Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Elogios ao Caderno Especial do Jornal do Senado sobre a Educação. Apelo em favor de cruzada nacional pela educação.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. ENSINO PROFISSIONALIZANTE. EDUCAÇÃO.:
  • Elogios ao Caderno Especial do Jornal do Senado sobre a Educação. Apelo em favor de cruzada nacional pela educação.
Aparteantes
César Borges, Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 13/03/2008 - Página 5431
Assunto
Outros > SENADO. ENSINO PROFISSIONALIZANTE. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, JORNAL, SENADO, UTILIZAÇÃO, TRABALHO, COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, DEBATE, PROBLEMA, EDUCAÇÃO, PAIS.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, TELEJORNAL, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), INSUFICIENCIA, NUMERO, TRABALHADOR, CAPACIDADE PROFISSIONAL, ESPECIFICAÇÃO, AGRONOMIA, COMPROMETIMENTO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, SETOR.
  • ADVERTENCIA, IMPORTANCIA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, ESCOLA TECNICA.
  • REGISTRO, CAMPANHA, ORADOR, PROMOÇÃO, EDUCAÇÃO, REALIZAÇÃO, CONFERENCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MUNICIPIO, PORTO ALEGRE (RS), PELOTAS (RS), SANTA VITORIA DO PALMAR (RS), CHUI (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), FORTALEZA (CE), ESTADO DO CEARA (CE), ANUNCIO, MARCHA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO PIAUI (PI), MUNICIPIOS, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).
  • EXPECTATIVA, MOBILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, REALIZAÇÃO, MARCHA, AMBITO NACIONAL, DEFESA, REVOLUÇÃO, EDUCAÇÃO, GARANTIA, EQUIPARAÇÃO, QUALIDADE, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, PAIS.
  • SOLICITAÇÃO, SENADOR, PROMOÇÃO, POLITICA, EDUCAÇÃO, AUSENCIA, INTERFERENCIA, ATENDIMENTO, INTERESSE, PARTIDO POLITICO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, em primeiro lugar, felicitar o setor de comunicação do Senado pelo excelente caderno especial do Jornal do Senado sobre educação. Esse caderno teve por base os trabalhos da Comissão de Educação, durante diversas reuniões em que debatemos como resolver o problema da tragédia educacional brasileira. O documento final desse ciclo de debates vai estar pronto já a partir da semana seguinte à Semana Santa, e eu espero que a Comissão aprove o envio do documento ao Presidente Garibaldi e, se o Presidente do Senado desejar, ao Presidente da República.

Não há dúvida de que este jornal, este caderno especial, este belo trabalho dos jornalistas, funcionários do Senado, ajudará a dar consciência do problema e das soluções que a gente vive.

Ontem mesmo, Sr. Presidente, o jornal, pela televisão, falava sobre o excesso de vagas que há no Brasil sem trabalhadores. Entre um desempregado e uma vaga existe um abismo, e precisamos construir uma ponte que faça com que os desempregados cheguem onde estão as vagas. E essa ponte, Senador, é a escola. É por meio da escola que a gente pode fazer com que uma pessoa sem emprego adquira a qualificação necessária no mundo moderno para ocupar um emprego.

O Jornal Nacional de ontem, na televisão, mostrava, para cada setor da economia, qual é a demanda não satisfeita de vagas não apenas no setor industrial, pois o setor agrícola também hoje no Brasil padece da falta de mão-de-obra preparada. Há setores na agricultura que não avançam na produção por falta de trabalhador. Veja que contradição: ao mesmo tempo, sobram tantos empregos.

Há pouco, Sr. Presidente Augusto Botelho, V. Exª falou aqui sobre a formação profissional. É sobre isso que eu estou falando, dando um avanço sobre o que precisamos fazer do ponto de vista político, para resolver essa situação. Tecnicamente, todos sabemos como fazer, quanto custa, de onde vem o dinheiro. Falta uma mobilização nacional que transforme essa necessidade em uma vontade política.

