Discurso durante a 62ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Criação de bloco suprapartidário em apoio à PEC que assegura os recursos mínimos para a Saúde e à extinção do fator previdenciário nos cálculos das aposentadorias.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INDIGENISTA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. PREVIDENCIA SOCIAL. SAUDE.:
  • Criação de bloco suprapartidário em apoio à PEC que assegura os recursos mínimos para a Saúde e à extinção do fator previdenciário nos cálculos das aposentadorias.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2008 - Página 10874
Assunto
Outros > POLITICA INDIGENISTA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. PREVIDENCIA SOCIAL. SAUDE.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, DISCURSO, SENADOR, APOIO, DECLARAÇÃO, COMANDANTE, COMANDO MILITAR DA AMAZONIA (CMA), RESPONSABILIDADE, CRITICA, POLITICA INDIGENISTA, PREJUIZO, REGIÃO AMAZONICA, INJUSTIÇA, RECEBIMENTO, REPREENSÃO, FORÇAS ARMADAS, CONTRADIÇÃO, IMPUNIDADE, SEM-TERRA, DESRESPEITO, ESTADO DE DIREITO, APREENSÃO, ORADOR, POLITICA EXTERNA, BRASIL, NEGLIGENCIA, FRONTEIRA.
  • RETIFICAÇÃO, UTILIZAÇÃO, DISCURSO, ORADOR, ARTIGO DE IMPRENSA, INTERNET, ESCLARECIMENTOS, AUTOR.
  • PROTESTO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, APREENSÃO, AUTORITARISMO, EMISSORA, TELEVISÃO, EXECUTIVO.
  • SAUDAÇÃO, APROVAÇÃO, SENADO, MATERIA, REAJUSTE, APOSENTADO, PENSIONISTA, IGUALDADE, SALARIO MINIMO, EXTINÇÃO, FATOR, NATUREZA PREVIDENCIARIA, REGULAMENTAÇÃO, LEGISLAÇÃO, FINANCIAMENTO, SAUDE, CONCLAMAÇÃO, SENADOR, JUSTIÇA, LOBBY, VOTAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, CRITICA, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, ALEGAÇÕES, FALTA, RESPONSABILIDADE, LEGISLATIVO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mozarildo, que preside esta reunião de sexta-feira, 25 de abril, do Senado da República, Parlamentares na Casa, brasileiras e brasileiros, aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação extraordinário do Senado da República, a televisão, a Rádio Senado AM, a Rádio Senado FM, o Jornal do Senado, a Agência de Notícias do Senado, que ganham o Brasil.

Senador Mozarildo, eu estava presidindo e ouvi o primeiro pronunciamento do Senador do Rio Grande do Sul, do Partido dos Trabalhadores. E Sérgio Zambiasi também representa nesta Casa uma história de Parlamentares ligados à imprensa; a imprensa que ontem nós comemoramos cem anos; a imprensa que teve grandes Parlamentares oriundos da imprensa. Quem se esquece de Carlos Werneck Lacerda?

Então, V. Exª seguiu e eu quero dizer que todos nós, brasileiros, estamos apreensivos e acompanhamos esse affair, que é sério, lá da fronteira, que um General, traduzindo toda a história de grandeza das Forças Armadas, apenas mostrou suas preocupações. Atentai bem! Essa política indígena, ele mostrou preocupações: está mal orientada, está caótica. E foi um Deus nos acuda. No cumprimento do dever, da responsabilidade, do amor à Pátria. Um dos oficiais que, segundo consta, tem um dos melhores currículos da história do Exército brasileiro.

Eu já tinha comentado com V. Exª que, por acaso, ouvi a entrevista dele - parece-me que na televisão Bandeirante - e fiquei encantado pela responsabilidade e pelo conhecimento das fronteiras.

Nós vivemos, Mozarildo, um momento meio estranho. Há um militar... Quase que humilharam o militar. Foi chamado pelo Ministro da Defesa, sob ordem do Presidente da República, para repreendê-lo.

E eu perguntaria: E o MST, que funciona aí? Invade os bancos; invade a maior empresa, a Vale do Rio Doce, que dá dividendos, que funciona; invade propriedades produtivas, agências bancárias, e ninguém os repreende, a não ser o extraordinário Ministro do Supremo Tribunal Federal que assumiu recentemente, que advertiu.

