Discurso durante a 40ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Emoção com homenagem recebida dos amigos por ocasião de seu quinquagésimo oitavo aniversário, em Canoas-RS.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Emoção com homenagem recebida dos amigos por ocasião de seu quinquagésimo oitavo aniversário, em Canoas-RS.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/2008 - Página 7395
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, MUNICIPIO, CANOAS (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ORADOR, AGRADECIMENTO, PRESENÇA, LIDER, EMPRESARIO, ESTUDANTE, APOSENTADO, TRABALHADOR, AUTORIDADE RELIGIOSA, DEPUTADO ESTADUAL, DEPUTADO FEDERAL, MINISTRO DE ESTADO, SECRETARIO ESPECIAL, PROMOÇÃO, IGUALDADE, RAÇA, POPULAÇÃO, REGIÃO.
  • COMENTARIO, DISCURSO, ORADOR, COMEMORAÇÃO, SAUDAÇÃO, TRADIÇÃO, ORIGEM, POVO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), VIDA PUBLICA, LUTA, REGIME MILITAR, DEFESA, DIREITO SINDICAL, REDEMOCRATIZAÇÃO, ATUAÇÃO, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE.
  • DEFESA, MELHORIA, DIREITOS, APOSENTADO, PENSIONISTA, RECUPERAÇÃO, BENEFICIO, EXTINÇÃO, FATOR, NATUREZA PREVIDENCIARIA, APROVAÇÃO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, GARANTIA, RECURSOS, SEGURIDADE SOCIAL, REDUÇÃO, JORNADA DE TRABALHO, MANUTENÇÃO, REMUNERAÇÃO, PROJETO, FUNDO NACIONAL, ENSINO PROFISSIONALIZANTE, ELOGIO, CRIAÇÃO, ESTATUTO, IDOSO, IGUALDADE, RAÇA, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, EXPECTATIVA, SANÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROPOSIÇÃO, VALORIZAÇÃO, CENTRAL SINDICAL, CRITICA, EXCESSO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), APOIO, PACTO, FEDERAÇÃO, AUMENTO, DISTRIBUIÇÃO, RECEITA, UNIÃO FEDERAL.
  • APRESENTAÇÃO, PROJETO, AUTORIA, ORADOR, CRIAÇÃO, CENTRO COMUNITARIO, QUILOMBOS, PROMOÇÃO, EDUCAÇÃO, PRATICA ESPORTIVA, LAZER, SAUDE, CULTURA AFRO-BRASILEIRA.
  • ELOGIO, GESTÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUMENTO, NUMERO, EMPREGO, CARTEIRA DE TRABALHO, MELHORIA, SALARIO MINIMO, PROGRAMA, NATUREZA SOCIAL, PAGAMENTO, DIVIDA EXTERNA, INDEPENDENCIA, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI).
  • COMENTARIO, VITORIA, INCLUSÃO, ORÇAMENTO, DESTINAÇÃO, RECURSOS, CONSTRUÇÃO, UNIVERSIDADE ESTADUAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PARTICIPAÇÃO, ORADOR, PROJETO, FUNDAÇÃO, UNIVERSIDADE, INTERIOR, AMBITO ESTADUAL, INSTALAÇÃO, ESCOLA TECNICA FEDERAL, MUNICIPIO, CANOAS (RS), PORTO ALEGRE (RS).

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. Aproveito para cumprimentar o Senador Expedito Júnior, o Senador Sibá Machado, Senador Demétrius Fernandes Ribeiro, aqui conosco a até esta hora, e o sempre Senador Eurípedes Camargo.

            Senador Mão Santa, de fato, ao falar para o Rio Grande e o Brasil neste início de noite, estou na verdade cumprindo a palavra empenhada. No dia de ontem, começou uma atividade em Canoas, no Galpão Crioulo da Ulbra, que se iniciou às 11 horas e terminou às 20 horas, mais ou menos no horário que estou começando a falar. E eu me comprometi com aquela companheirada que lá estava que faria, aqui da tribuna do Senado, o mesmo discurso que fiz lá.

            Neste momento, Sr. Presidente, eu passo a discorrer sobre o que falei, o que comentei, como me expressei para aqueles companheiros lá presentes. Cerca de 2.500 pessoas de todos os recantos do meu Estado compraram convite para estar comigo. Estavam lá companheiros não só do Rio Grande, mas companheiros de São Paulo, do Amapá, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, da Bahia e também aqui de Brasília. Naquele sábado, Sr. Presidente, eu já antevia que o outro dia seria especial. Eu tinha a certeza de que aquele domingo não seria um dia comum na minha vida.

            No domingo, pela manhã, agradeci a Deus por estar reunido com meus amigos. Agradeci com toda a força do meu coração e - podem crer - da minha alma. Estavam lá, Senador Eurípedes, parceiros de longas jornadas, dos conselhos políticos do meu gabinete, do Cantando as Diferenças, líderes empresariais do Rio Grande, líderes dos aposentados, líderes dos estudantes, líderes dos trabalhadores, líderes partidários, parlamentares de todos os partidos, líderes de todas as matrizes religiosas, homens e mulheres anônimos que, com certeza, também são líderes. Líderes esses, Sr. Presidente, que, da sua forma e no seu tempo, alavancam o que chamo de um movimento imbatível: o movimento social.

