Discurso durante a 13ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Exalta a candidatura do Senador Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA. PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Exalta a candidatura do Senador Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos.
Aparteantes
Cristovam Buarque, João Pedro.
Publicação
Publicação no DSF de 23/02/2008 - Página 3400
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. POLITICA EXTERNA. PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • APOIO, CANDIDATURA, SENADOR, NEGRO, PRESIDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REGISTRO, BIOGRAFIA, ELOGIO, CONDUTA, PRIORIDADE, DEFESA, DIREITOS HUMANOS, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, RENOVAÇÃO, POLITICA, DISCORDANCIA, GUERRA, PROPAGAÇÃO, PAZ, VALORIZAÇÃO, VIDA HUMANA, COMPARAÇÃO, ATUAÇÃO, MARTIN LUTHER KING, LIDER, LUTA, IGUALDADE.
  • ANALISE, TRANSFORMAÇÃO, IDEOLOGIA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), POSSIBILIDADE, ELEIÇÃO, NEGRO, PRESIDENTE, LEITURA, TRECHO, LIVRO, AUTORIA, SENADOR, CANDIDATO, PRESIDENCIA, REGISTRO, ATUALIDADE, EXISTENCIA, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, DEFESA, IGUALDADE, RAÇA.
  • REGISTRO, APOIO, JUVENTUDE, SENADOR, CANDIDATO, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), EXPECTATIVA, VITORIA, FAVORECIMENTO, ACORDO, ECONOMIA, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, SETOR, FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA.
  • ANUNCIO, ENCAMINHAMENTO, PRONUNCIAMENTO, ORADOR, APOIO, CAMPANHA ELEITORAL, SENADOR, CANDIDATO, PRESIDENCIA, IMPORTANCIA, ELEIÇÕES, INTERFERENCIA, POLITICA INTERNACIONAL.
  • ANUNCIO, REALIZAÇÃO, DEBATE, SENADO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, GARANTIA, REAJUSTE, SALARIO, APOSENTADO, IGUALDADE, SALARIO MINIMO, DEFESA, EXTINÇÃO, FATOR, NATUREZA PREVIDENCIARIA.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, V. Exª acabou tocando no tema sobre o qual vou discorrer nesta manhã de sexta-feira. Mas, antes de dar início ao tema, quero dizer que tenho muito carinho pelo jornalista Cláudio Humberto, que, ontem, na Comissão de Direitos Humanos, em que falei sobre o Senador Barack Obama, alertou-me para ter cuidado na pronúncia do nome do Senador. Quero agradecer ao jornalista Cláudio Humberto, que é meu amigo.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª tem lido os livros do Cláudio Humberto? Leu o livro Poder sem Pudor?

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Tenho muito respeito por ele. Temos conversado diversas vezes, e ele me alertou sobre a pronúncia, principalmente no caso do Senador.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - O grande erro do Presidente Collor foi ter afastado o Cláudio Humberto, que sabia defendê-lo autenticamente. Sem dúvida alguma...

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - É um grande jornalista.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pois diga para ele que, na minha sugestão, o nosso Senador Paulo Paim é uma mistura de Obama com Martin Luther King.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Obrigado, Senador Mão Santa.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos vivendo, com certeza absoluta, um momento muito peculiar, que, dependendo de como irão transcorrer os fatos, poderá ser um marco histórico no contexto mundial. O debate das eleições dos Estados Unidos da América se entrelaça com o sentimento de todos aqueles que, ao longo de suas vidas, acreditaram - e acreditam - que um mundo diferente era possível.

Senhoras e senhores, no dia 20 de janeiro de 2009, tomará posse o 44º Presidente dos Estados Unidos da América, de acordo com o resultado das eleições de 4 de novembro de 2008. É, sem dúvida, um acontecimento de importância mundial, pois o candidato eleito irá dirigir, Senador Mão Santa, por quatro anos, a maior economia mundial, o maior poderio militar do planeta, o maior acervo científico e tecnológico, do conhecimento em geral - e, além desses, há outros fatores que contribuem para tornar os Estados Unidos da América a maior potência mundial.