Aquilo que Norberto Bobbio já dizia... O pai da teoria democrática, que foi senador vitalício italiano, dizia que o mínimo que tem que se exigir de um governo é defesa à liberdade, à vida e à propriedade.

Mas, Mozarildo, V. Exª dá uma grande contribuição. E este País, talvez, se o Luiz Inácio fosse o Presidente, o Acre com certeza seria da Bolívia; Santa Catarina seria da Argentina. E aquela fronteira é uma fronteira complicada, que preocupa a todos nós, porque ela nos liga com três Guianas de origens diferentes, com a Venezuela que aí está, com o Equador, cedendo espaço para as FARC. As FARC que estão encolhendo a sua área territorial, porque o governo legal da Colômbia as esmaga, pressiona. Então, eles estão entrando no território brasileiro por esta área. As FARC que vivem à custa do tráfico de drogas, de armas, de seqüestros que aí estão. Então, as nossas preocupações.

Mas eu também trago o assunto e queria dizer que isso aqui é tão importante que na semana passada - eu quero fazer uma correção -, de centenas de e-mails que recebi, pincei um, de Rodrigo Constantino, aliás, não foi dele, foi de uma extraordinária mulher do Rio de Janeiro, professora lúcida, que citava um artigo dele, daí um pouco de confusão. Então, a bem da verdade, hoje o Rodrigo Constantino - e ele tem um blog - me manda outro e-mail e assume:

“Sou o autor do artigo que o senhor leu hoje no Senado, chamado “Um líder carismático”. Venho por meio deste e-mail esclarecer que a autoria do artigo é minha mesmo, contando sobre a origem de Hitler e a ascensão do seu partido dos trabalhadores ao poder, deixando o evidente paralelo por conta dos leitores. Usei a excelente frase do filósofo Schopenhauer na epígrafe, mas o artigo é meu. Compartilhamos do receio frente ao viés autoritário deste atual governo. Quaisquer dúvidas, favor entrar em contato. Sugiro que visite meu blog. Lá poderá encontrar mais artigos que possam lhe inspirar.”

O Rodrigo Constantino tem um blog, então eu agradeço, e são essas as nossas preocupações - está vendo, Mozarildo? - da maneira com que o Brasil vive. Mas isso tudo se fundamenta na semelhança principal, e ontem teve um pronunciamento muito importante de um dos maiores líderes deste País, mas é líder sofrido, líder de coragem: Jarbas Vasconcelos.

Jarbas Vasconcelos, nos anos de 74, da anticandidatura de Barbosa Sobrinho a vice de Ulysses Guimarães, ele já fazia parte desse PMDB autêntico, em que surgiu esse movimento. De lá para cá, houve muita luta, e essa redemocratização se deve muito a esses autênticos do PMDB. Eu sempre digo que os que estão aí estão inspirados no Goebbels, agente de comunicação de Adolf Hitler. Goebbels dizia que uma mentira repetida, repetida, e repetida, torna-se verdade.

Evidentemente, eu vou dar só um exemplo, Mozarildo. O Hitler, no seu desejo de poder, saía com um exército de três mil homens. O Goebbels dizia “Lá vai Hitler com dez mil homens.” Aí os outros países estremeciam de medo. Mas, no fim, aquilo foi um mal ao próprio Hitler, que venceu várias eleições da Alemanha; ao próprio Hitler, que teve também as suas pesquisas de opinião pública, obteve 96% da Alemanha. Mas ele se envaideceu e perdeu o controle.