            Sr. Presidente, Senador Sibá Machado, acredito que nada acontece de forma simplesmente natural e que nem a superior força divina quer que as coisas aconteçam por si sós. É preciso que nós todos tenhamos vontade, é preciso que tenhamos ternura, é preciso que tenhamos muito sentimento, muita fibra, muita raça e muito carinho.

            Cheguei a dizer, naquele evento, Senador Sibá Machado, Senador Mão Santa, Senador Expedito, que, se nos apaixonarmos, a cada segundo, a cada minuto, a cada hora, a cada sol que nasce, a cada lua que ilumina o sonho das nossas vidas, podem ter certeza de que nossos desejos se tornarão verdade. Assim eu creio ou, pelo menos, é assim que procuro marcar os passos da nossa vida.

            Quando cheguei ao local da festa, pude abraçar, beijar, apertar as mãos pequenas, as mãos grandes, as mãos novas, as mãos calejadas, as mãos negras, as mãos brancas, as mãos indígenas que estavam lá, as mãos de pessoas com deficiência, as mãos envelhecidas pela saudade e pelo tempo. Quando cheguei ao galpão, fui recebido na entrada principal, lá na porteira, pelos lanceiros negros a cavalo. Estavam lá lanceiros brancos também que fizeram uma embaixada e me levaram até a porta do evento no salão e me entregaram a tocha da liberdade.

            Entrei com a tocha da liberdade até o palco. Chegando ao palco, acendi a tocha permanente e, naquele momento, entraram crianças e entregaram flores a mim e às autoridades presentes. As flores foram entregues embaladas pela canção de Ana Carolina “É isso aí”. Ali, naquele momento, quem interpretou a canção foi a Claudinha. E o que diz essa música “É isso aí?” É simplesmente: é isso aí. 

            Há quem acredite em milagres. Há quem cometa maldades. Há quem não saiba falar a verdade. É isso aí. Um vendedor de flores ensina seus filhos a escolher seus amores. Quando as crianças, os adolescentes entregavam aos políticos as flores é que os estavam escolhendo para defender a cidadania, a vida, um amanhã melhor para todos. Foi um momento muito bonito. Confesso aos senhores e senhoras que o meu coração, naquele momento, explodiu de orgulho, pois compreendi que estava ali diante de amigos e amigas, de parceiros que crescem dia-a-dia construindo um País mais justo e solidário.

            Na minha fala, eu pedi até permissão a eles para lembrar de alguns momentos da nossa infância, da nossa vida. Eu disse: “Quando éramos crianças, tínhamos muitos sonhos, nós vibrávamos como os heróis, o herói do cinema, o herói da televisão, o herói da revista em quadrinhos. Muitas vezes nos imaginávamos naquela arena, naquele espaço, a defender os pobres, os mais fracos, os discriminados, os oprimidos, contra os ladrões e contra os corruptos, contra os preconceituosos.”

            Podem até pensar alguns que eu sou ingênuo, mas disse lá e repito aqui que quero continuar, como naquela época, a acreditar nas crianças, nos homens e mulheres deste País, continuando a travar a batalha dos homens de bem. Quero continuar sendo, talvez, Senador Eurípedes, um lanceiro contemporâneo. Quero, quem sabe ser ainda um vendedor de flores, como diz a canção.

            Gonzaguinha já disse - e eu gosto muito desta canção dele -: “Eu fico com a pureza da resposta das crianças.” 

            E diz depois:

“É a vida, é bonita e é bonita

Viver e não ter a vergonha de ser feliz

Cantar...(e cantar e cantar...) a beleza de ser um eterno aprendiz [...]’

            Também lá, Senador Mão Santa - e sei que desta o Senador Sibá vai gostar, porque conhece a historia dele - estava o Dante Ramon Ledesma, um marco do nosso continente. Para mim, Dante Ramon, é uma das grandes vozes da América Latina e nos ensinou: “Querer bem a um filho não significa obrigá-lo a viver com as nossas verdades. Querer bem a um filho significa apenas ajudá-lo a crescer sem as nossas mentiras”. Grande Dante e, no fim, termina cantando a música América Latina.

            Sr. Presidente, afirmo isso, Senador Sibá, e falo dos meus pais. Falei lá. Eles já faleceram. Ele era um negro domador de cavalos, campeiro das lidas tradicionais que não se cansava de pelear, desde Santa Catarina ao interior do Rio Grande. Ela era simplesmente uma dona-de-casa das mais prendadas, que tinha as asas na mãos e o gosto doce de levantar cedo, com a ousadia de querer acordar o sol.

            Com muito orgulho, trago comigo o que meus pais aprenderam com meus avós, que aprenderam com meus bisavós. Lembro aqui de vários líderes que eles me ensinaram a ouvir, fundamentais para minha formação. O primeiro deles, vejam bem, que meus pais me apresentaram foi aquele que eles me diziam: “Um dia, meu filho, você vai entender quem foi o maior revolucionário de todos os tempos.” Nunca esqueci. E quem foi? Foi Jesus Cristo, que eles chamavam de grande espelho da humanidade. Diziam para mim: “Guarde este nome: Jesus Cristo, o grande espelho da humanidade.”

