Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos oitenta anos de fundação do jornal O Povo.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos oitenta anos de fundação do jornal O Povo.
Aparteantes
Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/2008 - Página 5107
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, O POVO, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, PARTICIPAÇÃO, HISTORIA, BRASIL, LEITURA, TRECHO, EDITAL, INAUGURAÇÃO, RESUMO, DIRETRIZ, ATENDIMENTO, INTERESSE, POVO.

            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Nobre Senadora Patrícia Saboya, que preside esta sessão em homenagem aos 80 anos do jornal O Povo; Sr. Demócrito Rocha Dummar; Senador Papaléo Paes... Quero, também, Senadora Patrícia, saudar aqui os nobres Senadores Tasso Jereissati e Inácio Arruda, do querido Estado do Ceará, assim como a Bancada de Deputados Federais, Deputados Estaduais e todos os cearenses que aqui participam desta sessão em homenagem aos 80 anos do jornal O Povo.

            Não poderia deixar de estar aqui, Senadora Patrícia, porque o Ceará e o Pará são ligados, eu diria, umbilicalmente. Eu costumo brincar com o Senador Tasso Jereissati - e é uma brincadeira verdadeira - que, nas eleições do Pará, a presença dele é muito importante, porque o número de eleitores cearenses no Pará é grande, e ele sempre nos dá esse apoio. E agora, com o apoio da Senadora Patrícia Saboya e do Senador Inácio Arruda, nós vamos juntar todas as alas do Ceará para trabalhar, em conjunto, pelo Pará.

            Faço questão de juntar-me aos que hoje homenageiam os 80 anos do jornal O Povo, diário cearense cuja importância, não só para o Ceará, mas para todo o Nordeste brasileiro, sem dúvida nenhuma, o coloca entre os principais jornais brasileiros.

            Completar 80 anos de história ininterrupta, Srª Presidente, não é pouca coisa para um jornal que nasceu e cresceu longe das capitais do sul do País, longe dos maiores centros econômicos, longe dos pólos culturais mais ativos e ruidosos.

            Lançado no final dos efervescentes anos 20, O Povo reuniu, em torno do fundador Demócrito Rocha, uma série de intelectuais que, na época, representavam a vanguarda e a mudança em Fortaleza: Rachel de Queiroz, Filgueiras Lima, Paulo Sarasate, Jader de Carvalho, que já colaboravam com as revistas Maracajá, Cipó de Fogo e Ceará Ilustrado, fundada pelo próprio Demócrito Rocha em 1924 e incorporado ao jornal em 1929.

            Avançado culturalmente, também estava na vanguarda política da época. Forte opositor dos desmandos do então Presidente do Estado do Ceará, Moreira da Rocha, Demócrito Rocha chegou a ser agredido fisicamente por conta dos artigos publicados em sua revista e no jornal O Ceará. A fundação de O Povo foi sua resposta à agressão.

            Desde o início voltado para a defesa do novo na política, o diário apoiou a Revolução de 30, o Governo Provisório de Vargas e a criação da Aliança Nacional Libertadora. Luiz Carlos Prestes, aliás, era personagem freqüente do jornal, fundado pouco menos de um ano depois da dissolução da Coluna Prestes.

            Aberto para o País e para o mundo, O Povo não esquece, também, sua circunstância imediata - o Ceará e o Nordeste, com sua cultura, sua tradição e também seus problemas peculiares. Estão lá, em cada uma de suas páginas, seja na forma de notícias, seja transparecendo na voz e na visão dos jornalistas e colunistas.

            Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, um jornal com a tradição e a história de O Povo é mais do que um veículo de informação: é um elemento fundamental na construção da identidade de toda a comunidade em que se insere e que reflete, é um meio pelo qual essa comunidade se articula, se conhece e se dá a conhecer. Com suas oito décadas de existência, O Povo já se incorporou à consciência cearense, tornando-se parte indissociável de sua história. O fato de ter chegado agora aos 80 anos só vem comprovar que se tornou parte integrante da cultura cearense, enraizado que está em seu seio.

            Para encerrar, Srª Presidente, futura Prefeita de Fortaleza, quero aqui citar um trecho do editorial que ocupou a primeira página da edição inaugural de O Povo, que circulou no dia 7 de janeiro de 1928. Dizia o texto que anunciava o nascimento do diário e resumia suas aspirações e princípios:

Quando o povo geme escravo, entorpecido pelas algemas do cativeiro, indiferente e modorrento, resignado à violência paralisante do grilhão, o jornal é o sangue novo, forte e generoso a nutrir-lhe as células dormentes, a despertar-lhe os neurônios adormecidos, a ondear-lhe, nas veias, a torrente vigorosa e enérgica da revolta.

