Discurso durante a 11ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos duzentos anos da abertura dos portos no Brasil.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos duzentos anos da abertura dos portos no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 22/02/2008 - Página 3240
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ELOGIO, ANTERIORIDADE, DISCURSO, PRESIDENTE, SENADO, HOMENAGEM POSTUMA, JONAS PINHEIRO, SENADOR.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, CENTENARIO, ABERTURA, PORTO, BRASIL, ALFANDEGA, COMERCIO EXTERIOR, REGISTRO, HISTORIA, ESTADO DO PIAUI (PI), VALORIZAÇÃO, VULTO HISTORICO, CONHECIMENTO, MEMORIA NACIONAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Garibaldi Alves Filho, autoridades presentes - não citarei nomes porque são tantas autoridades que eu poderia esquecer alguns nomes e, mesmo involuntariamente, seria imperdoável -, meus senhores, encantadoras senhoras do meu Brasil, brasileiras e brasileiros que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, companheiros parlamentares, permitam-me divagar um pouco.

Ontem, vivemos um momento de tristeza. Um companheiro nosso saiu desta vida para os céus. Mas num momento em que o Senado se afirmava.

Ô, Garibaldi, nosso Presidente, até então eu tinha na minha mente que em um momento daqueles... Aliás, em uma de suas peças, Shakespeare traduziu muito bem o discurso de Marco Antônio despedindo-se de Júlio César. Para a humanidade, ele teria sido o melhor orador nesses momentos de tristeza fúnebre. Mas, Garibaldi Alves, V. Exª superou Marco Antônio, que se despedia de Júlio César. Ficamos todos orgulhosos do Presidente que temos. Olha, foi tão emocionante que o Parlamentar que representava a Câmara dos Deputados - ô, Heráclito, não sei se você percebeu - disse: “Se algum dia eu morrer...”. O Caiado, grande orador, mas é porque ele não seguiu Cícero, que disse: “Nunca fale depois de um grande orador”. Ele devia ter feito de suas palavras a de todos nós, de todos os brasileiros. Mas eu queria dizer o seguinte, Garibaldi - vou dizer agora como Caiado: se algum dia eu morrer, quero que V. Exª também faça a saudação.

Mas estamos aqui para saudar os duzentos anos da abertura dos portos no Brasil. Eu vinha ouvindo o professor Cristovam Buarque que disse que só tem duzentos anos de Brasil. Realmente, não podemos negar que, quando a Corte Portuguesa aqui chegou, deslanchou. Acabou aquela história de sesmaria, capitania hereditária, governadores-gerais, e instalou-se a civilização, tanto é que o Professor se diz frustrado, porque bem aí, no Peru, em mil quinhentos e poucos já havia uma faculdade. Nós também, a primeira - de medicina - foi iniciada por D. João VI. Comemoram-se 200 anos da inauguração da Faculdade de Medicina. Então, o mundo civilizado começou aí com essa abertura dos portos. Essa é a globalização.

O motivo de eu estar aqui é porque o Piauí não está lembrado. Somos um Estado diferente, somos o mais importante Estado da história que fez este País. Até aqui, podem olhar, podem somar os Senadores: dois do Piauí estão aqui. Cadê os outros? O Piauí sempre foi assim. Ô, Heráclito, vou mandar V. Exª cantar o Hino daqui a pouco; a Ideli canta. “Piauí, terra querida / Filha do sol do Equador / Pertencem-te a nossa vida / Nosso sonho, nosso amor! Na luta, teu filho é o primeiro que chega”. Fomos nós que colocamos os portugueses para fora do Brasil na Batalha do Genipapo, em 13 de março.

Mas o que quero dizer é o seguinte: alfândega, está aqui a Marinha que admiro muito, na minha cidade tem uma Capitania dos Portos. Li um livro, Comandante da Marinha, do Almirante Pena Boto, chamado Meu Exílio no Piauí. Ele foi uma das maiores sumidades da história da Marinha, fez curso de balística em Paris. Como o horóscopo dele não dava bem com o do Ministro da Marinha, ele diz que foi castigado e escreveu o livro Meu Exílio no Piauí.

