Discurso durante a 45ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apelo para uma solução pacífica para a crise na UnB. Proposta de licenciamento temporário do reitor da UnB, Timothy Mulholland.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO ESTUDANTIL. ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.:
  • Apelo para uma solução pacífica para a crise na UnB. Proposta de licenciamento temporário do reitor da UnB, Timothy Mulholland.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/2008 - Página 8139
Assunto
Outros > MOVIMENTO ESTUDANTIL. ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
Indexação
  • APREENSÃO, CONFLITO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), ESTUDANTE, OCUPAÇÃO, CAMPUS UNIVERSITARIO, INTERVENÇÃO, POLICIA FEDERAL, MANIFESTAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG), APOIO, MOVIMENTAÇÃO, DISTRITO FEDERAL (DF), REIVINDICAÇÃO, RETIRADA, REITOR, VICE REITOR, MOTIVO, MALVERSAÇÃO, RECURSOS, UNIVERSIDADE, BENEFICIO PESSOAL.
  • SOLICITAÇÃO, APOIO, JUSTIÇA, EXTENSÃO, PRAZO, POLICIA FEDERAL, DESOCUPAÇÃO, CAMPUS UNIVERSITARIO, CONTENÇÃO, CONFLITO.
  • SOLICITAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), EMPENHO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, RELEVANCIA, RESPEITO, AUTONOMIA, UNIVERSIDADE.
  • SOLICITAÇÃO, REITOR, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), LICENÇA, CARGO DE CONFIANÇA, CONTENÇÃO, CONFLITO, DEFESA, CRIAÇÃO, COMISSÃO, APURAÇÃO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Mão Santa, vou-me restringir ao máximo, até porque o Senador Heráclito está inscrito para falar depois de mim. O tema que vou abordar vai ser tão longo, que não adianta eu falar 20 minutos ou 30 minutos. Quero falar...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª me cede só um minuto?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Cedo.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eu queria anunciar que está aqui, honrando este Senado, o escritor brilhante Jamil Albuquerque. Ele trouxe para a Mesa Diretora este livro: A arte de lidar com pessoas. É uma síntese daquele livro de Napoleon Hill, que foi supervisionado pelo maior empresário da época, o rei do aço Andrew Carnegie, que se preocupava com o porquê de alguns terem sucesso e de outros terem fracasso. E pagou 25 anos.

Jamil Albuquerque teve a competência de traduzir aquela obra volumosa. Sêneca dizia: “Se você não sabe para que porto vai, vento nenhum lhe ajudará , ou seja, confiança em si mesmo. Há também a lei de ouro que está na Bíblia: “Não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem a você”.

Então, ele teve essa competência de sintetizar a maior obra educativa, que é a Lei do Triunfo, de Napoleon Hill.

Professor Cristovam, o Brasil e eu queremos aprender com V. Exª.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Sr. Presidente, acho que não é questão de aprender, mas de alertar hoje.

Neste exato momento, estamos num instante de um grande conflito que pode acontecer no campus da Universidade de Brasília entre estudantes, vigilantes da universidade e também policiais federais. A qualquer momento, a Polícia Federal, por determinação da Justiça, pode entrar no campus para desalojar agora algumas centenas de estudantes que estão ocupando a reitoria.

Até essa manhã, eram algumas dezenas de estudantes - no máximo 150 estavam dentro do campus. A última informação que recebi é que mais de 500 alunos hoje tomaram conta não apenas da sala do reitor, onde eles estavam, mas de todas as instalações da reitoria. E, desde sexta-feira à noite, a Justiça determinou que a Polícia Federal recupere esse prédio próprio federal.

Os estudantes decidiram agora, às três horas da tarde, que não vão desalojar-se e decidiram, quase que espontaneamente, aumentar a ocupação. Portanto, Senador, não podemos ficar alheios ao risco de um conflito, de uma conflagração, que vai envergonhar ainda mais este País, que, cada dia, lê notícias trágicas. Se houver ali um confronto e se, dentro do campus, jovens estudantes forem violentados, forem vítimas da violência, vamos ter mais ainda vergonha do País em que estamos.

