Discurso durante a 21ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Necessidade de trazer para o Senado Federal o debate sobre grandes temas nacionais.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. ELEIÇÕES.:
  • Necessidade de trazer para o Senado Federal o debate sobre grandes temas nacionais.
Aparteantes
Adelmir Santana, Mário Couto, Mão Santa, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 04/03/2008 - Página 4338
Assunto
Outros > SENADO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • ADVERTENCIA, CRISE, REPUTAÇÃO, SENADO, SUGESTÃO, REDUÇÃO, RECESSO, SENADOR, INCLUSÃO, PAUTA, DISCUSSÃO, ASSUNTO, RELEVANCIA, AMBITO NACIONAL, INTERESSE PUBLICO.
  • SAUDAÇÃO, ARTHUR VIRGILIO, SENADOR, ANUNCIO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, SUGESTÃO, MEMBROS, SENADO, INDICAÇÃO, NOME, VIABILIDADE, DIVULGAÇÃO, AMBITO NACIONAL, AMPLIAÇÃO, DEBATE, RESGATE, REPUTAÇÃO, LEGISLATIVO.
  • COMENTARIO, ANTERIORIDADE, CANDIDATURA, ORADOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, ELEIÇÕES, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), SUPERIORIDADE, PRESENÇA, SENADOR, PARTICIPAÇÃO, NEGRO.
  • APOIO, PROPOSIÇÃO, MARIO COUTO, SENADOR, CESSAÇÃO, SIGILO BANCARIO, POLITICO, VIABILIDADE, EXTINÇÃO, CORRUPÇÃO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, eu tenho, nos últimos meses, repetidamente, quase que maniacamente, defendido que o Senado precisa sair desse clima que vivemos, senão de paralisia, pelo menos de imagem de paralisia na opinião pública.

            Tenho defendido, Senador Paim, que três coisas seriam necessárias para sairmos dessa crise. Uma, criarmos o anti-recesso: ficarmos aqui dentro, um mês inteiro aqui dentro, saindo no fim de semana, obviamente, em vez de ficarmos dois dias por semana. Não temos tempo de dialogar, não parlamentamos! Este é um Parlamento que não parlamenta, por falta de tempo.

            Segundo, trazer para cá a agenda nacional, os grandes temas nacionais. E não apenas como crítica, como costumamos fazer, mas com eixo, com direção, com propostas.

            E, terceiro, trazer a pauta do povo. De que o povo está precisando, neste momento? Isso não tem adiantado, o discurso cai no vazio.

            Por isso, quero agradecer aqui, embora S. Exª não esteja presente, ao nosso colega Arthur Virgílio, que, com um único gesto, não com uma frase, não com uma fala, mas com um único gesto, fez o Senado dar um salto adiante: esse gesto foi lançar-se candidato a Presidente da República.

            As pessoas não se deram conta do que aparece de diferente no País ao termos aqui candidatos a Presidente. Nos Estados Unidos, todos, todos os pré-candidatos são senadores. Só restam três senadores, mas, antes, era um governador e todos senadores.

            Por isso, sem desistir da luta pelo anti-recesso, sem desistir da luta pela agenda nacional, sem desistir da luta pela pauta, venho trazer aqui, Sr. Presidente, um desafio a nós, Senadores. Está na hora de mostrarmos ao Brasil que aqui há ex-governadores, ex-prefeitos e até ex-presidentes. Aqui, há 81 líderes nacionais. Por que não há aqui candidatos a Presidente? E qual a conseqüência disso? Nosso debate fica vazio. Se tivéssemos candidatos a Presidente, nesta tribuna se estariam discutindo os destinos do País, a proposta de cada um de nós para o futuro. Mas a gente não precisa fazer isso, porque ninguém é candidato!

            Dessa forma, quero aqui lançar um desafio. Senador Paim, V. Exª fez um belo discurso sobre o Barack Obama. Está na hora de V. Exª se lançar pré-candidato a Presidente pelo PT. V. Exª representa os negros do País. Não há nenhum outro pré-candidato negro. V. Exª representa os aposentados, sobre os quais o Senador Mão Santa falou tão bem.