            Depois, vieram, é claro, com o conhecimento dos tempos, Senador Mão Santa, não importa em que tempo, mas vieram Martin Luther King, Leonel Brizola, Nelson Mandela, Che Guevara, Zumbi dos Palmares, Mahatma Gandhi, veio também o nosso querido Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Vieram outros, não nego. Lembro-me: Getúlio Vargas, Luís Carlos Prestes, Mário Quintana, Florestan Fernandes - com quem tive a alegria de ser constituinte - Érico Veríssimo, Hermenegildo de Assis Brasil - um gaúcho que lutou na Guerra Civil Espanhola. E as mulheres inesquecíveis, heroínas do seu e do nosso tempo. Lembrei lá de Anita Garibaldi, Olmira Leal de Oliveira - a guerreira Cabo Toco da Revolução de 23 -, as Anas Terras, as Bibianas, as Margaridas, Maria da Penha - a grande referência na luta contra a violência às mulheres, cuja lei que leva seu nome foi sancionada pelo Presidente Lula.

            Mas lembrei também da nossa Ministra-Chefe da Casa Civil - por que não? -, mineira de nascimento e gaúcha de coração, que fez porta de fábrica comigo quando me candidatei, pela primeira vez, a presidente de um sindicato - ela e seu esposo, na época, o advogado Carlos Araújo.

            Sr. Presidente, dizia lá e repito aqui: seria injusto com o povo gaúcho se, naquele momento, eu não falasse também que, sob esta pele negra, há também um pouco dos desbravadores da nossa querência.

            Escorre em mim, sim, as lágrimas do índio Sepé Tiaraju.

            Em muitas e muitas vezes, da minha garganta saem gemidos. Gemidos de dor do João Cândido, o almirante negro, dos lanceiros negros, dos quilombolas, dos sem-terra, dos sem-teto.

            Todos estavam naquele ambiente, todos estavam lá e conspiravam junto com a energia do universo! De corpo ou de alma, já que muitos já tombaram e, com certeza, a favor das causas justas do nosso povo.

            Trago deles, Sr. Presidente, no sangue, a linha divisória conquistada a ferro e fogo, a ponta de lança e casco de cavalo, pelos heróicos gaúchos campeadores, porque assim fizemos Pátria.

            Trago também os calos das mãos dos colonos, italianos e alemães, e o gosto pelo cultivo das flores, dos trigais, dos arrozais, dos parreirais e do tinto da uva.

            Trago o cheiro das folhas da erva mate, o cheiro da brisa do meu litoral, e dos campos e montes lá da serra.

            Confesso, Sr. Presidente, que não resisti e, naquele momento, falei também das nossas tradições, e de uma especial: o churrasco. O churrasco é um ritual. O churrasco, o fogo de chão e o nosso chimarrão. E ali, para aquela moçada, parceiros e companheiros, eu disse: “A coisa mais linda que acho é atiçar o braseiro num fogo de chão, só para sentir o cheiro de uma costela gorda coberta de sal, acompanhada de uma lingüiça campeira. E ali, na volta do fogo amigo, corre de mão em mão, em perfeita harmonia, como celebrando um ritual da amizade e solidariedade, o nosso mate, o chimarrão de cada dia”.

            Na minha boca há o gosto do amargo, dos sais, de doces, de poesias e cantorias, de todas as etnias que se entrelaçaram num arrebol de raças para formar a minha querida gente sulista.

            Falo aqui de todos, do pêlo duro da pátria mãe, dos queridos portugueses, espanhóis, japoneses, africanos, poloneses, franceses, russos, e daqueles que já havia aqui citado.

            Trago comigo a aflição dos judeus perseguidos, como também dos árabes-palestinos. A todos eles, quando me encontram, repito sempre uma frase que é da festa da uva, de Caxias do Sul, cidade onde nasci: “Uma vez imigrante, para sempre brasileiro”.

            Foi nos momentos mais difíceis para mim que essas coisas que falei aqui no Senado da República e lá na minha Canoas, para o meu Rio Grande, essas coisas de pele, de sangue e suor, esses atavismos de meus antepassados, de nossos antepassados, acompanharam-me sempre, como se fossem, Senador Mão Santa, toques de clarins guerreiros em estado de alerta.

            Mas o que eu espero mesmo é ouvir para sempre - quero ouvir para sempre! - o rufar dos tambores para que eu nunca esqueça as minhas raízes, de onde eu vim, porque estou aqui e para onde vou. Que as batidas dos tambores sejam eternas em meus ouvidos, para que eu nunca negue as minhas origens!

            Confesso, senhoras e senhores, que, no ano passado, atravessei um dos momentos mais difíceis de minha vida ao longo desses 58 anos. E foi a garra gaudéria que me deu forças. Vocês me acompanharam, Senadores - Senador Mão Santa, que é médico -, quando, lá no Espírito Santo, o meu guri, o meu piá, chamado Jean, foi operado. Chegou um momento em que os médicos disseram: “A situação é irreversível. Você quer que ele fique aqui, ou vai levá-lo ao Rio Grande?”

            Sabia que era uma decisão difícil. Fui à UTI e disse a ele: “Jean, o pai vai te levar para casa”.

            Nunca perdi a esperança. Firmei os garrões, como a gente diz no Rio Grande. Pegamos uma UTI aérea, retornamos. Fomos ao Hospital Mãe de Deus. Fui atendido pelo Dr. Crespo e pelo Dr. Josué. Posso dizer que eles salvaram a vida dele naquele momento mais difícil de toda a minha vida. Estava lá o Dr. Crespo. Entregamos a ele um buquê de rosas. De público, disse-lhe: “Graças à Medicina e a Deus, hoje o Jean está vivo”.

