Discurso durante a 44ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa de debates, no Congresso Nacional, de temas que mostrem o compromisso do parlamento com o País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLATIVO.:
  • Defesa de debates, no Congresso Nacional, de temas que mostrem o compromisso do parlamento com o País.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2008 - Página 8065
Assunto
Outros > LEGISLATIVO.
Indexação
  • CRITICA, EXCESSO, INVESTIGAÇÃO, CORRUPÇÃO, GASTOS PUBLICOS, CARTÃO DE CREDITO, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, CONFLITO, BANCADA, GOVERNO, OPOSIÇÃO, AUSENCIA, DEBATE, INTERESSE NACIONAL, PLANEJAMENTO, FUTURO, BRASIL, SOLUÇÃO, PROBLEMA, EDUCAÇÃO, SAUDE, DOENÇA ENDEMICA, SEGURANÇA PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, VIOLENCIA, VITIMA, CRIANÇA, ENERGIA ELETRICA, CRISE, TRANSITO.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO, SIMILARIDADE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APREENSÃO, CRISE, CONGRESSO NACIONAL, DEMOCRACIA, ADVERTENCIA, AUSENCIA, RELEVANCIA, DIALOGO, DECISÃO, LEGISLATIVO, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, DIRETRIZ, NATUREZA POLITICA, BRASIL, DEFESA, POLITICA, LONGO PRAZO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti, Srªs e Srs. Senadores, nesta manhã, fazendo a obrigação de qualquer político, que é a de ler os jornais do dia, Senador Virgínio Carvalho e Senador Mão Santa, tive a sensação de que, às vezes, deveria rir e, às vezes, deveria chorar. Às vezes, dá vontade de rir das trapalhadas que estamos cometendo neste País; ao mesmo tempo, dá vontade de chorar por causa delas. Como em toda anedota, em geral, alguém ri de uma situação ruim de outro. Por isso, às vezes, dá vontade de rir com as coisas, mas dá vontade de chorar com a tragédia que essas coisas representam.

Veja, Senador Mozarildo Cavalcanti, que, hoje, lendo o jornal, vi que o assunto da tapioca também chegou a um funcionário do Governo anterior. Vejam a crise por que passamos! Usando uma expressão do Senador Mão Santa, que incomodou muita gente, o “ciscar”, dá-se a impressão de que estamos ciscando aqui dentro, Senador Mão Santa, uns contra os outros, e que nenhum está saindo do lugar. E quem perde é a Oposição, é a Situação, é o Brasil.

Na história do Brasil do tempo em que eu era pequeno, estava escrito “anos dourados”; cresci, e passaram a existir os anos da reforma; depois, os anos de chumbo; também é preciso lembrar que os próprios anos de chumbo foram anos do milagre; depois, vieram os anos da reconstituição, da redemocratização. Senadoras e Senadores, fico pensando em como serão chamados estes anos em que já não sou tão jovem e sou Senador; temo que fiquem marcados como os “anos tapioca”, porque é o assunto que tem dominado nosso debate.

É claro que a corrupção tem de ser apurada; nenhum ato de corrupção, de desvio de dinheiro, pode passar em branco. Mas não podemos ficar presos a essa realidade; não podemos ficar presos a essa situação que atravessamos. Nas mesmas semanas em que estamos aqui discutindo CPI do Cartão Corporativo, nessas mesmas semanas, se fôssemos listar a quantidade de maldades cometidas contra as crianças do Brasil, precisaríamos de uma longa lista.

Em uma cidade, uma criança é jogada pela janela; na outra uma criança é acorrentada; na outra uma adolescente fica presa com bandidos; na outra há crianças morrendo de dengue; na outra há 14 milhões sem escola... São as manchetes do dia. E aí, onde estão as crianças aqui no nosso debate? Não entram. Portanto, não entra também no nosso debate o futuro do Brasil. Isso é o que me angustia. Apesar de as trapalhadas serem tão grandes, o ciscar está tão intenso aqui, Senador Mão Santa, que a gente fica se perguntando se não dá vontade de olhar como se estivesse fora e de rir um pouquinho também.