A Polícia Federal, em todos os contatos que tenho tido com a Superintendência do Distrito Federal, tem dito que não fará nenhuma violência, mas tem dito também a Superintendente que ela tem obrigação diante da Justiça e que já se sente até numa posição de constrangimento, porque não está cumprindo o prazo que lhe foi determinado, de 24 horas, que se encerrou no sábado. Então, vejam que situação: os jovens, com uma indignação profunda pelo que vinha acontecendo na universidade, dizem que não desalojam. A Justiça determina a recuperação do prédio; a Polícia Federal sente-se obrigada a desalojar os estudantes e, por isso, a qualquer momento, pode entrar no campus e tentar desalojar esses jovens. Eles não vão sair de maneira pacífica, pelo que vi ao visitá-los, tanto na madrugada da sexta-feira quanto também na sexta-feira à tarde.

Vim aqui, Senador Mão Santa, fazer alguns apelos, para que a coisa não saia do controle, como já começa, porque, há pouco, ouvi aqui informação de que a Universidade de Minas Gerais estaria se manifestando a favor dos estudantes da Universidade de Brasília. E não tenho dúvida de que isso possa representar um rastilho de pólvora por todo o território nacional.

Não vou negar que, por um lado, sinto até satisfação de ver jovens universitários saírem do comodismo que os têm caracterizado ao longo dos últimos anos e, de repente, irem manifestar a indignação que sentem. Confesso que, quando vejo jovem manifestando indignação, fico com mais confiança no futuro do meu País, sem entrar em juízo de valor se devem ou não agir dessa forma, ocupando a reitoria da universidade. Em nenhum momento vou dizer aqui que estou a favor da ocupação, mas estou a favor, sim, de vê-los se manifestando, protestando, descontentes.

Meu primeiro apelo é à Justiça: por favor, não dê prazo de 24 horas para resolver assunto de mobilização de jovens. Jovens têm de ser convencidos, e não é fácil convencê-los, quando eles têm um ideal como esse de conseguir o objetivo a que se propuseram, que é a renúncia do reitor - e não emito juízo de valor sobre essa reivindicação; não quero estar a favor ou contra essa reivindicação, mas essa reivindicação, que os alunos estão fazendo com muita convicção, vai levar algum tempo para que os estudantes aceitem retirá-la da sua pauta de reivindicações. A Justiça não pode dar 24 horas sem o risco de acirrar ainda mais os ânimos dos estudantes e sem correr o risco de que uma manifestação de algumas dezenas se transforme na manifestação de milhares de estudantes e que a manifestação de estudantes se transforme também numa manifestação dos professores.

Por isso, meu primeiro apelo é à Justiça, a fim de que conceda um prazo mais longo, para que a Polícia Federal tente conseguir reaver o prédio, porque é óbvio que o prédio não pode ficar ocupado por muito tempo, impedindo o funcionamento da administração da universidade.

Meu segundo apelo é à Polícia Federal, que, com a ordem que receber, com o prazo que tiver, qualquer que ele seja, não aceite a tentação de fazer o trabalho que a lei obriga que faça; mas, por favor, a lei não estabelece que faça com violência, Senador Heráclito; que o faça com tranqüilidade - falo ao Senador Heráclito, porque S. Exª já teve relação muito forte com o Ministério da Educação durante muitos anos.

Se a Polícia Federal tiver de cumprir a ordem, se não formos capazes - e me prontifico a isto - de resolver pacificamente, que a Polícia Federal, com a competência que tem, saiba lidar com esse assunto, reavendo o prédio, mas, ao mesmo tempo, sem machucar nenhum estudante. Já houve o tempo!