Ele, um dos melhores currículos da Marinha, tinha de aprender balística, Almirante Pena Boto. Recentemente, todo mundo se lembra de que, quando, no País, saía Getúlio, Café Filho, Carlos Luz, Tamandaré, ele aproveitava os conhecimentos de balística para matar morcego na Capitania dos Portos do Piauí. Ele disse no livro: “morcego é um rato que se dedicou à Aeronáutica”. Não sei se V. Exªs conhecem morcego, mas lá tem.

O fato é que, no livro, o Almirante Pena Boto diz que na Parnaíba há duas horas: a hora da prefeitura na praça e a hora da alfândega. Então, quando íamos namorar ou marcar um encontro, tínhamos de dizer se era na hora da alfândega ou na hora da prefeitura. Então, isso traduz a grandeza da abertura dos portos.

Lembro-me, ainda na minha infância, da autoridade do inspetor Pires de Castro e de sua esposa Dona Iracema, uma pessoa humanitária e tudo. E isso foi no Brasil afora.

Mas por que tem essa importância?

A história é mal contada. Tuma, esse negócio de dizer que o Piauí foi colonizado do interior para o litoral é de uma bestialidade e de uma ignorância tremenda! Existe litoral no Piauí, pequeno, com 66 quilômetros. Mas, se chegava embarcação em Fortaleza, em São Luís, tinha de ir pelo meio. No meio é que está a virtude e a felicidade. Então, eles estavam lá.

O fato é que chegou lá um português muito rico, Domingos Dias da Silva. E, com a mulher brasileira, especialmente a piauiense - sou casado com uma piauiense -, ele não voltou mais. Ficou lá e teve dois filhos: Simplício Dias da Silva, o maior dos brasileiros, e Raimundo Dias da Silva.

Simplício Dias da Silva estudava em Porto. Ele tinha tanto dinheiro, que, quando chegava a mesada dele, Garibaldi - eu ainda não fui a Porto, se V. Exª tiver uma missão, quero ver a veracidade; existe o livro Simplício, simplição da Parnaíba -, ele fazia tanta farra, tanto carnaval, que acabou sendo expulso da faculdade e foi para a Espanha. Aí, ele conviveu com Simon Bolívar.

Mas, para aqueles que são como São Tomé, o melhor livro - e temos de aprender; cadê o Cristovam Buarque, para lê-lo e dá-lo aos professores? - é de uma mulher - tinha de ser de uma mulher: As barbas do Imperador.

Um dos maiores homens: Pedro II, o maior político. Quase 50 anos construindo esta Pátria - não foi Luiz Inácio que construiu melhor no passado - quase 49 anos, a inteligência e a competência de D. Pedro II.

D. João VI e seu filho, D. Pedro I, um bravo. Temos é de divulgar isso. O professor Cristovam fica falando: “Não, não”, chorando. Ele tem de dizer que Pedro I foi um dos maiores homens do mundo, maior do que Alexandre. Era namorador, e é bom mesmo. Daí, nossa grandeza. Mas ele chegou aqui e voltou para reconquistar o reino da sua origem: Portugal. Atravessou os mares e foi rei lá também, meio novo, com uns 34 anos, ou um pouco mais.

Então, temos de valorizá-lo, ô Luiz Inácio! Pedro I também é um herói. Passou por aqui. Esse Pedro II, nem se fala! No livro a que me referi, de uma mulher, ela diz que dois são os melhores desde quando começou o Brasil; segundo Cristovam, em 1800, no século XIX. Político, Pedro II. E Mauá. Os dois maiores homens.