            Agradeço a Deus e a todos aqueles que, da tribuna do Senado, independentemente de matriz religiosa, fizeram uma corrente de oração que permitiu que a magia da vida vencesse a linha tênue da morte.

            Daquele momento, a recordação que tenho é a de uma frase que Jean me disse, entubado, lá na UTI. Sabia que era um processo quase irreversível. Ele me disse: "Não chore, pai; eu sou como você, nós venceremos esta batalha. Só te peço uma coisa: se algo der errado, cuida de minha filha, a Rafinha."

            Sr. Presidente, foi um momento emocionante. Estou aqui fazendo um agradecimento público a Deus e à Medicina.

            Como disse o poeta espanhol Antonio Machado, "o caminho se faz caminhando..."

            E assim é a vida, nós todos vamos construindo a nossa caminhada.

            Foi assim quando fiz política estudantil e lutava pelo fim do regime ditatorial. Foi assim quando entrei na militância sindical, por acreditar que os trabalhadores têm direito a ter direitos.

            Carrego comigo, sei disso, a saga dos desempregados, trago também a marca das greves, mas também das negociações.

            Poderia citar aqui o Pólo Petroquímico, Candiota, sapateiros, metalúrgicos, alimentação, construção civil, motoristas, jornalistas, professores e todos os servidores.

            Jamais vou esquecer - e eles estavam ali no plenário - a marcha de Canoas a Porto Alegre, com mais de 20 mil trabalhadores, uma greve histórica contra a ditadura.

            Essa eu jamais esquecerei. Entramos na capital, numa grande comitiva, os estudantes à frente dizendo “abram alas para a caravana passar”. Das janelas da Avenida Farrapos e dos edifícios vinham palmas e o papel picado. E assim eu diria que foi a nossa participação na luta pela redemocratização do País e nas Diretas Já.

            E então veio a Constituinte de 88. Lançamo-nos de corpo e alma naquela empreitada que completa agora 20 anos. Muitos dos companheiros daquela época estavam ali naquela atividade. Lembro aqui Olívio Dutra, Jorge Uequed e o próprio José Pinto, chefe de meu gabinete, hoje meu suplente.

            Na Constituinte, tive a satisfação de viver e conviver com Ulysses Guimarães, inesquecível; Mário Covas, inesquecível; Jarbas Passarinho, Bernardo Cabral, Nelson Jobim, Miguel Arraes, Amauri Müller, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso. Todos, todos, todos demarcaram, da sua forma e no seu tempo, a história.

            Foi assim, na minha avaliação, e continuará sendo assim, ou seja, assim será.

            Sr. Presidente, naquela época e até hoje, não abríamos mão, como não abrimos, de um salário mínimo digno e justo. Por isso, hoje podemos olhar para o horizonte e dizer: queríamos demonstrar, embora muitos nos chamassem de demagogos, que era possível que o salário mínimo ultrapassasse a barreira dos US$100. E hoje o Senador Sibá Machado mostrou na tribuna a importância de US$246 para a economia e para a distribuição de renda.

            Nunca abrimos mão dos direitos dos aposentados e pensionistas. Peleamos lá e peleamos hoje. Esse debate está dado. Aqui no plenário, estamos dialogando, inclusive, com o Ministro Marinho para termos uma política de recuperação dos benefícios dos aposentados e pensionistas.

            Disse lá e repito aqui: queremos que o famigerado fator previdenciário seja extinto para que ninguém, no ato da aposentadoria, perca mais de 40% dos seus benefícios.

            Queremos aqui, no plenário do Congresso Nacional, aprovar a PEC nº 24 para garantir, efetivamente, no texto da Constituição, que os recursos da seguridade social sejam intocáveis.

            Aprovamos o Estatuto do Idoso. É lei, é coisa nossa. É lei. O Lula sancionou. Aprovamos aqui, no Senado, o Estatuto da Igualdade Racial, o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Lutamos, no Congresso Nacional. E todos são testemunhas, para que ninguém possa ser discriminado por motivo algum, seja por raça, por cor, por idade, por etnia, por gênero, por religião, por deficiência, por classe social ou também por orientação sexual.

            Lutamos também para mudar a tramitação das medidas provisórias. Todos sabem o meu ponto de vista. As medidas provisórias passaram, ao longo desses 20 anos, por um equívoco nosso, dos Constituintes - eu fui Constituinte. Medida provisória é um instrumento do parlamentarismo. Nas urnas, no plebiscito, passou o presidencialismo e mantivemos as medidas provisórias, que hoje têm mais força do que os decretos-leis da época. Para se ter uma idéia, ao longo desses 20 anos, entre edição e reedição, já foram cerca de sete mil medidas provisórias.

            Sr. Presidente, queremos também aprovar as PECs de minha autoria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, em parceria com o hoje Senador Inácio Arruda, para a redução de jornada, sem redução de salário, o que geraria, mais ou menos, cinco milhões de novos empregos.

