Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas a declarações do Presidente Lula sobre os gastos com cartão corporativo da ex-Ministra Matilde Ribeiro.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Críticas a declarações do Presidente Lula sobre os gastos com cartão corporativo da ex-Ministra Matilde Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 22/02/2008 - Página 3277
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ALEGAÇÕES, DESCONHECIMENTO, RETIRADA, RESPONSABILIDADE, MALVERSAÇÃO, CARTÃO DE CREDITO, EXECUTIVO, CRITICA, TENTATIVA, DEFESA, REVERSÃO, DEMISSÃO, MINISTRO DE ESTADO, SECRETARIA ESPECIAL, POLITICA, IGUALDADE, RAÇA, USURPAÇÃO, COMPETENCIA, JUDICIARIO, JULGAMENTO, ABSOLVIÇÃO, IRREGULARIDADE.
  • QUESTIONAMENTO, IDONEIDADE, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, APROVAÇÃO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESAPROVAÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA, SAUDE, EDUCAÇÃO.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, CARLOS CHAGAS (MG), JORNALISTA, DENUNCIA, IMPUNIDADE, EXTENSÃO, CONTAMINAÇÃO, CORRUPÇÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Alvaro Dias, Srªs e Srs. Parlamentares, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Paulo Duque, V. Exª é o Senador que tem mais experiência, e a experiência é a mãe da cultura, da competência.

V. Exª, outro dia, fez um livro sobre discursos no Parlamento brasileiro. Estou aqui com o livro Discurso Político, de Patrick Charaudeau, professor na Universidade Paris-Nord, diretor-fundador do Centro de Análise do Discurso, que, entre outras publicações, co-dirigiu com Dominique Maingueneau o Dicionário de Análise do Discurso. Patrick Charaudeau empata com V. Exª.

Jarbas Vasconcelos, que está meditando, atentai bem para o que diz aqui o mestre:

O argumento de ignorância retira da acusação a possibilidade de atribuir ao acusado a intenção voluntária de cometer um ato que causa prejuízos a outros. Ao declarar “eu não sabia”, o sujeito pleiteia a inocência, o que o libera, em parte, de sua responsabilidade.

Duque, estudar música é complicado, tem aquele do, ré, mi, fá, sol, lá, si, mas há aqueles que têm o dom e tocam de ouvido. Pois o Luiz Inácio não se debruçou, mas ele tem esse dom. Ele é como aquele músico que toca de ouvido. Mas os estudiosos o denunciam:

Ao declarar “eu não sabia”, o sujeito pleiteia a inocência, o que o libera, em parte, de sua responsabilidade.

A ignorância pode dizer respeito aos fatos.

Eis onde estamos.

Aí é perdoável, Mário Couto, mas, agora, Sua Excelência, nosso Presidente da República, ultrapassou os limites. Foi lastimável ontem: uma Ministra saiu por erro, por malandragem, por traquinagem, e disse que foi agredida pela imprensa há dez dias. A imprensa! O que seria deste País sem a imprensa! A corrupção... Não haveria “Ordem e Progresso”, e, sim, “roubar mais, mais e mais”. A imprensa é para denunciar. Ela é reconhecida nas sociedades civilizadas como o quarto poder. Aqui, ela é o primeiro poder. Está desgastado o Poder Executivo, desgastado o Poder Legislativo e desgastado o Poder Judiciário.

Ré confessa, a Ministra, com provas, com essa vergonha do cartão corporativo. Em choque, tomar posse... “Não, eu tive uma conversa”. “A companheira não vai ficar, eu a convenci, porque ela estava sendo agredida, durante dez dias, pela imprensa.”

Em verdade, em verdade vos digo - Cristo assim falava, e eu digo - Luiz Inácio, aquilo foi malandragem, traquinagem. Está no Livro de Deus: “Àquele que muito lhe é dado, muito lhe é cobrado”. Vossa Excelência deu-lhe prestígio, tornou-a Ministra. Então, tem de cobrar mais. É a lei de Deus.

Luiz Inácio, se não quiser ler a Bíblia toda, existem aulas de catecismo, ensinadas na igreja cristã: “Não roubarás.” Essa é a verdade. E, se não quiser estudar, nunca vi erro em um provérbio, na sabedoria popular. Ô Demóstenes, existem até na Bíblia os provérbios de Salomão. “Cada macaco no seu galho.” Luiz Inácio, fique no seu galho! Vossa Excelência é o Poder Executivo, e Vossa Excelência já quer julgar? Deixe as instituições funcionarem. Uma malandragem daquela! Além do valor.