Mas acho que a gente tem de fugir dessa idéia de rir da tragédia; a gente tem de insistir na necessidade de procurar mudar esses tempos apelidados de “tempos tapioca” para tempos de futuro, para pensar o futuro do Brasil. Sei que talvez não adiante nada falar sobre isso, porque, na segunda-feira, a gente vai voltar aos mesmos velhos temas, que caem no vazio. Vejam essa luta inteira, enorme, imensa, de Senadores em função de saber se a Ministra Dilma vem ou não.

Primeiro, ela já deveria ter dito que vem, antes de ser convocada. Não vejo razão para ela temer vir aqui. Segundo, a oposição não oferece propostas alternativas para o Brasil, comportando-se hoje como o PT se comportava antes. Quando eu tentava, lá dentro, como militante do PT, oferecer propostas, ouvia mais de uma pessoa dizer: “Proposta é para quem é situação, não para quem é oposição”. E, agora, a oposição de hoje está-se comportando dessa maneira.

Vamos supor que a oposição consiga trazer a Ministra Dilma Rousseff; vamos supor que ela venha aqui para depor; vamos supor que o depoimento satisfaça à oposição e que ela se saia mal. Mas, daqui a 10 anos, quem vai falar nisso? Daqui a 10 anos, o que fica disso? Nada. O que vai ficar dos nossos tempos?

Nós não somos a geração que vai fazer a abolição da escravatura; isso já foi feito 120 anos atrás. Nós não somos a geração que vai fazer o desenvolvimento deste País com democracia, como foi a geração de parlamentares no tempo de Juscelino. Nós não somos mais a geração que faz as reformas de base, porque ou já passou o tempo ou a gente não discute isso. Nós não somos a geração da redemocratização, não somos - eu fui, como jovem, lá fora, fazendo manifestação, mas não aqui dentro. Nós não somos a geração de nada neste momento. Qual é a marca da nossa geração, a não ser, como diz o Senador Mão Santa, estarmos aqui na sexta-feira, como não se fazia em 120 anos, a não ser os discursos que a gente faz? O que vai ficar disso?

O Senador Augusto Botelho acaba de falar sobre a necessidade de termos uma proposta contra a corrupção. Quando vamos debater aqui uma proposta de corrupção zero neste País? De zero crianças sem concluir o ensino médio? De escolas técnicas em todos os Municípios, como a de Roraima, de que o senhor falava agora há pouco? Quando vamos discutir aqui a saída para a crise energética que este País vai viver de qualquer maneira, mesmo que chova o tempo todo, porque vamos esgotar as fontes de energia se não mudarmos a nossa matriz, o nosso modelo energético? E passa pela mudança do modelo energético viver consumindo menos energia. A gente se acostumou a discutir o modelo energético do ponto de vista de produzir mais com fontes alternativas, como, por exemplo, as eólicas ou o biodiesel. A gente não está percebendo que, ou reduzimos o consumo de energia ou não vai ter saída. Claro que o biodiesel é renovável, mas ocupa terra. Então, vai chegar ao limite de não ter terra para produzi-lo. É renovável, mas limitado.

Quando vamos discutir como fazer para que neste País não haja mais epidemias. A gente está, no máximo, discutindo como parar a epidemia no Rio de Janeiro; mas, daqui a um ano, ela volta, daqui a dois anos, três anos, cinco anos, ela voltará, se não tivermos uma mudança na maneira como a gente enfrenta os problemas neste País.

A mãe de todas as epidemias é a imprevidência. Quem as cura depois são os médicos, como dois que estão aqui neste momento, mas quem faz a epidemia é a imprevidência. E estamos sendo imprevidentes com os destinos do Brasil. Fomos imprevidentes no Rio de Janeiro ao não derramar as águas que, empossadas, trouxeram este maldito mosquito Aedes aegypti para espalhar a dengue no Rio de Janeiro. Mas estamos sendo imprevidentes com diversas outras epidemias.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª me permite participar?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Permito com o maior prazer. Dê-me um minutinho só, Senador, mas com o maior prazer. Aliás, uma das boas coisas é ter os seus apartes.

Nós temos, adiante, visíveis, previsíveis, imagináveis, com clareza, outras epidemias. Será que o trânsito nas grandes cidades deste País não é uma epidemia previsível? Ontem, na televisão, em um dos jornais da noite, vi um comentarista econômico dizer que há um espaço imenso nas indústrias automobilísticas para aumentar a produção. E o outro apresentador perguntou: “E haverá espaço nas ruas?”. A gente não está pensando no espaço nas ruas. A gente está pensando em aumentar a produção. É claro que haverá uma epidemia!

