Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao jornalista Assis Chateaubriand, pelo transcurso dos 40 anos do seu falecimento.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao jornalista Assis Chateaubriand, pelo transcurso dos 40 anos do seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 18/04/2008 - Página 9922
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ASSIS CHATEAUBRIAND (PR), EX SENADOR, JORNALISTA, EMBAIXADOR, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, DIVULGAÇÃO, BRASIL, MUNDO, REGISTRO, HISTORIA, PARTICIPAÇÃO, POLITICA NACIONAL, INCENTIVO, AVIAÇÃO CIVIL, AEROCLUBE, MEDICINA, CRIAÇÃO, HOSPITAL ESCOLA, MATERNIDADE, REGIÃO NORDESTE, PIONEIRO, EMISSORA, TELEVISÃO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Eduardo Suplicy, eu peço permissão para saudar todas as lideranças e autoridades nas pessoas do Sr. Ari Cunha, Vice-Presidente do Correio Braziliense, e de Márcio Cotrim, Diretor-Executivo da Fundação Assis Chateaubriand, porque são tantas as autoridades importantes que, mesmo involuntariamente, eu poderia esquecer alguns nomes, o que seria imperdoável, Srs. Parlamentares, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado, Senador Eduardo Suplicy, Deus escreve certo por linhas tortas. V. Exª representa a tradição do seu tio-avô, que era íntimo de Assis Chateaubriand.

Sou muito breve. Assis Chateaubriand, esse livro me foi dado de presente, não por uma pessoa qualquer, pelo Desembargador João Batista Machado, que foi Presidente do Tribunal de Justiça do meu Estado, o Piauí, um homem de muita cultura. Inclusive, Eduardo Suplicy, nós temos de rever a legislação, pois ele se aposentou compulsoriamente aos 70 anos, como Sepúlveda Pertence. Eu acho que nós temos a perder. Aqui mesmo no Congresso nós temos uma das maiores inteligência, que é o ex-Senador e Deputado Federal Alberto Silva, com 89 anos. A longevidade, a ciência médica, temos de meditar. É um pena um homem como esse, Rei Salomão...

É muito oportuno, nesta era de aloprados que vivemos, eu contar um fato. Atentai bem, Suplicy! Eu convidei esse Desembargador a prestar uma homenagem a Evandro Lins e Silva, único jurista, que é do Piauí, que se iguala a Rui Barbosa. Ele foi paraninfo de uma Faculdade de Direito que eu tinha criado na nossa terra - ele é da minha cidade. E eu tinha dito que ia proporcionar a Evandro Lins e Silva, como Rui Barbosa, aquela Oração aos Moços. Cumpri a palavra. E convidei o Desembargador representando toda a Justiça. Olha, ainda tem gente muito boa na Justiça. Fiquei pasmo. Fui almoçar - e vou fazer até um comercial - no melhor restaurante do mundo - eu acho -, o Márius, no Leme. Levei o Desembargador, Governador do Estado. Atentai bem, Evandro Lins e Silva é o maior exemplo da Justiça, e vou citar outro: esse que me deu o livro. Surpreendentemente, o Desembargador, Presidente do Tribunal, disse que estava conhecendo o Rio de Janeiro naquele instante. Olhem o que é austeridade!

Mas ele me deu esse livro. Tem uns riscados dele. E eu, sabendo da cultura, das virtudes dele, li com carinho, e está aqui. Mas a vida tinha me proporcionado entender Assis Chateaubriand.

Arthur Virgílio, eu convivi à época... Sou de Parnaíba. Tem Fortaleza - relembre Geografia -, São Luís, Parnaíba está no meio. A Bíblia diz que a virtude está no meio, a felicidade, a minha cidade, onde nasci.

Mas o que eu queria dizer era o seguinte. Somos muito próximos de São Luís. Meu pai é maranhense, minha avó era maranhense. Eu passava as férias... Eu não sei... eu estou aqui... mas esse negócio de política... E eu vivi o fato de Assis Chateaubriand... Eu tinha dez anos, na casa da minha avó, e gostando... O número da casa da minha avó é 380, a do Governador José Reinaldo Tavares era 374. E eu vi a campanha na casa da minha avó.