Vale salientar que o fato de os Estados Unidos enfrentarem uma das maiores crises econômicas, desde a Grande Depressão de 1929, não implica perda de relevância desse importante pleito para o mundo inteiro e, particularmente, para o Brasil.

Sr. Presidente, Senador Mão Santa, se, até o dia 4 de novembro de 2008, não ocorrer nenhum acontecimento extraordinário, nenhuma reviravolta, o próximo Presidente dos Estados Unidos será escolhido entre os Senadores Barack Obama e John McCain.

Pela primeira vez na história daquele país, existe a possibilidade real de um negro ser Presidente da República. Isso representa um acontecimento marcante, num país que, até os anos 60, praticava a segregação racial de forma aberta, como a que obrigou a intervenção federal no Estado do Alabama.

Sr. Presidente, por questão de justiça, é bom registrar que, para este momento acontecer, o povo negro americano e o povo branco passaram por grandes embates, por momentos decisivos, como a aprovação das políticas afirmativas, que, aqui no Brasil, resume-se ao Estatuto da Igualdade Racial, semelhante ao aprovado pelo congresso americano após a caminhada em Washington.

Cumprimento, mais uma vez, o Presidente Lula por ter feito, esta semana, um apelo ao Congresso Nacional, para que aprovasse os direitos civis dos negros brasileiros, para que aprovasse o Estatuto da Igualdade Racial.

Lembro também o inesquecível Martin Luther King, que deu sua vida por essa causa, e de outros líderes da caminhada do povo norte-americano.

A candidatura de Barack Obama aponta para novos tempos. Filho de homem negro e de mulher branca, já nos tempos de colégio, em Chicago, Obama se tornou líder comunitário, com um grupo de base da igreja, que buscava melhores condições de vida para as vizinhanças pobres que sofriam com a praga do crime e com a falta de investimentos que beneficiassem a população carente.

Barack Obama deu seguimento à sua luta e, assim, veio a ser eleito Deputado Estadual e, mais tarde, Senador. Continuou sempre firme em sua trajetória em favor dos direitos civis e contra as condições adversas em que viviam os mais humildes.

Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Senador Gilvam Borges, Senador Cristovam Buarque, Senador Eurípedes Camargo, sempre acompanhei a caminhada de grandes líderes, que sempre digo que são nossos espelhos. Acompanhei a caminhada de Nelson Mandela, que derrubou o apartheid e que chegou à Presidência da África do Sul; acompanhei a caminhada de John Kennedy, que era defensor dos direitos humanos e que chegou à Presidência dos Estados Unidos; acompanhei a caminhada e o assassinato, que chocou o mundo, de Mahatma Gandhi, que derrotou o império britânico e que também, como Kennedy, foi assassinado.

Bonita também, ninguém pode negar, é a trajetória do nosso Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um nordestino, um metalúrgico que alcança a Presidência do País e que está operando mudanças importantes na vida do povo brasileiro. A vitória do Presidente Lula, em duas vezes sucessivas - e o resultado das pesquisas o prova -, mostra uma verdadeira revolução em matéria de conceitos no continente americano.

Hoje, estou vivendo outro momento, Senador Mão Santa, que gera sentimentos em mim, que, de tão profundos, são difíceis de descrever ou até mesmo de falar. Sem dúvida, é um grande feito para os Estados Unidos e para o mundo em geral a candidatura desse homem negro, que luta pelos direitos civis, que busca a inclusão das pessoas com deficiência, que não aceita, Senador Cristovam, crianças fora da escola, que pretende colocar a saúde ao alcance de todos, que, inclusive, pediu a Washington que colocasse os interesses de grandes empresas de lado e se concentrasse na reforma da saúde, da educação e da segurança. É um homem voltado, sem sombra de dúvida, para os direitos humanos.

Srªs e Srs. Senadores, esse homem reconhece também que grande parte do progresso alcançado pelos Estados Unidos teve como mola propulsora o mercado aberto, mercado este do qual fazemos parte, e isso é muito positivo, porque deixa as portas abertas e fortalece as parcerias, neste momento em que o Mercado Comum Europeu boicota a produção de carne do Brasil.