Neste ano, faz quarenta anos que vimos a morte do Edson Luís no Rio de Janeiro. Os pais desses meninos da UnB ainda eram crianças quando aconteceu aquilo. Será que agora, na democracia, quarenta anos depois, vamos praticar uma violência dentro do campus? A morte do Edson Luís foi em uma manifestação pública na rua. Apelo à Polícia Federal para que não faça isso.

Faço também um apelo ao Ministro da Justiça e ao Ministro da Educação para que eles se envolvam, sem intervir porque a autonomia da universidade tem de ser respeitada, mas que estejam alertas e saibam o que está acontecendo. Tenho estado em constante contato, pelo menos, com o chefe de Gabinete do Ministro da Justiça, Professor Ronaldo. Mas que haja um envolvimento ainda mais forte, que se aproximem dos estudantes, que dialoguem e que dialoguem também com o Reitor Timothy.

Agora, os dois apelos finais é pela tentativa de se encontrar um caminho. Quero fazer um apelo aos estudantes e um apelo ao reitor.

É claro, Senador Heráclito, que fica difícil o reitor simplesmente aceitar o pedido de renúncia. Ele só aceitaria isso se houvesse uma greve geral, de todos, que durasse semanas e semanas e ficasse inviável ele continuar no cargo. Isso não está acontecendo ainda.

Então pedir que o reitor renuncie hoje ao cargo, creio que pode ser uma reivindicação difícil de ser aceita. Entretanto, pedir aos alunos que abram mão dessa reivindicação depois de todo o noticiário que saiu ao longo desses meses sobre o apartamento funcional, sobre o custo dos equipamentos do apartamento, sobre o fato de que a universidade não tem dinheiro para manter suas instalações como deveria e teve dinheiro para manter um apartamento com, sem dúvida nenhuma, equipamentos luxuosos, conforme os custos indicados, repito, pedir aos alunos que simplesmente saiam também é uma ilusão.

Minha proposta, Senador, é a de que o reitor se licencie por um prazo, que peça licença por um prazo, como aliás sugeri quando as coisas aconteceram. Que peça uma licença. Quero até fazer justiça. Minha proposta foi inspirada na sugestão do Deputado Distrital José Antônio Reguffe quando, junto comigo, foi à reitoria, na sexta-feira à noite, conversar com os estudantes. Ele fez essa proposta. Não aos estudantes, porque não havia clima para discutirmos. Apenas abrimos as negociações. Conseguimos que voltasse a luz, conseguimos que voltasse a água. Para mim foi um absurdo terem cortado água e luz por quase 48 horas. Conseguimos isso e pronto. Mas, conversando, o Deputado José Antônio Reguffe fez essa sugestão. Por que o reitor não se licencia por um prazo? Os alunos desocupam o prédio por esse prazo pelo menos.

Cria-se uma comissão para analisar o que houve de fato; o que a mídia exagerou ou não exagerou; quais foram os gastos naquele famoso apartamento funcional; discute-se o envolvimento ou não do reitor diretamente; se foi por omissão diante de alguns dos seus auxiliares; ou se foi ele próprio que decidiu; se foram os auxiliares que se demitam os auxiliares; e que fique o reitor até. Agora, se foi o reitor, aí diante dos fatos, que ele aceite, sim, que talvez não tenha mais condições de fazer o trabalho para o qual ele foi eleito - não podemos esquecer - para um mandato de quatro anos.

Esta é a proposta que eu quero deixar aqui com este apelo: que evitemos qualquer tragédia que macule ainda mais a Universidade de Brasília. Universidade em que a polícia entrou diversas vezes durante o regime militar - nunca mais a polícia tinha entrado - e que, de repente, pode entrar com violência. Que haja um entendimento do Reitor Professor Timothy de que vale a pena, para acalmar tudo, que ele se licencie e submeta sua administração a uma análise por uma comissão que eu acho deve ser da própria comunidade. Se a comunidade quiser pedir ajuda que peça a pessoas de fora. E que os alunos aceitem também, diante desse gesto do reitor, desalojar, desocupar a reitoria para que as atividades possam voltar, para que a universidade possa voltar a funcionar normalmente.