O próprio Hitler, e o seu Partido era nacionalista, nazista, dos trabalhadores da Alemanha; o próprio Hitler, que escolheu a cor vermelha. Nós que somos médicos, Mozarildo, sabemos que ela lembra sangue, que excita quando visualizamos. O próprio Mozarildo aqui, com sua inteligência, denuncia que as cores da propaganda desse Governo não são as cores da nossa bandeira: o verde da esperança, o branco da paz, o azul do céu e o amarelo do ouro. A própria história nos ensina que o partido era nacionalista e nazista dos trabalhadores, dos alemães. Quando falavam, não falavam como Getúlio Vargas: trabalhadores do Brasil. Quantas e quantas vezes ouvimos, no 1º de maio, Getúlio dizendo “trabalhadores do Brasil” e anunciando as conquistas do trabalho. Anunciava aquilo em que acreditava, o mesmo que fez com que Rui Barbosa tivesse aí essa posição de destaque como nosso patrono. Porque Rui Barbosa disse que a primazia, Zezinho, tem que ser dada ao trabalho e ao trabalhador. “Eles vieram antes. Eles fizeram a riqueza.”

Pedro Simon, esses e-mails e os outros todos se referem a uma coisa muito clara, Presidente Luiz Inácio.

Atentai bem, a mentira! O Jarbas dizia: “Mentem com desafaçatez, mentem cinicamente, enganam”. Daqui a pouco, quem disser a verdade será chamado de otário.

O sistema de Goebbels hoje é Duda. Logicamente, que não seria. E o próprio Duda mantinha aqueles que nós chamamos de “militantes”, que eles lá chamavam de “galinhas cacarejadoras”, para fazer propaganda do governo. E essa galinha é simbólica, é homem, é mulher, são aqueles que mentem, que mentem, que mentem. São obras que ninguém vê.

Pedro Simon, Cristo está ali porque Ele dizia: “Em verdade, em verdade vos digo”. E a mídia? Olhe que eles têm. Pedro Simon, você já assistiu ao canal NBR? Eu já assisti.

Mozarildo, tenho uma filha no Rio, fazendo residência médica. Fui lá com a mãe, Adalgisa. Pedro Simon, eu estava no hotel. Elas foram arrumar um apartamentinho. Mozarildo, era domingo no Rio de Janeiro. Elas foram ver apartamento, e eu fiquei no quarto. Às duas horas da tarde, coloquei no canal NBR. Quando Adalgisa e Daniela voltaram, eram quase nove horas da noite. Eu fiquei para poder contar. Ô vergonha! Luiz Inácio, de duas horas às nove horas da noite, uma NBR, um canal de televisão. Mozarildo, Hitler, Duda está ganhando de Goebbels. Hitler colocava o rádio nas fábricas e, na hora do almoço, discursava. Olhem, é uma NBR.

Há outra televisão, uma televisão Brasil. Podem ver. É propaganda. E passou por aqui, imoralmente, indecentemente, como medida provisória, outra televisão. A “Hora do Brasil”. Deveria o Presidente da República pagar a um bocado de empresas de rádio que tiram o seu horário nobre para entrar a “Hora do Brasil”, que é propaganda.

Nós pouco saímos. Eu observo. Eles pinçam. Quem faz são eles com resumo. É propaganda. Pedro Simon pouco aparece lá. Mozarildo, esse é que não vai. Eu duvide-o-dó que o discurso de Mozarildo saia hoje na “Hora do Brasil”. E é para o Senado levar para lá, só ouvir o de Pedro Simon. Mas eles colocam “galinhas cacarejadas”, de frases citadas aqui.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Sr. Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pedro Simon nos honra.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª está fazendo uma afirmativa que estou ouvindo pela primeira vez. Nem na ditadura, a “Hora do Brasil” fazia censura sobre os pronunciamentos dos Parlamentares. Eu nunca reparei que há censura nos 15 minutos que o Senado tem na Voz do Brasil. O que V. Exª está dizendo é muito sério.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Faço aqui um requerimento ao Presidente Garilbaldi - tenho certeza de que, se isso está acontecendo, o Senador Garibaldi não está sabendo - para verificar isso. Eu não acredito, me perdoe a sinceridade, que isso possa estar acontecendo. E, se estiver acontecendo, é muito sério e nós temos por obrigação pedir ao Senador Garibaldi - que, tenho certeza, se estiver acontecendo não está sabendo -, para que faça a devida... Pode até acontecer que, na parte do Senado na Voz do Brasil, se dê maior destaque ao pronunciamento de Fulano e se dê menor destaque ao pronunciamento de Beltrano. Mas não publicar nada do pronunciamento de Beltrano aqui no Senado é muito grave. Sinceramente, peço à Assessoria da Mesa que este meu aparte ao pronunciamento de V. Exª seja levado ao Presidente Garibaldi, para nos trazer uma resposta sobre o que há em torno da afirmativa gravíssima de V. Exª. Queira Deus que V. Exª esteja enganado. Muito obrigado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Mas, infelizmente, não é não. São pinçados aqueles que cacarejam em favor do Governo.