            O senhor vai deixar esse pessoal na mão? Por que não pegar essa bandeira e dizer “sou pré-candidato”? Não estou dizendo candidato, porque o candidato é o partido que escolhe, e é provável até que nenhum Senador seja escolhido. Com toda franqueza, dificilmente o Senador Arthur Virgílio terminará suplantando a força de São Paulo e Minas Gerais, mas ele prestou um serviço ao Senado e ao Brasil ao se lançar candidato. Espero que leve a sério e que traga para cá a disputa e o projeto dele.

            Senador José Agripino, por que o senhor, que é um líder do Nordeste, foi Governador, é Líder do DEM, tem sido um dos mais combativos, por que não se lança pré-candidato, pelo Democratas, à Presidência da República? Não estou falando, de nenhuma maneira, irresponsavelmente e nem brincando. Não estou dizendo que o senhor vai ser escolhido. Não estou nem dizendo que o Democratas vai ter candidato. Mas por que não usar essa tribuna para debater o futuro do Brasil como se encarnasse a candidatura? Por que não? Por que não a Senadora Kátia Abreu, que se tornou uma líder nacional por conta da sua luta em relação à CPMF, contra a minha posição, inclusive?

            E o Marco Maciel? Há algum nome deste Senado mais naturalmente pré-candidato à Presidência da República do que Marco Maciel, que teria, inclusive, sido no momento em que terminou sua Vice-Presidência?

            E o Senador Alvaro Dias, que está aqui também, que representa o Estado com a força do Paraná? Por que têm que ser de São Paulo e de Minas os candidatos do PSDB? Desculpem-me eu estar me metendo em outros partidos, mas estou olhando o Brasil e o Senado.

            E o Senador Mão Santa, que, sem dúvida alguma, hoje, é um dos mais populares dos Senadores que temos desta geração e deste grupo? Mas, Senador Mão Santa, o discurso é contra. O senhor, como candidato a Presidente, viria aqui afirmar posições, defender propostas, por exemplo, para o nosso Nordeste. Viria discutir propostas concretas como o que fazer para os aposentados, não apenas na posição contrária, que é correta e necessária. Agora, o que vejo nisso é o enriquecimento que daríamos ao debate no Senado.

            Já pensou quando aqui a gente debater uns com os outros não apenas como Senador mas como candidatos a Presidente? Já pensou no enriquecimento que significaria para a Casa o fato de que nas pesquisas de opinião não aparece um único Senador?

            Como é possível que Suplicy não entre na lista de pesquisas de opinião para saber quem vai ser o próximo candidato do Partido dos Trabalhadores? Não consigo entender. É uma submissão total à máquina burocrática do Partido, porque, não tenho dúvida de que, entre todos os candidatos que hoje aparecem em nome do Partido dos Trabalhadores, não tenho a menor dúvida de que, se o nome do Suplicy entrar, ele sai na frente.

            Não estou dizendo que ele vai conseguir. Mas por que ele não encarna a candidatura dele à Presidência, inclusive para defender e dizer como implantaria o renda mínima? Aliás, o Senador Suplicy já se propôs a disputar com o próprio Lula. Suplicy se propôs a disputar uma prévia com o Lula. Ele tem que ser provocado, como eu estou fazendo agora, para se lançar candidato.

            E o nosso Pedro Simon? E o Jarbas Vasconcelos? Por que nomes como esses... E o Geraldo Mesquita, que representa a Amazônia aqui? Por que não virem falar em nome de uma disputa para conduzir o Brasil inteiro? Por que apequenamos tanto o Senado que não assumimos que nós aqui temos condições - não um, dois ou três, mas diversos nomes - de sermos não candidatos, mas candidatos a candidatos?

            Creio que, isto sim, é uma posição que ajudaria a levantar o Senado não apenas perante a opinião pública, mas como uma instituição que debate os destinos nacionais.

            Venho falando de trazer aqui para dentro a agenda nacional, mas ela não virá. Estou absolutamente convencido de que não virá, se não encarnarmos algo mais do que a figura de simples Parlamentares, se não encarnarmos a possibilidade de um dia conduzirmos os destinos deste País. Por isso, comecei agradecendo ao Senador Arthur Virgílio. Um gesto dele valeu mais do que todos os meus discursos em relação a querer recuperar o prestígio do Senado Federal, embora ele esteja nos devendo dizer, da tribuna, qual a sua proposta. Ele está nos devendo se comportar aqui como pré-candidato, porque continua se comportando apenas como Líder da Oposição. Não quero que ele deixe de ser Líder da Oposição, mas quero que ele ocupe...