Nesses dois ou três dias, Senador Heráclito Fortes - e já lhe passo a palavra - eu não consegui pensar nada diferente disso. Nada diferente deste gesto mútuo: de um lado, a licença; do outro lado, a desocupação. 

E por prazo determinado que não pode ser maior que um ou dois meses, com uma comissão - não apenas CPIs que analisam dezenas de coisas ao mesmo tempo; não apenas a Justiça, que leva meses ou anos para tomar uma decisão -, uma comissão da própria comunidade, do conselho universitário, com representantes dos estudantes, dos professores, dos funcionários. Se for preciso, a comissão terá o apoio de pessoas de fora, convidadas por eles. Não nos intrometamos lá. Mesmo eu, que sou professor, que continuo dando minhas aulas, que fui reitor, mesmo assim, não me sinto no direito de intervir, ditar os rumos desse movimento. Eu apenas quero deixar aqui a minha sugestão e o meu apelo e colocar-me à disposição de toda a comunidade universitária de Brasília, a qual pertenço, embora um tanto distante, porque atualmente vou lá apenas uma vez por semana para dar aula.

Antes de concluir, passo a palavra ao Senador Heráclito Fortes, que sempre me orgulha quando faz um aparte.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Cristovam Buarque, o pronunciamento de V. Exª é responsável e, acima de tudo, corajoso. V. Exª, nesta Casa, é um Senador da República ou, como dizia nosso amigo comum Eduardo Portelis, está Senador, mas V. Exª, na realidade, é um professor. Tenho certeza de que, ao ir ao campus da universidade, enfrentando inclusive riscos, o fez com a responsabilidade do mestre, que não quer ver cenas desagradáveis no campus de uma universidade em que V. Exª, durante um tempo, esteve reitor.

Considero esta situação grave. Está faltando por parte do Governo uma mediação mais concreta. O Governo está cochilando nesse fato. Esse problema da universidade, Senador Cristovam Buarque, não é greve de fome do Bispo de Sobradinho; tem conotação diferente. A insensibilidade do Governo naquele episódio não cabe neste caso. Portanto, congratulo-me com V. Exª e quero que os Anais desta Casa deixem registrado com muita clareza esse protesto feito por V. Exª, esse depoimento e, acima de tudo, aviso. É bom que o Governo se acautele porque, independentemente de preferências ideológicas ou de rumos políticos, lutou-se muito neste País para o restabelecimento da democracia. A UnB, como bem disse V. Exª, foi palco, no período da ditadura, de cenas que não gostaríamos que voltassem. Esta Casa teve a alegria de recebê-lo. Creio eu que V. Exª é o segundo reitor da UnB a ocupar uma cadeira do Senado. Darcy Ribeiro foi o primeiro. Se houve mais um, lembre-me. Estou exatamente me lembrando dos dois: Darcy Ribeiro e V. Exª. Darcy Ribeiro, cujas digitais ainda estão nos corredores desta Casa, representou a resistência dentro daquela universidade. O seu retorno, depois da abertura, àquela universidade, as homenagens pela luta que travou nos momentos de dificuldade são um símbolo que temos preservar. Daí por que me congratulo com V. Exª, esperando que haja bom senso de todas as partes, a começar do reitor. O reitor é quem melhor tem que avaliar.

O Reitor é a pessoa que, neste momento, tem que saber se vale a pena ou não esse enfrentamento. Se esse enfrentamento terá extensões ou não. Mas isso só se faz com diálogo. Estamos vendo, todas as vezes em que as emissoras de televisão mostram imagens do episódio, os nervos à flor da pele. E o clima não é aquele que poderíamos chamar de conciliador. A ida de V. Exª lá - fato agora mesmo relatado -, no sábado, não é isso?

