Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro do lançamento do Novo Telecurso, de iniciativa da Fiesp em parceria com a Fundação Roberto Marinho.

Autor
Romeu Tuma (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Registro do lançamento do Novo Telecurso, de iniciativa da Fiesp em parceria com a Fundação Roberto Marinho.
Publicação
Publicação no DSF de 03/04/2008 - Página 7746
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, INICIATIVA PRIVADA, COLABORAÇÃO, MELHORIA, QUALIDADE, ENSINO.
  • ELOGIO, INICIATIVA, FEDERAÇÃO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FIESP), FUNDAÇÃO, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES, LANÇAMENTO, RENOVAÇÃO, CURSOS, TELEVISÃO, AMPLIAÇÃO, ACESSO, BRASILEIROS, EDUCAÇÃO, ASSINATURA, CONVENIO, EMISSORA, TRANSMISSÃO, PROGRAMA.
  • REGISTRO, DADOS, ORGÃO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), PRECARIEDADE, QUALIDADE, ENSINO, BRASIL, COMENTARIO, PRONUNCIAMENTO, GOVERNADOR, REPRESENTANTE, EMPRESARIO, COMPROMISSO, MELHORIA, EDUCAÇÃO, DETALHAMENTO, MODERNIZAÇÃO, CURSOS, TELEVISÃO, ENSINO MEDIO, LEITURA, TRECHO, DEPOIMENTO, ALUNO.
  • COMENTARIO, PESQUISA, FUNDO INTERNACIONAL DE EMERGENCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFANCIA (UNICEF), MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), AVALIAÇÃO, MUNICIPIO, EXPERIENCIA, MELHORIA, APRENDIZAGEM, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, PAIS, NECESSIDADE, DIVULGAÇÃO, METODOLOGIA.

O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Roseana, Senador Efraim Morais, é uma honra usar a tribuna com a presença de V. Exª à Mesa, na direção dos trabalhos. Eu estava com saudade de V. Exª, correndo para cima e para baixo, a fim de fazer uma boa liderança para o Governo. Estamos solidários ao seu trabalho e à sua pessoa. Agradeço a V. Exª a sua presença.

Senadora Rosalba Ciarlini, é interessante que estou, desde quinta-feira passada, na esperança de poder usar a tribuna para falar sobre educação. Eu não quis pedir-lhe um aparte, porque acho que a sua fala trouxe o que tem de alma e coração nas virtudes que V. Exª apresenta nesta Casa, principalmente homenageando a sua universidade, a sua faculdade. Então, quero dar os parabéns a V. Exª, usando o meu tempo por um minuto, porque não poderia deixar de fazê-lo.

Realmente, é difícil para mim essa área, esquadrinhada com proficiência por nobres colegas, entre os quais V. Exª e o Exmº Senador Cristovam Buarque, que conseguiu, com o seu esforço, colocar o tema na pauta do Governo. Refiro-me à área da educação. V. Exª sabe a luta que ele teve como candidato a Presidente. A única bandeira de todo o seu trabalho foi a educação. Acredito que, hoje, o Governo e todos os interessados no progresso do País se dedicam a discutir o que falta para realmente nós alcançarmos uma qualidade melhor no contexto universal, que é propriamente a educação.

Então, estou motivado por dois fatos ocorridos nos últimos dias, que demonstraram a preocupação pública e particular com a qualidade do ensino praticado em nosso País.

O primeiro fato configura um salto de qualidade numa iniciativa da Fiesp em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Isto é: o telecurso remodelado, para continuar pondo a educação ao alcance de milhares de brasileiros desprovidos de meios para freqüentar aulas.

Na companhia dos ilustres pares Tasso Jereissati e Marconi Perillo, presenciei o lançamento do Novo Telecurso, segunda-feira última, dia 25, no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo, onde se ombreavam políticos de diferentes facções, como os Governadores José Serra, do PSDB de São Paulo, e Jaques Wagner, do PT da Bahia, ao lado de Binho Marques, do Acre, de Carlos Eduardo de Souza Braga, do Amazonas, de Marcelo de Carvalho Miranda, do Tocantins, de Wilma Faria, do Rio Grande do Norte, e de José Roberto Arruda, do nosso Distrito Federal. Juntaram-se aos Presidentes da Fiesp, Paulo Skaf, e da Fundação Roberto Marinho, José Roberto Marinho, para prestigiar a luta por um ensino melhor no Brasil.