Mas aqui estamos, isso é assim mesmo. V. Exª vê que esta tribuna é forte, por isso estamos aqui. O País está aguardando V. Exª daqui a pouco. E eu me lembro quando Brossard, lá do Rio Grande do Sul, passava três horas e meia aqui. Tem pronunciamento do Brossard de três horas e meia. Mas foram importantes para enterrar a ditadura militar. E nós estamos aqui e eu queria dizer hoje o que me traz aqui, dessa maioria de e-mails. Atentai bem, Pedro Simon. Eu ia dizer que o nosso Paim está desesperado. O PT tem gente boa. O candidato a Prefeito do PT lá de Teresina é um Deputado Federal honrado, Nazareno Fonteles, que disputou comigo o Governo do Estado, em 1994. Aliás, fui ao segundo turno, porque ele teve muito voto. Tem gente boa! Mas a maioria é de aloprados!

Então, o Duda, o Goebbels, faz o Luiz Inácio dizer: “Não devo nada a ninguém. Tem duzentos e tantos bilhões em caixa. Paguei o FMI, os banqueiros”, e todo mundo sabe que ele gosta muito dos banqueiros. “Paguei todos os banqueiros!” Presidente, eu, no lugar de V. Exª, o que seria muito bom para o País, ficava devendo os banqueiros, mas pagaria os velhinhos, os aposentados.

Pedro Simon, olha, isso tudo é e-mail lamentando aquele fator previdenciário. Vou ler um trecho aqui de um e-mail enviado por José de Sousa Oliveira:

          “Como também contribuí ao INSS durante 33 anos sobre 20 salários, veio a aposentadoria sobre apenas 5 salários e hoje estou recebendo salário de R$240,00 [...].”

Aquilo foi um contrato, uma regra, que descontava do salário do trabalhador, durante 35 anos, para, na sua velhice, ter aquele dinheiro, para ter uma velhice com dignidade, com a sua mulher amada, com a sua família.

Muitos brasileiros pagaram, grande maioria, aposentados, para ter direito a uma aposentadoria de vinte salários mínimos, e estão recebendo cinco. Muitos pagaram para dez, para cinco, e estão recebendo um. É um tal de fator previdenciário.

Presidente Luiz Inácio, V. Exª deve aos velhinhos aposentados do Brasil. V. Exª tem direito a ter uma conversa com o Presidente Sarney. Lendo a biografia do Presidente Sarney, Mozarildo, está lá Kyola, mãe de Sarney, hoje Santa Kyola - ontem, o Presidente Sarney fez setenta e oito anos de idade; D. Kyola, hoje Santa Kyola, diz lá: “Meu filho, não deixe perseguirem os velhinhos aposentados!” E o Presidente Sarney foi obediente ao conselho e às benções de sua mãe. Ele pagou. Contudo, não tinha esse fator previdenciário; é atual.

Paim disse no seu trabalho e na sua lei, da qual fui o Relator - e eu acredito no Paim -, que esse fator previdenciário só existe no Brasil, Professor Cristovam. Em nenhum lugar do mundo o Governo tira o direito adquirido, contratado, com lei, dos velhinhos aposentados. Só o Brasil.

Professor Cristovam, nós não podemos ficar na história da humanidade como a sociedade que persegue, que maltrata os velhinhos aposentados.

Eu fui o relator dessa lei. Defendi-a em todas as comissões, na Comissão de Assuntos Econômicos, na de Constituição e Justiça. Aqui foi aprovada, no Senado da República. Como outra também, que outro relator... Que doravante se pense, à medida que se dê um aumento para os que estão trabalhando, que se dê por igual aos que estão aposentados.