            Queremos a aprovação do Fundep - Fundo do Ensino Técnico- Profissionalizante que apresentei há quatro anos. O Senador Demóstenes Torres é o Relator e disse que já deu parecer favorável. O Fundep será uma forma de dar uma nova expectativa de vida para a nossa juventude: cerca de R$6 bilhões estarão à disposição do nosso povo para investir no ensino técnico.

            Sr. Presidente, relatamos e aprovamos - com orgulho, assumo aqui -, no Congresso Nacional, projeto que valoriza as centrais sindicais, as confederações, as federações e os sindicatos dos trabalhadores, que, provavelmente, será sancionado nesta semana pelo Presidente Lula.

            Quero também dizer que, naquele evento, não estavam lá somente companheiros, líderes das mais variadas sociedade; estavam presentes, naquele domingo, os Deputados Federais Marco Maia, Tarcísio Zimmermann, Maria do Rosário e Manuela D’Ávila.

            Sr. Presidente, registrei naquele momento que apresentei recentemente, aqui no Congresso Nacional, um projeto que eu chamo Quilombos do Amanhã, que serão centros sociais para o desenvolvimento da cultura, do esporte, do lazer, recreação, educação e saúde em cada comunidade quilombola. Honrou-me muito a presença nesse evento do nosso Ministro da Seppir, Edson Santos, que se deslocou aqui de Brasília para participar. É claro que, quando eu apresento o Quilombos do Amanhã, Senador Sibá Machado, ao mesmo tempo, no próprio projeto, deixo muito claro que os quilombos serão realidade, se nós aqui no Congresso botarmos verba no Orçamento para sustentar a proposta do Quilombos do Amanhã, que vem ao encontro à linha adotada pelo Presidente Lula.

            Quero dizer também, e repito aqui, que sou totalmente favorável ao pacto federativo, para que efetivamente os Municípios tenham mais condição de investir em saúde, habitação, segurança, saneamento e meio ambiente.

            Eu sempre digo: recursos e deveres. Aumentamos os recursos, mas é preciso aumentar também a responsabilidade. É justamente por não cuidarmos do meio ambiente que, hoje, só no Rio Grande do Sul, cerca de 60 cidades estão sofrendo com a seca. É por agredir a natureza que assistimos à dor, ao sofrimento dos peixes no Rio dos Sinos e no próprio Guaíba.

            Sr. Presidente, falei também do Orçamento da União, quando eu disse que precisamos fiscalizar, democratizar o Orçamento da União, que, ao longo dos anos, infelizmente, tornou-se foco de debate sobre corrupção e desvio do dinheiro público. Apresentamos projetos que entendemos podem avançar na linha do orçamento participativo, na linha de atender a todos os Municípios gaúchos.

            Tomei a decisão ao longo do meu mandato: verbas deste Senador só passam pelo IDH. Só recebem verba os Municípios que mais precisam no Estado do Rio Grande do Sul. Comecei assim do menor para o maior. Trezentos e cinqüenta Municípios já foram contemplados!

            E por que fiz isso e não o fiz antes como Deputado? Porque antes era uma maneira de brincar de fazer acontecer. Apresentava a emenda e ela era liberada.

            Felizmente, no Governo Lula todas as emendas que apresentei foram liberadas para os Municípios do Rio Grande, independentemente da cor partidária. Eu não fico sabendo se a Prefeitura é do PSDB, se é do DEM, se é do PT, se é do PDT ou se é do PMDB. Não importa, é o dinheiro público. E o dinheiro é destinado a atender a população do Município e do Estado.

            Nesses 22 anos de Congresso, lá eu disse, apresentei cerca de 1.300 projetos. Uns vitoriosos, outros derrotados. Mas isso faz parte do processo democrático. Foi assim na Previdência, mas aprovamos a PEC paralela; foi assim com os carteiros, mas garantimos o reajuste de 30% para toda a categoria.

            Sempre mantive o otimismo, pois entendi sempre que até nas derrotas você tira lições para um dia chegar à vitória.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Só um momento. Eu vou permitir ao final, senhoras e senhores.

            Eu disse aos Líderes do PT que estavam naquele evento. Estava lá o meu amigo, o Paulo Ferreira, e eu disse a ele que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva está fazendo um governo que entra para a história, e não é só para a História do Brasil, entra para a história da humanidade. Os números comprovam - o Senador Sibá Machado, hoje, falou muito desses dados - que vivíamos num País que hoje é totalmente diferente. Ninguém tem dúvidas sobre os números do passado e os do presente.

            Repito aqui os dados acumulados. Se retornarmos a 2003, até o momento, mais de oito milhões de trabalhadores com carteira assinada. Nesses cincos anos de Governo Lula, milhões de famílias foram incluídas no mercado de consumo. Senador Sibá falou hoje, mas eu falei ontem também lá. Estudos apontam que nesse período todo, mais ou menos 20 milhões ascenderam da classe D e E para a classe C.

            E as nossas reservas internacionais? Já nos dão condição de dizer adeus para a dívida externa, se assim nós entendermos - e a pagaríamos de uma única vez. A minha geração ia para as ruas dizendo “não” ao pagamento da dívida externa, porque isso quebraria o País. Se quiséssemos, hoje nós pagaríamos a dívida externa. E que bom poder aqui da tribuna do Senado dizer: “Adeus, adeus ao FMI!” Nós que andávamos nas ruas com bandeira, com faixa, hoje já podemos dizer, aliás, já dissemos: adeus ao FMI.