Houve também assinatura de convênio pelo Diretor Presidente da Fundação Padre Anchieta, conhecido jornalista Paulo Markun, para que a TV Cultura de São Paulo transmita as aulas. E, patenteando o reconhecimento de que a educação no País vai mal, aqueles líderes políticos estaduais assumiram o compromisso coletivo de obstar o problema, principalmente em relação à defasagem escolar.

Dados fornecidos pela Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão do Ministério da Educação, apontam índices de defasagem entre idade escolar e série efetivamente cursada, atingindo 26% do Ensino Fundamental e 46% do Médio. Tal distorção alcança 70% dos corpos discentes em alguns Estados. Como tentativa de resolver o problema, o Novo Telecurso resulta de renovação e ampliação do Telecurso 2000, que já beneficiou mais de cinco milhões de alunos em 27 mil telessalas criadas pelo País afora.

O Presidente da Fiesp ressaltou ser a educação responsabilidade de toda a sociedade e reproduziu a opinião consensual de que “não dá para um País se desenvolver sem ela”. Sua fala foi assim complementada pelo Presidente da Fundação Roberto Marinho: “Temos uma grande responsabilidade sobre a qualidade de ensino em nosso País e o problema de defasagem é particularmente preocupante. Temos em uma mesma sala de aula alunos de 14 anos convivendo com os de 11. Essa convivência não é produtiva. Um estudante de 14 anos, por exemplo, tem outros interesses além de problemas de auto-estima por estar atrasado nos estudos” - palavras do Presidente da Fundação Roberto Marinho.

O ex-Governador do Acre Jorge Viana, irmão do nosso querido Senador, forneceu um exemplo concreto à platéia ao lembrar: “Quando assumi o Governo em 1999, o Acre era considerado o pior Estado do País em educação. Mas, com iniciativas como a do Telecurso, conseguimos passar da 27ª colocação para a 11ª no ranking”.

Diante disso, o Governador Jaques Wagner reconheceu que a Bahia está entre os dois piores Estados no mesmo ranking e afirmou: “Vamos nos espelhar no exemplo do Acre e melhorar nossa posição”.

Por sua vez, o Governador Carlos Eduardo de Souza Braga ressaltou ser um grande desafio levar a educação a toda a população do Amazonas, um Estado duas vezes e meia maior que a França, repleto de áreas de difícil acesso. Responsabilizou as deficiências educacionais pela degradação da Floresta Amazônica.

O Novo Telecurso significa dar andamento ao projeto numa trilha de sucesso. As telessalas transformaram o aprendizado em lugares tão distantes e diferentes quanto a floresta no Acre e a periferia do Recife.

Por exemplo, reportagem do Jornal Nacional, TV Globo, mostrou como as dificuldades impostas pela defasagem idade/série afastaram Jaqueline de Trindade, de 21 anos, da escola tradicional por dois anos. Voltou a estudar, atraída pelo jeito dinâmico e divertido de aprender proporcionado pelo Telecurso. Concluirá o ensino médio em um ano e três meses. É acrobata que quer seguir fazendo arte, mas com diploma nas mãos. E afirma: “Eu queria ter um diploma de professora de circo mesmo. Uma educadora da arte nota dez”. São as palavras da aluna.

No Recife, Ewerton Cardoso, de 20 anos, retomou os estudos e qualificou-se para o emprego que tanto almejava. Obteve carteira assinada pela primeira vez e a certeza de que nunca é tarde para correr atrás do sonho. Acentua: “Se Deus quiser, vou crescer e fazer uma faculdade para engenharia eletroeletrônica”.