Cristovam Buarque, no meu entender - e entendo muito, pois tenho 65 anos de idade, foi longa e sinuosa a estrada até aqui, calçada na crença do estudo e do trabalho, foi estudando e trabalhando, amando e realizando que aqui chegamos -, esta Casa tirou o mandato do Presidente Collor. No meu entender, o Presidente Collor começou a cair no dia que faltou um conselheiro a ele. Hoje ele está um grande estadista. Mas, naquele momento, faltou-lhe um conselho. Os aposentados ganharam na Justiça um aumento que o Governo havia lhe negado. Era 147%, Mozarildo, você se lembra? Aí o Collor, na mocidade, jovem, mal-assessorado, pulou e disse: “ Eu não pago”. Foi aí.

Enganam-se aqueles que pensam que Luiz Inácio está forte. Olha, eu tenho experiência. Essas pesquisas são todas mentirosas. Olha, os aloprados, que são acostumados a roubar, que até mataram em São Paulo, não são capazes de comprar uma “pesquisinha”?

Ó Cristovam, tenho essa experiência. Prefeitinho, prometi que ia pagar o salário mínimo de Parnaíba. Naquele tempo, só Teresina pagava e Floriano. Nenhum! Ganhavam como essas bolsas-família. E paguei, Cristovam. Quatro, seis meses, e tal. Aí eu cheguei, Mozarildo, e chamei o Secretário: “Tem uma folha aí de aposentados e pensionistas”. Antes, eram aqueles funcionários, Mozarildo, antes de ter a Previdência Social, antes de ter o INPS; eles não tinham, então ficaram rebolados lá. Eu ouvia falar e mandei buscar. Mozarildo, era uma folha ridícula: eram umas vinte pensionistas, viúvas, e uns dez ou doze aposentados, e eles ganhavam o valor de uma cerveja. Eu mandei dar salário mínimo, mandei chamar os aposentados. Mozarildo, um deles passou mal no meu gabinete, e eu tive foi medo de que ele morresse, Eurípedes. Dei a chave do carro preto, do prefeito, e o levaram.

Olha, esses velhinhos começaram a me apoiar. Senador Eurípedes, em toda inauguração, eles estavam lá, estavam no banco da Praça da Graça: “Esse prefeito é justo; nós estamos aqui há vinte anos esquecidos”. O aposentado não tem força para fazer greve, para fazer manifestações. Eu dei, e eles passaram a dizer que eu era boa gente, que eu era justo, e aqui eu estou - depois saí de lá, fui Governador por duas vezes e Senador.

Quando o Presidente Collor disse que não ia atender é que começou. O velhinho não é só o velhinho não: o velhinho tem filhos, o velhinho tem netos. Não pode. Eles foram assaltados por esse Governo. E pior, Pedro Simon...

Ali tem o retrato de todos os Senadores do Império. Cristovam Buarque, Pedro II assistia às sessões do Senado lá no Palácio Monroe, no Rio de Janeiro. E eu olhando: Pedro II deixava a coroa e o cetro na ante-sala para se igualar aos Senadores.

Luiz Inácio, nos ouça: Pedro II deixava a coroa e o cetro para ouvir os Senadores. E agora, Pedro Simon, dois ministros disseram que nós somos irresponsáveis, somos enganadores, demagogos, porque aprovamos a lei do Paim do PT, porque passou aqui essa lei. Por causa disso, somos irresponsáveis, enganadores. Nós, brasileiros e brasileiras, aprovamos essa lei e, junto com ela, a lei que melhora as condições da Saúde Pública, essa saúde da dengue que está aí, da febre amarela, da tuberculose que cresce, dos hospitais sucateados, da tabela em que a consulta médica custa R$2,00.

Estabeleceu-se para a Educação um valor fixo: 25% da receita do País vai para a Educação - conquista de Senadores do passado, como João Calmon, Pedro Calmon e Darcy Ribeiro. Da mesma forma, uma lei oriunda de outro Senador do PT, Tião Viana, pretende fixar um valor para a Saúde.

Este Senado da República aprovou essa lei para que a Saúde tenha aquele dinheiro que eles dizem que nunca têm. O Prefeito tem a obrigação de aplicar 15% em Saúde, o Governador, 12%. É a Medida 29, que há anos é analisada, é discutida e aprovada aqui.