Barack avança mais. Barack, ontem, à noite, foi ousado: disse, para temor dos conservadores, que este é o momento de ampliar as relações com Cuba.

            Acredito que a vitória de Obama terá reflexos positivos na relação entre Brasil e Estados Unidos em todas as áreas. Obama disse, recentemente, em entrevista à BBC, o seguinte: “O Brasil fez um excelente trabalho em estimular a sua indústria de combustíveis alternativos, e os Estados Unidos devem seguir esse exemplo”. Ele teceu elogios à cooperação entre Brasil e Estados Unidos na área de biocombustíveis.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sou, e não nego, admirador desse homem que vem lutando pelos direitos da população por que acredita que esse é o modo de construir algo novo. O pensamento dele se ajusta demais com aquilo que penso. É um pensamento moderno, que se assemelha com o daqueles que pensam olhando para o horizonte, olhando para o conjunto da floresta, olhando para os habitantes da floresta, não somente para um detalhe na floresta.

A força de sua mensagem avança para além das diferenças entre negros e brancos. Ele busca a mudança entre aquilo que foi e aquilo que será. Ele quer uma pátria para todos, conforme ele mesmo disse. Durante seu discurso de vitória, na primária democracia da Carolina do Sul, ele disse, Senador Eurípedes: “Esta eleição não irá opor negos e brancos. Ela opõe o passado e o futuro”.

Em seu livro A Audácia da Esperança, que tive a alegria de ler, suas palavras, que fazem parte de um discurso que ele proferiu na Convenção Nacional Democrata de 2004, foram: “Não existem os Estados Unidos dos negros, os Estados Unidos dos brancos, os Estados Unidos dos descendentes de latinos ou os Estados Unidos de asiáticos - existem apenas os Estados Unidos da América”.

Ele complementa, dizendo:

Para as pessoas que citam esse seu discurso, essa idéia reflete uma visão dos Estados Unidos finalmente livres do passado de Jim Crow e da escravidão, dos campos de concentração japoneses e dos bóias-frias mexicanos, das tensões trabalhistas e dos conflitos culturais - um país que concretiza o desejo de Martin Luther King de não sermos julgados pela cor da nossa pele, mas pelo nosso caráter.

E parece que esse pensamento, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, vem ao encontro dos anseios da população daquele país. Disse um eleitor: “Ele é um homem negro e é um grande orador. É como Martin (o reverendo Martin Luther King), que tinha muitos correligionários brancos”.

Sr. Presidente, é inegável o fato de que Obama representa uma revolução em termos de combate à discriminação, pois ele conhece a realidade dos brancos, dos negros, dos asiáticos, dos latinos, dos índios, dos pobres e dos ricos.

Ele mesmo afirma em seu livro:

Quando ouço os comentaristas dizendo que meu discurso é sinal de que chegamos à “política pós-racial” ou de que já vivemos em uma sociedade sem discriminação racial, preciso fazer uma ressalva. Dizer que todos formamos um só povo não é sugerir que nele as questões de raça foram superadas, nem que a luta pela igualdade foi vencida (...)

Segue ele dizendo:

(...) embora minha própria criação dificilmente seja um exemplo típico da experiência afro-americana - e embora, por sorte e circunstância, eu hoje ocupe uma posição que me separa da maioria dos solavancos e contusões que o negro comum precisa enfrentar -, sou capaz de relatar a ladainha usual de pequenos insultos que me foram direcionados ao longo de meus 45 anos (...)

Repeti, aqui, Senador Heráclito Forte, trechos do discurso de Obama, porque isso faz parte da vida, tenham certeza todos os senhores, de todos os homens e mulheres negros!

Esse homem está querendo a renovação. E ele, certamente, conta com a fonte de inspiração que move todos nós a agirmos melhor hoje do que agimos ontem. Ele afirmou, enfaticamente: “Nossos valores espirituais têm tanta importância quanto o PIB”.

O grande apoio que ele tem recebido, senhores e senhoras, dos jovens de todas as cores, de todas as etnias e de todas as religiões demonstra, de forma clara, que as mudanças são muito, muito bem-vindas.

