Discurso durante a 62ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Transcurso de 60 anos de criação do 35 CGT - Centro de Tradições Gaúchas. (como Líder)

Autor
Sérgio Zambiasi (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RS)
Nome completo: Sérgio Pedro Zambiasi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Transcurso de 60 anos de criação do 35 CGT - Centro de Tradições Gaúchas. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2008 - Página 10892
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ENTIDADE, TRADIÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), COMEMORAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ELOGIO, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, SAUDAÇÃO, PERSONAGEM ILUSTRE, FUNDADOR, EXPANSÃO, DIVULGAÇÃO, CULTURA, TERRITORIO NACIONAL, CRIAÇÃO, MOVIMENTAÇÃO, MODELO, ORGANIZAÇÃO, VALORIZAÇÃO, HISTORIA, REVOLUÇÃO, LEITURA, TRECHO, OBRA ARTISTICA.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente Mozarildo Cavalcanti.

Ocupo este espaço da liderança partidária para fazer uma homenagem muito singela, mas muito justa, muito especial, pela passagem do aniversário de 60 anos do “35 CGT” (Centro de Tradições Gaúchas), lá em Porto Alegre, fato que foi celebrado festivamente e comemorado ontem, dia 24.

Uma das mais belas instituições da cultura do povo gaúcho, o “35” foi fundado por um dos símbolos vivos do tradicionalismo gaúcho, o folclorista e homem cuja figura, inclusive, inspirou a conhecida Estátua do Laçador, em Porto Alegre, o nosso querido, o nosso grande Paixão Côrtes.

O “35” foi como uma semente que frutificou nos quatro cantos do mundo, solidificando o conceito de que tradicionalismo é mais que um movimento, mas um organismo social de natureza nativista, cívica, cultural, literária, artística e folclórica.

Hoje, os CTGs estão espalhados em todos os continentes e somam mais de três mil por todo o Brasil, sendo metade no Rio Grande do Sul e mais de uma dezena em vários países do mundo.

Este verdadeiro culto à história de um Estado e de seu povo começou quando os fundadores do “35”, a maioria jovens estudantes vindos do interior para a capital, Porto Alegre, procuraram criar um espaço onde pudessem reviver suas origens do campo, impedindo, assim, a deterioração de uma entidade cultural que a vida urbana por vezes parecia tornar inevitável.

A importância do “35” no contexto do Movimento Tradicionalista Gaúcho não está apenas por ter sido a primeira entidade a ser criada, até porque muitas outras lhe antecederam na história, mas sim pelo modelo apresentado, o que levou ao desenvolvimento de um movimento social, tradicionalista, de forma organizada, do qual muito se espera, dentro e além fronteiras do Rio Grande do Sul e, acima de tudo, forjando um movimento que não apenas representasse o resgate do passado, mas contemplasse igualmente sua natureza nativista, cívica, cultural, literária, artística e folclórica.

Dentro deste momento histórico é que surge a criação da Ronda Crioula, evento que antecedia a comemoração do 20 de Setembro, data máxima do Rio Grande do Sul por marcar a eclosão do movimento histórico e épico que é a Revolução Farroupilha.

Aquele grupo de jovens liderados por Paixão Côrtes procura, então, a Liga de Defesa Nacional pedindo para associar-se aos festejos, propondo, então, que uma centelha do “Fogo Simbólico da Pátria” fosse retirada para transformá-la na “Chama Crioula”, símbolo da união indissolúvel do Rio Grande do Sul à Pátria brasileira e desejo de que a mesma aquecesse o coração de todos os gaúchos e brasileiros desde a Data da Pátria, 7 de Setembro, até a maior Data Gaúcha, 20 de Setembro.

No dia 7 de setembro de 1947, Paixão Côrtes, convidado a “presidir” o traslado dos restos mortais do herói farroupilha David Canabarro de Santana do Livramento para Porto Alegre, reuniu um piquete de oito gaúchos bem pilchados para conduzir o cortejo. Os jovens estudantes carregavam as bandeiras do Brasil, do Rio Grande do Sul e do Colégio Júlio de Castilhos e, desde então, passou a ser conhecido como o Grupo dos Oito, ou o Piquete da Tradição, plantando a primeira semente que iria frutificar no ano seguinte com a criação do “35 CTG” - é claro, rememorando o épico ano de 1835 da Revolução Farroupilha - e, mais tarde, do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Entre esses pioneiros estavam Antônio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilso Araújo Campos, Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e o líder João Carlos Paixão Côrtes. Mas a repercussão do trabalho logo, logo foi somando outros nomes importantes do tradicionalismo gaúcho, entre os quais podemos citar Barbosa Lessa, Wilmar Santana, Glaucus Saraiva, Flávio Krebs, Ivo Sanguinetti e tantos outros.

