Discurso durante a 32ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração ao Dia Mundial da Água e o lançamento da Campanha "SOS H2O".

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Comemoração ao Dia Mundial da Água e o lançamento da Campanha "SOS H2O".
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/2008 - Página 6143
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, AGUA, REGISTRO, APREENSÃO, SITUAÇÃO, MEIO AMBIENTE, ESPECIFICAÇÃO, MALVERSAÇÃO, RECURSOS HIDRICOS.
  • DEFESA, REFORMULAÇÃO, PROJETO DE LEI, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, PRIORIDADE, RECUPERAÇÃO, RIO, ABASTECIMENTO, BRASIL.
  • REGISTRO, RELEVANCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, BRASIL, PAIS, MUNDO, POSSIBILIDADE, AUSENCIA, AGUA, PLANETA TERRA.
  • COMENTARIO, INFLUENCIA, PRECARIEDADE, EDUCAÇÃO, PROBLEMA, AGUA, PAIS, NECESSIDADE, INCENTIVO, CULTURA, MEIO AMBIENTE, MELHORIA, SITUAÇÃO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Presidente José Machado, eu não poderia deixar de falar em se tratando da água, mas já ouvi tantos discursos que creio que pouco fica para dizer. Entretanto, quero deixar registrado aqui o meu sentimento - como professor, que há muitos anos se preocupa com o assunto meio ambiente -, o meu pensamento de que a água, nesse caso, pode ser vista como uma metáfora de todos os recursos naturais que o modelo social e econômico nosso utiliza.

            Na verdade, se a água é o que mais aparece como risco para o futuro, Senador Tuma, a gente não pode esquecer o que vai acontecer quando acabar o petróleo. A gente não pode deixar de perceber como a China, hoje, tem dificuldade de fazer as suas olimpíadas por causa do ar poluído. A gente não pode deixar de perceber os riscos de diversas espécies em extinção por problemas que estamos provocando com o desenvolvimento social e econômico dos últimos dois séculos.

            A água é a metáfora da revolta da natureza contra o nosso modelo social e econômico. Quando a gente vê, a cada semana que chove em São Paulo, a paralisação dos serviços, na verdade aquilo é fruto de uma revolta das águas contra a pavimentação geral de milhares de hectares que não deixam a água continuar o seu rumo de milênios e milênios, entrando terra adentro. É a revolta das águas. As águas não se conformam com o fato de que elas não têm para onde seguir. Quando a gente vê a poluição dos rios, não deixa de ser uma revolta da água negando vida a ela própria e para deixar de servir aos seres humanos que a estão poluindo.

            Temos, hoje, uma metáfora ao redor da água: é a metáfora de uma natureza que se revolta contra o projeto de civilização depredador que estamos enfrentando. Nesse caso, ou fazemos uma reversão, uma reorientação rápida desse modelo, ou as conseqüências serão de extrema gravidade, não apenas pela falta d’água, mas pela falta de oxigênio, pela falta de recursos em geral. Precisamos aprender com esses erros e tomar cuidado.

            A própria transposição das águas do rio São Francisco - como pernambucano, não posso ficar contra - é preciso ser feita com uma visão mais ampla de cuidar daquela água. Tenho defendido, meu companheiro Machado, a idéia do compartilhamento revitalizado, ou da revitalização compartilhada do rio São Francisco - num projeto só, a revitalização e o compartilhamento daquela água pelo Brasil inteiro. Não podemos dizer que a água pertence apenas a um Estado, ou a dois ou três Estados, mas ao Brasil inteiro. Agora, vamos compartilhá-la, revitalizando-a.

            Vejo grande preocupação com a engenharia civil da transposição e pouca preocupação com a engenharia biológica da revitalização. O que falo com relação ao rio São Francisco vale para o conjunto dos recursos naturais. Comemoramos a auto-suficiência do petróleo sem perceber que estamos apressando o seu fim ao consumi-lo de maneira mais rápida. Comemoramos o aumento do PIB no Centro-Oeste e na Amazônia sem perceber que se dá às custas da depredação da floresta. Não percebemos que há uma revolta da natureza quando não a respeitamos corretamente.

            No Rio Grande do Norte, eu vi, graças ao Senador Garibaldi Alves, uma experiência de compartilhamento da água de maneira responsável, com seu programa de adutoras que seguem todas as estradas ao longo do Estado. No momento em que se vivia a seca, não faltava água pelo menos para beber, para cozinhar e para a higiene, de maneira equilibrada, sem precipitação. Isso é possível.

            Quero aqui dizer a todos os da ANA que aqui estão que contem comigo como um Senador que não apenas representa o Distrito Federal, mas que representa também este recurso fundamental do Brasil que é a água. Considerem que sou Senador da ANA.

            É o que quero deixar aqui, neste momento em que comemoramos o risco de que pode, sim, faltar água neste planeta.

            Finalmente, para não dizerem que eu mudei de tema, quero deixar claro que não há como fazer isso sem uma revolução na educação no Brasil. O problema do consumo depredador é resultado da cultura do desperdício. E cultura vem da educação, não vem de lei, não vem de equações técnicas. Cultura vem de educação. O problema ecológico é, sobretudo, um problema educacional, se a gente quiser resolvê-lo.

            Continuo Senador da Educação, como viram, mas Senador também da ANA.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/2008 - Página 6143