            Por que não registrar - dizia eu lá, Senador Mão Santa, naquele momento tão bonito - que o Risco Brasil, a inflação, os juros, o desemprego, estão num dos menores patamares de toda a história?

            Somos hoje a sexta economia do Planeta. O BNDES se torna o número um do mundo como banco social.

            Não vou citar tudo, mas tenho que fazer algumas referências: PAC, PED, ProUni, Luz para Todos, Bolsa-Família, Pronasci, Fundeb, Política de Recuperação do Salário Mínimo Vinculada ao PIB, cotas.

            Falei um pouco do meu Rio Grande. E para o Rio Grande eu digo, Sr. Presidente, que recebi na festa também o carinho dos Deputados Estaduais Adão Villaverde, Fabiano Pereira, Elvino Bohn Gass, Raul Carrion, representando a Assembléia Legislativa, aos quais disse que o Governo Federal aplicou, entre 2003 e 2006, cerca de 13,2 bilhões no nosso Estado. E é um Governo do PSDB. Essa não é a questão. É para mostrar que, no nosso Governo, não há discriminação. O PAC prevê investimentos de mais de R$ 14,5 bilhões entre 2007 e 2010 lá no Estado.

            O Governo Federal, pela primeira vez na história, recebeu um aval de US$1 bilhão do Banco Mundial para o Governo gaúcho, financiamento inédito nesse montante apresentado no Brasil.

            Poderia lembrar também dos empréstimos que o Governo Federal avalizou para Canoas, Pelotas, Rio Grande e Bagé, tudo recentemente.

            Destaco a luta que travamos no orçamento. Conseguimos com nossos relatores destinar 10 milhões no orçamento para a Uergs - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, muito bem elaborada e construída no Governo Olívio Dutra.

            Informei ainda, no evento, que Canoas - e o digo aqui pela primeira vez - terá canal aberto para a TV Senado, o Canal 38, gerando imagens para Porto Alegre, região metropolitana, conforme conversa que tivemos com o Ministro Hélio Costa, que está autorizando que a TV Senado chegue também ao Rio Grande.

            E aí, quando falava de Canoas, com alegria via ali comigo Jairo Jorge, que é nosso pré-candidato a Prefeito de Canoas. Estava ali o Jurandir Maciel, que é de um outro partido, também candidato a Prefeito. Estava o Nelsinho, que foi dirigente do meu sindicato e hoje é Vereador; e estava o Emílio Neto, como estavam lá outras lideranças das entidades sindicais.

            Eu poderia falar ainda, Senador Mão Santa, das escolas técnicas pelas quais eu tenho tanto carinho, só dizendo que em Canoas, Senador Sibá, Senador Demétrius, teremos em Canoas uma escola técnica que vai gerar espaços para cinco mil alunos. Formação da nossa juventude. Só foi possível pela dedicação do ex-Ministro substituto da Educação e que hoje é Vice-Reitor da UBRA, em Canoas: o meu amigo Jairo Jorge.

            Em Porto Alegre, Senador Mão Santa, Senador Eduardo Suplicy, V. Exª que conhece bem a nossa capital, em Porto Alegre teremos mais uma escola técnica, a Escola Técnica da Restinga, onde eu estive, em audiência pública, por iniciativa da nossa querida Deputada Federal e candidata a Prefeita de Porto Alegre, a companheira Maria do Rosário. Tivemos também, Senadores, a Universidade da Região da Campanha, com sede em Bagé, e campus em Caçapava, em Dom Pedrito, em São Gabriel, em São Borja, Uruguaiana, Jaguarão, Itaqui, Livramento. Já é uma realidade. Cito aqui o empenho de todos os prefeitos da região, mas, sem sombra de dúvida, o do Prefeito de Bagé, companheiro Luiz Fernando Mainardi, do Partido dos Trabalhadores.

            Tenho orgulho de dizer que participei desse processo, porque apresentei no Senado - e o Senado aprovou com apoio do MEC - projeto que viabilizou a criação da Unipampa. Já aprovamos também no Senado projeto de nossa autoria que cria a Universidade Federal da Região das Missões, um antigo desejo dos missioneiros, como o meu amigo, ex-Governador Olívio Dutra, ex-Ministro das Cidades e Presidente do nosso Partido.

            Sr. Presidente, Senador Sibá, muitos não falam, mas teriam de falar mais do Pólo Naval do Rio Grande. É outra realidade proporcionada pelo Governo Federal. E o Presidente Lula vai estar lá nessa quarta-feira e nessa quinta-feira. São previstos investimentos de mais de R$2 bilhões. Se Deus quiser, no Rio Grande, vai cair uma frase que ouvi durante toda a minha infância: que o Sul do Estado é a metade pobre. Esse investimento de R$2 bilhões naquela região vai alavancar, com certeza, junto com as universidades e o ensino técnico, o sul do meu querido Estado.

            Eu podia falar aqui do pólo educacional, projeto que apresentei e aprovei aqui, em parceria com o MEC. Aqui, Sr. Presidente, é importante lembrar, por uma questão de justiça, o belíssimo trabalho que vem fazendo o Secretário de Educação Profissional e Educação Tecnológica do MEC, meu amigo Eliezer Pacheco.