Luiz Inácio, domingo passado, eu estava no Leblon e entrei na igreja Santa Mônica. O padrezinho, estrangeiro, perdeu-se: “tentação, somos tentados; moças de biquíni, bebida... E, agora, apareceu nova tentação: esse cartão...” E ele não sabia o nome. E os fiéis: “corporativo”. “Pois é, tínhamos de excomungá-los.” Pois é!

Ô Luiz Inácio, não somei, não me interessa isso. Tenho é que cumprir meu dever, e meu dever é esse.

Mas, Luiz Inácio, o exemplo de Padre Antônio Vieira: “Palavra sem exemplo é um tiro sem bala”. O exemplo arrasta. Se a Ministra faz essas traquinagens, essas malandragens, como é que vão agir nossos cidadãos humildes, que não tiveram esses privilégios, essas facilidades? Não é esse exemplo que está tornando a sociedade uma barbárie? E é no Brasil todo.

Alvaro, pode me dar mais meia hora! “Pedi e dar-se-vos-á.”

Um quadro vale por dez mil palavras. Tenho um amigo muito bom, trabalhou a vida toda. Fez economia, mas o Governo não oferece saúde. Não mata nem o mosquito da dengue no Rio de Janeiro - coitado do Estado do jeito que está! -, avaliem no meu Piauí! O meu amigo precisou de dinheiro e foi a um banco. Tirou R$30.000,00 para pagar as cirurgias. Quando ele chegava em casa - bem ali, em Teresina -, aí é que se tem de preocupar com essa violência, passou alguém de moto, deu-lhe uma coronhada e tomou-lhe os R$ 30.000,00. Isso ocorreu às 10h na minha Teresina.

Esse é um mal exemplo. Deve-se condenar o homem da motoca, se a Ministra faz o que faz... “Companheira, não foi nada, não”. E ainda julga!

Cada macaco no seu galho. Ô Luiz Inácio, Vossa Excelência é do Executivo, nós o colocamos lá. Quem faz as leis somos nós. Deixe a Justiça absolver. Que negócio é esse? Atacar a imprensa?

Luiz Inácio - vou falar agora para o Luiz Inácio um ditado, porque ele diz que não gosta mesmo de ler: “Cachimbo põe a boca torta”. Vossa Excelência vai a um duelo em que está a imprensa. Imaginem este País sem imprensa! Imaginem! Demóstenes, aí aparece um conflito com um jornalista, alguém constrói uma igreja rica, e aparecem saraivadas de processos, do Oiapoque ao Chuí. Aí, lá vai o Luiz Inácio julgar o comportamento, o litígio entre o jornalista, que busca a verdade, e a Justiça, que diz quem tem razão.

Cada macaco no seu galho - não sei se macaco tem barba, mas está pulando demais. Já pulou aqui, já nos humilhou. Garibaldi parece que vai dar um basta. Vejam os vetos: não derrubamos nenhum.

Bem, então, ele se mete. E, agora, vem com um negócio de “pesquisa”. Ora bolas, num país deste, onde se compra tudo, onde se compra dignidade, onde se compra sentença, não se compra pesquisa? Ora, um país deste, que é uma sociedade de barbárie, porque acabou a ética, a busca da verdade, a dignidade, a retidão! Ruizinho disse que, de tanto se verem as nulidades chegaram ao poder, campear a corrupção, rir-se das honras, vai chegar o dia em que vamos ter vergonha de ser honestos. E está chegando.

Está aqui um cabra bom da imprensa: Carlos Chagas. Aliás, esse nome é bendito. Na Medicina, é um pescador. Carlos Chagas, jornalista de um jornal lá do seu Rio de Janeiro. Hélio Fernandes, ô cabra macho! Já foi preso várias vezes. Aliás, ele é o maior jornalista vivo; morto é Carlos Castello Branco, do meu Piauí, que enfrentou a ditadura. De Carlos Chagas, O País da Corrupção, que peço que todos leiam. É esse o título.

Carlos Chagas não é qualquer um, não. Carlos Chagas não é qualquer um. Ele é jornalista de uma vida, foi governo. Então, O País da Corrupção, grande, tem de ser lido por todo mundo, na tribuna, na imprensa. Puxem aí na Internet!