Há 27 mil telessalas espalhadas pelo território nacional. E, graças a elas, cerca de 5 milhões de brasileiros já puderam reprogramar o próprio futuro. Agora, o telecurso caminha pari passu com as transformações que vêm ocorrendo no mundo. Cenários, livros, aulas foram atualizados e cinco novas disciplinas incluídas no currículo do Ensino Médio: filosofia, artes plásticas, música, teatro e sociologia. Os cursos profissionalizantes de gestão de pessoas, projetos de manutenção e administração da manutenção também foram criados.

Outra novidade é a inclusão de alunos portadores de deficiência auditiva, mediante DVDs com legendas e Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ao todo, foram produzidas 72 novas aulas e mais de mil passaram por modificações e atualizações. O material didático, totalmente reformulado, terá 43 novos livros. Conteúdo específico está à disposição dos professores em livros para cada uma das disciplinas.

O Novo Telecurso já possui site no endereço www.novotelecurso.org.br para troca de informações entre os participantes. Exibe na Internet fotos, filmes e making off das gravações e curiosidades gerais do programa. Há ainda um cadastro dos interessados em obter informações sobre o curso. É nesse site que encontramos mais depoimentos de professores e alunos sobre os resultados do projeto. Por exemplo, Ângelo Assis dos Santos, de Cariacica, assegura:

Esse projeto mudou a minha vida em muitas coisas, tanto em relação à minha família, quanto aos colegas de trabalho. Também foi bom para o conhecimento, aprendizagem do projeto que é muito bom. Estou muito feliz de estar estudando depois de 30 anos fora da sala de aula e pretendo continuar a estudar para ter mais conhecimento e um futuro melhor.

Maria Dias dos Reis, aluna da Comunidade EMA, em Quilombos, Goiás, revela:

Para mim foi a melhor que aconteceu na minha vida, porque sempre sonhei em poder continuar meus estudos. Logo, aprendi muitas coisas. Foi uma luz que brilhou no meu caminho. Hoje posso falar que conheço a história do Brasil.

Luzimar Moreira Paz...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP) - Sr. Presidente, a hora em que V. Exª achar que devo encerrar, pedirei para dar como lido o restante do discurso.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - V. Exª terá o tempo suficiente para concluir.

O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP) - Obrigado.

...aluno da Comunidade de Diadema, na mesma região goiana, assegura:

Estava estudando em Terezina de Goiás, porém tive que parar de estudar para trabalhar. Em 2005, comecei a estudar por meio do Telecurso 2000. Aprendi a escrever e a ler melhor. Hoje estou dando aula no município de Cavalcante. [Verifiquem, ele foi aluno do Telecentro e passou a ser professor.] A metodologia da telessala - apresentação de trabalhos e participação em grupos - está ajudando no meu desempenho.

Pois bem, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, através do que acabo de expor, temos noção do imenso potencial oferecido pelo telecurso no campo de atividade destinado a delinear o nosso futuro como grande Nação. Configura o esforço conjunto das iniciativas públicas e particulares para dirimir dificuldades e deficiências próprias de qualquer país continental como o Brasil.

Ainda nesta semana, o Ministério da Educação divulgou ampla pesquisa que denota preocupação em melhorar o ensino oficial com objetivos semelhantes. Parece ter encontrado receitas de sucesso em redes municipais de 37 cidades brasileiras, mediante um estudo elaborado em parceria com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), sob o título “Redes de Aprendizagem -Boas Práticas de Municípios que garantem o direito de aprender.”

Chamo a atenção: nós temos mais de cinco mil Municípios, Senador Mão Santa, e 37 conseguiram provar que têm uma boa qualidade de ensino. V. Exª verifica a defasagem em vários municípios (milhares de municípios) que não conseguiram alcançar o que os 37 apresentaram nessa pesquisa da Unicef.

Entre as características comuns às redes com bom desempenho, o estudo indicou a valorização da leitura e o acompanhamento rigoroso do aluno. Por exemplo: em Alto Alegre do Pindaré, no interior do Maranhão, com 32 mil habitantes, um representante escolar visita a casa do aluno que falta dois dias consecutivos, para saber o motivo da ausência. A valorização da leitura foi citada por 29 das 37 redes como fator de sucesso. Segundo o Ministro Fernando Haddad, procedimentos como esses influenciaram de fato no aprendizado dos alunos, já que o contexto socioeconômico foi isolado da análise.