Aliás, veja como estamos. Eu digo que vai haver epidemia. Mas, ontem, mostravam um engarrafamento de mais de duzentos quilômetros. A epidemia já está aí. Nós nos acostumamos tanto com ela, que a gente não vê. Nós nos acostumamos tanto a ficar horas em engarrafamentos, que a gente já não percebe que isso é uma epidemia. É como alguém que tivesse dengue a vida inteira, ele não ia saber que estava com dengue, ia saber que estava sofrendo, mas não ia considerar isso uma doença e, sim, uma realidade natural.

Nós temos, diante de nós, uma quantidade de epidemias previsíveis: na energia, na educação, na saúde, no meio ambiente. E nós estamos sendo imprevidentes. Inclusive, aqui, nesta Casa, estamos sendo imprevidentes, porque estamos - volto a insistir na metáfora do Senador Mão Santa - ciscando aqui dentro. Nós não estamos, de fato, caminhando. Não estamos caminhando; estamos amarrados.

E a pergunta que faço, antes de passar a palavra ao Senador Mão Santa, é: Como é que nós caímos nessa armadilha? Porque nós estamos, Senador Augusto Botelho, em uma armadilha; a armadilha de que, se não se dedica a lutar contra a corrupção, é conivente. E é verdade. Mas, quando faz a luta contra a corrupção momentânea, de denúncias, a gente não está fazendo mais o resto. Caímos na armadilha. Estamos numa armadilha, inclusive, em que, quem não joga lama, ou não leva lama, não aparece nos noticiários, porque os grandes debates nacionais sumiram da mídia e dos jornais. Nós debatemos, hoje, a lama.

Houve um tempo em que havia alguns jornais de que se dizia que, espremendo, saía sangue. Hoje, se a gente espremer os jornais, sai lama. Culpa nossa, dos políticos, que estamos provocando isso. Uns, muito mais. Outros, zero até. Mas é culpa nossa. Culpa também de uma armadilha da qual não estamos sabendo sair. A entrevista do Presidente Garibaldi mostra uma prisão, uma armadilha na qual caímos, porque ele alerta dos problemas, e a gente não sabe como sair deles.

Quero deixar, aqui, antes de passar a palavra ao Senador Mão Santa, esta pergunta: Como foi que caímos nessa armadilha em que estão, hoje, o Congresso Nacional e a política brasileira, apenas no curto prazo e na podridão da superfície, sem entender a ferrugem da engrenagem da sociedade brasileira, sem conseguir lubrificar essa sociedade?

Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Professor Cristovam, V. Exª tem aquilo que buscamos, tem sabedoria. Tem, mas me permita discordar do raciocínio de V. Exª. Hoje cedo, traduzindo a grandeza da satisfação do cumprimento da missão, abri esta sessão. Ouvi alguns pronunciamentos, e, dentre eles, o do Senador Mozarildo Cavalcanti. Daí eu o convidei para presidir a sessão. Como V. Exª está fazendo um pronunciamento muito importante, ele fez um de alta valia. Só esse pronunciamento dele valia pelo mandato que o bravo povo lhe deu. Primeiro, ele contestou o nosso Presidente, que eu elogiei antes de V. Exª, segunda-feira, nas páginas amarelas, com Garibaldi. O Garibaldi, eu já estava desesperado, e ele disse: “Acabaram-se os políticos lisos”. Mas não. Está aí um médico decente, sem contas no exterior, sem patrimônio, e o povo o trouxe, agorinha aí, para um novo mandato. O povo dá força, reconhecendo o valor. V. Exª está aqui, e nós. Este Senado, olha... Mozarildo, no calor da emoção e vibrante no pronunciamento dele, firme - firmeza era o que se definia -, advertindo o Presidente da República sobre a realidade, a verdade. Mas, olha, ele se entusiasmou e disse: eu fui daqueles, porque queria defender o povo contra os juros escorchantes. Fui humilhado e expulso de uma Comissão. Não é? Por uma Líder do Governo. E ele estava ali. Mas ele era um daqueles. E eu quero dizer que nós podemos nos apresentar ao Brasil. V. Exª está no meio. Se V. Exª sabe História, se lembra dos trezentos de Esparta, segurando o mundo civilizado, os números de Atenas e Temístocles, de Leônidas, e eles ficaram ali. Nós somos hoje isso. O nosso papel é o mais importante no momento neste País. Nós somos a última trincheira que está defendendo esse movimento inspirado. Está aí. Esse vendaval todo aconteceu porque é meu papel advertir, como eu adverti isso. Há cinco anos que entrei e tem pronunciamentos meus sobre saúde pública alertando de que isto estava igual ao que Floriano Peixoto dizia sobre a saúde pública no Brasil: “faz-se com o sol, a chuva e os urubus”. Estava no descaso; eu adverti, e está no que está. Então, nós estamos aqui, como aqueles trezentos, como o orgulhoso Mozarildo disse: como aqueles trezentos, defendendo as liberdades da Grécia, nós estamos defendendo as liberdades democráticas neste País, ameaçada por esse partido cuja origem é característica. Daí aquele tormento com as minhas palavras, porque eu disse que nesse partido o Hitler teve 96% de opinião pública na Alemanha, influído por Goebbel, pela mentira. Esse partido, que buscou, salvaguardou o nome de Deus, que cultivou o trabalhador - “comerás o pão com o suor do teu rosto” -, que é uma homenagem ao trabalho e ao trabalhador, que pegou o nome - também lá é Partido do Trabalhador da Alemanha. A cor, nós, que somos médicos, sabemos, que lembra o sangue, que excita, é a mesma. E me lembra o Presidente Sarney, Senador: “Brasileiras e brasileiros...”. Eu me lembro do Presidente Getúlio, estadista, no 1º de maio que se avizinhava, eu era menino:”Trabalhadores do Brasil...”. Mas, não. Ele segue o de lá. Quem usou o termo “Companheiras e companheiros...” foi lá. Foi lá no Mein Kampf. E aquelas do nome genérico, descritas como quem cisca, aquelas que “cacarejam”, que “cacarejam”, obras que não existem, obras-fantasma, antes de nascerem abortadas, numa demagogia. E nós, somente nós, a última resistência que está evitando este País... Quando até um Vice-Presidente da República, que eu pensava que tinha juízo, conclama para sairmos da democracia e da Constituição. E nós que desacreditávamos. Eu pensava, eu era admirador de José de Alencar. Tô fora! Vem pregar a desobediência à Constituição! E não tinha a competência de V. Exª, porque a ignorância diz que Frank Delano Roosevelt foi eleito três vezes. Foi eleito quatro, mas o momento era outro, era em guerra; guerra justamente nascida lá do que eu denunciei: do nazismo. É! E o povo americano o elegeu quatro vezes. E o seu vice continuou, Truman, com o apoio de sua mulher. E esta é a denúncia: nós é que estamos evitando este País sem aquele regime que se irradiou em Cuba, que se irradiou aí, na Venezuela, no Equador, na Bolívia e na Nicarágua. Aqui, ele ainda não se instalou porque temos a mesma grandeza, somos aqueles 300 de Esparta. V. Exª é um deles quando teve a visão de futuro de que a educação era a salvação. V. Exª foi humilhado, demitido por um telefonema. Mas sou Francisco - Paz e Bem era a sua bandeira -, e Francisco disse: “os humilhados serão exaltados”. E V. Exª é um desses neste grandioso Senado, que jamais vai deixar esses que aí estão tirarem as liberdades democráticas do nosso País.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Mão Santa, quando o senhor começou dizendo que discordava, fiquei contentíssimo, porque faltam discordâncias aqui dentro. Aqui se briga, mas não se discorda, porque não se debatem idéias.

Só que ele disse que iria, mas não discordou. Senador Mozarildo, Senador Augusto Botelho, os discursos que os senhores fizeram e o que eu estou fazendo não vão ser comentados na segunda-feira aqui. Grande discurso que o senhor fez! O discurso do Senador Augusto Botelho foi um discurso de peso, mas vai cair no vazio. Nossos discursos caem no vazio hoje.