Nós somos irresponsáveis, enganadores, demagogos...

Então, eu convido Pedro Simon... Nós não estamos parados, estamos solidários com os Senadores do PT, Paim e Tião Viana.

Eu nunca fui Deputado Federal. Aliás, quando fui suplente, poderia ter assumido, mas Deus me inspirou e, para ser Prefeito de minha cidade, eu não assumi.

Eu sei bem que o Luiz Inácio passou por ali e disse que tinha trezentos picaretas. Nós vamos acompanhar para saber quantos tem agora. Nós vamos recontar para saber se são realmente trezentos, mais ou menos.

Ontem Tião se apresentou. O próprio Paim estava meio São Tomé, porque tem um movimento para enterrar aquilo que aqui nós aprovamos: recuperar o salário que devemos aos velhinhos aposentados e um dinheiro exato, correto, para a Saúde, como acontece com a Educação na nossa Constituição.

Mas um grupo aqui... Mozarildo, já somos dez para formar um bloco para não deixar os trezentos picaretas enterrarem o fator previdenciário, que tira a aposentadoria dos velhos, a quem nós devemos.

Querem enterrar a Medida Provisória nº 29, que é a garantia do dinheiro certo para a Saúde.

Já temos uns dez ou doze Senadores para formar um bloco, e eu fui incumbido de convidar o Senador Pedro Simon para liderar esse bloco. Pedro Simon disse que não quer liderá-lo porque tem umas posições contra o Partido dos Trabalhadores no seu Estado, mas que ele está engajado nesse grupo de defesa dos aposentados e do dinheiro para a Saúde.

Mozarildo, conversei com Jarbas Vasconcelos - V. Exª foi um dos primeiros, Mozarildo, a dar essa sugestão, e ela está prosperando. Não vamos deixar abandonado o Paulo Paim, não vamos deixar que os trezentos picaretas enterrem as leis boas e justas que saem aqui e na Câmara. Vamos fazer um bloco para acompanhar essas votações, vamos fazer um bloco para acompanhar o Sr. Chinaglia, para ver se ele caminha e bota isso para ser votado, se ele não deixa isso morrer no tempo. Se assim fizer, vamos pedir aos paulistas, aos nordestinos, aos aposentados que não façam Chinaglia voltar a esta Casa. Vamos acompanhar, eles têm que votar, eles têm que dizer se estão no time dos trezentos picaretas ou no time da verdade, das leis boas e justas feitas pelos Senadores do PT - de uma delas, fomos relator -, a lei do Paim, que protege os aposentados e a lei do médico Tião Viana, que resguarda recursos para a Saúde.

Nós vamos continuar esta sessão.

Pedro Simon, aquele seu “não” não foi aceito pelo grupo. Jarbas Vasconcelos, ontem, após brilhante pronunciamento em que dizia que temos que acabar com a mediocridade - todos nós lemos o livro O Homem Medíocre, de José Ingenieros - que está aí, a mentira que mente escandalosamente, repetitivamente. Se o fato desagrada o Presidente, eles mudam o fato. Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos andou atrás de V. Exª para fazer nova tentativa de convencê-lo a ser o nosso líder em apoio àquelas duas leis boas e justas que nasceram no Senado em defesa do velho aposentado e em defesa da Saúde no Brasil. Ele não aceitou a minha resposta e, ontem, andava procurando V. Exª para insistir no convite a V. Exª para ser o líder desse grupo de que o Mozarildo é um dos idealizadores.

Ainda espero, Pedro Simon, que V. Exª seja o comandante desse bloco, porque aí estaremos fazendo, neste Senado da República, aquilo que é a sua missão. Estamos aqui é para fazer leis boas e justas, temos a inspiração das leis que Deus entregou a Moisés para viver melhor; a função de fiscalizar o Governo, o que temos feito; e a função de denunciar.

E hoje nós ouvimos denúncias extraordinárias, feitas pelo Senador Mozarildo Cavalcanti, quanto à situação dos brasileiros que vivem em Roraima. Um quadro vale dez mil mulheres. A mais velha índia de Roraima é casada com um branco. E os filhos são o quê? Nós não somos nem índios, nem pretos, nem brancos, nós somos é brasileiros, a mistura toda.