O estudo procurou identificar escolas que encontraram soluções para problemas comuns às outras. Como segunda etapa, possibilitará a divulgação das experiências bem sucedidas como exemplos a serem seguidos, entre eles o de Formosa, em Goiás, que apresenta formação sólida de professores e constitui um foco na aprendizagem.

A metodologia da pesquisa determinou, entre os critérios de escolha, a nota quatro no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, que varia de 1 a 10. Utilizou igualmente o desempenho acima do esperado em relação a redes com condições socioeconômicas semelhantes. Apenas 103 dos 2.346 sistemas municipais passaram por esses dois filtros. Desses, 37 foram escolhidos de acordo com a representatividade “regional e populacional” e visitados por pesquisadores no final de 2007. Os técnicos ouviram pais, alunos, professores, funcionários e dirigentes municipais.

Embora se destaquem nos contextos socioeconômicos regionais, essas redes não alcançam os padrões encontrados nos países desenvolvidos, que possuem IDEB igual ou maior que seis. Todavia, todas estão acima da média nacional, atualmente de 3,8.

Nas 37 cidades pesquisadas, os técnicos identificaram fatores como planejamento didático e pedagógico, olhar individual sobre o aluno, acesso à educação infantil (0 a 5 anos), valorização da leitura, gestão participativa e ao mesmo tempo exigente, com avaliações dos profissionais, integração entre as escolas da rede municipal e valorização do professor.

Quanto à importância dada à formação dos docentes, há realidades distintas. Enquanto em Sud Mennucci, Estado de São Paulo, 92% deles têm nível superior e em Sete Barras - a 251 quilômetros da capital paulista - o índice chega a 100%, em Presidente Dutra, Bahia, apresentavam apenas ensino médio completo.

Avaliação dos alunos, recuperação, material didático organizado e formação dos professores são as ações apontadas pelos educadores de Sete Barras como a explicação para os bons resultados apontados pelo MEC nessa cidade paulista de 15 mil habitantes. Os alunos fazem provas mensais e passam por avaliação semestral da prefeitura.

Os exames buscam diagnosticar as dificuldades dos estudantes para que, em seguida, sejam formadas turmas com vistas ao reforço escolar.

Sr. Presidente, tenho mais alguma coisa, mas não queria atrapalhar. Se V. Exª permitir que faça a publicação por completo, são mais explicações de outros Municípios que desenvolveram um aprendizado mais rigoroso, mais vigoroso, com o entusiasmo dos alunos. Talvez a cidade de V. Exª já tenha alcance do telecurso e os prefeitos, por intermédio de V. Exª, poderão assinar e ter, sem dúvida alguma, uma melhora de aproveitamento do ensino, principalmente do primeiro e segundo grau.

Agradeço V. Exª pela simpatia da tolerância.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR ROMEU TUMA **************************************************************************

            O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desculpem-me por entrar numa área esquadrinhada com proficiência por nobres colegas entre os quais costumo ver principalmente o excelentíssimo Senador Cristovam Buarque, que conseguiu com seu esforço colocar o tema na pauta de governo. Refiro-me à área da educação. Sinto-me motivado a tanto por dois fatos dos últimos dias, que demonstraram a preocupação pública e particular com a qualidade do ensino praticado em nosso País.

            O primeiro fato configura um salto de qualidade numa iniciativa da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) em parceria com a Fundação Roberto Marinho. Isto é: o telecurso remodelado para continuar pondo a educação ao alcance de milhares de brasileiros, doutra forma desprovidos de meios para freqüentar aulas.

            Na companhia dos ilustres Pares Tasso Jereissati e Marconi Perillo, presenciei o lançamento do Novo Telecurso, segunda-feira última, dia 25, no Teatro Popular do Sesi-SP, onde se ombreavam políticos de diferentes facções, como os governadores José Serra do PSDB de São Paulo e Jaques Wagner do PT da Bahia, ao lado de Binho Marques (Acre), Carlos Eduardo de Souza Braga (Amazonas), Marcelo de Carvalho Miranda (Tocantins), Wilma Faria (Rio Grande do Norte) e José Roberto Arruda (Distrito Federal). Juntaram-se aos presidentes da Fiesp, Paulo Skaf, e da Fundação Roberto Marinho, José Roberto Marinho, para prestigiar a luta por um ensino melhor no Brasil.