O povo necessita de mais gritos que o estimulem, de mais vozes que lhe falem ao sentimento.

Eis por que surgimos.

            Foi com essa profissão de fé, Srª Senadora, futura Prefeita de Fortaleza, Srs. Senadores, que O Povo anunciou seu nascimento. Assim deve ser a grande imprensa: a voz que informa e desperta as consciências, que dá forma às opiniões que fazem avançar as mudanças quando elas são necessárias, a corrente que atravessa todo o corpo social e ajuda a lhe dar coesão e unidade de ação.

            O Povo, para a felicidade dos cearenses, soube honrar com coerência e competência aquela profissão de fé que ostentou em sua primeira página, no dia 7 de janeiro de 1928. Hoje, com um jornalismo moderno e tecnicamente apurado - não é por acaso que vem colecionando prêmios ao longo do tempo, sendo, juntamente com o Jornal do Commercio, de Pernambuco, o diário com o maior número de Prêmios Esso da região Norte/Nordeste, e eu incluiria aqui, com a generosidade da Presidente, o jornal O Liberal do meu Estado do Pará, também com vários prêmios Esso conquistados -, O Povo continua fiel à sua tradição, ao mesmo tempo em que se abre para a modernidade e ocupa novos espaços, como a Internet.

            Deixo aqui, por fim, ao jornal O Povo e a todos os que o tornam possível minhas sinceras congratulações pela passagem do seu octogésimo aniversário, congratulações que estendo também a todo o povo cearense, principal força por trás do empreendimento bem-sucedido de Demócrito Rocha.

            Parabéns a todos e muito obrigado pelo excelente trabalho que realizam.

            O Sr. Marco Maciel (DEM - PE) - Nobre Senador Flexa Ribeiro, V. Exª me permite uma pequena interrupção?

            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - Para mim é uma honra, Senador Marco Maciel, ser não interrompido, mas enriquecido por V. Exª.

O Sr. Marco Maciel (DEM - PE. Com revisão do orador.) - Obrigado a V. Exª. Gostaria, no momento em que V. Exª parece encerrar sua bela oração, de trazer a minha palavra para homenagear o octogésimo aniversário de O Povo. O filósofo espanhol Ortega y Gasset disse que “o jornal é uma praça intelectual”. Penso que, quando Gasset assim definiu o jornal, queria chamar a atenção para a sua importância enquanto instrumento de difusão cultural capaz de forjar, pelo debate das idéias, o aperfeiçoamento institucional. A afirmação de Gasset é válida quando olhamos que, no curso de nossa formação histórica, nos pródomos do século XIX, a imprensa cumpriu um papel muito importante não somente para suscitar o debate sobre a nossa independência, mas, ao mesmo tempo, para despertar o País para a necessidade de construir sólidas instituições. Não podemos desconhecer a participação de José Bonifácio, Patriarca da Independência, mais clara agora quando discutimos a proximidade do Bicentenário da Independência do Brasil, em função dos duzentos anos da vinda de Dom João VI para o Brasil. Devemos pensar o País com seus jornais, uma imprensa livre, democrática, aberta, para que, por meio do debate, possamos estabelecer estratégias necessárias ao nosso desenvolvimento, fixar políticas a garantir a solidez das nossas instituições e criar condições para nos firmarmos no cenário internacional, sobretudo nos tempos de aceleração histórica em que vive o mundo. Aproveito a ocasião em que aparteio V. Exª para solicitar que transmita nossos cumprimentos aos atuais dirigentes de O Povo, especialmente a Demócrito Dummar Filho, e a todos que fazem o jornal O Povo. O Senador Tasso Jereissati mencionou - e, como nordestino, posso reiterar o que disse S. Exª - que empreender, no Nordeste, é mais difícil do que em outras regiões, até pelas nossas limitações econômico-financeiras. Fazer um jornal é um grande desafio. Exige não somente capacidade intelectual e de trabalho, mas também perseverar no meio de muitas vicissitudes. Considero importante que estejamos reunidos, pensando os 80 anos de O Povo e o papel da imprensa, de modo particular em seu campo cultural. A imprensa ajuda a enriquecer culturalmente o País na medida em que promove o debate dos nossos problemas, apontando rumos para fazer com que o Brasil seja a Nação com a qual sonhamos, atenta ao que o homem precisa: pão, espírito, justiça e liberdade. Muito obrigado a V. Exª.

            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - Agradeço, nobre Senador Marco Maciel. V. Exª, como sempre, enriquece qualquer pronunciamento feito desta tribuna, com os seus apartes. Ele será incorporado e, com certeza absoluta, ficará para os Anais desta Casa.

            Muito obrigado, Srª Senadora.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/2008 - Página 5107