Então, aquelas são as nossas preocupações. Reitero aqui o convite ao Pedro Simon, para que nasça aqui um bloco suprapartidário, independente, que salvaguarde as leis boas e justas feitas aqui pela inspiração dos Senadores do PT. Atentai bem, brasileiros e brasileiras, se as leis nascidas da cabeça do PT, do Paim, em benefício dos velhos aposentados, e do Tião, que é médico, em benefício da Saúde, são enganadoras...

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Senador, a emenda do Senador Paim tem um aspecto muito importante. Ele não está apresentando agora, é uma luta que ele vem tendo há muito tempo, é uma luta que ele teve durante oito anos lá na Câmara, com o Governo lutando com ele, a favor dele. O Governo Federal contra, à época do Fernando Henrique; o PSDB contra, à época do Fernando Henrique. Agora, o PT, durante oito anos, deu força total para a emenda do Paim. Tanto que o Paim diz o seguinte: “A minha emenda é o sonho do Lula”. O Lula, quando estava na oposição, quando era o Líder do PT, defendia com paixão a emenda do Paim porque era uma abertura, um respiro aos aposentados e pensionistas. E agora ele disse: “A minha emenda é o sonho do PT”. E agora querem votar contra? Eu, sinceramente, não entendo. Sempre se diz que a Câmara dos Deputados é mais avançada do que o Senado Federal, que o Senado é mais conservador. Eu acho, com toda sinceridade, que a Câmara dos Deputados vai aprovar.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu agradeço a participação, Pedro Simon.

Atentai para a diferença: no Parlamento do Império, dos reis, Pedro II vinha com humildade, deixava a coroa e o cetro do lado de fora para aprender com os Senadores da República. O Senado Federal é para isto: a experiência e o aconselhamento.

O Poder Executivo era o rei. Agora, os Ministros fazem é esculhambar. Botam o nome esculhambado, que, lá no Piauí, é esculhambar a gente. A gente faz uma lei, e somos irresponsáveis, somos demagogos, estamos mentindo, estamos enganando o povo. Eles vinham assistir.

Essa é a diferença, viu, Pedro Simon? Quando se convida uma Ministra para vir prestar esclarecimentos é um deus-nos-acuda, é uma confusão. Isso aqui é para quê? É para isso. Aqui, acabou. O Poder Moderador tem que ser aqui. No Império, o Poder Moderador era o imperador. Hoje, somos nós.

Ô Pedro Simon, eu fui prefeitinho. Todos os meus secretários iam à Câmara. Eu mesmo fui. Eu me lembro, Pedro Simon, quando eu era prefeitinho e fiz uma visita à Alemanha e à Espanha, a duas multinacionais. E aí, Pedro, na hora de tirar a diária - nunca tinha ido um Prefeito de Parnaíba ao exterior -, eu olhei e não tinha nenhuma diária em dólar, Eurípedes. Aí, eu olhei: rapaz, me dá essa aqui do Rio e São Paulo. É a mais cara, em dólar, é convite de duas multinacionais. E levei a minha mulher, ela era do serviço social. Rapaz, quando cheguei, Pedro Simon, ainda me lembro do Dr. Ariosto. Foi uma confusão! E ela era do serviço social. Aí eu disse: rapaz, eu levei mesmo e tirei. Foi pouco, porque naquele tempo o dólar era pesado, era R$4,00. Não dava, eu não podia dormir com a Dona Adalgisa debaixo da ponte, porque lá é frio. Agora, vocês deviam me chamar se eu tivesse levado a mulher dos outros, eu levei a minha. Quer dizer, lá a Câmara Municipal chama, a gente vai. Olha, na Assembléia Legislativa - quando governei, eu dava ordem -, todos os secretários vão, chamam, esclarecem. Aqui, vem Dilma, não vem Dilma, cacareja não cacareja, e tal, vai, viaja, não vem, volta. Que coisa natural, ô Pedro Simon!

Pedro Simon, quantos ministros V. Exª, nessa sua longa passagem por aqui, vão se igualar a Rui Barbosa na ética, na decência? V. Exª está empate com ele, só é questão de tempo, porque ele esteve 32 anos nesta Casa. E V. Exª tem quantos anos aqui?