            Houve também assinatura de convênio pelo diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, jornalista Paulo Markun, para que a TV Cultura de São Paulo transmita as aulas. E, patenteando o reconhecimento de que a educação no País vai mal, aqueles líderes políticos estaduais assumiram o compromisso coletivo de obstar o problema, principalmente em relação à defasagem escolar.

            Dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão do Ministério da Educação, apontam índices de defasagem entre idade escolar e série efetivamente cursada atingindo 26% no Ensino Fundamental e 46% no Médio. Tal distorção alcança 70% dos corpos discentes em alguns Estados. Como tentativa de resolver o problema, o Novo Telecurso resulta de renovação e ampliação do Telecurso 2000, que já beneficiou mais de 5 milhões de alunos em 27 mil telessalas criadas pelo País afora.

            O Presidente da Fiesp ressaltou ser a educação responsabilidade de toda a sociedade e reproduziu a opinião consensual de que “não dá para um país se desenvolver sem ela". Sua fala foi assim complementada pelo Presidente da Fundação Roberto Marinho: “Temos uma grande responsabilidade sobre a qualidade de ensino em nosso País e o problema de defasagem é particularmente preocupante. Temos em uma mesma sala de aula alunos de 14 anos convivendo com os de 11. Essa convivência não é produtiva. Um estudante de 14 anos, por exemplo, tem outros interesses, além de problema de auto-estima por estar atrasado nos estudos".

            O ex-governador do Acre, Jorge Viana, forneceu um exemplo concreto à platéia ao lembrar: "Quando assumi o governo em 1999, o Acre era considerado o pior estado do País em educação. Mas, com iniciativas como a do Telecurso, conseguimos passar da 27.ª colocação para a 11.ª no ranking". Diante disso, o governador Jaques Wagner reconheceu que a Bahia está entre os dois piores Estados no “ranking” e afirmou: "Vamos nos espelhar no exemplo do Acre e melhorar nossa posição".

            Por sua vez, o governador Carlos Eduardo de Souza Braga ressaltou ser um grande desafio levar educação a toda a população do Amazonas, um Estado duas vezes e meia maior que a França, repleto de áreas de difícil acesso. Responsabilizou as deficiências educacionais pela degradação da floresta amazônica.

            O Novo Telecurso significa dar andamento ao projeto numa trilha de sucesso. As telessalas transformaram o aprendizado em lugares tão distantes e diferentes quanto a floresta no Acre e a periferia do Recife. Por exemplo, reportagem do Jornal Nacional - TV Globo mostrou como as dificuldades impostas pela defasagem idade-série afastaram Jaqueline Trindade, de 21 anos, da escola tradicional por dois anos. Voltou a estudar, atraída pelo jeito dinâmico e divertido de aprender proporcionado pelo Telecurso. Concluirá o Ensino Médio em um ano e três meses. É acrobata e quer seguir fazendo arte, mas com um diploma nas mãos. E afirma: "Eu queria ter um diploma de professora de circo mesmo. Uma educadora da arte nota dez".

            No Recife, Ewerton Cardoso, de 20 anos, retomou os estudos e qualificou-se para o emprego que tanto almejava. Obteve carteira assinada pela primeira vez e a certeza de que nunca é tarde pra correr atrás do sonho. Acentua: "Se Deus quiser eu vou crescer, fazer uma faculdade para engenharia eletroeletrônica".

            Há 27 mil telessalas espalhadas pelo território nacional e, graças a elas, 5 milhões de brasileiros já puderam reprogramar o próprio futuro. Agora, o telecurso caminha “pari passu” com as transformações que vêm ocorrendo no mundo. Cenários, livros, aulas foram atualizados e cinco novas disciplinas incluídas no currículo do Ensino Médio: filosofia, artes plásticas, música, teatro e sociologia. Os cursos profissionalizantes de gestão de pessoas, projetos de manutenção e administração da manutenção também foram criados.