            Sr. Presidente, sei que estou na tribuna há quase cinqüenta minutos, mas quero dizer que temos obrigação de continuar avançando. Esse movimento não pode parar. Graças a esse movimento estratégico, o crescimento do PIB já ultrapassou a barreira dos 5%. Eu diria mais: os nomes passam, mas um projeto fica. Não esqueçam que um nome pode ser derrotado, mas um movimento, não. Este é imbatível!

            Neste ano, todos nós, independentemente de partido, vamos eleger prefeitos e vereadores. Como demonstrei, eu sou um otimista. Sou um otimista com os pés no chão, que luta, de forma leal, para tornar os sonhos realidade. Eu disse lá, naquele fórum, onde estavam todos os partidos, que ainda sonho e acredito que é possível erguermos uma grande frente. Se não for agora, em 2008, que seja em 2010, com a participação efetiva daqueles que são comprometidos com os trabalhadores e com o desenvolvimento sustentável do Rio Grande e do nosso País. Quem sabe uma frente de solidariedade e fraternidade, que reviva, no meu Estado, os tempos de glória da vida política sul-rio-grandense, para que, num futuro próximo, tenhamos, de fato, um Rio Grande para todos, onde as adagas dos maragatos e ximangos não se batam mais numa luta fratricida, numa luta entre irmãos.

            Eu quero, meu querido Senador Mão Santa, que as cores dos famosos lenços brancos e vermelhos, verdadeiros emblemas da nossa história, sirvam de aquarela para um outro tempo, onde o povo gaúcho tenha um novo amanhã de harmonia, crescimento e justiça. Que a nossa gente gaúcha tenha os olhos voltados para o horizonte, o horizonte da liberdade, da igualdade e da prosperidade, para que, nesse dia, Senador Eurípedes Camargo, Senador Demetrius, todos os partidos comprometidos com o nosso povo estejam na mesma trincheira, a trincheira da solidariedade e da fraternidade. Todos nós temos um amor sem limite - podem crer - pelo Rio Grande e pelo Brasil.

            Em homenagem aos dois mil e quinhentos amigos que compareceram naquela festa e, principalmente, às bandeiras do Rio Grande e do Brasil, quero terminar com um verso de um poema chamado Gesta de um Clarim, de autoria de Guilherme Schutz Filho. O poema é pequeno e eu terei a ousadia de tentar aqui declamá-lo. O que diz o poema?

“Velho lábaro sagrado

da República andarilha

que andejou serra e coxilha

na vanguarda dos heróis!

Das manhãs continentinas

tens o verde das campinas

tens o ouro dos trigais

E o rubro dos ideais

da farrapa-montonera

velha e gloriosa bandeira,

mortalha dos imortais!”

            Senador Mão Santa, terminarei dizendo somente o seguinte: um forte abraço a todos.

            Lembro-me agora de que, naquele momento, eu disse: “A Pátria que queremos passa pelas vossas mãos”. E disse mais: “Que o velho patrão lá de cima abençoe a todos nós. Viva o Rio Grande! Viva o nosso querido Brasil!”

            Foi nesse momento que um lanceiro negro e um lanceiro branco me entregaram uma Bandeira do Brasil e outra do Rio Grande. Beijei ambas e agradeci. A emoção, evidentemente, tomou conta do salão e fomos salvos por Dante Ramon, que entrou no recinto e cantou para todos “América Latina”, uma composição de Francisco Alves e Humberto Zanatta. É claro que não vou ler aqui toda a canção “América Latina”, mas quero dizer que essa é uma linda canção. Permitam-me somente recitar um pequeno trecho:

“Talvez um dia o silêncio dos covardes

Nos desperte da inconsciência deste sono

E o grito do sepé na voz do povo

Vai nos lembrar que esta terra ainda tem dono”.

            Muito obrigado.

            Concedo um aparte ao Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero também cumprimentá-lo por seu aniversário de 50 anos e por esta homenagem tão bonita.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Cinqüenta e oito anos.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Foi o que eu disse, não foi? Homenagem em que o Rio Grande do Sul, os companheiros de jornada, de batalhas, estiveram para homenageá-lo e ouviram tão bonito pronunciamento, uma verdadeira prestação de contas de seu trabalho tão belo realizado no Senado e também na Câmara dos Deputados, quando Deputado Federal. Gostaria de transmitir-lhe, caro companheiro Senador Paulo Paim, que, no sábado à noite e no domingo pela manhã, estive no Hotel Sheraton, em São Paulo, no encontro dos agentes pastorais negros de todo o Brasil.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Eles estavam lá também, representados numa bela delegação. Posso dar esse testemunho, Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eles saudaram a maneira como nós dois muitas vezes temos sido companheiros aqui em tantas batalhas. E eu me senti muito bem de, ali, em meio aos pastores negros, agentes pastorais, ter assim sido qualificado. Transmiti a eles a minha disposição de estar onde eles quiserem para falar das batalhas nas quais tanto acredito. Quero, inclusive, reiterar o que já lhe tenho dito - e agora ao próprio Jairo, candidato a Prefeito de Canoas, conforme V. Exª anuncia - que me disponho também a ir àquele Município...