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Estou aqui há 25 anos. E, se Deus não me tirar a vida antes, eu fico aqui 32 anos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Aí empatou com Rui Barbosa. Aí, na História do Brasil, vamos decidir quem foi maior: se Rui ou Pedro Simon.

Feliz do País que não conta só com um, que vai contar com dois exemplos. O que eu quero dizer é isso.

Então, Pedro Simon, V. Exª é franciscano como minha mãe - outro dia eu estava explicando: a afinidade minha com o Pedro Simon é mais pela minha mãe. A minha mãe era Terceira Franciscana...

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu vou lhe dizer uma coisa, Senador: V. Exª está tendo uma atuação fantástica nesta Casa, inovando, por exemplo, na Presidência do Senado. E V. Exª está sempre na Presidência do Senado, porque lá pelo fim todos os importantes vão embora, fica V. Exª, fico eu, fica o outro... V. Exª está inovando, fazendo com que sejam históricos os finais de reunião das sessões aqui do Senado. Mas eu vejo a profundidade do pronunciamento de V. Exª, e o que todo mundo me pergunta no Rio Grande do Sul é: “Mas, e o Mão Santa? Como é que é o Mão Santa?” Em primeiro lugar, eles querem saber por que é Mão Santa. E eu tenho que explicar, com muita tranqüilidade, que V. Exª é um médico muito famoso, um médico humanitário que operava, operava, operava, praticamente sem se preocupar com o que ganhava. E aí lhe colocaram na política, mas o nome Mão Santa não é do tempo de política, é do tempo de médico, e continua agora. Mas eu, quando vejo os pronunciamentos de V. Exª, a profundidade de V. Exª, eu digo a eles: “Olha, eu vejo o Mão Santa, cada semana ele está com dois, três livros dos melhores, de maior conteúdo - filosófico, político, psicológico - lendo, e tudo anotado”. Mas eu vou dizer a V. Exª uma coisa que eu ainda não tinha dito: no fundo, no fundo, o Mão Santa, o Prefeito, o Governador, o Senador, o intelectual, é fruto de todo esse estudo, mas, no fundo, está no berço, é sua mãe. Eu, lendo o livro que V. Exª me deu e que está no livro de honra da minha biblioteca...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - A Vida - um Hino de Amor, de minha mãe, publicado pela Vozes.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - E V. Exª me pediu...E, para mim, é um livro de honra, que eu li e reli. Parece que eu a estou vendo, ao lado de V. Exª, orientando e formando a sua personalidade; orientando as diretrizes, que, talvez, V. Exª nem se dê conta. Mas foram essas diretrizes, foi esse pensamento, foi esse conselho materno, foi essa orientação materna que fez com que V. Exª seja hoje o grande homem que é. Deve-se muito claramente às mil capacidades de V. Exª, mas, no fundo, se nós formos analisar onde é que começou, começou nos conselhos, no carinho e na santidade de vossa mãe.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu agradeço e incorporo as suas palavras. Apenas para encerrar, ali está Cristo. Quem mais se aproximou Dele foi Francisco, o Santo, que há 800 anos está aí. E ele disse, ó Mozarildo: “Onde houver erro, que eu leve a verdade”.

Presidente Luiz Inácio, nós estamos trazendo a verdade. V. Exª não deve ao FMI, não deve aos banqueiros - aliás, já pagou muitos juros -, mas V. Exª deve aos nossos velhinhos aposentados. Eu tinha pago primeiro os velhinhos aposentados e deixava o FMI, o Banco, e rolava, como diz o brasileiro, empurrava com a barriga. Mas, já em respeito a Pedro Simon, Terceiro Franciscano... E Cristo, Mozarildo, passou no mundo e disse: “Vinde a mim as criancinhas”. Que bela frase! Nós estamos sofrendo com o homicídio daquela criança. Mas, se Cristo viesse ao Brasil, ele diria: vinde a mim os velhinhos aposentados do Brasil, pois eles estão sofrendo muito. Foram enganados e roubados mesmo pelo Governo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2008 - Página 10874