            Outra novidade é a inclusão de alunos portadores de deficiência auditiva, mediante DVDs com legendas e Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ao todo, foram produzidas 72 novas aulas e mais de mil passaram por modificações e atualizações. O material didático, totalmente reformulado, terá 43 novos livros. Conteúdo específico está à disposição dos professores em livros para cada uma das disciplinas.

            O Novo Telecurso já possui site no endereço www.novotelecurso.org.br para troca de informações entre os participantes. Exibe na Internet fotos, filmes e “making off” das gravações e curiosidades gerais do programa. Há ainda um cadastro dos interessados em obter informações sobre o curso. É nesse site que encontramos mais depoimentos de professores e alunos sobre os resultados do projeto. Por exemplo, Ângelo Assis dos Santos, de Cariacica, assegura:

            "Esse projeto mudou a minha vida em muitas coisas, tanto em relação à minha família, quanto aos colegas de trabalho. Também foi bom para o conhecimento, aprendizagem do projeto que é muito bom. Estou muito feliz de estar estudando depois de 30 anos fora da sala de aula e pretendo continuar a estudar para ter mais conhecimento e um futuro melhor."

            Maria Dias dos Reis, aluna da Comunidade EMA, em Quilombos, Goiás, revela:

            "Para mim foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, porque sempre sonhei em poder continuar meus estudos. Logo aprendi muitas coisas. Foi uma luz que brilhou no meu caminho. Hoje posso falar que conheço a História do Brasil."

            Luzimar Moreira Paz, aluno da Comunidade Diadema, na mesma região goiana, assegura:

            "Eu estava estudando em Terezina de Goiás, porém tive que parar de estudar para trabalhar. Em 2005, comecei a estudar por meio do Telecurso 2000. Aprendi escrever e a ler melhor. Hoje, estou dando aula no município de Cavalcante. A metodologia da telessala - apresentação de trabalhos e participação em grupos - está ajudando no meu desempenho."

            Pois bem, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, através do que acabo de expor temos noção do imenso potencial oferecido pelo telecurso no campo de atividade destinado a delinear o nosso futuro como grande Nação. Configura o esforço conjunto das iniciativas pública e particular para dirimir dificuldades e deficiências próprias de qualquer país continental como o Brasil.

            Ainda nesta semana, o Ministério da Educação divulgou ampla pesquisa que denota preocupação em melhorar o ensino oficial com objetivos semelhantes. Parece ter encontrado receitas de sucesso em redes municipais de 37 cidades brasileiras, mediante um estudo elaborado em parceria com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), sob o título "Redes de aprendizagem - Boas práticas de municípios que garantem o direito de aprender". Este é o segundo fato que motiva o meu pronunciamento.

            Entre as características comuns às redes com bom desempenho, o estudo indicou a valorização da leitura e o acompanhamento rigoroso do aluno. Por exemplo, em Alto Alegre do Pindaré, no interior do Maranhão com 32 mil habitantes, um representante escolar visita a casa do aluno que falta dois dias consecutivos para saber o motivo da ausência. A valorização da leitura foi citada por 29 das 37 redes como fator de sucesso. Segundo o ministro Fernando Haddad, procedimentos como esses influenciaram de fato no aprendizado dos alunos, já que o contexto socioeconômico foi isolado da análise.

            O estudo procurou identificar escolas que encontraram soluções para problemas comuns a outras. Como segunda etapa, possibilitará a divulgação das experiências bem-sucedidas como exemplos a ser seguidos, entre eles o de Formosa, em Goiás, que apresenta formação sólida de professores e constitui um foco na aprendizagem.

            A metodologia da pesquisa determinou, entre os critérios de escolha, a nota quatro no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que varia de um a dez. Utilizou igualmente o desempenho acima do esperado em relação a redes com condições socioeconômicas semelhantes. Apenas 103 dos 2.346 sistemas municipais passaram por esses dois filtros. Desses, 37 foram escolhidos de acordo com a representatividade "regional e populacional" e visitados por pesquisadores no final de 2007. Os técnicos ouviram pais, alunos, professores, funcionários e dirigentes municipais.