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Professor Cristovam!

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - ...esse outro chapéu, essa outra posição, que é a de encarnar, Senador Alvaro Dias, uma proposta nacional vista sob a ótica do Paraná e das suas obsessões que cada candidato tem de ter; vista sob a ótica da Amazônia, de onde não tem ninguém se apresentando. Por que não? Até quando o candidato tem de ser só de Minas e de São Paulo? Até quando o PMDB se submeterá a discutir que o seu candidato é alguém que eles vão tirar do PSDB, quando há tantos nomes que podem se oferecer, mesmo que, no final, o candidato venha a ser esse que saiu do PSDB?

            Está na hora de os partidos desta Casa começarem a dizer “nós somos líderes com discurso, propostas, vontade de conduzir este País”.

            Concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Professor Cristovam Buarque, há instantes, eu lhe ofereci o livro “Política na Mão Certa: aforismos”, escrito por um secretário meu, muito culto, o Professor Herculano de Moraes, da Academia Piauiense de Letras, um intelectual. No livro, ele pinçou algumas frases de pronunciamentos meus quando eu era Governador do Estado do Piauí e V. Exª governava o Distrito Federal. É um intelectual. Eu o ofereci a V. Exª com a seguinte dedicatória: “Ao Professor Cristovam, do aluno Francisco de Assis de Moraes Souza - Mão Santa. PS: o Cristóvão Colombo descobriu terras; o nosso Cristovam Buarque descobre o saber”. V. Exª torna isso realidade. Isso é muito evidente. Ontem, eu estava com a minha irmã que é professora. Ela deve ter uns 72 anos e já foi tudo no magistério, na universidade federal; depois foi Vice-Reitora da Universidade Estadual do Piauí. Olha, o que ela teceu de elogios ao Senador Arthur Virgílio...! S. Exª nem está aqui. E não foi qualquer um, não: é a professora, é o exemplo da família, a mais velha, que nos supera a todos em virtudes. É uma professora, assim como V. Exª. Então, essa é a realidade que V. Exª... Temos de ter uma mudança nessa disputa eleitoral. Foi a maior vergonha da história da democracia quando, no pleito passado, o PMDB se recusou a ter candidato próprio para negociar cargos, o PMDB. Agora, os tresloucados do PMDB estão com um negócio de “venha, Aécio”. Não venha, não, porque você está lascado no PMDB, Aécio! O PMDB traiu Ulysses; o PMDB traiu Orestes Quércia, candidato; o PMDB traiu Germano Rigotto, Garotinho, Itamar - o mais austero dos Presidentes - e, no fim, Pedro Simon. Você está lascado no PMDB. Você venha para o PMDB... O PMDB não respeita, não prestigia nenhum dos da sua família, dos seus criadores. Vá cair nessa que você se lasca todinho, seu Aécio Neves. São os tresloucados, vendilhões do nosso Partido. Tem que nascer aí, na luta! É muito válido! Vou dizer para o senhor: vou lançar agora o meu do PMDB.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito bem!