Mas, lá no livro, Garibaldi - quem fizer isso tem de registrar -, consta que, neste País, só existiam três orquestras. Três. Uma era na minha cidade, Parnaíba. O Almirante Pena Boto conheceu. Depois, passou por lá o Amorim do Vale, que foi Ministro. Só havia três orquestras. Só três. Está lá. Ele pegava os negros e os mandava - ele tinha cinco navios, exportava carne - para estudar música. Ele tinha uma orquestra.

Na semana passada, eu estava vendo a igreja e pensava: “Ora, mas como é que pode! Não tem nenhuma igreja do interior. Cabe tudo dentro da matriz da Parnaíba.” O menor não faz; é o maior que faz.

Tivemos também a civilização arejada do mar, tanto é verdade que Padre António Vieira ia a pé de Fortaleza a São Luís e passava pela minha cidade, onde, hoje, existe a igrejinha da Frecheira, na cidade de Cocal, construída por padres. Eram 60 dias de viagem, Garibaldi, que Padre António Vieira levava para chegar. O Sarney sabe. Existe lá um museu do Padre António Vieira.

Então, isso é grandeza, mas queremos render homenagem. Aqui está a globalização, aqui está para entendermos o mundo e aqui está para entendermos que o capital é selvagem. O melhor poder é o poder político.

Olha como é eficiente isto aqui - deve ser o Dr. Roberto: Lilia Moritz Schwarcz. Mulher, autora do melhor livro.

Então, queremos dizer que, dentro da grandeza da globalização, temos de entender e respeitar a história. O poeta disse, e nós repetimos. Ulysses Guimarães, no seu mais belo discurso, repetia: “Navegar é preciso, viver não é preciso,” porque navegar era a simbologia da coragem, da competência, da necessidade. E mais: o poeta diz: “Esse mar é salgado pelas lágrimas dos órfãos, das mães viúvas, das noivas que ficaram só, na esperança de amor. Por isso que o mar é salgado.”

Mas estamos aqui para homenagear e entender. E vamos ser otimistas. Passou-se o tempo em que os ingleses dominaram. Eles dominaram o mar, tanto que essas alfândegas que estão aqui cobravam imposto mais barato. Era mais barato entrar aqui qualquer mercadoria inglesa do que vinda de Portugal ou de outros lugares.

O poder econômico é perverso. Quando nos deram dinheiro, e aos nossos países irmãos - Argentina e Uruguai -, acabamos com o poder econômico do Paraguai, que começava a ter uma indústria de tecido competitiva. E competia com eles.

Estamos aqui e somos este poder político. Pode haver falhas, mas não somos perversos. Somos aqui 81, Luiz Inácio - ele tem de entender isso! Somos filhos do voto e da democracia. E estamos aqui. O Senado se engrandece quando ele aviva na memória a importância da história.

Somos um País. Louvo o professor - e não vou discutir - que diz: “Só temos 200 anos.” Ele conta a partir de 1808. Fomos colônia de Portugal, mas podemos dizer, hoje, que estamos avançando muito.

Para terminar mesmo, Sr. Presidente, agora V. Exª já sabe: quando eu morrer - se eu morrer antes -, V. Exª vá lá fazer um discurso daqueles! Já fico feliz.

Mas Juscelino Kubitschek traduziu isso muito bem para o momento em que vivemos. Tem de haver estudo e ação. Isso é que faz o desenvolvimento. Juscelino disse: “É melhor ser otimista. Otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errado.”

Então, sejamos otimistas e vamos tirar do estudo, da inteligência dos que nos governaram o modelo para nossas ações; e vamos nos levar pela inspiração da abertura dos portos para avançarmos na globalização, entendermos que a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo, e que não somos poder. Entendo que poder é Deus. Somos um instrumento da democracia, instrumento do Legislativo, instrumento do Executivo e instrumento do Judiciário. O mais é vaidade. Poder é o povo, que trabalha e paga a conta.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/02/2008 - Página 3240