A adesão de Barbosa Lessa ao movimento é interessante de ser registrada. Poeta e músico, aquele que viria a tornar-se, junto com Paixão Côrtes, um dos principais nomes do nosso movimento tradicionalista, Lessa despertou para o movimento quando presenciou a passagem da guarda à Canabarro. Tratou, então, de saber quem eram aqueles que ali estavam, descobrindo que eram colegas do “Julinho” - a Escola Estadual Júlio de Castilho, aqui já referida, uma das mais tradicionais de Porto Alegre. Dois dias após, quando a Chama Crioula chegou ao “Julinho”, lá estava Barbosa Lessa como um dos participantes e organizadores da 1ª Ronda Crioula.

Paixão Côrtes é um personagem decisivo da cultura gaúcha e do movimento tradicionalista no Rio Grande do Sul, do qual foi um dos formuladores, juntamente com Luiz Carlos Barbosa Lessa e Glauco Saraiva. Juntos, partiram para a pesquisa de campo, viajando pelo interior, para recuperar traços da cultura do Rio Grande.

Os jovens de 1947 e 1948 sabiam o que queriam e, após a consolidação da fundação, partiram para a escolha do nome que representaria os objetivos que os animava. Surgiram oito propostas, todas em homenagem a 1835, data de início da Revolução Farroupilha. Barbosa Lessa, que ficara calado, sugeriu: “Os 35 - Centro de Tradições Gaúchas”, decidindo-se que ficaria somente “35 - Centro de Tradições Gaúchas”.

Pois são de um desses pioneiros, justamente o poeta Barbosa Lessa, as palavras ao mesmo tempo singelas e significativas com as quais eu gostaria de encerrar este breve pronunciamento de reconhecimento e admiração por esses homens e sua história e pela história da terra em que nasci, da nossa cultura, do nosso movimento cultural e desse tradicionalismo que preserva, realmente, um sentimento pátrio muito especial.

Parece-me que hoje as fronteiras estão sendo um dos grandes temas do nosso plenário.

O Senador Simon abordou intensamente essa questão. O primeiro pronunciamento do dia foi meu e também comentei a questão das nossas fronteiras e, mais uma vez, agora aqui, homenageando o nosso “35 - Centro Tradições Gaúchas”, encontro mais uma razão para lembrar a importância, Senador Cristovam Buarque, de se falar em fronteiras, de se debaterem as fronteiras, de se conhecerem fronteiras. O Brasil tem 15,7 mil quilômetros de fronteiras, e nós praticamente não as conhecemos. Acho que é hora de as conhecermos um pouco melhor e de trabalharmos pela integração das nossas fronteiras com os países vizinhos, irmãos, ajudando-os no desenvolvimento e não insistindo em leis anacrônicas, leis antiquadas, leis superadas que acabam dificultando o próprio convívio natural entre os nossos povos.

Eu falava exatamente de Barbosa Lessa, que escreveu o Hino Tradicionalista gaúcho do “35”. A simplicidade de Barbosa Lessa revela também, em versos bonitos, versos verdadeiros, versos gaúchos, versos da nossa história, a simplicidade da alma gaúcha:

Eu agradeço à Salamanca do Jarau [a Salamanca é uma caverna, no alto de um serro chamado Jarau, lá na fronteira com o Uruguai, uma gruta mágica, que recebeu esse nome dos nossos espanhóis] por me ensinar o que aprendeu do “Velho” Blau [Blau dá para dizer que é o primeiro filho gaúcho, filho de uma índia charrua neto, dos índios charrua que povoavam as nossas terras das nossas fronteiras com a Argentina e o Uruguai]:

com alma forte e sereno coração

achei meu rumo para sair da escuridão.

Vi uma luz que se tornou fogo-de-chão,

sorvi a luz no ritual do chimarrão,

e hoje sei o que é a Cordialidade

que nos conduz à real felicidade.

Avante, cavaleiro mirim!

Em frente, veterano peão!

Lado a lado, prenda e prendinha,

todos juntos dando a mão.

Avante, seguindo os avós!

Em frente, trazendo os piás!

Coisa linda é se ver gerações

Convivendo em santa paz.

E dá uma gana de sair dançando,

Ou gritando com força juvenil:

Viva a Tradição Gaúcha

Dos campeiros do Brasil!

Sr. Presidente Mozarildo Cavalcanti, colegas Senadoras e Senadores, com esta pequena homenagem ao 35 CTG, quero aqui reafirmar minha admiração pela história da nossa terra e do inquestionável, mas por vezes incompreendido, sentimento de brasilidade de todos os gaúchos e gaúchas.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2008 - Página 10892