Discurso durante a 58ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Ramez Tebet, falecido no ano passado.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Ramez Tebet, falecido no ano passado.
Aparteantes
Pedro Simon, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2008 - Página 10374
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, RAMEZ TEBET, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Antonio Carlos Valadares, que preside esta sessão de 22 de abril, Parlamentares desta Casa, brasileiras e brasileiros que estão aqui e os que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado, Senador Mercadante - V. Exª fica bem em todo lugar, principalmente aí na Mesa Diretora -, o que me traz aqui - viu, Mercadante? - é essa história de que o Senado está desgastado. Está não! Isso é conversa e é mentira! Ô Cafeteira, de maneira nenhuma. Vou dar uns quadros, porque sou prático, sou cirurgião.

Olha, três Senadores faleceram, para tristeza nossa. Fui ao último enterro, o do Jonas Pinheiro, e vi o povo chorar. Ao enterro do Ramez Tebet, não fui - era o meu mais íntimo -, porque eu estava no casamento da filha do Azeredo e era aquele tempo de “apagão aéreo”. Mas ele era o mais ligado a mim. Fui ao de Antonio Carlos Magalhães, quando chorou a Bahia, chorou o Brasil e ainda hoje se chora e se homenageia.

Tinha uma ligação muito íntima com Ramez Tebet, ô Mercadante. No meu gabinete, Sibá, só tem retrato de três homens. Um é do Papa João Paulo II, abençoando eu e Adalgisa, em dezembro de 1995, quando governava o Piauí e fui lá. O outro é de Petrônio Portella, esse patrimônio da redemocratização que presidiu esta Casa com muita honra e muita dignidade. Eu, bem novinho, e ele me induzindo a entrar na política. E o outro retrato é meu com Adalgisa e Ramez Tebet.

E não fui, Senador Jefferson Péres, ao sepultamento. E no dia em que fizeram uma sessão aqui em homenagem a ele, comprometi-me de ir à cidade dele colocar flores no túmulo de Ramez Tebet. E, desde lá então, houve uma oportunidade num 4º Encontro de Jornalistas do Mato Grosso do Sul. Tenho o certificado aqui, muito bacana. Eles fazem isso para divulgar a cidade de Ramez Tebet: Três Lagoas. E, para entender aquilo, Jefferson, temos que entender Sêneca, que não era nem de Atenas nem de Esparta. Era de uma cidade pequena, mas ele dizia: “Não é uma cidade pequena; é a minha cidade”. Todos nós víamos Ramez Tebet orgulhoso dessa Três Lagoas. E é um encanto de cidade.

Senador Mercadante, o motivo era muito fácil: todos falarmos de Ramez Tebet, principalmente eu. Deus permitiu que - quando eu governava o Estado do Piauí, ele era Ministro da Integração e nos ajudou muito a concluirmos os açudes e as barragens - colocasse, quando em vida, no seu peito, a maior comenda do Estado do Piauí: a Medalha da Ordem Estadual do Mérito Renascença. E ele me dizia, ô Suplicy, que aquela era a primeira homenagem nacional que ele tinha recebido, o Ramez Tebet, antes de ser Presidente do Congresso. E ele saiu do Ministério no momento mais dramático desta Casa, o daquela CPI do Judiciário, a do Lalau; foram cassados os Senadores Jader Barbalho, Antonio Carlos Magalhães e Arruda, que hoje é Governador. E ele presidiu, navegou e levou este Senado a uma credibilidade extraordinária.

Mas o que queria dizer, então, é que o Senado não está desgastado, não, Mercadante. Não tem esse negócio de desgastado, não.

Mas recebi um convite e fui ao 4º Encontro de Jornalistas do Mato Grosso do Sul; tinha um palestrante no dia anterior, Maurício Kubrusly, da Globo, e eu terminei. Estava lá também o jornalista Ricardo Ojeda, diretor, estudantes de comunicação, políticos e tudo, e o que me surpreendeu, Mercadante: paulistas, seus eleitores, da cidade de Castilho. Para você ver como há credibilidade aqui: eu, lá do Piauí, junto com as lideranças que estavam lá, de Castilho, os Prefeitos de São Paulo - disseram que eram apenas 15 km dali, não é? E eu não era eu; eu era o Senado. Sabe por quê? Porque o Presidente desta Casa, sabendo que eu iria nessa missão.. Está sendo aguardado lá Pedro Simon, pois tem um educandário Ramez Tebet, que Pedro Simon vai inaugurar. Perguntaram por que eu não fui com ele. Eu digo que se chegasse lá com Pedro Simon... Ele é mais do que um sol, o sol só brilha de dia; ele, dia e noite. Então, Deus me antecipou. Eu sou assim como o João Batista, que disse: eu vim anunciar o Salvador, o Cristo. Pedro Simon, já estão o esperando. É uma escola aberta. E eu sou da geração... Ô Mercadante, nós somos preparados mesmo, nós, você também entra no nós, não é?