No final de semana que passou, eu tive o prazer de continuar as caminhadas sob o título de “Educação Já”, esse movimento que tenta fazer para a educação o que fizemos para a democracia, com o “Diretas Já”. Sexta-feira, começamos em Porto Alegre com palestras, Senador Flexa; depois, com uma caminhada na rua da praia de um grupo de pessoas carregando a bandeira do nosso movimento, que é a bandeira do Brasil com o escrito “Educação é Progresso” no lugar de “Ordem e Progresso”.

De Porto Alegre, fomos a Pelotas, onde fizemos palestra na Universidade Católica, caminhadas no calçadão e uma reunião com a Associação Comercial, com funcionários e com professores da universidade, discutindo como eles poderiam se envolver. De Pelotas, fomos a Camacuã, onde, num debate com muita gente, pudemos discutir o assunto e criar ali, como também em Pelotas, como também em Porto Alegre, um núcleo educacionista nos mesmos moldes dos núcleos abolicionistas do século XIX.

De Camacuã, fomos a Santa Vitória do Palmar, onde, outra vez, criamos um núcleo. No CTG, essa coisa maravilhosa que os gaúchos espalharam pelo Brasil inteiro, inclusive aqui, no Distrito Federal, nós, no CTG, fizemos uma reunião em que não havia menos de 700 pessoas, numa cidade que tem ao redor de 35 mil habitantes. Tudo isso, de 35 mil habitantes, 700 pessoas estavam, dos mais diversos partidos, discutindo, ouvindo e falando sobre educação.

Daí, ao Chuí. No extremo sul do Brasil, na fronteira, no último milímetro do território do Brasil, fizemos um comício. Sabem muitos que o Brasil é separado do Uruguai por uma avenida. No meio dessa avenida, há um jardim. Nesse jardim, construímos um palanque e fizemos uma manifestação. Ali também foi criado um núcleo educacionista, um núcleo que procura mobilizar a população para a idéia de que a revolução de que o Brasil precisa é pela educação.

Nos dias 14 e 15, vamos realizar uma passeata no centro de Teresina; no dia 26, Taubaté; logo depois, Campinas e Itatiba; depois, vamos fazer em Mossoró e Quixadá, porque, em Fortaleza, já fizemos. Em agosto, a gente espera que seja possível fazer uma passeata no Brasil inteiro. Em cada cidade, as pessoas podem se mobilizar para defender que este País precisa de uma revolução e que essa revolução é pela educação.

Graças aos instrumentos que temos hoje de comunicação, vamos tentar mobilizar a população. De hoje a agosto haverá tempo suficiente para que você que está aqui me assistindo pense em como procurar amigos, parentes, conhecidos, vizinhos e filhos, para, juntos, tentarem organizar uma passeata, que a gente quer fazer no mesmo dia, na mesma hora, em todas as cidades do Brasil onde houver o que a gente está chamando de educacionista.

Mas não basta isso. Não basta, e você que está me ouvindo pode já fazer a sua parte. Independentemente de uma passeata política, faça uma passeata solitária à escola do seu filho, vá cobrar como estão as aulas dele, cobrar do professor e apoiar o professor naquilo de justo que ele reivindica de condições de trabalho e de salários. Sem isso, o professor não vai poder desempenhar bem as suas funções, porque o professor é composto de três coisas: cabeça, coração e bolso; cabeça bem formada, coração bem motivado e bolso bem remunerado. Faça a sua parte.

Nós vamos tentar fazer essa grande manifestação, espalhada pelo Brasil inteiro. Vamos continuar caminhando pelas cidades do Brasil. O Chuí foi a qüinquagésima cidade onde houve essas manifestações, mas faça a sua parte. Vá brigar pelos filhos. Eu falo especialmente àqueles que hoje têm consciência de que o Brasil precisa mudar e que sabe que só mudaremos se de fato houver uma revolução no Brasil. Mas não se trata mais da revolução de tirar o capital, Senador Wellington, do capitalista para dar ao trabalhador. Isso já foi feito e não deu certo onde foi feito, porque tiraram o capital do capitalista e colocaram-no nas mãos do Estado. O Estado terminou fazendo com que um bando de burocratas se beneficiassem disso, e o trabalhador pouco se beneficiou.