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Na sexta-feira.

O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Na sexta-feira, não ter produzido efeitos, já é grave. É grave. E eu me associo a V. Exª, alertando às autoridades, independente de posição política, de ser contra ou a favor de Governo. Ali estão crianças, estão jovens. Ali estão cabeças que não têm ainda o discernimento de pensar como autoridade o que nós pensamos. Aliás, até nesta Casa às vezes falta o que não poderemos, de maneira nenhuma, exigir desses estudantes. Congratulo-me com V. Exª. Esse seu alerta, seu aviso é, acima de tudo, bom para o Brasil. Muito obrigado.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço muito, Senador. Quero que seu aparte fique dentro, plenamente, do meu discurso.

Apenas digo que o adjetivo “corajoso” talvez tenha sido exagerado, mas atrevido este discurso está sendo feito. Atrevido por uma razão, Senador Mão Santa. Não consultei os alunos e não consultei o Reitor antes de falar. Portanto, corro o risco, como político, de um grande desgaste: daqui a 15 minutos ver que minha proposta foi recusada pelos dois lados. Isso exige um certo atrevimento. Mas quem não tem atrevimento não tem que estar nesta carreira que nós ou escolhemos ou caímos nela por diversas razões.

Concluo, Senador Heráclito Fortes, dizendo que, de fato, ter proibido água e luz durante aquele período foi um grave erro do Reitor.

Como também acredito que foi ele não ter, como sugeri pessoalmente a ele e depois em um artigo no jornal Correio Braziliense, ter se afastado da direção, do dia-a-dia da administração, passado para o vice-Reitor, e ter se dedicado integralmente a convencer a comunidade de que o que ele fez tinha legitimidade. Porque ele ficou muito preso à idéia de que era legal. Mas não basta ser legal. Além de legal, é preciso ser ético. Para ser ético é preciso ter legitimidade diante dos outros, é preciso que os outros aceitem, e não apenas se submetam à lei. É até possível que todos aqueles gastos tenham sido feitos dentro de toda a legalidade. Eu sempre disse isso, e fui até muito criticado pelos que criticam o Reitor, quando falei isso. Mas o fato de ter sido feito dentro da lei, dentro da legalidade, não justifica certos atos, se eles não tiverem legitimidade na opinião, se eles não forem aceitos pelo conjunto da comunidade.

Hoje, não dá para saber exatamente - é preciso deixar claro isso também - o que o conjunto da comunidade pensa sobre isso. Não dá. Dá para saber que tem um grupo de jovens correndo risco, eu não diria de vida, que seria obviamente um superlativo, mas correndo o risco de passarem dias sem comer direito, passarem dias sem poder usar banheiro com água, passarem dias isolados das famílias e passarem dias sob o risco de serem submetidos à violência por parte da polícia. Esses jovens merecem respeito. Ainda que eles estivessem errados, eles merecem respeito. Respeito significa diálogo. Se é impossível hoje o diálogo entre o Reitor e eles, porque eles pedem demais, de acordo como Reitor, e eles acham que o Reitor não faz por onde, se é impossível esse o diálogo, minha proposta é esta: uma licença, por algum tempo, e uma comissão para apurar todos os fatos. E essa comissão não ficar só na legalidade, mas dar uma cobertura na legitimidade do que foi feito ou dizer: “Não houve legitimidade”. Dependendo do resultado, aí sim, discutimos o que deve ser feito para retomar, de maneira tranqüila, os trabalhos na UnB.

É a minha fala, Senador Mão Santa, com a responsabilidade de quem representa o Distrito Federal, com a sensibilidade de quem é professor e ex-Reitor da UnB.