Monteiro Lobato dizia, Pedro Simon, que um país se faz com homens e com livros, e eu queria lhe dizer e disse lá: “Mato Grosso do Sul, Três Lagoas é por um homem e um livro. É um livro muito bem escrito: Simplesmente Ramez Tebet, escrito por Coaraci Nogueira de Castilho. Mas eu dizia lá, Pedro Simon: “Feliz da cidade, feliz do povo que não precisa buscar exemplos na história, em outras nações, em outras cidades. O exemplo é Ramez Tebet”. E dizia: “Para prefeita, a encantadora - permita-me dizer, porque sou franco, que, no meu entusiasmo, se chegar uma mulher à Presidência da República, eu aposto nesta beleza - Simone Tebet. Ali eu vi uma prefeita abraçada com o povo, acreditada pelo povo, amada pelo povo e filha de Ramez Tebet. Pedro Simon, então, eu dizia lá: “Basta dar a todo filho de Mato Grosso do Sul um livro”. É o hino do Mato Grosso do Sul, o hino do exemplo o discurso de Pedro Simon.

Pedro Simon, todo mundo sabe que V. Exª tem grandes pronunciamentos. Outro dia, o nosso amigo Jarbas Vasconcelos disse que ia fazer um discurso sobre o Ulysses. Eu estaria viajando. Tinha compromisso no Piauí. Mas eu disse: “Jarbas, vá ler primeiro o discurso de Pedro Simon sobre Ulysses”. Eu disse: “Vá ler”. E ele fez.

Pedro Simon, nesse discurso, o Espírito Santo baixou em V. Exª, e o significado é que foi antes da morte, do falecimento do Ramez. Acho que o Espírito Santo baixou, você entrou, adentrou aqui e disse que ele estava entrando em coma, moribundo, não via, não via mais o sorriso.

Eu diria e disse para a prefeita, aquela extraordinária e linda mulher em quem eu aposto aqui, eu disse lá: se tiver uma mulher que chegue a Presidente da República, eu aposto nela contra as do partido de vocês todos. Eu aposto porque eu vi. É a genética, é a ética, é a decência e a credibilidade.

Vou dizer como nasceu a candidatura dela.

Ramez Tebet mandou o seu genro, Eduardo, escolher um candidato a prefeito - o prefeito de lá era do PT. Aí o genro disse: “Não tem jeito não, ó Tebet. É a Simone”. Ele disse: “Mas não dá certo. Vamos lá”. Aí ele foi. “Vou lhe ensinar como se faz política. Com aquele jeito dele, chamou um daqueles amigos e disse: “Aquele tem 40 votos, me acompanha há décadas”. Aí começou a conversar com o amigo e disse: “E aí, quem é que a gente lança como prefeito?” Aí o amigo dele disse: “A nossa Simone”. Aí ele teve que ceder e a “nossa Simone” é talvez hoje....

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares. Bloco/PSB - SE) - Senador, vou conceder mais dois minutos a V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Dois, pelo Regimento, e V. Exª me dá quanto pela sua generosidade e pela sua sensibilidade? (Pausa.)

Ah, está bem. Depois vou fazer um apelo, tendo em vista a sensibilidade de V. Exª.

Primeiro, Pedro Simon, o aparte que não pode faltar. Olhem, leiam o discurso de Pedro Simon! Não existe coisa mais bela; é uma oração.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª está me tocando o sentimento. Na verdade, foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Eu estava falando dessa tribuna quando soube que nosso querido Tebet estava vivendo horas amargas e difíceis. Não querendo ir ao hospital, ficou em sua casa esperando o pior. Fui a essa tribuna, onde está V. Exª, e fiz o pronunciamento que, juro por Deus, não sei como. Eu disse aquilo que a minha alma sentia. Acho que realmente o Espírito Santo me inspirava. O que me deixou traumatizado e dramatizado foi o que a filha dele me contou. Segundo ela, ele estava sentado na frente da televisão e, quando os filhos viram que eu estava falando dirigindo-me a ele, ligaram a televisão. E ele, praticamente ao fim, abriu os olhos - ele não falava mais - e começou a chorar. Ele ficou assistindo ao pronunciamento, ouvindo o meu discurso até o fim. Quando eu terminei, ele fechou os olhos e não falou mais. Eu juro por Deus que... O Tebet era um santo. O Tebet era um desses homens dignos, puro, correto. O final do Tebet foi magnífico. Ele saiu da aplicação, veio para cá e sentou aqui na cadeira dele, e eu lhe disse: “Tebet, parece que você veio de uma estação de veraneio, de uma estação de águas. Você está ótimo”. E ele me respondeu: “Sim, quando eu faço a transfusão de sangue...