Hoje, o socialismo ou o nome que se der é a gente colocar o filho do trabalhador na mesma escola do filho do patrão. Não há problema no fato de o capital pertencer a um capitalista. Ao contrário, isso demonstrou dar uma eficiência ao processo produtivo. O que realmente está errado é que o filho do rico tem mais chances na vida do que o filho do pobre, e essa chance maior vem da escola. Se a gente der a mesma chance, veremos que o filho do mais pobre brasileiro vai poder disputar com o filho do mais rico. E aquele que tiver mais talento vai ter condições de desenvolver mais, como ocorre, Senador Wellington, V. Exª que é um promotor de esportes, além de ser um homem de universidade, no futebol: o filho do mais pobre disputa em condições de igualdade com o filho do mais rico. Por isso há tantos atletas vindos das camadas mais pobres, mas não há tantos doutores vindos das camadas mais pobres, porque a bola é redonda para todos, mas a escola é redonda para alguns e quadrada para outros.

É essa a revolução que eu quero ver. Aqueles que pensam nisso ou que despertam para isso... O que a gente precisa, Senador César Borges, é despertar este País. O nosso símbolo deveria ser um grande despertador, tocando o tempo todo, como toca o sinal aqui, para nos chamar para vir para a sessão. A gente precisa despertar, mas eu queria despertar, sobretudo, a população mais pobre para algo que não acontece hoje: a consciência do direito a uma escola boa. Lamentavelmente, no Brasil, a parcela rica acha que, tendo escola boa para os seus filhos, tudo vai bem. É um erro! Não vai bem o Brasil, onde só uma parte se educa. A população pobre acha que não tem direito à escola, como se Deus tivesse dado isso apenas aos filhos dos ricos. Um pobre sente até que tem o direito de ter um carro, mas não que tem o direito de ter uma escola boa para o seu filho. Eles têm de despertar e entender que sem educação o seu filho não vai ter futuro.

Aquilo que vi ontem nos jornais da noite, na televisão, é uma denúncia das mais graves: a denúncia de que neste País sobram vagas e sobram desempregados.

E o abismo no meio não é preenchido, porque a ponte que levaria os desempregados para o emprego, essa ponte sobre o abismo é a escola, é a educação. Ou você desperta para a educação do seu filho como o único futuro bom que ele poderá ter ou ele vai ser condenado a ser deixado para trás, como no Brasil deixamos para trás milhões de crianças ao longo de toda a nossa história.

Sr. Presidente, eu gostaria de dar um aparte ao Senador César Borges.

O Sr. César Borges (Bloco/PR - BA) - Senador Cristovam Buarque, é um breve aparte, apenas para parabenizar a determinação de V. Exª, porque suas palavras são de uma precisão e de uma linha extremamente coerente. Não há por que ter qualquer sombra de dúvida, pois se não tivermos a educação da base, em nosso País, da nossa população, da nossa juventude, dificilmente - eu diria que seria impossível - o País poderá alcançar o que nós desejamos: um País mais justo, mais igualitário. A educação é que permite fazer realmente uma distribuição mais justa das riquezas da nossa sociedade. V. Exª fala de uma cruzada que está encetando agora pelo País, a favor da educação. É necessário que todos nós, como diz V. Exª, não interessa raça, não interessa religião, principalmente a classe social, tenhamos direito à educação. Vários países do mundo conseguiram sair do subdesenvolvimento e chegar rapidamente ao desenvolvimento. Cito o exemplo da Coréia, pela educação. A situação da Coréia era idêntica à do Brasil, há 40 anos, senão pior, do ponto de vista socioeconômico, e, hoje, é uma potência econômica da Ásia, é um tigre asiático. E por conta de quê? Da educação, e educação de qualidade em todos os níveis, desde a pré-escola, o Ensino Fundamental, 2º Grau, universitário até a pesquisa e a pós-graduação, uma vez que o mercado é tão competitivo que aqueles que não têm pós-graduação, que não falam inglês, que não dominam informática dificilmente têm oportunidade igual. Então, V. Exª está coberto de razão. O apoio de todos nós é irrestrito a essa sua cruzada. Parabéns, Senador Cristovam Buarque.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito obrigado, Senador César Borges.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Permita-me um aparte, nobre Senador Cristovam?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Darei com muito prazer, Senador Flexa.

