Discurso durante a 74ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos 120 Anos da promulgação da Lei Áurea no Brasil e da Abolição da Escravatura.

Autor
Rosalba Ciarlini (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: Rosalba Ciarlini Rosado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 120 Anos da promulgação da Lei Áurea no Brasil e da Abolição da Escravatura.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2008 - Página 13811
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, LEGISLAÇÃO, ABOLIÇÃO, ESCRAVATURA, IMPORTANCIA, MEMORIA NACIONAL, ATENÇÃO, PROCESSO, LUTA, PARTICIPAÇÃO, VULTO HISTORICO, SOCIEDADE CIVIL, MAÇONARIA, REGISTRO, HISTORIA, MUNICIPIO, MOSSORO (RN), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), PIONEIRO, LIBERDADE, ESCRAVO, ATUALIDADE, REALIZAÇÃO, FESTA, ESPETACULO, TEATRO, COMEMORAÇÃO, DATA.
  • CONCLAMAÇÃO, CONTINUAÇÃO, LUTA, LIBERDADE, DIGNIDADE, DIREITOS HUMANOS.

A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Exmº Sr. Cristovam Buarque, que preside os trabalhos; Senador Paulo Paim, que subscreveu o requerimento de realização desta sessão solene; Reitor José Vicente, da Universidade dos Palmares; Sr. Carlos Moura, Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; Frei David; Srª Elisa Lucinda, que nos encanta com a sua poesia e com a sua arte; Srªs e Srs. Senadores; convidados; minhas senhoras e meus senhores; nenhum povo será forte, nenhuma nação construirá um grande futuro sem reverenciar, rememorar e refletir os fatos que marcaram a sua história.

O 13 de maio de 1888, da Princesa Isabel, a Redentora, é o 13 de maio da doação da liberdade. É o 13 de maio da vitória-cidadã de um povo.

Foi o coroamento da luta que pôs fim a mais de 300 anos de escravidão, que rompeu as correntes que aprisionaram em três séculos mais de três milhões e 600 mil negros africanos que, segundo o historiador Afonso Taunay, com menor margem de erro, lá em meados do século XVIII, chegou a superar a população livre. No ano de 1660, eram 74 mil brancos para uma população de 110 mil negros.

Luta de Resistência, iniciada em 1575, quando, na Bahia, foram notícia as primeiras fugas de escravos, que, desde então, se intensificaram, formando os refugiados seus acampamentos, os “quilombos”, dos quais o de Palmares, o mais conhecido, liderado por Zumbi, chegou a abrigar mais de vinte mil fugitivos escravos.

A Lei Áurea foi o coroamento da luta solidária, que teve voz nas maçonarias, nos clubes, nos jornais, nos cafés, chegando às tribunas da Câmara e do Senado e estendendo-se à população.

Foi a maçonaria, Sr. Presidente, que, através da Loja Maçônica 24 de Junho, na minha Mossoró, no meu Rio Grande do Norte, abraçou a causa abolicionista, que o povo defendeu com entusiasmo, formando a Sociedade Libertadora Mossoroense, liderada por Joaquim Bezerra Mendes, e que, em 30 de setembro de 1883 - portanto, quase cinco anos antes da Lei Áurea -, proclamou a abolição da escravatura.

Em um telegrama, Senador Mozarildo, o nosso Senador maçom, em um telegrama ao Imperador afirmara: “Senhor Imperador, Mossoró está livre. Aqui não há mais escravos!”

E, assim, Mossoró se fez a primeira cidade a libertar seus escravos, demonstrando o espírito pioneiro do Rio Grande do Norte. Seu exemplo foi seguido por Açu, em 1885, e pelas cidades de Caraúbas e Triunfo, em 1887, já tendo, em 1884, o movimento abolicionista se expandido pelo Ceará, sendo Redenção a pioneira cidade cearense a abolir a escravatura, e daí seguindo pelo Brasil afora.

O 30 de setembro de 1883, Dia da Liberdade, é celebrado em nossa cidade como data magna, a data maior.

Aos festejos que ocorrem todos os meses de setembro, foi acrescido um grande espetáculo teatral ao ar livre: O Auto da Liberdade, o maior do País, envolve um elenco, entre artistas e figurantes, que já chegou a dois mil participantes, participantes de toda a cidade, das escolas, das universidades, das associações, dos conselhos comunitários, da maçonaria e clubes de serviço. Que já foi dirigido por grandes nomes do teatro brasileiro, como Amir Haddad, Gabriel Vilela, Fernando Bicudo e no norte-rio-grandense João Marcelino.

Iniciado no período que administrei a cidade, o espetáculo continua, a cada ano, revivendo a história para que as novas gerações de hoje e do amanhã jamais se esqueçam de valorizar e defender a liberdade.

A Abolição foi luta da liberdade que motivou o líder abolicionista Joaquim Nabuco, seguido pela grande maioria da Câmara dos Deputados e do Senado, que, em tempo recorde - apenas dois dias, Srªs e Srs. Senadores - votou e aprovou a Lei João Alfredo, conhecida como Lei Áurea.

Luta de liberdade que Castro Alves cantou nos seus versos abolicionistas; que entusiasmou Rui Barbosa e os ilustres negros José do Patrocínio, André Rebouças, Tobias Barreto e Luís Gama (símbolo abolicionista de São Paulo), entre tantos outros.

Srªs e Srs. Senadores, ouviu-se o clamor da Liberdade. Há 120 anos se fez a abolição. E cabe a todos nós jamais deixar calar os seus ecos.

            Em 1884, antes da Lei Áurea, já dizia o nobre Joaquim Nabuco: “Acabar com a escravidão não nos basta. É preciso destruir a alma da escravidão!” Portanto, não podemos arrefecer a luta libertária. Hoje, a nossa luta é por novas liberdades.

Liberdade que passa, Sr. Presidente, Senador Cristovam, pelos caminhos da educação, com ensino de qualidade, inclusão social pelo conhecimento, no combate ao analfabetismo, a ignorância que escraviza e nega as oportunidades do grande futuro das nossas crianças de jovens.

Liberdade pelo direito ao trabalho digno. “Liberdade sem o trabalho não pode salvar este País da bancarrota social nem tampouco merece o nome liberdade: é escravidão da miséria, palavras de Joaquim Nabuco.

Liberdade na luta pelo direito à saúde. Quantos hoje se sentem escravizados ao lhes serem negados o remédio, a consulta, os cuidados à sua saúde, a defesa da vida?

Liberdade da paz no combate à violência e à impunidade.

Liberdade na defesa da ética e moral na política, no trato e zelo das questões públicas.

Liberdade que se constrói na defesa dos direitos da criança, do adolescente, na luta das mulheres por igualdade, no respeito aos da 3ª idade.

Liberdade no combate a qualquer tipo de discriminação e preconceito.

Liberdade que construímos com justiça social, no campo e na cidade.

Liberdade que construímos, não com a consciência branca nem tampouco somente negra, nem tampouco parda ou amarela, mas com a consciência igual, de todos, de todas as cores, como é o povo brasileiro.

            “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós, e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz...”. É o refrão do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense, de 1989, a nos recordar sempre o nosso glorioso passado de 13 de maio de 1888, e que seja inspiração constante para o presente e o futuro do nosso Brasil.

Viva a liberdade!

Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/05/2008 - Página 13811