(Interrupção do som.)

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Ele foi à tribuna e fez um discurso ao seu Brasil e ao seu Mato Grosso, alquebrado, mas naquele momento mostrava força que realmente não entendi de onde vinha. Ele realmente morreu em paz, morreu trabalhando, morreu de pé. E tem muita razão V. Exª: a filha dele, prefeita, honra o mandato dele, honra a tradição dele, honra a história dele. Eu não posso esquecer o que me disse: “Ó Pedro, a minha filha me disse que tinha um problema muito sério. Alguém tinha cometido um equivoco grave na Prefeitura, e ela queria tomar posição. Eu disse a ela: minha filha, não faça isso agora. Você está recém-começando. Não faça isso agora. Deixa para mais tarde”. Dali a pouco, ele viu que ela havia demitido o funcionário. Ele telefonou para ela e lhe disse: “Eu queria que fizesse isso, sim, minha filha, mas eu não tinha coragem... Eu achava que era ainda muito cedo para se fazer, mas isso honra realmente o meu nome”. É uma grande mulher. A esposa é uma mulher fantástica, mas, na história da biografia dos membros do Congresso Nacional, o Tebet haverá de marcar a sua posição pela dignidade que teve. Eu felicito V. Exª que, com o seu sentimento, com a sua alma, com a sua pureza e com a sua singeleza, está fazendo um discurso à altura da memória do nosso Tebet. Muito obrigado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, V. Exª está sendo aguardado para inaugurar - não podia haver uma pessoa, um nome mais importante, mais ligado a um educandário - a Praça Ramez Tebet, Antonio Carlos Valadares, e tem um busto. Mas a Simone Tebet é de uma inspiração... Ele está no chão, com os braços abertos. Não botou ele, como nós vimos na história do mundo, no alto, não. O povo vai lá e o abraça. Eu tirei retrato. E eu fui ao cemitério. E esse negócio de dizer que político está atrás...

Olha, eu sei que não foi por mim não. Eu li uma mensagem do nosso Presidente, Garibaldi, quer dizer, eu representava o Senado. Ô Romeu Tuma, eu dava autógrafo, tirava um monte... Ô Mercadante, havia muito paulista lá. Então eu não vejo esse desgaste. Nós não estamos desgastados, não. Lá no Mato Grosso do Sul eu dei muito autógrafo. Eu recebi aplausos. Eu sei que não era por mim; era por Ramez Tebet, era por Pedro Simon, era pela carta do nosso Presidente, que eu li, mas simbolizava o Senado.

Romeu Tuma, chorei pelo pronunciamento. Ouvi no carro V. Exª. V. Exª é que faz a grandeza da política; V. Exª chorava pelo sofrimento dos aposentados e idosos...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Valadares. Bloco/PSB - SE) - Senador Mão Santa, eminente representante do Piauí, os oradores inscritos estão, com toda a legitimidade, chamando a minha atenção porque o tempo de V. Exª está esgotado. Temos o maior prazer em ouvi-lo, mesmo porque V. Exª traz muitos ensinamentos a esta Casa. Vou lhe conceder mais dois minutos, o que completa cinco minutos de prorrogação.

Obrigado a V. Exª.

O Sr. Romeu Tuma (PTB - SP) - Não vou ocupar muito tempo em respeito ao Presidente. Ouvia V. Exª do gabinete e vim correndo. Eu endossaria todas as palavras que o Senador Pedro Simon e V. Exª falaram a respeito do meu irmão Ramez Tebet. Tive a felicidade e a honra de ter privado da amizade dele. Acompanhei alguns fatos que o amarguraram neste Senado, principalmente como Presidente da Comissão de Ética, onde o valor e a dignidade dele se fizeram presentes, quando enfrentou alguns poderosos. Ele não se acovardou diante deles. Que Deus o mantenha no céu a nos proteger aqui para termos sempre o favorecimento da sociedade brasileira.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É importante o exemplo. Mercadante, ele sonhou uma fábrica de papel, e hoje uma multinacional está lá, construindo a fábrica. Tem mais de 8.500 brasileiros, peões, Antonio Carlos Valadares. Fui ao canteiro da obra e vi milhares de nordestinos. Piauienses, há muitos. O sonho de Ramez Tebet era propiciar trabalho.

Então a cidade é feliz porque é obediente a Deus, que diz: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. É uma cidade que não tem desemprego. E eu lamentei ver milhares de nordestinos e piauienses deslocados porque o Governo não criou um ambiente de trabalho no Nordeste. Milhares, que choravam com saudade das esposas, foram recebidos pelo Mato Grosso para terem direito ao trabalho.

Presidente, nossos agradecimentos pela sua sensibilidade e pelo tempo, que foi ampliado, e as últimas palavras aos céus: Ramez Tebet, ilumine a todos nós, Senadores!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2008 - Página 10374