Discurso durante a 74ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos 120 Anos da promulgação da Lei Áurea no Brasil e da Abolição da Escravatura.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 120 Anos da promulgação da Lei Áurea no Brasil e da Abolição da Escravatura.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2008 - Página 13847
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, LEGISLAÇÃO, ABOLIÇÃO, ESCRAVATURA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Paim, serei bem breve.

Senador Paulo Paim, há tantas autoridades ilustres que eu poderia esquecer algum nome, o que, mesmo sendo involuntariamente, seria imperdoável. Assim, parlamentares presentes, encantadoras senhoras, meus senhores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação, Senador Paim, quero saudar a todos na pessoa de V. Exª. V. Exª, para nós do Brasil, é o nosso Martin Luther King. (Palmas.)

Professor Cristovam, tem-se que ter sinceridade para falar. Eu, em nenhum momento, vivi o que é preconceito. Nunca tive, não tenho e não vou ter.

Vou dizer por que, professor Cristovam. Professor... Olha, só o professor é chamado de mestre. Não se chama o presidente de mestre; não se chama o banqueiro de mestre, senador, empresário rico; só professor. Igual a Cristo, o Mestre.

O melhor professor da minha cidade, onde nasceu Evandro Lins e Silva, onde nasceu João Paulo dos Reis Velloso, o melhor Ministro da história deste País - fez o I PND, foi o farol e a luz do período revolucionário -, o melhor professor da minha cidade era assim, simpático como o Eurípedes - só tinha uns quilinhos a mais, o Eurípedes está meio magro -, era o professor José Rodrigues da Silva.

Naquele meu tempo, Cristovam, a educação era boa; tinha um tal de exame de admissão, que eu não sei como se acabou. O exame de admissão era uma das coisas do Brasil. Está aí, Cristovam: a gente fazia; se não passava, tinha uma tal de segunda época, mas a gente sabia escrever.

Meu pai também era professor, de matemática. O professor José Rodrigues era de português. Olha, estudei muito, fiz um bocado de cursos por aí - Medicina, pós-graduação, depois na Fundação Getúlio Vargas -, mas esse professor José Rodrigues não me sai da mente. No exame de admissão, estava elegante, de branco - os professores eram elegantes mesmo! Eu me lembro do meu pai, dos colegas, do inspetor de ensino -, aí, ele olhou assim e, como era amigo do meu pai, disse - tinha ditado, não tinha um ditado? - puxou: “Vou botar ‘Meu Pai, escrito por Humberto de Campos’, na dissertação e tudo.

Mas quero dizer que, aos onze, aos dez anos e meio, se fazia exame de admissão - já tinha isso. Mas a imagem... Sou o caçula. A minha irmã, que é hoje professora, Maria Cristina, o meu irmão Paulo, que você conhece, a minha irmã Ieda, todos já tinham estudado com o professor José Rodrigues e ele era como o Paim aqui: todo mundo admira, todo mundo respeita e todo mundo segue.

E vou contar um fato, porque isso já foi. O Jornal do Senado tem toda a história, todo mundo sabe isso aqui, que fomos retardatários na independência, fomos o último país. Todo mundo sabe, e isso está bem escrito, não sei de quem foi a idéia de o Jornal do Senado reviver.

E, esse negócio de liberdade, a gente não devia nem, Suplicy... Por que isso? Olha que Deus deu o recado. Ungiu um líder: “Vá libertar o meu povo!”. Aí, Moisés tomou coragem, não quis saber das dificuldades, se tinha faraó, se tinha exército de faraó, se tinha Mar Vermelho, se tinha seca, fome, bezerro de ouro. Ele foi libertá-lo. Então, esse conceito de liberdade é muito anterior, é de Deus, é divino. Não tem mais. Nós fomos retardatários, o que nos envergonha.

