Discurso durante a 57ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao Aposentado do Serviço Público.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Aposentado do Serviço Público.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2008 - Página 10260
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, APOSENTADO, SERVIÇO PUBLICO, SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, PARTICIPAÇÃO, SESSÃO ESPECIAL, ELOGIO, PAULO PAIM, SENADOR, EMPENHO, DEFESA, CLASSE.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Paulo Paim, que preside esta sessão destinada a homenagear os aposentados do serviço público, são tantas as lideranças e as figuras ilustres aqui presentes que eu pediria permissão para saudar todas as lideranças, porque eu poderia esquecer alguns nomes e, mesmo involuntariamente, seria imperdoável, na pessoa dessa extraordinária da Srª Maria Elisa Damasceno de Carvalho, representando os aposentados e pensionistas do Brasil, Parlamentares aqui presentes, brasileiras e brasileiros que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, Senador Paulo Paim, antes de chegar a esta Casa, lá no Piauí, eu já ouvia falar em Paim, que simbolizava a luta de valorização do trabalho, do salário.

Aqui Deus me deu a oportunidade não só de conviver com o Senador Paulo Paim, mas de ser liderado por S. Exª no tocante a essas belas lutas que engrandecem o Senado da República.

Serei breve. Digo ao País e ao Luiz Inácio que nós é que ajudamos o Governo. Nós não somos contra ninguém. Somos a favor do povo, da pátria. Mas temos um entendimento. Do meu ponto de vista - entendo bem as coisas -, a obra mais importante deste Governo é a valorização do salário mínimo. Rui, que entendia - esse, sim - mais do que eu, do que nós, Senador Paulo Paim, dizia: “A primazia tem que ser dada ao trabalho e ao trabalhador. Ele veio antes. Ele é que faz as riquezas”.

Então, entendo que nós ajudamos muito, muito, muito. Não foram os aloprados que ajudaram o Luiz Inácio.

Fomos nós. Nós pegamos o salário mínimo aqui a US$70. Parecia o Dom Quixote e o Sancho Pança: “Nós vamos botar US$100”. Parecia um negócio complicado. Mas isso já justifica a grandeza do Senado. Hoje, o salário mínimo é muito mais digno: 246 . Era setenta; sonhávamos com cem; e continuamos sonhando. Essa foi a real distribuição de renda, porque não se pode fugir disso aí, Luiz Inácio, fugir de Deus, quando Ele disse “comerás o pão com o suor do teu rosto”. É uma mensagem clara ao trabalho. E não podemos mais ainda deixar de meditar, seja qual for a religião, pois todas são boas, quando o apóstolo Paulo diz “Quem não trabalha não merece ganhar para comer. E essa tem sido a nossa luta.

E o Paim...Olha, às vezes, eu, à minha maneira, desperto, porque eu vejo o Luiz Inácio cercado de muito aloprado, mas a gente detecta muita gente boa nesse Partido. Ó Paim, permita-me, mas eu acho que você está entre essa gente que tem lá, e talvez seja o melhor.(Palmas.)

Essa é a nossa observação. É um quadro que vale por dez mil palavras.

O Papaléo, símbolo, médico como eu, faz das Ciências Médicas a mais humana das ciências, é um benfeitor da humanidade. S. Exª ali falou - está aqui o Augusto Botelho, outro médico - por que ele deixou... ele era do PMDB, porque começaram essas malsinadas medidas provisórias. A primeira, logo foi em cima dos velhinhos aposentados. Olha, foi dura, direitos adquiridos, tachados novamente, humilhados. Ô negócio malfeito! E eu, como médico... Paim, Deus me permitiu aprender muita coisa. Além de ter trabalhado muito, eu fundei um instituto. Isso é raro na história, porque, quando eu fui prefeitinho da minha cidade, uma lei disse que não se podia criar institutos municipais, e eu criei. Depois, eu governei o meu Estado, tomei conta do Iapep, trabalhei nesses institutos todos e daria só um fato de aposentado. Ó Deus, eu agradeço, Ele foi muito bom para mim, eu estou aqui no Senado da República, que Dinarte Mariz disse que isso é melhor do que o céu. No céu a gente tem que morrer. Eu ainda fico pensando: sei lá se no céu eu posso me agarrar com a Adalgisinha lá. Mas são outros quinhentos.

