Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos oitenta anos de fundação do jornal O Povo.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos oitenta anos de fundação do jornal O Povo.
Publicação
Publicação no DSF de 12/03/2008 - Página 5108
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, O POVO, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, DIRETRIZ, INFORMAÇÃO, POVO, RECONHECIMENTO, BUSCA, ATENDIMENTO, NECESSIDADE, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO, AGRADECIMENTO, PUBLICAÇÃO, MATERIA, AUTORIA, ORADOR, PERIODO, RETORNO, BRASIL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Boa tarde a cada uma e a cada um de vocês.

            Em primeiro lugar, quero falar da satisfação, meu caro Demócrito, de estar aqui, em uma sessão convocada pela Senadora Patrícia, minha companheira de partido, nossa candidata a Prefeita de Fortaleza. Em segundo, por ter sua presença, Demócrito.

            Eu poderia falar aqui sobre três aspectos de minha relação com o jornal O Povo. O primeiro seria de gratidão. Cheguei de volta ao Brasil, depois de anos fora, e talvez o primeiro jornal, além do Jornal de Brasília, a receber meus artigos e publicar minhas propostas tenha sido o jornal O Povo.

            Eu era professor da UnB, simples professor, e publicava meus artigos, levando aquelas minhas palavras ao povo do Ceará e do Nordeste. Mas eu não vou fazer um discurso de gratidão; já manifestei essa gratidão.

            O segundo aspecto seria de elogio, como leitor, como nordestino. Mas elogios muitos já fizeram. Não tenho muito a acrescentar sobre a história de um jornal que resiste por 80 anos - 80 anos! São poucos no Brasil. Embora no meu Estado e do Senador Marco Maciel tenhamos o Diário de Pernambuco, que tem quase duas vezes isso, ou mais até, mas 80 anos é muito tempo. Isso é algo que a gente precisa elogiar, mas elogiar o nome de O povo. Em 1928, colocar O povo como nome, no Nordeste, significava uma opção. Uma opção que a gente pode ver na primeira página do primeiro jornal naquele janeiro de 1928, em que o jornal se apresenta como um órgão para levar a palavra não apenas da elite, mas do povo. E também, como a gente vê, pouco depois, pelo livro bonito que foi distribuído, uma manchete que me chama a atenção, em que diz: “Dois campos de concentração”. Os dois campos de concentração se referiam aos nossos irmãos nordestinos retirantes protegidos contra a fome, mas continuando na pobreza e na miséria. Isso em 1932, quando ainda não se falava em campo de concentração no mundo. Quando não se conheciam os campos de concentração nazistas, já o jornal não apenas usava a expressão, mas a usava no sentido social e não como depois aconteceu nos demais países.

            Mas eu vou fazer um discurso que não é de elogio, mas de reconhecimento, porque eu acho que faltou o reconhecimento como brasileiro do que o jornal O Povo faz de diferente dos outros.

            Aliás, no primeiro número, o jornal já tinha uma manchete dizendo mais ou menos isto: “Precisamos de ensino profissionalizante”. Isso em 1928!

            E essa preocupação do jornal O Povo tem caracterizado, pelo menos nas décadas em que o conheço, o trabalho de vocês. Os outros jornais buscam leitores. O Povo procura fazer leitores com os seus cursos a distância, com a sua insistência em usar a mídia não apenas como beneficiária do processo de educação, mas como instrumento do processo de educação. E isso vocês já vêm, há décadas, fazendo.

            Hoje, começa-se a perceber que a educação não é uma questão só de escola. Sem o tripé escola, família e mídia, não haverá educação. A educação é mídia, família e escola.

            Tenho orgulho de dizer, como nordestino, como colunista, que o jornal O Povo procura fazer isso, não apenas do ponto de vista de formação mais leve, mas também de formação superior, com seus cursos, não apenas com matérias, mas com programas sistemáticos de formação.

            Com isso, posso dizer que vocês têm sido pioneiros no Brasil. É uma pena que o resto da imprensa brasileira, salvo raras exceções, não tenha percebido a obrigação de um papel educacional e os benefícios que vêm desse papel educacional.

            Falei na NJ, há alguns anos, que me incomodava ver jornais brigando para ver quem consegue mais leitores. Uns distribuem enciclopédias, outros distribuem CDs, cada um querendo ganhar um leitor, tomando-o do outro, mas, se se juntassem todos os jornais do Brasil em uma campanha pela erradicação do analfabetismo, pela garantia do ensino médio para todos, pela qualidade desse ensino médio, o número atual de leitores, eu calculo, Senadora Patrícia, poderia ser multiplicado por seis.

            Essa é uma característica não só dos donos dos jornais, mas do Brasil inteiro. Cada um quer pegar o seu pedaço e ninguém percebe que, juntando-se, sobraria mais para todos. Ninguém percebe essa sinergia que a gente poderia ter.

            A Senadora Patrícia, com a sua luta pelas crianças, não consegue passar sempre. Quando conseguiu fazer com que as mulheres tivessem seis meses de licença após o nascimento da criança, as pessoas tomaram isso como custo, sem perceber o imenso benefício que isso vai trazer com a redução de gastos, porque, com a mãe ficando mais tempo em casa, a criança vai precisar menos de médico, vai ter uma alimentação melhor, vai, depois, educar-se melhor na escola. Os efeitos do projeto da Senadora só serão vistos daqui a 10 ou 15 anos, em uma próxima geração. Não se percebe essa sinergia.

            O Povo, não sei se pensando ou instintivamente, tem trabalhado no sentido de ser um veículo de formação e não apenas de informação, um veículo de formação de leitores e não apenas de recepção de leitores.

            Então, quero que fique aqui, nesses 80 anos, mais do que a minha gratidão, mais do que o meu elogio. Eu quero que fique aqui o meu reconhecimento, como brasileiro, pelo trabalho que vocês vêm fazendo e, obviamente, como nordestino, fica um pouquinho mais ainda de satisfação por dizer que, no Ceará, existe um jornal que faz aquilo que todos os outros deveriam fazer e que, se o fizessem, o Brasil seria outro.

            Muito obrigado a todos vocês que fazem o jornal O Povo e à Senadora Patrícia, por ter permitido, com a sua iniciativa, que tivéssemos essa tarde sendo levada para o Brasil inteiro, para que o Brasil inteiro saiba que, em Fortaleza, há um jornal que é feito como deveriam ser feitos todos os outros. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/03/2008 - Página 5108