Muito obrigado pelo tempo, Sr Presidente, e muito obrigado ao Senador Heráclito pelo seu aparte.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Hoje, V. Exª contrariou aquele seu discurso em que disse que não sabia o que estávamos fazendo aqui. Agora, o País sabe. V. Exª não pode fugir à responsabilidade. V. Exª é hoje o pai da educação neste País. Eu já o nomeei “Senhor Educação”.

Eu queria dizer que, em meus pronunciamentos aqui, fico atento à interpretação de V. Exª. V. Exª não é um homem comum. V. Exª é uma pessoa que buscou sabedoria.

Uma vez, V. Exª chamou a atenção para um pensamento que eu havia dito, e que nós estamos aqui para isso. Nós somos os pais da Pátria. Diante de um imbróglio muito maior do que esse, quando eu era prefeito de minha cidade, fui ao Capitão dos Portos. O fato envolvia um oficial em crimes, que depois se tornou chefe do crime organizado, ele estava no começo. Eu cheguei à autoridade e disse: “Você não pode ser suspeito, eu não posso ser suspeito, o Bispo não pode ser suspeito”. A autoridade não pode ser suspeita. Essa é a realidade. A autoridade, eu aprendi com Petrônio Portella, é moral. E aprendi também, na escola da sua sabedoria, lá na escola em que Platão, buscando os ensinamentos de Sócrates, ensinou, ousadia acompanhada da prudência. E o Livro de Deus, que nosso autor, Napoleon Hill, citou aqui, diz que a verdade está no meio. Eu mesmo, nesse imbróglio do Senado, dizia: “A autoridade não pode ser suspeita”. Tem de haver um meio termo. E o meio termo V. Exª deu: a licença. A autoridade perdeu a moral. E reitor é uma hierarquia das mais sérias. Sou oficial da reserva. Conheço a hierarquia militar, não sei se V. Exª o foi...

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Tentei, mas, antes de terminar, deixei...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eu trabalhei em hospital organizado e também em meio universitário. A hierarquia mais séria que existe na história do mundo é a hierarquia do saber. Reitor é o rei do saber.

É a mística de que ali está a excelência do saber, que são virtudes.

Então, a mocidade, diante dos acontecimentos de todo o País,... Não é disso não. Isso aí é um fenômeno de psicologia, de neurolingüística. Está ali o Jamil Albuquerque. A mocidade - atentai bem nosso líder da mocidade, “se és capaz de tremer de indignação diante de uma injustiça, companheiro...”.-, a mocidade pura, diante de tanta indignidade, de tanta corrupção, reagiu a esse instante.

É grave. V. Exª teve coragem. Sem ela, não existe nenhuma virtude. Como membro da Comissão de Educação desta Casa, do Senado, gostaria que V. Exª também participasse das negociações.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito bem, Sr. Presidente. E eu queria dizer...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª está com essa coragem. E o problema é mais grave. Porque a reação da mocidade não é àquele ato. Aquele foi a pureza, porque já estava na gota d’água de ver a corrupção campear no País. Então, eles tiveram que reagir.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - V. Exª lembrou da neurolingüística, e temos o professor Jamil aqui. De fato, há algo aí que é importante. Nós aqui, por exemplo, somos chamados de excelência; o reitor é chamado de magnífico. Isso tem um significado muito especial. Não é por acaso que se chama de magnífico ao reitor.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Permita-me o debate. Thomas Jefferson, da nação norte-americana, foi Presidente dos Estados Unidos, um dos que fizeram a constituição. Em seu túmulo está escrito: “Aqui jaz o fundador da Universidade de Virgínia”.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - É isso mesmo.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Então, essa mística de reitor é uma hierarquia vinda da sabedoria - aquilo que é divino. Então, V. Exª está em tempo, e queremos colaborar. A mocidade é pura. Eu a vi, ao som de um violão, cantando: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. E foram esses jovens o fundamento: cantando em cada rua, em cada cidade, fizeram reaparecer a democracia em nosso País.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/2008 - Página 8139