Alguns dizem que Obama é um sonhador. Eu diria, Sr. Presidente, que a vida já provou que, se você acredita, seu sonho poderá, sim, se tornar realidade.

Lembro as palavras do Professor Cândido Mendes, que salienta: “A subida do Senador de Illinois, ainda sem freios, é de uma bofetada nesse mesmo status quo de uma nação disposta a virar a mesa, por uma vez, do que está aí”. É corajoso o Professor Cândido Mendes, que disse essas palavras, que introduzi no meu pronunciamento, a respeito da grande mudança que pode ser essa disputa eleitoral nos Estados Unidos, com a eleição de um presidente negro.

Sr. Presidente, de fato, eu me confesso apaixonado por este momento especial. Não é que a gente queira, como disse a esposa de Obama, endeusá-lo. Não é isso. Disse Michelle Obama: “Obama é um homem como todos os outros, mas um homem de muita força para fazer as mudanças de que os Estados Unidos precisam”.

Vejo-me, Sr. Presidente, empolgado. Este é um momento especial, porque traz a esperança de novos tempos. É um sentimento gratificante na história da Humanidade.

Nossas vidas só têm sentido se forem dedicadas a novos rumos, ao alcance de mãos cansadas, de ombros fatigados, de almas mutiladas pela injustiça, de corações angustiados que esperam um amanhã melhor, sejam eles de homens ou de mulheres, de negros, de brancos, de índios, de ciganos, de crianças, de idosos, de deficientes. Enfim, essa luta é permanente, para que se combata qualquer tipo de discriminação, inclusive religiosa e sexual.

Nossa visão tem de ser para todos, tem de ser para todos. Não há como não olhar para os sem-teto, não há como não olhar para os sem-salário, para os sem-terra, para a difícil caminhada do homem do campo.

Ao mesmo tempo em que gostaríamos de ver os homens e as mulheres na terra, trabalhando e produzindo, devemos também olhar e fortalecer o espírito dos produtores do agronegócio. A ligação do amanhã será, sim, entre empregados e empregadores, entre empreendedores e consumidores. Nós podemos construir essa realidade. Eu sei que tudo é possível, e haveremos de chegar lá.

Chegará um dia, Senador Mão Santa, em que todos perceberão que o lucro é bom, mas deve ser para todos. Chegará um dia em que todos entenderão que defender o meio ambiente é defender a vida. Nesse dia, todos perceberão que valeu a pena lutar. Nesse dia, a justiça, que pode ser verdadeira, será real. A História passará, nesse dia, a assumir nova face.

Espero eu que o exemplo de Barack Obama, de ser contra a guerra e de ser um amante da paz e dos direitos humanos, sirva para as novas lideranças do Brasil e do mundo, onde, efetivamente, o ser humano esteja em primeiro lugar.

Sr. Presidente, antes de conceder um aparte ao Senador Cristovam, quero concluir esta parte do meu pronunciamento.

Não tenho dúvida de que os homens e as mulheres que defendem um mundo melhor para todos serão os líderes que se vão encontrar com o nosso povo, como as águas dos rios que rompem obstáculos, contornam as montanhas e seguem seu destino, para se entrelaçar com as águas verdes dos mares.