Sinceramente, desculpem o pessimismo, mas, se o Presidente Lula decidir fazer o terceiro turno - e eu fui o primeiro a denunciar isso, em 2006, na campanha presidencial -, ele termina aprovando isso aqui. Ele termina aprovando aqui, com o seu voto contra...

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Um minuto, quebrando, mas V. Exª tem sensibilidade. Esse é o debate qualificado. Quem primeiro falou neste País - está na crônica de Cláudio Humberto - em mesada foi o Senador Mão Santa. E fizeram e eu recebi - eu, como o Mozarildo, tinha votado no Luiz Inácio - as maiores pressões para tirar a expressão, para dizer e ir contra o jornalista. Ele escreveu: o Senador Mão Santa disse que tem mesada. Um mês depois mudaram o nome e colocaram mensalão. Então, nós combatemos a corrupção. Fui o primeiro na crônica de Cláudio Humberto, esse extraordinário jornalista. Está lá: Mão Santa está constrangido porque esse Governo está cheio de mesada. Aí, mudaram o nome e surgiu o mensalão.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas fizeram, mesmo assim.

Lembro de ter assistido aqui ao senhor alertando sobre a dengue. Mas a dengue veio, não apenas porque ficamos ineficientes, não apenas porque ficamos inoperantes. Nós ficamos irrelevantes. Irrelevantes! E não há democracia com o Congresso irrelevante. Irrelevante, porque nós caímos numa armadilha e não estamos sabendo sair dela. Este eu quero que seja o resumo do que estou colocando aqui: como sair da armadilha do imediatismo, do “curto prazismo”, do “denuncismo”, do “defensismo”? Porque, hoje, de um lado, é denúncia e, do outro, é defesa. Não há debate ideológico.

Qual foi o debate em que se contrapôs aqui a oposição à situação em relação aos destinos do Brasil? Qual foi? Qual foi o debate aqui em que se disse que o futuro do Brasil vai por aqui, ou o futuro do Brasil vai por ali?

Não vejo diferença na situação e na oposição em relação aos rumos do Brasil, pela inércia, porque estão deixando que continue esse rumo que vem aí, esse rumo que pode terminar dando no terceiro turno, sim.

Por quê? Porque vai ficar com um voto contra seu, um voto contra meu, talvez o voto contra de todos aqui, mas termina tendo o voto a favor dos que são necessários.

Não há debate nesta Casa em relação ao futuro do Brasil.

Nós caímos numa armadilha, e essa armadilha está fazendo com que o nosso tempo seja o tempo do ramerrame, do ciscar; esteja ficando como os anos da tapioca, e não os anos de ouro, e não os anos da redemocratização, e não os anos do milagre, e não os anos de algum fato formidável para mudar o rumo do Brasil. Nunca talvez o Brasil tenha precisado tanto mudar de rumo, porque nesse rumo que a gente vinha antes, pelo menos a gente ia; agora, mesmo se a gente for, está ficando para trás. Trinta, quarenta anos atrás, o Brasil era um país com muito mais futuro do que qualquer dos Tigres Asiáticos, com mais futuro mesmo do que países como Irlanda, Espanha e Portugal. Nós éramos o país do futuro, sim. Hoje, esses países nos passaram. Estão lá na frente, e nós lá atrás, porque aqui estamos presos numa armadilha, a armadilha do “denuncismo” e do “defensismo”, do imediatismo e do “curto prazismo”. Só pensamos o que vai ser amanhã. Quando eu digo amanhã não é metaforicamente não. É amanhã mesmo, segunda-feira, e não o que vai acontecer na terça, na quarta ou na quinta.

Eu fico feliz, Senador Mozarildo. Tenho um pedido de aparte do Senador Augusto Botelho, mas quero lembrar que o Senador Mão Santa tem de sair, e eu quero assistir ao discurso dele.

O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Eu retiro.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - O Senador Augusto Botelho, então, abriu mão.

Sr. Presidente, fica aqui a minha mistura de angústia e diversão ao ler os jornais hoje e ver que nós estamos, tristemente, presos numa armadilha, e, divertidamente, vendo que a armadilha prende a oposição e a situação, os dois prisioneiros dessa falta de compromisso, de visão com o longo prazo e com o conjunto do País.

Essa é a minha fala, Sr. Presidente.

Agradeço a tolerância do tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2008 - Página 8065