Mas, se não fosse essa generosidade e crença do povo valoroso do Piauí eu estar aqui. Paim, olha para cá, cicatrizes do trabalho. Formei-me em Medicina em 1966. Fui porque quis para a minha cidade, para a Santa Casa de Misericórdia.

Tantas noites sem dormir. Bala perdida... A gente ressuscitando... Mulher que não conseguia dar à luz... Morto a facadas... Quantas lutas! Fui médico federal. Atentai bem! Paim, vou dizer minha aposentadoria aqui - até já esqueci; nunca mais vi, mas também ouvi dizer que nunca mais aumentou. Eu também não olho e não quero nem ver, porque dá úlcera. Eu sou médico. Dá úlcera! Médico cirurgião, concursado. Formei-me em 66, Paim. Ora, muitas noites sem dormir. Ontem, eu estava no Mato Grosso do Sul, com o Valter Pereira. E eu disse: “Rapaz, eu só durmo duas horas. É costume de dar plantão. Não há quem me faça dormir antes de duas horas”. Noites sem dormir nos plantões. Olhei e já faz tempo - foi muito antes de eu chegar aqui, Paim -, olhei, mas não aumentou, não é? Nesses dez anos, ouvi dizer que não aumentou nada. E eu não olho o contracheque, porque dá úlcera. Se todo mês eu fosse receber, já tinha morrido. Com úlcera perfurada, morre. São R$2 mil. Como é que eu ia me manter se não tivesse saúde? E eu tinha de comprar o perfume para a Adalgisinha, o remédio para mim. Essa é a história do aposentado.

Mas eu seria mais dramático para despertar o Luiz Inácio. Luiz Inácio... Votei nele em 94. Vou contar uma história que eu já contei, mas não tem nada repetir, não. Todo dia a gente repete o Pai-Nosso, a Ave-Maria, e se transporta ao céu. Tenho 65 anos de idade.

Ontem, fui ao Mato Grosso do Sul em homenagem a Ramez Tebet. Vi como é valorizado. Havia muito rotariano. Eu disse: “Sou rotariano também!” Rotary Club. Em 1969, eu chegando pós-graduado à minha cidade, porque quis, uma pessoa foi me convidar para entrar no Rotary. Desde menino, eu já os via, achava aquilo bacana e entrei em 1969. Essa pessoa, desde 1969 - Paulo Paim, vai fazer 40 anos -, eu chamava de padrinho, porque se chamava assim aquele que convida. Ele foi a melhor pessoa que conheci. Não há nenhum rotariano tão virtuoso como ele era.

Habituei-me, então, a chamá-lo de padrinho. Eu era Governador de Estado, e ele era o meu padrinho. Eu nunca vi um ato que o desabonasse. Rotariano: mais se beneficia quem melhor serve; dá de si antes de pensar em si. Era o meu padrinho. Há um ano, 60 anos de casado, um exemplo - eu olho assim... não vi pessoa tão correta e tão decente -, eu fui abalado aqui: ele se suicidou. Um homem que levou a vida toda com dignidade, teve a sua projeção, a sua família, a sua representação. Meu padrinho de Rotary. Mas não se pode chorar.

Há aqueles que têm uma mulher companheira. Estou comemorando 40 anos de casado com Adalgisa. Comemoro todos os dias. Vai ser em 20 de janeiro, mas a gente já vai comemorando.

Ele tinha 60 anos, José Agripino - V. Exª está longe de imaginar o que V. Exª representa na política do Brasil. Eu vim de Mato Grosso do Sul. V. Exª deve ser muito melhor do que eu. Certamente, eles me elogiaram porque eu era convidado, mas V. Exª estava ausente. V. Exª é muito respeitado neste Brasil. Eu vi agora.

José Agripino, suicidou-se o meu padrinho de Rotary. A geração dele influenciava. E eu estava aqui, talvez tivesse lá... A amada dele precisou se internar no hospital, precisou fazer um tratamento. Aqueles que são mais velhos, que têm os pais, como deve ser duro, um homem que viveu com a companheira 60 anos, foi governador do Rotary, foi Presidente, e sonhou isso aí, pagou a vida inteira para ter uma aposentadoria de dez salários mínimos e, de repente, recebe quatro.