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Aliás, quem gostaria de ser era eu mesmo! E era bom para o País. Estou muito mais orientado que o Paim. Mas o meu candidato do PMDB à Presidência da República é do Nordeste: é Jarbas Vasconcelos. Ele é do seu Estado, o melhor Prefeito que houve lá, o melhor Governador. Eu tenho autocrítica. Ele tem uma vida política mais forte do que a minha. Ele foi um dos notáveis, combatendo a ditadura aqui. O seu pai tombou, quando ele lutava contra três candidatos a Senador. Precisaram juntar três Senadores para ganhar dele, antes da eleição. Houve esse sacrifício extraordinário, não é? E Pernambuco é mais forte do que o Piauí. O Piauí está vivendo o seu pior momento, porque está governado pelo PT. Então, é Jarbas no momento. Mas é estimulante. Se ele não quiser, tu sabes que eu vou aceitar?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito bem! É isso.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Se ele me apoiasse, eu aceitava, porque, agorinha, eu recebi, sexta-feira, um convite muito significativo. O Presidente do... Eu acredito na juventude: é pura, é idealista, sonha, ainda não se corrompeu, embora a UNE tenha se corrompido, tenha se vendido para o Governo, para o Executivo. Mas eles estão soltos. Eu recebi um convite muito significativo agora, sexta-feira: Senador Mão Santa, nós somos do PMDB do Nordeste, reunimos dez Estados, foram quase 500. Aí, nós escolhemos o Líder do PMDB com mandato para vir ao nosso congresso. V. Exª foi escolhido no voto. Foram lembrados também Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos. Mas V. Exª teve mais voto. Então, é domingo, na Bahia. E a sua idéia é boa. Agora, o meu, no momento, eu apresento Jarbas Vasconcelos. Então, no momento, eu não sou esse candidato.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito bem!

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - E V. Exª é aquilo que eu disse: o Cristóvão Colombo descobriu a América; V. Exª descobre, lança e planta, no Brasil, a sabedoria. Agora, V. Exª, com a sua inteligência, com este pronunciamento, dá um avanço na democracia brasileira.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Mão Santa, a sua fala confirma o que eu falei sobre colocar o seu nome. Eu acho que o senhor deveria chegar para o Senador Jarbas Vasconcelos e dizer que ele é o seu pré-candidato, que ele tem 15 dias para decidir se se lança ou não. Senão, o senhor se lança, e, depois, que venha ele.

            Mas não se pode deixar que aconteçam no Brasil, Senador Mário Couto... Senador Mário Couto, o senhor também - eu ia falar - está na minha lista aqui. O senhor se transformou numa das vozes mais fortes aqui na luta contra a corrupção, forte inclusive no vigor. Eu queria ver o senhor também aqui, além disso, falar como Arthur Virgílio, como pré-candidato. Venha dizer aqui o que pensa para a Amazônia, venha dizer aqui o que pensa para a gente não apenas criticar a corrupção, mas acabar com a corrupção neste País.

            Quais são as propostas que fariam com que, neste País, a gente pudesse dizer: “No meu governo, eu nem vou dizer se vai ou não haver roubo, porque será impossível haver roubo”?

            Uma coisa boa é haver gente honesta no governo, mas uma coisa melhor é quando nem ladrão consegue roubar se estiver no governo. Aí, sim, é governo seguro. Governo seguro não é aquele de gente honesta que, de repente, acorda pela manhã e já não é honesto. Governo sério mesmo é aquele em que, se o cara virar ladrão, não consegue roubar.

            Trazer a sua proposta, assumir essa posição, disputar para engrandecer o Senado.

            Eu acho que Senador Mão Santa falou bem sobre o candidato dele. Está na hora de esse candidato, que considero excelente, o Jarbas Vasconcelos, lançar-se no PMDB.

            Envergonha-me ver que, na Constituição deste País, estão previstos dois turnos, mas o eleitor só tem direito ao segundo, porque o primeiro são as máquinas burocráticas e a mídia. As máquinas burocráticas escolhem seus candidatos. Depois, a mídia diz quais são os dois que vão para o segundo turno. A gente já chega lá com direito apenas de votar no segundo turno. O primeiro turno tem sido uma farsa neste País. Por isso, esta minha provocação.