Senador Cristovam, concedo o aparte a V. Exª, com muita alegria.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Paulo Paim, primeiro, quero dizer que esse discurso não deveria ser interrompido.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Penso ser corretíssimo que este aparte - creio - tenha sido feito no final. Em segundo lugar, acho que o senhor deveria fazer a tradução desse discurso e mandá-lo para a equipe do Obama. Isso tem um significado para nós todos do Senado. Agora, vou entrar no juízo: concordo plenamente com sua fala, de que representa uma mudança a aceitação de um negro como candidato viável à presidência. Já houve outros, mas sem viabilidade para marcar posição; desta vez, é um candidato que tem tudo para ganhar. Essa é uma mudança radical de cultura. Mas há mais do que isso: não é apenas por ser negro, mas também por trazer uma política diferente, como o senhor falou. Ele traz uma renovação - além da cara -, uma renovação da política. O Presidente Lula trouxe uma nova cara, mas eu gostaria de ver mais radicalismo na maneira como ele leva adiante as mudanças sociais neste País, não as econômicas, porque eu sempre defendi - e o senhor sabe - que não há outra política econômica.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Sou testemunha da sua posição.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Daí os resultados que começam a se ver agora: o Brasil virando credor, graças à continuidade de uma política antiga; não é uma política de hoje. Para mim, não há espaço para a revolução na economia. Virá um dia, mas não há hoje. O espaço da revolução está na educação, especialmente, e no social, em geral. Barack Obama representa o espírito de novidade. Há outra coisa: é preciso fazer justiça, porque, ainda que não fosse ele o escolhido pelo Partido Democrata, já haveria uma mudança de cultura, pois a candidata que venceria seria uma mulher. Uma mulher como candidata viável à Presidência da República é uma revolução cultural tão grande quanto a eleição de um negro, ou quase tão grande, digamos - talvez, não tanto -, porque o machismo pode ser um pouco menos forte do que o racismo, mas ambos são grandes embaraços à democracia no mundo inteiro. Finalmente, eu queria dizer que - isso é o que precisamos refletir - há o sentimento de desejo de mudança no mundo inteiro. Os Estados Unidos estão vindo até um pouco atrasados, eles estão depois de alguns países da América Latina, depois mesmo de alguns países europeus, como Portugal, que elegeu socialistas; como a Espanha, que elegeu um socialista; como a Itália, que elegeu Romano Prodi. Há uma onda nova por aí, uma onda em que não está muito claro qual é programa, em que cada um até diz de forma diferente um do outro. Mas, Senador João Pedro, há uma onda de mudança no mundo, uma onda de novidade na política, e alguns precisam saber disso. O eleitor cansou de votar no mesmo. Isso se reflete nos Estados Unidos e se reflete, com todos os erros que possamos reconhecer, de vez em quando, na Venezuela, na Bolívia, no Equador e, agora, no Paraguai. Há um clima, uma onda de mudança, uma onda de novidade. Alguns vão tentar surfar nessa onda por oportunismo, com posições reacionárias e conservadoras e com discursos progressistas. Vai surgir isso. Veremos candidatos que vão ignorar todos os seus discursos do passado, para surfarem nessa onda da novidade. Outros vão manter a coerência de defenderem mudanças desde sempre, e, quem sabe, essa onda carregue esses e não os outros oportunistas. Nos Estados Unidos, estamos vendo essa onda claramente. Vou concluir. Desculpe-me pelo aparte tão longo num discurso tão importante!

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - É uma satisfação ouvir o aparte de V. Exª.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Até o candidato republicano, ele próprio, tem traços de novidade também, embora não em relação à guerra do Iraque, porque é um conservador igual aos Estados Unidos, talvez porque tenha ficado preso, durante cinco anos, no Vietnã. Mas até ele apresenta propostas diferentes em relação ao atual governo norte-americano. Então, o discurso de V. Exª, na verdade, é sobre a onda de novidade que está nos anseios do povo, querendo encontrar eleitores candidatos. Hoje, é o eleitor que está buscando o candidato, não é o candidato que está buscando eleitores. O eleitor está buscando o candidato que reflita essa onda de novidade, e seu discurso é muito bom, porque traz o que está acontecendo nos Estados Unidos, para que a gente aprenda também aqui. Parabéns pelo seu discurso! Reafirmo minha sugestão: traduza esse discurso e o mande para a campanha do candidato Obama.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque. V. Exª, como sempre, é muito gentil. O aparte de V. Exª só fortalece a linha do meu pronunciamento. Confesso a V. Exª que acatarei sua sugestão: vou fazer o encaminhamento do pronunciamento, que é um gesto deste Senador do Parlamento brasileiro, que se identifica, e muito, pela forma como eu tenho atuado no Parlamento, com essa bela mensagem que Obama tem levado neste momento aos Estados Unidos. E eu o faria, sem sombra de dúvida, a outro presidente, branco ou negro, que, em um outro país, tivesse o mesmo ponto de vista.