Mas voltaria à minha cidade. Quando João Paulo dos Reis Velloso era Ministro, eu era Deputado Estadual, bem novinho, e o Governador do Estado, que foi Senador, era Lucídio Portella, irmão de Petrônio Portella. Conhece, Suplicy? Era austero, e eu era o vice-líder. A cidade toda foi buscar o filho-ministro, João Paulo dos Reis Velloso. Formou-se uma passeata, mais ou menos às 10h30, pois ele ia ver uma ponte que nos liga, o Piauí, ao Maranhão, Rio Parnaíba e tal. Aí, Paim, eu ia conversando, Deputado novo, com o Governador e, de repente, João Paulo dos Reis Velloso - que guiou, que iluminou a revolução, em 15, 20 anos de mando, nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade, nenhuma corrupção. Ainda hoje vai ter um fórum nacional, o Presidente Luiz Inácio vai... - de repente, Suplicy, ele disse: “Pára! Pára! Pára!” Eu fiquei assim... Um bocado de carro, a cidade toda tinha ido buscar o filho-ministro... Era a casa do Professor José Rodrigues. Aí, ele parou, ficou todo mundo - às 10h30 no Piauí o sol é forte, a gente é forte, o povo -, e eu o acompanhei. Aí, eu vi a gratidão, o respeito a esse professor. Foi ele que foi a luz, que deu encaminhamento a esses Reis Velloso. Todos são de grande família.

            Então, é isso que eu quero dizer. Esses foram grandes. O maior daqui foi Nabuco. Daí, temos que compreender a grandeza disso. Atentai bem! Nabuco, Suplicy, ficou solitário aqui, solitário para defender as liberdades dos negros. Essa é a oposição que Rui Barbosa soube fazer quando os militares ganharam a República e quiseram continuar. Suplicy, ofereceram o cofre, o Ministério da Fazenda, e ele disse: “Não troco as trouxas de minhas convicções pelo Ministério”. Essa é a oposição que nós estamos fazendo aqui.

Paim sofre mais do que Nabuco! Olha que ele não está aí solitário, porque nós, independentes, o estamos apoiando; nós, independentes, tentamos resgatar uma vergonha tão grande e tão imoral, como foi resgatada a liberdade dos negros: os velhinhos aposentados estão sendo roubados no nosso Governo e no nosso País! A lei foi feita. Eles pagaram por dez salários mínimos e estão recebendo quatro. Eles pagaram por cinco, com contrato, para, na sua velhice, terem liberdade, tranqüilidade e dignidade, mas estão lhes pagando dois, ô Suplicy!

Está aí o Nabuco, que foi tão solitário, que ele não... É diferente. O Paim está mais ungido por Deus. Ele foi por Pernambuco. Os poderosos eram contra ele, e ele não se rendeu. Ele foi grande na Inglaterra quando escreveu o livro O Abolicionismo, que irradiou. Foi respeitado no Chile, em Portugal, na França. O livro fez os cearenses libertarem os escravos antes de todos. Um jangadeiro, apelidado de Dragão do Mar, Francisco Nascimento, fazia greve de não trazer os escravos dos navios grandes para a praia nas pequenas embarcações. Mas eles cumpriram, os Nabuco, e dão coragem à nossa luta.

A liberdade que Deus determinou a Moisés foi conseguida. Agora, nós precisamos da igualdade e da fraternidade. Essa é a nossa luta. E a igualdade - está aí o professor -, nós só vamos ter igualdade quando oferecermos aos nossos irmãos o saber. Alguém disse antes de mim - Sócrates - que só tem um grande bem, o saber; e só tem um grande mal, a ignorância.

Professor Cristovam, então, para sermos decantados, nós temos de garantir a liberdade. E a liberdade já foi; eles já a fizeram. Nós temos de garantir a igualdade e a fraternidade de todos.

Que entendamos: esta Pátria, como disse Rui, não é ninguém, somos todos nós, é a família amplificada. Que aqui não se fale em negro, índio, branco e oriental. Só se fale em brasileiras e brasileiros.

A Pátria é essa família amplificada! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/05/2008 - Página 13847