            Passo a palavra, primeiro, ao Senador Paulo Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Cristovam Buarque, de forma muito rápida, o seu tempo está terminando, primeiro, quero dizer que V. Exª, mais uma vez, inova no plenário do Senado. V. Exª provoca os Senadores e as Senadoras a aceitarem o desafio de serem candidatos ou candidatas a Presidente da República, para suscitar aqui um debate global, um debate universal, um debate para o País e para o mundo sobre temas de interesse da população. Eu só queria dizer a V. Exª que é claro que fico feliz por V. Exª lembrar do meu nome pelo vínculo com os movimentos sociais e a luta contra os preconceitos. Mas quero também dizer que V. Exª esteve, fim de semana, no meu Rio Grande do Sul e foi muito aplaudido pelas suas posições em todos os temas, inclusive pelo debate de que participou, um debate inovador muito bem organizado pela RBS. V. Exª foi um dos convidados. Quero só dizer a V. Exª que acho boa a sua proposta, porque alguém já me disse - e guardei esta mensagem - que um homem e uma mulher você até vence, você derrota; mas um movimento você não derrota. E esse movimento tem que surgir a partir do momento em que homens e mulheres se dispõem a fazer o debate a nível nacional, para que o movimento tenha ressonância inclusive no Congresso e na sociedade brasileira. V. Exª está dando o sinal, V. Exª está fazendo a semeadura, como a gente fala, essa semeadura que pode resultar no fruto de um grande debate aqui sobre um projeto de País. Por isso, os meus cumprimentos a V. Exª. V. Exª é um grande candidato à Presidência da República.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito bem. Eu agradeço, Senador Paim. E confesso que eu não me sinto também livre dessa obrigação e responsabilidade. E eu já disputei uma Presidência, sabendo e dizendo o tempo todo “Não conseguirei chegar nem ao segundo turno”. E todos diziam que candidato que diz isso é louco. Eu dizia “É louco, mas é honesto”. Mas estava lá, dando o meu discurso, fazendo a minha proposta.

            É isso que eu estou propondo para cá, que nós... Não me excluo também. Não, não estou me excluindo. Não estou apenas jogando isso para vocês. Eu assumo também a minha responsabilidade. Assumamos que cada um da gente pode ser candidato a Presidente deste País, mesmo sabendo que dificilmente seremos. As máquinas partidárias vão dominar. O Suplicy pode chegar a 20%, mas não será o candidato do PT. O Paim pode chegar a 20%, mas, dificilmente, será o candidato do PT. Mas devem disputar, para darem o seu recado, para puxarem, inclusive, os que serão candidatos às nossas posições.

            No seu caso, Senador Paim - desculpe-me insistir -, pelo simbolismo que representaria. Se aqui estivesse a Benedita, eu talvez me concentrasse nela ainda mais, porque, além de tudo, mulher. Mas ela não está aqui. Eu me concentro no Senador Paulo Paim, porque os Estados Unidos estão mudando a maneira como vêem o problema racial só porque têm um candidato negro a Presidente. Eu não me lembro se o Brasil já teve algum candidato negro. Não é possível uma coisa dessas. Nem pré-candidato negro nunca teve. Está na hora de ter.

            Eu não estou apenas querendo provocar com ingenuidade, apenas retoricamente. Estou falando sinceramente, com modéstia. Eu não estou propondo que o senhor se lance candidato já com mosca azul nenhuma, mas que se lance dizendo “Eu vou disputar isso”. E começar a aparecer nas pesquisas de opinião, pois não aparece. Só aparecem aqueles escolhidos pelos Partidos. A gente aqui poderia fazer esse debate. Começaria a aparecer nas pesquisas e, a partir daí, poderia até ajudar a criar o movimento.

            Ouço meu colega e amigo Senador Adelmir Santana.

            O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Senador Cristovam, V. Exª realmente inova o debate nesta tarde e lança um desafio às lideranças regionais e às lideranças de movimentos sociais, nas pessoas dos Srs. Senadores, para se lançarem candidatos a Presidente. V. Exª encarna, nessa questão setorial, a defesa da educação como propósito, desde o seu primeiro dia de mandato.

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Como candidato que foi a Presidente da República, usou desse projeto como base da sua campanha. Se efetivamente - e sabemos que não chegou - não conseguiu chegar ao ponto desejado, do ponto de vista da eleição, o senhor atingiu um dos objetivos que era o propósito da sua campanha: conscientizar a Nação brasileira da necessidade de colocar como tema prioritário a questão da educação. Portanto, V. Exª também certamente já se incluiu entre aqueles que podem também ser pré-candidatos, com um projeto e com um propósito: o propósito da educação, uma dívida social imensa que temos para com o País e que o senhor coloca no dia-a-dia do seu trabalho aqui no Senado. Meus parabéns pela inovação do pronunciamento e pela provocação que o senhor faz aos 81 Líderes a que o senhor fez referência no início do seu discurso. Parabéns.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Quantos minutos mais, Sr. Presidente?