Olhe o que ele diz, ô Duque, analisando as pesquisas. É interessante.

O Jarbas foi um extraordinário governante, prefeito e governador. Fui a Pernambuco e todo mundo me disse: “Convença o Jarbas a candidatar-se a prefeito. Lance-o para Presidente da República”. É uma confusão doida. Eu fui lá no fim de semana.

Olhe aqui, Jarbas, estouro nas pesquisas, porque isso é fácil. O Fidel Castro tem 98% de pesquisa; o Chávez tem 95%; o Correa, ali, 94%; o Morales, 95%; o Ortega e esse pessoal, aí, são do mesmo time. É fácil: pagou, levou. Com o Figueiredo era: “Bateu, levou”. O Figueiredo era honrado, honesto. Aqui é: pagou, levou. A indagação é a seguinte: como é que pode, Jarbas? V. Exª foi governador. V. Exª teve 80% e saiu aplaudido, está aqui.

E aí? Segurança, olhem a pesquisa: porcaria, menos de 10. Educação: porcaria, no pau. Saúde: no pau, não mata nem um mosquitinho, o mosquitinho que Oswaldo Cruz matava. No Rio de Janeiro, que é uma beleza, há uma epidemia. Saúde no pau, tudo no pau. E aí, como é que pode? O Governo é um só. Não tem esse negócio, não existe esse troço. Tudo no pau. Legislativo? As pesquisas. Judiciário? Também.

É aquilo que Patrick Charaudeau disse: “Ao declarar ‘eu não sabia’, o sujeito pleiteia a inocência, o que o libera, em parte, de sua responsabilidade”.

Ô Luiz Inácio, Vossa Excelência é o responsável. Só temos um responsável por tudo. Unidade de comando e unidade de direção, são esses os princípios da administração. Então, pela baixa qualificação na educação, na saúde, na segurança, na moral, na ética e na decência, o responsável é o mesmo.

O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Senador Mão Santa.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois não.

O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Peço a V. Exª que conclua o seu discurso.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Olha, mas é bom e o Carlos Chagas merece:

A coisa pública foi transformada em coisa privada, como se fosse normal para aquele que puder, funcionário público ou empresário, cidadão comum ou desempregado, meter a mão e locupletar-se do erário e do próximo. E nem falamos, até agora, da vergonha que tem sido o aparecimento de milhares de ONGs fajutas, de fancaria, criadas à sombra do partido do governo e adjacências, sustentadas por dinheiro público, sem prestar contas de seus gastos.

Ô Luiz Inácio, é muito complicado. O artigo de Carlos Chagas tem quatro páginas. Ele disse que ler uma página, Senador Expedito Júnior, dá uma canseira, é pior do que fazer uma hora de esteira. Ele não vai ler quatro páginas.

O jornalista diz que “quem nunca comeu melado costuma lambuzar-se”.

Essa turma nunca comeu mel e estão todos melados.

“A registrar emerge o fato de que a corrupção transformou-se em regra geral. Quem pode aproveita, com o beneplácito da sociedade.”

Em respeito a Carlos Chagas, que até se parece com V. Exª, assim, elegante:

É claro que tudo acontece pela falência do poder público, incapaz de obstar tanta bandidagem, seja por incapacidade, seja por estarem seus agentes atolados até o pescoço na flexibilização de seus deveres.

Torna-se necessário descer mais a fundo nesse poço infinito. Qual a causa de tanta corrupção? A impunidade, para começar. Se os outros podem, por que não poderá o cidadão comum, se, em vez de punido, o corrupto é exaltado e seguido como um vencedor?

Como a Ministra! “A cabeça é boa, é companheira... Não fez nada.” Substituiu-se a ética pela malandragem.

Este é o nosso Carlos Chagas: “Falta-nos uma corporação, uma categoria social ainda não contaminada, pois todas se viram dominadas pela corrupção ou pela impotência”.

Ele termina dizendo que, para virar o jogo, só se for - ele é interessante e faz uma gozação - como uma partida entre Flamengo e Corinthians, em que o jogo pode ser virado pela torcida, porque esses que estão aí dão mau exemplo.

Estamos aqui para dar um basta nisso. Haveremos, neste Senado, não de continuar a ter a esperança, mas a certeza de que vamos manter este País na ordem e no progresso. As cores da bandeira são essas e não aquele vermelho, nem o treze, do azar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/02/2008 - Página 3277