            Embora se destaquem nos contextos socioeconômicos regionais, essas redes não alcançam os padrões encontrados nos países desenvolvidos, que possuem Ideb igual ou maior que seis. Todavia, todas estão acima da média nacional, atualmente de 3,8.

            Nas 37 cidades pesquisadas, os técnicos identificaram fatores como planejamento didático e pedagógico, olhar individual sobre o aluno, acesso à educação infantil (0 a 5 anos), valorização da leitura, gestão participativa e ao mesmo tempo exigente, com avaliações dos profissionais, integração entre as escolas da rede municipal e valorização do professor.

            Quanto à importância dada à formação dos docentes, há realidades distintas. Enquanto em Sud Mennucci, Estado de São Paulo, 92% deles têm nível superior e em Sete Barras - a 251 km da capital paulista - o índice chega a 100%, em Presidente Dutra, Bahia, apresentavam apenas ensino médio completo.

            Avaliação dos alunos, recuperação, material didático organizado e formação dos professores são as ações apontadas pelos educadores de Sete Barras como a explicação para os bons resultados apontados pelo MEC nessa cidade paulista de 15 mil habitantes. Os alunos fazem provas mensais e passam por avaliação semestral da prefeitura. Os exames buscam diagnosticar as dificuldades dos estudantes para que, em seguida, sejam formadas turmas com vistas a reforço escolar.

            Para organizar o conteúdo a ser ensinado, a prefeitura de Sete Barras optou por um sistema polêmico, isto é, o de apostilas feitas por um grupo privado, o Objetivo. Parte dos educadores do País afirma que o sistema massifica o ensino e prejudica uma formação mais humanista dos alunos. Mas, a Secretária da Educação local, Edna Kabata, declarou à Folha de S. Paulo que, “antes, cada professor definia o que ia ensinar. Agora, tudo está organizado". Ela ressaltou que os 78 docentes da rede possuem nível superior.

            A Escola Municipal Durval de Castro, ainda sem laboratório de informática, teve notas na quarta série superiores aos da oitava do sistema estadual de São Paulo, em português, na Prova Brasil 2005, realizada pelo governo federal. A diretora do estabelecimento, professora Ena Maria de Morais, diz que “aqui não tem invenção. É giz e lousa, mas tudo está organizado".

            Aluno da quarta série, Vinicius Fujimoto, de 10 anos, afirma não haver problemas para acompanhar as aulas desde que se dedique às tarefas, pois é grande a quantidade de lições de casa.

            A prefeitura paga bônus de acordo com a assiduidade dos docentes, que percebem salário de aproximadamente R$ 1.000 mensais, além das gratificações. Em 2007, quem não teve nenhuma falta chegou a ganhar quatro salários extras.

            Em Sud Menucci, cidade também selecionada pelo MEC, uma torre de 40 metros confere aos moradores acesso gratuito à Internet Banda Larga via rádio. Localizado a 614 km da cidade de São Paulo, o município possui 7.714 habitantes. No dia em que os repórteres lá estiveram, 22 alunos do ensino fundamental da Escola Municipal Professor Victor Pandilha navegavam na internet orientados por uma professora.

            Em 2001, 14,1% dos habitantes de Sud Menucci eram analfabetos. Hoje, só chegam a 7,25%, a maioria com mais de 50 anos. A prefeitura buscou convênios com faculdades da região para incentivar a presença dos jovens em cursos técnicos e universitários. Para freqüentar as aulas, o aluno recebe auxílio de 50% da mensalidade, divididos entre o município e a entidade, além de transporte.

            Portanto, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, encontro motivos de sobra para me entusiasmar com o que presenciei ou li nesta semana. São acontecimentos que renovam minha fé num futuro grandioso para o Brasil, alicerçado na garantia do direito à educação para todos os brasileiros. Além do mais, o lançamento do Novo Telecurso e a superação de óbices pelo ensino municipal, graças à visão e competência de educadores e administradores locais, demonstram que, como diria Geraldo Vandré, quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/04/2008 - Página 7746