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Dê-me um aparte, Senador.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Antes de passar ao Senador Mário Couto, eu quero dizer que o seu nome também deveria estar defendendo o comércio, as bandeiras do Sistema S e tudo aquilo que o senhor representa, sem ilusão, mas com convicção de um dever cumprido, só em vir para aqui defender um Brasil diferente. E eu creio que, se a gente não encarnar isso, a gente vem para aqui com a visão apenas crítica, e não com a visão propositiva; ou com a visão apenas setorial, e não com a visão ampla que é preciso.

            Senador Mário Couto.

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Senador Cristovam, primeiro eu quero parabenizar V. Exª por mais um brilhante pronunciamento. Aliás, V. Exª, nos últimos dias, tem trazido a essa tribuna pronunciamentos de profunda reflexão. Semana passada, fez-me ir a minha casa, e, logo depois das minhas orações da noite, fiquei meditando sobre o pronunciamento de V. Exª, que me trouxe inclusive preocupação. Agora, V. Exª traz um tema também de uma meditação profunda. Quero parabenizar V. Exª pelas colocações e agradecer o elogio que fez a minha pessoa neste momento. Como V. Exª, somos preocupados, preocupadíssimos, com o nível de corrupção deste País. Algumas pessoas dizem que eu não gosto do Presidente Lula. Não tem nada a ver com isso. Preocupo-me com o nível de corrupção do meu País. Agora já estamos aí com 15 dias de crise novamente: cartões corporativos, dois Ministros com cartão amarelo, uma Ministra que já pediu demissão. Enfim, trago, este mês, uma pequena colaboração para todos os políticos deste País, para combatermos a corrupção, inclusive no próprio Parlamento. Elaborei um projeto que V. Exª já assinou - tenho certeza disso - e conto com mais de sessenta assinaturas de Senadores e Senadoras que, como eu e V. Exª, pensam que este País não pode ter o privilégio de ser o mais corrupto dentre os países em desenvolvimento no mundo. Não pode! Precisamos combater isso e dar exemplo. É aí que combato o Presidente Lula.

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Já vou concluir, Sr. Presidente. É aí, Senador, que temos de dar o bom exemplo, e o bom exemplo deve começar pelo Governo. Se o Governo não der o bom exemplo aos filhos desta Nação, perdem-se as rédeas, Senador. Cito um bom exemplo: vamos quebrar o sigilo bancário de todos os políticos deste País. Ao entrar na política, o sigilo bancário deve ser liberado. Esse é o conteúdo do meu projeto que apresentarei amanhã neste Senado. Espero que a matéria seja aprovada, porque todos nós que somos empregados da sociedade brasileira, que ingressamos nesta Casa pela mão do povo brasileiro, que somos servidores públicos, não temos o direito de esconder nossas contas da população brasileira nem de manter nosso sigilo telefônico. Vamos abrir a todos eles, para que saibam da nossa vida financeira, da nossa vida cotidiana. Que o sigilo seja aberto a todos eles para que possamos dar o bom exemplo, começando pelo Senado Federal. Parabéns, mais uma vez, pelo seu pronunciamento desta tarde.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Mário Couto, agradeço e vou concluir dizendo que conte com meu apoio nesse projeto. A privacidade é um direito de todos aqueles que não querem ter vida pública. Para assumir a vida pública, é preciso abrir mão da sua privacidade.

            Sr. Presidente, concluo dizendo que vim aqui agradecer ao Senador Arthur Virgílio, que, com um único gesto, fez mais para recuperar o prestígio do Senado do que eu em todos os meus discursos em todos esses meses. Entretanto, este meu discurso de hoje, junto ao gesto dele, pode servir para levantarmos um pouco mais o Senado, trazendo para esta Casa o debate dos grandes temas nacionais. Não vejo outra maneira a não ser assumir, cada um de nós, a responsabilidade da liderança que temos e que nos trouxe aqui, encarnando a possibilidade de ser candidato a candidato no Partido de cada um de nós.

            Era o que eu tinha dizer, Sr. Presidente. Espero que entendam que foi um discurso de grande respeito a cada Senador e, ao mesmo tempo, de cobrança, porque não se pode admitir corrupção em governo, mas também não se pode admitir omissão em Congresso.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/03/2008 - Página 4338