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Será muito bem-vindo.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ... e propor que possa fazer de Canoas um exemplo pioneiro e bem-sucedido da implantação ou da transição do Bolsa-Família até a Renda Básica de Cidadania. Eu transmiti a eles que, a partir de janeiro deste ano, justamente no país considerado como o de maior desigualdade no mundo, a Namíbia, que está diminuindo o seu Coeficiente de Gini, lá, a partir de 2002, o bispo luterano Kameeta, que esteve em Porto Alegre por ocasião do Conselho Mundial das Igrejas, em 2006, organizou uma coligação pela instituição da renda básica. A partir dos seus esforços e da reunião de várias entidades civis e religiosas na Namíbia, ele estimulou que uma pequena comunidade, um assentamento de Otjizero, a 100 Km da capital, Windhoek, a partir de janeiro deste ano, começasse a haver a distribuição, para os 1025 habitantes do assentamento em Otjizero, de uma renda básica igual para todos. Para começar, será de US$100.00 da Namíbia por mês, equivalentes a US$12,50 - V. Exª sabe que isso, num país como a Namíbia, já é um passo relevante -, e a cada seis meses, nos próximos dois anos dessa experiência, será feita uma avaliação cuidadosa. Eu contei isso para algumas pessoas, em palestras, e eis que surgiu um grupo de jovens em Paranapiacaba, uma reserva ecológica, um patrimônio histórico e ecológico de Santo André, onde eles resolveram fazer uma experiência semelhante para os 1.400 habitantes. Então, quero parabenizá-lo e dizer também dessa boa nova. Que a sua batalha, Senador Paulo Paim, pelos propósitos que aqui anunciou, alcance repercussão em todo o Brasil, como ali pude testemunhar, entre os agentes pastorais negros que, de todo o Brasil, ali estavam representados.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito Obrigado, Senador Suplicy.

            Senador Sibá Machado, se me permitir, recebi do Senador Simon, que não pôde estar lá por ter ido a um evento do Mercosul, a seguinte mensagem que me passaram às mãos hoje, quando estava vindo ao plenário. Permita-me, Senador Sibá, antes do seu aparte. É uma mensagem pequena, mas justa. Ele me dizia que esta mensagem é no nome dele e do Senador Sérgio Zambiasi, que estão hoje no Mercosul. Diz ele:

“Meu caro amigo e irmão Paulo Paim,

Muito justa e oportuna a homenagem que te prestam neste dia uns poucos milhares dos teus milhões de amigos e admiradores neste País, que conquistaste nessa tua incessante luta em benefício do povo deste País. Fazer parte desse enorme contingente muito me honra e alegra”.

            Depois, diz o Senador Simon:

“Como teu homônimo, o Apóstolo de Cristo, soubeste como ninguém propagar a democracia e a justiça e fazê-las concretas nas suas inúmeras proposições ao Congresso Nacional, especialmente em benefício dos mais carentes e humildes cidadãos do nosso País.

Estejas certo de que muito me alegraria abraçar-te pessoalmente. Não podendo fazê-lo, valho-me dessa singela mensagem para te enviar meu abraço de parabéns pelos teus 58 anos de vida, completados neste mês de março corrente”.

            Muito obrigado, Senador Simon. Pode ter certeza de que vou guardar com muito carinho a mensagem que recebi de V. Exª e do Senador Sérgio Zambiasi.

            Concedo o aparte ao Senador Sibá.

            O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Paulo Paim, em primeiro lugar, quero dizer que uma das coisas de que gosto de fazer é provocar as pessoas e a mim mesmo. Diga algo que me faça segui-lo. Acho que V. Exª vem aqui na tarde de hoje mostrar a liderança nata que é. Pelas suas palavras, traduziu toda a emoção de uma trajetória, de uma história pessoal de vida, profundo conhecimento dos anseios da comunidade gaúcha, dos anseios dessa comunidade chamada Brasil; expressou o sentimento de pai pelo que passou com seu filho; expressou o sentimento de um militante que viveu tantas realidades diferentes; expressou o que foram os percalços de uma pessoa que certamente passou por muitas dificuldades também. Acima de tudo, trouxe aqui esperança e vontade de superar todos esses embaraços. O Senador Paulo Paim revela aquilo que muitos já conheciam, acho que eu também: essa liderança tão profunda. Na tarde de hoje, ganhamos muito, bastante. Acho que este pronunciamento não pode ficar guardado apenas nos Anais do Senado Federal. Seria muito importante que a gente pudesse reproduzi-lo e distribuí-lo para muitas pessoas, pois, com certeza, o interesse vai ser muito grande. O que posso dizer, ao final de tudo isso, não apenas pelo aniversário, mas pela demonstração de profundo conhecimento, segurança e determinação de fazer o que é melhor na sua vida e na militância política que V. Exª representa: um abraço e parabéns!

            O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Senador Sibá Machado. V. Exª sabe o respeito e o carinho que tenho não só pelo seu mandato como Senador, mas pela sua história de militante, inclusive, lá no interior do Acre e de todos os outros Estados, porque sei do seu deslocamento, sempre defendendo as causas populares. Então, o aparte de V. Exª, com certeza, é o coroamento - eu diria - desse momento tão bonito que vivi neste domingo e agora no Senado da República.

            Quero agradecer também ao Senador Mão Santa, porque ele estava se deslocando. Quando soube do meu pronunciamento, disse que iria presidir e que eu teria todo o tempo necessário para que o Brasil soubesse um pouco dessa caminhada.

            Senador Mão Santa, agradeço muito a V. Exª por ter ficado presidindo até às 21h5min.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/2008 - Página 7395