Eu sou médico. Olha, a Medicina está muito boa, Luiz Inácio, mas muito boa. Para mim, está ótima. Não é porque eu seja médico não. Toda hora vem um aí - eu acho que tem até uma negociata: “Você não quer ir para São Paulo fazer um exame não? Não quer? Não quer ir para São Paulo?” “Rapaz, eu sou médico!” “Não, mas está todo mundo aí.” Está muito boa, está muito boa para quem tem plano de saúde. Está muito boa, é de primeiro mundo, mas para quem tem dinheiro. Augusto Botelho, não existe mais médico do meu tipo. A gente trabalhava em Santa Casa. Não sei, nunca gostei de dinheiro. Nunca amei esse negócio.

Mas o meu padrinho de Rotary se suicidou, porque a mulher precisou fazer um tratamento, estava internada, e ele não podia pagar. E não pagou, tiram mesmo! Não deu aquele depósito... Você já sabe.

Então, é esse o aposentado, Paim. Primeiro, aquela medida provisória, nós aqui, poucos. Ela era tão imoral, Luiz Inácio, que o Paim minimizou. Esta Casa é boa; ele conseguiu liderar todos e nos ofereceu uma medida provisória paralela. Heloísa Helena esperneou, botaram-na na fogueira, feito Joana D’Arc, e nós tiramos por aí, e ela ainda está viva. Mas foi aí o Papaléo, o Relator, que saiu. E o Paim minimizou. Sacrificaram muitos velhinhos, mas minimizou, e ele conseguiu e foi por unanimidade.

Quer dizer, navegar é preciso, nós navegamos; viver não é preciso. Paim, e agora o salário dos aposentados. Está uma tristeza, está uma tristeza! Eu já me sinto realizado aqui, porque o Paim me colocou para ser o Relator desse fator previdenciário, que ele me disse, e eu acredito nele, que é o único do mundo. O velhinho paga 35 anos ao Governo - que somos nós, a pátria somos todos nós - acreditando que vai, na velhice, ter aquele ganho de dez salários, conforme o contrato, a lei, e ele recebe quatro; se eram cinco, recebe dois.

Olha, eu quero dizer, José Agripino, a seriedade disso. Eu muito novo cheguei, e havia um tal de Aplub lá do Rio Grande do Sul. Vai ter picareta no mundo! O exemplo arrasta. Eu muito novo cheguei, e esse negócio de fazer esses programas de pensão e receber; se o homem morre, a mulher recebe. Eu não gosto desse negócio. Eu quero é receber... E eu fiz um Aplub de 25 anos. José Agripino, paguei 25 e pensei “vou gozar com a Adalgisinha”. Paguei cem salários mínimos. Rapaz, eles só pagam um.

É o exemplo do Governo Federal. E olha aí como é sério. O Padre Antonio Vieria dizia que o bem vem acompanhado de outro bem, e eu digo: o mal vem acompanhado de outro mal. Aí quem diz sou eu. O exemplo arrasta. Essa desordem dos velhinhos... É a Aplub, essa desgraça aí. Está sujando o nome do seu Estado, Senador Paim. Mas em terra de sapo... Se o Governo dá esse exemplo, quem é que pode se queixar.

Então, o que nós queremos dizer aqui é que estamos escrevendo a página mais bonita. V. Exª é o líder e quero lhe dizer o seguinte: isso não vai ficar assim, não. Surgiu aqui um movimento, e eu acredito muito neste Senado. Nós somos não a esperança, mas a certeza de que a democracia vai continuar.

Vocês viram a CPMF? Trinta e cinco... Melhor do que aqueles trezentos de Esparta que defenderam a democracia grega contra Xerxes. E está aumentando. Eu tenho uma incumbência que vou cumprir. Já há uns dez, José Agripino, que aqui se ofereceram para fazer um bloco em defesa daqueles projetos dos aposentados.

Vamos enterrar esse fator previdenciário, pois nós não podemos ficar na história do mundo como o único povo que trata mal os velhinhos aposentados. E vamos lutar pela paridade. Eu tenho até a missão de convidar para liderar esse grupo o gaúcho Pedro Simon.

Então, eu quero dizer o seguinte: eu acredito em Deus. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Isso é um ato de justiça. E o filho de Deus, predileto, que andou aqui, disse: vinde a mim as criancinhas. Mas eu tenho certeza: se o nosso Deus mandar de novo o filho d’Ele, ele vai dizer assim: vamos apoiar os velhinhos aposentados, que estão sofridos.

Ó, Deus! Ó, Deus, abençoe essa nossa luta de regaçarmos as conquistas dos nossos velhos aposentados. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2008 - Página 10260