Discurso durante a 24ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo transcurso, no próximo sábado, do Dia Internacional da Mulher. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo transcurso, no próximo sábado, do Dia Internacional da Mulher. (como Líder)
Aparteantes
Ideli Salvatti.
Publicação
Publicação no DSF de 07/03/2008 - Página 4814
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ANUNCIO, COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, MULHER, IMPORTANCIA, DIA, LUTA, MELHORIA, DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS, AUMENTO, QUANTIDADE, EMPREGO, SALARIO, COMPARAÇÃO, HOMEM, COMPROVAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, COMENTARIO, NECESSIDADE, REDUÇÃO, VIOLENCIA.
  • DEFESA, RELEVANCIA, AUMENTO, QUANTIDADE, MULHER, ATUAÇÃO, POLITICA, APRESENTAÇÃO, DADOS, COMPROVAÇÃO, INFERIORIDADE.
  • HOMENAGEM, MULHER, PROFESSOR, ENSINO FUNDAMENTAL, ENSINO MEDIO, COMENTARIO, RELEVANCIA, TRABALHO, CONSTRUÇÃO, PAIS.
  • COMENTARIO, SUPERIORIDADE, CULPA, HOMEM, PROBLEMA, MEIO AMBIENTE, DESIGUALDADE SOCIAL, DEFESA, AUMENTO, ATUAÇÃO, MULHER, AMBITO, POLITICA.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no sábado próximo, estaremos comemorando o Dia Internacional da Mulher. Eu não vou estar aqui amanhã, que seria um ótimo dia, Senadora Ideli, para fazer uma homenagem mais próxima dessa data comemorativa. Amanhã eu continuarei as minhas caminhadas pelas cidades. Estarei em Porto Alegre, Pelotas e Ijuí.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Cristovam, se V. Exª me permite, V. Exª vai estar no Rio Grande do Sul. Depois disso que tivemos, acho que será um bom momento para V. Exª, em nome do Senado da República, levar a preocupação por esse episódio de violência ocorrido atingindo mulheres. Então, quero dizer que me sinto representada com essa sua ida, se V. Exª tiver a oportunidade de colocar a nossa grande preocupação com o ocorrido. E, com relação às mulheres, vamos ter uma sessão especial na terça-feira, em que terão preferência os homens, para falar na sessão das mulheres, para podermos construir a nossa harmonia de gênero.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito bem, agradeço, falarei no Rio Grande do Sul sobre o assunto, obviamente sem o seu sotaque, quase gaúcho, de catarinense.

Mas, Senador, por causa de estar fora esses dias, nessa caminhada que venho fazendo desde o ano passado, cidade por cidade, carregando a bandeira do “Educação é Progresso”, não vou estar aqui amanhã, quando eu gostaria de falar mais e com mais detalhes sobre o dia das mulheres. Entretanto, neste curto pronunciamento, quero deixar claro aqui dois aspectos sobre os quais temos de refletir no o dia das mulheres: o primeiro é sobre o papel que os homens têm desempenhado na história da humanidade. Os nomes que ficaram na história, ao longo desses dez mil anos, são quase na totalidade masculinos. Mas a maldade que a história fez, ao longo desses dez mil anos, é responsabilidade também dos homens; raramente das mulheres. Este é um lado com o qual precisamos nos preocupar: o fato de a história ter sido feita pelos homens, excluindo as mulheres, e de que as maldades, portanto, foram produzidas pelos homens.

É por isso que este é um dia de luta pelos direitos das mulheres. Direito, por exemplo, a um emprego, porque, no Brasil, as mulheres têm menos emprego. O número de desempregadas é maior do que o de desempregados, Senador Paim. Existe a luta pelo salário, porque o salário de uma mulher é menor do que o salário de um homem, quando fazem a mesma atividade. Também a luta pelo trabalho, que não é o mesmo que emprego, porque, embora haja menos emprego para as mulheres, o trabalho delas é muito maior, porque trabalham no emprego e trabalham em casa, exercendo atividades domésticas, pelo fato de os homens, ao longo da história, terem jogado toda essa carga doméstica para cima das mulheres.

