISSO, INVESTIGAÇÃO, IRREGULARIDADE, CARTÃO DE CREDITO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, CORRUPÇÃO, DESVIO, RECURSOS, SAUDE, EDUCAÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Senador Papaléo Paes, que preside a sessão, Srªs e Srs. Parlamentares, brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação.

            Senador Jefferson Péres, V. Exª, um intelectual, deveria presentear - seria um presente do PDT - o Luiz Inácio com aquele livro do Graciliano Ramos.

            Graciliano Ramos foi o primeiro político a prestar contas da conturbada Alagoas. Foi lá, em Palmeira dos Índios, que ele ensinou; foi lá que Fernando Henrique Cardoso buscou sua inspiração para a elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal. Então, isso é velho! Luiz Inácio não precisa sequer ler - ele não gosta -, mas precisa ouvir a história de Graciliano Ramos.

            Mais ainda - cadê o Cafeteira?: Humberto de Campos, nasceu no Maranhão, mas morou no meu Piauí, em Parnaíba. Ele é autor de um conto - ô Papaléo -, intitulado “O brinquedo roubado”. É frase dele: “A ocasião faz o ladrão”. Senador Geraldo Mesquita, Humberto de Campos era órfão de pai, o falecido Joaquim Gomes de Farias Veras, mas tinha mãe, a humilde, mas poderosa, Ana Veras... Ele, um dia, de chofre - a mãe já era viúva -, adentra à casa de um tio poderoso, onde havia uma árvore de Natal, cheia de presentes - na casa da mãe dele não havia -, aí, ele rouba um presente. Eis aí!

            Fernando Henrique Cardoso inspirou a política econômica; Luiz Inácio, eu não digo que a roubou, mas que a seguiu. Essa Bolsa-Família foi de Cristovam Buarque, foi de Fernando Henrique - Bolsa-Escola, que deu nisso aí. E o cartão corporativo? Aí ele se deu mal, se lambuzou todo. E era um negócio para modernizar a Administração, era para poucos. Fomos Governador de Estado, ô Jefferson Péres, e, antes, só o Governador o tinha, porque ele tem de viajar, tem despesas. Mas, de repente, 12 mil aloprados são beneficiados com esse cartão.

            O escândalo é tão grande, Senador Tasso, que estávamos no Leblon, assistindo a uma missa na Igreja Santa Mônica, quando o padre, um estrangeiro, falou: “Agora a tentação.” “A tentação” é horrível; a vida toda estamos sujeitos à tentação. Até Cristo foi tentado. Mas agora há uma maior: esse cartão...” E o padre não sabia dizer, pois é estrangeiro. Aí, os fiéis: “cartões corporativos!”. Ele disse: “É uma imoralidade!”

            Senador Jefferson Péres, não é pelo roubo, mas pelo mau exemplo, Luiz Inácio! O padre, naquela igreja do Leblon dizia: “O exemplo se arrasta”. Então, estão arrastando os nossos pobres, a classe médica, todo o mundo a roubar, com o exemplo que aí está.

            Com a palavra o Senador Jefferson Péres.

            O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Senador Mão Santa, V. Exª cita, com muita propriedade Graciliano Ramos. Ele não foi apenas um dos maiores escritores da língua portuguesa. Ele foi também um homem de probidade inatacável. Depois de administrar Palmeira dos Índios, como Prefeito, ele apresentou um relatório famoso. Prestou contas de cada centavo gasto - não havia cartão corporativo naquele tempo. Há uma frase que me ficou na memória - eu nunca a esqueci - que mostra a grandeza daquele homem. Como verdadeiro homem de bem, sacrificou até amizades. A frase é a seguinte: “Na defesa do interesse público, perdi alguns amigos. Não me fizeram falta.”

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporo todas as palavras do aparte, que traz sabedoria, encanta o Brasil e enriquece o nosso pronunciamento.

            Mas, quero dizer que não vai haver acordo. Não existe isso. Isso não é casa de palhaço. Isso aqui é a esperança do aprimoramento da democracia.

            Vamos estabelecer a CPI, Luiz Inácio, doa a quem doer! Tem 12 mil aloprados. Agora, ninguém pode viver nessa imoralidade.

            Senador Papaléo Paes, veja na Internet, no “Alerta Total”, de Jorge Serrão: “Desperdício: Equipe de Lula compra jóia com cartão e faz saque em dólares na Suíça, Nova York e Havana”. Cento e vinte mil dólares, da financeira espanhola que representa a Visa, em Havana. É verdade, senão o Luiz Inácio processava o jornalista. Tem cartão na Daslu, que já está aparecendo.

            Então, Senador Jefferson Péres, este Senado vai viver um grande dia quando enterraremos os aloprados portadores desses cartões.

            O padre, lá na missa, disse que eles deveriam ser excomungados. Então, temos esse poder de, aqui, condenar 12 mil. Senador Jefferson Péres, fui “prefeitinho”. Eu fui Governador, que tem, tem, mas, este é um Governo de aloprados.

            Tasso Jereissati, V. Exª ficou estereotipado como um grande administrador, mas antes de V. Exª veio Henri Fayol, pai da administração, que disse: “Unidade de comando e unidade de direção”. Nós só temos um comandante:é o Luiz Inácio. Nós só temos um responsável: é o Luiz Inácio. Os outros são aloprados; os outros são ladrões; os outros tiraram o dinheiro que falta para matar o mosquito da dengue, que hoje transmite a febre amarela; tiraram o dinheiro das professoras, da escola sucateada; tiraram o dinheiro da segurança; tiraram o dinheiro dos presídios. É esse que está faltando.

            Papaléo, V. Exª está dizendo: Mão Santa! E eu digo: Luiz Inácio, este dinheiro, US$15 milhões, dava para terminarmos o porto do Piauí, começado por Epitácio Pessoa.

            Luiz Inácio, queremos salvaguardar Vossa Excelência, e isso tem de ser apurado doa em quem doer.

            Fernando Henrique Cardoso deu uma grande mensagem para este País. É hora de refletirmos! Senador Casagrande, Fernando Henrique Cardoso disse: “Eu paguei os vestidos de D. Ruth”. Senador Duque, vamos meditar.

            Senador César Borges, aquela empresa de departamento, a maior do mundo - o Tasso é quem sabe, porque ele viaja muito -, aquela loja de departamento, já se encontrou compras feitas lá.

            Então, esta é a hora da verdade.

            Aqui, o Papaléo falava: “Vamos começar a Ordem do Dia”. A “Ordem e Progresso” vem antes, na Bandeira.

            Luiz Inácio, olha, desobedecer a Constituição é rasgar a Bandeira. Senador Magno Malta, é rasgar a Bandeira.

            A Constituição, Luiz Inácio, prega legalidade, moralidade, publicidade em uma administração pública. Isso é o que nós vamos fazer. Não tem acordo. Todos nós sabemos da competência, todos nós sabemos da inteligência do Líder do Governo, Romero. Entendo e acho que Romero foi o melhor Líder de Governo desde Deodoro, desde D. João VI. Daí ele se repetir no cargo. Mas ele não vai conseguir esse acordo, porque o Senado vai oferecer ao País essa oportunidade de aperfeiçoar a democracia, de plantar a austeridade, que vai trazer a prosperidade a este nosso País.

            Era o que o tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/02/2008 - Página 1193