Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao jornal mineiro Estado de Minas, pelo transcurso dos seus 80 anos de fundação.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao jornal mineiro Estado de Minas, pelo transcurso dos seus 80 anos de fundação.
Publicação
Publicação no DSF de 11/04/2008 - Página 9041
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, ESTADO DE MINAS, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, QUALIDADE, GRUPO, JORNALISTA.
  • EXPECTATIVA, EMPENHO, JORNAL, ESTADO DE MINAS, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), COMBATE, ANALFABETISMO, INCENTIVO, AUMENTO, LEITURA, POPULAÇÃO.

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero cumprimentar duas pessoas e, em nome delas, todos os que aqui estão. Escolhi o Embaixador Flecha de Lima, que teve de sair. Mesmo assim é uma honra imensa tê-lo nesta Casa junto conosco. E também meu colega e amigo Padre Aleixo, pelo respeito, pelo coleguismo que temos de professores da Universidade de Brasília.

A cada um de vocês que aqui está, quero dizer que o que cada pernambucano deseja é ter uma fala mineira, sem perder o sotaque de Pernambuco. Isso raramente se consegue. Ou a gente vira um pernambucano na fala e no sotaque, ou vira um mineiro no sotaque e na fala. O desejo da gente é tentar combinar. E, para isso, a gente tem que aprender com o convívio com mineiros. É nesse sentido que a minha convivência com Eduardo Azeredo é uma escola para mim, desde quando ele era Governador, e eu também. Às vezes, contrariando os nossos partidos, fizemos campanha um para o outro, e perdemos os dois, mas não nos arrependemos de estarmos juntos naquele momento.

Por isso também, aqui em Brasília, durante todo esse período, o nosso respeito e convivência com o Ministro Velloso, que no ensinou muito, às vezes de longe, sem ele saber, às vezes de perto, como professor da UnB também.

Assim também a convivência com o Álvaro, que tem uma presença marcante nesta cidade, por causa do Correio Braziliense, deixa-nos tentando adquirir a fala mineira, sem perder o sotaque pernambucano.

Hoje, viemos aqui, cada um de nós, para homenagear um símbolo do Brasil que é o Estado de Minas. E o elogiaria por algumas razões: a primeira é a sua maneira de ser, que está nesta primeira página do primeiro jornal. Vejam o jeito mineiro que um pernambucano gostaria de ter ao falar: do lado de lá, a agricultura; do lado de cá, a indústria; no meio, o editorial. É um editorial que, naquele momento, tinha um simbolismo muito grande, porque era a época da disputa ideológica neste País: se a gente caminhava para a industrialização, se a gente continuava um país agrícola. E embaixo está a pecuária.

Mas, se olhar lá dentro, esse jornal tem uma característica que, para o ano 28, é muito importante. Tem uma seção dirigida aos universitários, pequenininha. É preciso dizer que só tinha seis anos que o Brasil tinha feito sua primeira universidade, que foi a Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, em 22. Em 1928, já tinha uma mensagem aos universitários. E uma mensagem muito interessante, que eu li agora, porque pede aos universitários que não abandonem a alegria de viver, que se dediquem a estudar, sem deixar de exercer essa tarefa tão importante da juventude que é a alegria de viver. Ou seja, é um jornal que, ao nascer, já nasce procurando a convivência entre as posições diferentes que o País tinha.

E o editorial, e foi o Álvaro que me chamou a atenção, realmente, como ele disse ali, é uma obra prima. E o Senador citou um pedaço do editorial aqui, no seu discurso, que vale a pena ser lido. Por isso estamos aqui, esse tempo todo depois, essas décadas todas comemorando.

E eu queria começar, comemorando o profissionalismo, que eu já vi ao visitar, ao conversar com muitos dos profissionais que tem o jornal. É um profissionalismo competente.

Segundo, quero elogiar a independência política que caracteriza o jornal, que a gente observa quando lê, que a gente observa quando sabe as posições que foram tomando.

Quero elogiar também a ousadia nos investimentos que são feitos para modernizar. E, para isso, basta comparar a primeira edição com as atuais, para ver o salto que a gente deu no Estado de Minas, graças à ousadia do investimento.

Eu quero comemorar ainda duas coisas, uma que também tem o nosso Correio Braziliense, que é o fato de não se acomodar em ser líder. São jornais que têm uma liderança avassaladora que às vezes até nos irrita, porque todos nós gostaríamos de ver as edições com número mais ou menos parecido, para evitar os monopólios. Mas são dois jornais que não se acomodam por serem líderes. Lutam para continuar na qualidade e na vanguarda.

Sem querer desmerecer o homenageado de hoje, que é o Estado de Minas, o Correio Braziliense é um grande exemplo na ousadia de conquistar leitores, na ousadia de se apresentar a todos os seus leitores.

Finalmente, quero elogiar aquela que é a razão de ser hoje: a longevidade, o tempo de vida. No Brasil, comemorar 80 anos é muito raro em qualquer instituição. Muito raro. É um país novo. Quanto aos jornais, comemorar 80 anos são poucos. É claro, o campeão disso é o Diário de Pernambuco. Mas 80 anos é um longo tempo. E aí, ao mesmo tempo em que falo no Diário de Pernambuco, encerro dizendo que estou olhando o futuro: para onde vai o Estado de Minas, o jornal. Eu gostaria de vê-lo crescer, mas crescer muito. E queria fazer um desafio. Tem duas maneiras de crescer: tomando leitores dos outros jornais, ou aumentando o número de leitores no País. E eu gostaria que fosse a segunda.

Eu gostaria de ver todos os jornais crescendo; nenhum tomando o leitor do outro, mas aumentando, nós todos, o número de leitores. Para isso, a gente só precisa melhorar a educação no País. Aumentar a educação é aumentar o número de leitores de jornais.

Quando eu vejo jornal distribuindo CDs, enciclopédias, fico perguntando: eles conseguiriam aumentar muito mais se, em vez de distribuir CDs para tomar leitor do outro que não distribui, se juntassem todos eles, como na ANJ, e erradicassem o analfabetismo no Brasil - o que não basta para aumentar a leitura de jornais, porque aumenta o número de leitores, mas, para chegar a jornal, tem que chegar ao segundo grau, tem que ter o hábito de leitura.

Este é um desafio que eu deixo como uma meta: que o Estado de Minas se transforme em um Líder internacional por isso.

Nós já tivemos jornais que foram líderes das “Diretas”, jornais que foram líderes da redemocratização, jornais que foram líderes da industrialização. Por que não ter um jornal que seja líder de uma revolução educacional do Brasil de que ele próprio, junto com os outros, vai se beneficiar?

Esse é um desafio que eu deixo aqui com prazo. O prazo para quê? Talvez muitos de nós não estejamos aqui, mas o prazo para que, no centenário, daqui a 20 anos, a gente possa, algum orador aqui - certamente não serei eu - dizer: “O Estado de Minas não apenas faz cem anos, mas ajudou a fazer 100% do povo brasileiro alfabetizado”.

Esse é o desafio que deixo no momento em que comemoramos 80 anos. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/04/2008 - Página 9041