Assis Chateaubriand. Fiquei até feliz quando ouvi dizer que vão fazer um filme: Chatô, o Rei do Brasil. E eu acho muito interessante isso, porque outro dia vi o filme do Mauá. Mauá, do século XIX. Dois grandes homens: o político, Pedro II, e Mauá, o homem empreendedor. E Chatô, a obra encantadora. A vida dele é aquilo.

Mas o que nós estamos aqui... todo mundo sabe... o homem diferente. Eu acho que ninguém propagou esse Brasil mais do que Assis Chateaubriand. Ele não era de Umbuzeiro, da Paraíba, do Nordeste, do Brasil. Ele foi um cidadão do mundo. Basta olhar as fotografias que ele tem.

A intimidade com aquele que acho que foi o maior líder da História: Winston Churchill, o homem que venceu a guerra, juntou os aliados e fez renascer a democracia. A intimidade. E a intimidade com os humildes, com os índios e tudo.

O interessante é que ele foi Senador pela Paraíba e, no mundo, não se reelegeu. Afastou-se muito e a UDN colocou fortes candidatos, ricos. Ele perdeu por pouco, mas, obstinado, foi ao seu amigo Café Filho, que era vice-Presidente com Getúlio, pois queria voltar para o Senado. Foi ao Ministro da Fazenda, Eugênio Gudin, que tinha sido, que era capitalista, e ele, muito técnico, foi então a Juscelino, que era candidato.

Atentai bem à História: de Juscelino, passou para Tancredo. Tancredo era aquela águia: “Nós temos de arrumar um mandato para Assis Chateaubriand. O PSD tem de arrumar um mandato, senão Juscelino não vai ser eleito para nada!” Tancredo, pragmático, mineiro. E Juscelino, sabidão, deu a missão para Tancredo. Tancredo olhou o mapa e aportou lá no Maranhão. Estou dando o testemunho, eu sou vizinho, minha avó.

No PSD, havia aquele líder, o Victorino Freire, que mandava no PSD; o Governador, à época, era Eugênio Barros, o Vice era Renato Archer. Ele foi lá e negociou, fez renunciarem o Senador e o suplente. Só tinha um, acho que mudou a lei. E ele foi e ganhou.

Foi candidato e foi eleito Senador. E Juscelino, sorridente, do PSD, contando com o apoio dele, com os Diários Associados, foi eleito Presidente da República. Mas ele sabia o que ele queria.

O importante é que, na primeira viagem de Juscelino, ele levou o Senador Assis lá para o Rio Grande do Sul, Suplicy, e deu a palavra para o Senador. O Senador queria, mesmo, ir para a Inglaterra. Aí, Juscelino tinha o seu programa para motivar a agricultura do trigo, que tinha na Argentina. Quando Juscelino foi falar, ele já tinha colocado para todos os pecuaristas, todos os plantadores de uva, todos os plantadores de café que aquilo não dava certo. E o Juscelino, aquele sorridente otimista, disse: “Nós temos é que dar o que esse homem quer. Ele quer ir para Londres.”. Ele foi para Londres e escreveu. Depois, Deus me permitiu ser Governador do Estado do Piauí. Fui abrir, com outros - o Garibaldi foi conosco -, e nós conhecemos a embaixada do Brasil na Inglaterra: um palácio, visão, grandeza, representatividade. Então, ele deu muita grandeza e este País.

Mas eu fico em dúvida hoje, Eduardo Suplicy. Eu tenho minhas dúvidas. Eu sei de Santos Dumont, os ingleses dizem que foram os irmãos Wright, essa história da aviação, mas ninguém fez mais do que esse homem pela aviação.

Quando vocês pegarem esses vôos, TAM, ele está por trás.

Ele, numa inteligência, no começo mesmo, no tempo em que Antoine de Saint-Exupéry era aviador, que era difícil, a gente tinha medo, caía - daí ele ter escrito O Pequeno Príncipe, que conta uma queda no deserto, Terra dos Homens e Cidadela -, naquele tempo difícil, ele expandiu, ele pilotou. E ele era inteligente, tem de ter dinheiro. Ele criava dinheiro! Ele disse que o importante não é ter dinheiro, não, é estar perto dos que o têm. Aí, ele fazia a seguinte tática: pegava um avião; botava o nome, vamos dizer, de Eduardo Suplicy. “Vamos lá para a cidade de São Paulo.”. Fazia um aeroclube, botava o avião e motivava a mocidade a abraçar a Aeronáutica. Às vezes, não dava certo. O Brasil era grande e com dificuldades. Ele pegava aquele mesmo avião, pintava e botava o nome de outro. Mas o fato é que floresceram centenas e centenas de aeroclubes. A minha cidade tinha um: Parnaíba, Piauí. Trabalho dele.