É claro que, aqui, no Brasil, fiz referências ao Presidente Lula, que representa, como V. Exª mesmo mencionou, essa renovação, em nível internacional, pela sua postura, pela maneira de agir, pela recondução ao cargo, por duas vezes, pelo povo brasileiro e pela forma como ele se apresenta hoje perante a Nação, e as pesquisas assim demonstram.

Obrigado, Senador Cristovam.

Concedo o aparte ao Senador João Pedro.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Paulo Paim, quero parabenizá-lo pelo belo discurso, pela reflexão acerca dos fatos relativos à eleição nos Estados Unidos. V. Exª faz, no nosso Parlamento, na nossa Casa, uma reflexão importante, uma análise importante. É evidente que as eleições nos Estados Unidos não poderiam passar despercebidas de todos nós, principalmente de um Senador militante, de um Senador engajado, como V. Exª. Existe no Brasil, inclusive, um representante do Partido Democrata. Diria mais: se eu estivesse nos Estados Unidos, eu votaria nele.

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Declarei meu voto aqui também.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Veja só: esse é um fato novo. Inclusive, estou me policiando, tenho procurado adotar uma postura mais paciente, mais terna, com a sociedade americana. Minha cultura, minha formação política é antiamericana, apesar de haver coisas importantes nos Estados Unidos. Mas esse debate que se está dando trata da América Latina e dos latinos. A posição dele é a mais avançada, nesse sentido, em relação à posição de todos os candidatos, frente à guerra do Iraque, frente à questão do Oriente Médio. A posição dele é a mais avançada, pois rompe com a postura autoritária e bélica das políticas dos Estados Unidos. Então, o Senador Obama é a novidade. Espero que seja a novidade com conteúdo. Espero que ele ganhe as primárias e, quem sabe, seja o caminho para um novo paradigma para a humanidade. A posição dele em relação ao momento que Cuba está vivendo, com a renúncia do grande líder Fidel Castro, também é uma posição avançada para a postura dos Estados Unidos. Parabenizo V. Exª pela reflexão, pela análise! Estou torcendo para que o resultado dessa eleição faça os Estados Unidos mudarem sua política em relação à América Latina, à Ásia, enfim, ao mundo. O Senador Cristovam Buarque tocou num assunto importante. No caminho da análise do Senador Cristovam Buarque, eu diria que há um movimento nas Américas. E a história é muito curta. Se observarmos o período de 2002 a 2008, vamos verificar que há uma tendência da sociedade, do eleitorado, de votar no novo. Isso passou, é verdade, pelo Chile, pelo Brasil. Isso começa com Lula, com Evo Morales. Se analisarmos detidamente o significado político, histórico e sociológico da vitória de Evo Morales, veremos que é de uma grande riqueza, pois significa uma ruptura com o passado - precisamos mergulhar nisso e compreender. Também cito Hugo Chávez. Penso que há uma onda incontrolável na sociedade, há um movimento extremamente positivo, renovador, rompendo paradigmas, e isso chegou à América do Norte. Destaco aqui o financiamento da campanha do Senador Obama: mais da metade do financiamento da campanha está sendo feita individualmente. Há, inclusive, isso. As outras candidaturas recebem fundamentalmente de empresas, e a dele é do cidadão americano e da cidadã americana. Isto me chama a atenção: a condução do processo e a presença da juventude americana. Que coisa bonita! Parabéns pelo pronunciamento de V. Exª! Que o resultado eleitoral dos Estados Unidos seja bom não apenas para o povo americano, mas também para a humanidade!

O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Senador João Pedro, pelo aparte qualificadíssimo, tocando, como o Senador Cristovam, de forma muito ampla, nessa onda positiva, que espero que se estenda por todo o planeta. Os líderes, efetivamente, têm compromisso com as políticas humanitárias.

Da tribuna, neste momento, eu lhes confesso muito orgulhoso desse crescimento do ser humano, em que as propostas conservadoras são obrigadas a recuar, em que as propostas que defendem a guerra, o confronto, a morte e a destruição da natureza estão sendo atropeladas por homens e mulheres que acreditam - com isso, termino, Senador Mão Santa - que a construção de um mundo novo é possível.

Muito obrigado, Senador Mão Santa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/02/2008 - Página 3400