Além disso, há o problema da violência. Senador Paim, 2,1 milhões de mulheres são espancadas por ano no Brasil. Isso quer dizer que, nestes cinco minutos que tenho para falar aqui, há pelo menos 20 mulheres sendo espancadas. É um absurdo o que a gente vê desse ponto de vista no Brasil!. Isso em relação ao que a gente pode falar sobre o direito que temos de lutar pelas mulheres, da revolução que é preciso fazer na cabeça dos homens e nas leis para acabar com a falta de direito das mulheres nesses aspectos.

Quero falar um pouco sobre o protagonismo das mulheres, como falei hoje na Comissão presidida pelo Senador Paim. Eu disse: as mulheres sofrem grande parte disso, e a humanidade padece de todas essas maldades, porque as mulheres têm estado ausentes do poder. Não há a menor dúvida de que o exercício do poder com a ótica feminina - às vezes, muitos homens conseguem ter essa ótica, e muitas mulheres não a tem - traz urgência para a solução dos problemas que, em geral, a ótica masculina não traz. Quando um homem - eu dizia isto hoje de manhã - precisa trazer comida para casa, ele vai em busca de emprego, passa um mês, traz o salário, pára no boteco e, quando chega em casa, já está todo mundo morto de fome. A mulher, se falta comida em casa, naquela noite ela tem de colocar comida. Ela busca solução imediata, nem que seja pedindo ao vizinho ou à amiga vizinha alguma comida; nem que seja pedindo ao menino para engraxar sapato naquele dia, mas, de noite, tem de haver comida.

A pobreza não é resolvida no Brasil por falta de urgência, como não tivemos urgência para eliminar a escravidão neste País. E, talvez, não seja por coincidência que a Lei Áurea tenha sido assinada por uma princesa, e não pelo pai dela, Imperador.

Para terem uma idéia da exclusão das mulheres no processo político, dos 594 Parlamentares nacionais, entre Deputados e Senadores, apenas 49 são mulheres. Mas há um dado mais grave: das 5.560 prefeituras existentes, apenas 418 têm prefeitas - de 5.560, em apenas 418 há mulheres. Vai ver que é por isso que a maior parte das nossas prefeituras não cuida tão bem das crianças; vai ver que é por isso que elas não cuidam tão bem dos jardins das cidades, por causa da ótica masculina, que domina o exercício do poder no Brasil.

Quero, por isso, ao mesmo em que defendo os direitos, trazer também aqui a idéia de que é preciso aumentar o protagonismo das mulheres.

Concluo, se o Presidente me der um tempinho, prestando algumas homenagens a algumas mulheres.

De Brasília, quero citar o nome de Gisele Santoro, que, como heroína, consegue manter atividades artísticas, que, às vezes, achamos que é por milagre, e não apenas por competência. Quero também prestar homenagem a 1,7 milhão de mulheres que são professoras do ensino fundamental e do ensino médio, porque estas são as construtoras do Brasil. Quem constrói um país é o professor, e, no Brasil, professor se escreve com “a” no final, de “professora”.

Quero dizer aqui que a permanência no Senado de cada um de nós deve ser no sentido de olharmos o mundo com a ótica feminina da urgência na solução dos problemas.

Os dois grandes problemas mundiais, o meio ambiente e a desigualdade, não tenho a melhor dúvida de que, primeiro, foram provocados pelos políticos homens, que, durante todos esses séculos, têm administrado com desprezo a natureza e com desrespeito a desigualdade e, ao mesmo tempo, com o abandono da educação.

E, segundo - aí eu concluo...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - ...o meio ambiente. Esse aquecimento global certamente não teria o nível que tem se a gente olhasse para a natureza com uma ótica característica do coração feminino de enfrentar os problemas.

O Brasil precisa fazer uma revolução, feminilizando a maneira como os problemas são enfrentados.

Embora o dia 8 seja, em geral, um dia de defesa do direito das mulheres, quero trazer o dia 8 também para ser um dia de luta pelas mulheres para aumentar seu protagonismo, sua ação, sua participação, o exercício do seu poder na transformação deste País, para que, no futuro, a escola do mais pobre menino e menina seja tão boa quanto a escola do mais rico menino ou menina deste País. Esta é uma visão feminista.

O SR. PRESIDENTE (João Vicente Claudino. PTB - PI) - V. Exª quer mais um minuto, Senador, para concluir?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não, era isso o que eu tinha para falar, Presidente, e agradeço ao Líder do meu Partido por ter me cedido o tempo a que tinha direito para que eu pudesse falar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/03/2008 - Página 4814