Então foi um homem, aqui... O Arthur Virgílio falou da arte, do mecenas verdadeiro, mas eu falo mais, ainda, do encanto dele. Padre Antônio Vieira disse que um bem nunca vem só.

Estou aqui, médico. Este País era organizado. Conversam, aí, estão cacarejando. Este País foi maior. Eu estudei em faculdade pública boa, fui pós-graduado em hospital público, servidor do Estado, Ipase. As coisas públicas funcionavam.

Foram os grandes Presidentes, estadistas.

A Universidade Federal do Ceará, na qual me formei, deslanchou. O Nordeste deslanchou, o Nordeste avançou em Medicina com a criação da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand. Eram muito elementares - peguei a transição - as que tinham, a César Cals e as outras, do Piauí, do Maranhão. Deslanchou. Ele fez uma maternidade-escola, atentai bem, e foi ela que deu moral à Universidade de Medicina do Ceará. Para diretor, ele foi buscar apenas um médico: Galba de Araújo, que tinha 10 anos nos Estados Unidos fazendo obstetrícia. Aquilo foi um avanço, uma inovação, e somos filhos desse homem.

Eu queria dizer, então, que, lá no meu Piauí, a primeira televisão que chegou foi apadrinhada dos Diários Associados, e a primeira rádio também, que foi a de Teresina, Rádio AM Difusora. Então, ele se espalhou.

Daí eu ter saudade do nosso Presidente ungido, porque ele foi abençoado. Está com uma sorte doida esse Garibaldi e está discursando bem.

Olha, outro dia morreu um Senador muito querido e eu fui. Olha, esse Garibaldi fez um discurso que eu acho que ele estava sendo inspirado. Eu até penso em morrer antes dele para ele poder fazer um discurso para mim, defunto. O Garibaldi está inspirado.

Este foi um momento de reflexão, de justiça para esse homem polêmico, um mito. Ele não é de Umbuzeiro, não é lá da Paraíba, não é do Nordeste, não é do Brasil. É do mundo. A gente vê pelas figuras.

Então, eu queria apenas trazer esse orgulho por ter sido beneficiado, por ter estudado, por ter feito Medicina - e fiz muito obstetrícia nesse hospital padrão feito por ele. Foi aí que se elevou a Medicina no Nordeste. Para o Piauí, ele levou essas comunicações.

Então, ô Eduardo Suplicy, em memória do seu tio-avô, que andava com ele, o Chiquinho, que era amigo dele... Eu sei, é até difícil, porque, quando eu li aqui... Olha, esse homem escreveu milhares e milhares de artigos. Aqui, eu vou só buscar para você ver. Então, para o País, só esse exemplo dele. Aqui, todas as vezes em que ele vinha, era como nós, Eduardo Suplicy, ele usava esta tribuna, embora em parte do mandato ele tenha sido Embaixador. Mas só para você ver o número de artigos que o homem fez: 11.870 artigos. Ele os encaminhou para nós acreditarmos na leitura.

Luiz Inácio, medite: nós estamos prestando homenagem a um homem que fez onze mil - vamos ser corretos aqui para não falsear -, 11.870 artigos.

E é graças a isso que nossa geração está aqui. Ele que foi o ícone da busca do saber, graças a homens como esse, encaminhou a nossa geração em busca do saber.

Eu voltaria onde começou a civilização. Sócrates disse que só tem um grande bem, que é o saber; e só tem um grande mal, a ignorância.

Assis Chateaubriand plantou, sobretudo neste País, a semente do saber.

A gratidão do Piauí a esse extraordinário brasileiro.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Obrigado, Senador Mão Santa. Como o Diretor Executivo da Fundação Assis Chateaubriand, Dr. Márcio Cotrim, sabe muito bem sobre as contribuições do jornalista Assis Chateaubriand, ele informa que foram 12.215 artigos publicados.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu acho que V. Exª deveria deixar passar para ser elegante com o Fernando Morais. Ele nem é meu parente, porque eu sou Francisco de Assis Moraes de Souza, mas vamos resgatar essa falha.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/04/2008 - Página 9922