Só quero dizer que não importa tudo o que o senhor colocou e diria mais: não importa o partido, ou melhor, não importa a sigla. Aqui nós temos o Senador Flexa, do PSDB, o Senador César, do PR, o Senador Wellington, do PMDB, e eu, do PDT, mas acho que dá para dizer que nós todos somos do PE, “Partido da Educação”. Como, durante o Século XIX, os abolicionistas estavam em diferentes siglas partidárias, a gente precisa exatamente criar um partido-causa, como houve na luta pela democracia. Houve um partido-causa. Todas as siglas tinham pessoas que defendiam a anistia, que defendiam a eleição direta, que defendiam a constituinte. E, em todos os partidos, havia gente que não defendia isso.

Então, Senador César, agradeço sua lembrança de que não nos diferenciamos por causa de diversos aspectos, inclusive por causa da sigla, se temos uma mesma causa: a escola do filho do patrão tão boa quanto a escola do filho do trabalhador!

Senador Flexa.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Nobre Senador Cristovam Buarque, não me canso de parabenizá-lo por essa caminhada que V. Exª faz, de forma obstinada, pela educação no Brasil. E quero associar-me a ela. Quero, dentro da pequena contribuição que possa dar, que V. Exª conte com o nosso apoio e, não só isso, com o nosso empenho para tornar realidade todos os seus sonhos. Eu não ouvi na programação de V. Exª se Belém já está incluída.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não, mas, se o senhor convidar, dizendo que quer participar, eu vou tomar as providencias.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Eu não só quero participar, como quero que V. Exª agilize e priorize Belém para que possamos levar o seu projeto, a sua caminhada pela educação a Belém. Quero dizer a V. Exª que realmente a questão da educação é suprapartidária, é uma questão de interesse da soberania nacional. E todos nós temos que lutar por ela. Lembro, naquele tempo de ginásio, há quarenta anos, que o colégio público no meu Estado era tão bom ou melhor do que o colégio privado. O acesso ao Ginásio Paes de Carvalho era disputado pelas pessoas, tal a qualidade do ensino público daquela época. Lamentavelmente, houve uma degradação do ensino público e, hoje, há uma inversão total: o Ginásio Paes de Carvalho continua lá, mas hoje não é mais disputado, não tem qualidade no ensino e aquilo que já foi referência há décadas deixou de ser. Temos, nesse aspecto, que voltar ao passado, fazer do ensino público um ensino de qualidade. Como V. Exª diz, que os mais pobres tenham a mesma qualidade de ensino daqueles mais favorecidos. Naquela altura, era exatamente isso: aqueles menos favorecidos tinham qualidade de ensino, eu diria, até melhor do que a dos colégios privados. Parabéns pelo pronunciamento de V. Exª.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço a V. Exª, Senador Flexa. Estamos de acordo. Vou atrás de organizarmos uma caminhada. Quero mais uma vez dizer que pretendo continuar com essas caminhadas - 50 já foram até aqui -, mas elas não devem precisar da presença de Senador algum, de Deputado algum. Em cada lugar, a pessoa pode, querendo, criar um núcleo educacionista, organizar sua plataforma, organizar seu programa. Estamos aqui, todos sabem o endereço, para dar todo o subsídio necessário.

Finalmente, quero agradecer ao Senador César Borges por dizer que tenho uma obstinação. Divido as pessoas entre as que dizem que tenho obstinação e as que dizem que tenho mania. Os que dizem que tenho obstinação são os amigos; os que dizem que tenho mania, em geral, não são simpáticos nem amigos. Mas, seja mania, seja obstinação, vou continuar nessa luta por um Brasil onde a escola seja igualmente boa para todos e onde todos tenham a mesma chance. Uns usarão seu talento e sua persistência, outros talvez nem tanto, mas que a chance seja igual.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/03/2008 - Página 5431