Discurso durante a 78ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à gestão da saúde no Governo Lula.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Críticas à gestão da saúde no Governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 16/05/2008 - Página 14693
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • COMENTARIO, APOIO, POPULAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EFICACIA, PROGRAMA ASSISTENCIAL, GOVERNO, POLITICA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, INCOERENCIA, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS).
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SUSPENSÃO, CIRURGIA, HOSPITAL, MOTIVO, FALTA, MATERIAL HOSPITALAR, LEITURA, TRECHO, DECLARAÇÃO, DIRETORIA, PACIENTE, MEDICO RESIDENTE, DESCRIÇÃO, PRECARIEDADE, ASSISTENCIA MEDICA, DETALHAMENTO, ORADOR, SITUAÇÃO, DEPREDAÇÃO, COMPARAÇÃO, ANTERIORIDADE, PERIODO.
  • DESCRIÇÃO, SITUAÇÃO, HOSPITAL, ESTADO DO PIAUI (PI), FECHAMENTO, PRONTO SOCORRO.
  • CRITICA, INSUFICIENCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO, COMBATE, DOENÇA ENDEMICA, AEDES AEGYPTI, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SUPERIORIDADE, NUMERO, DOENTE, MORTE, DEFESA, APROVAÇÃO, LEGISLAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, FINANCIAMENTO, SAUDE.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que preside essa sessão de 15 de maio. Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros que nos assistem aqui pelo sistema de comunicação; Paim, V. Exª está trabalhando muito. Hoje cedo, cedo, cedo, V. Exª presidia uma das reuniões mais belas da Comissão de Direitos Humanos, que V. Exª, num momento de inspiração divina, criou, e está aqui presidindo às 18h14min.

Paim, esta Casa é fundamental. Olha, ninguém pode contestar que o nosso Presidente tem uma simpatia, tem uma empatia, tem um carisma, se comunica, e entendo que seja generoso pelos programas. Mas tem que se levar a verdade. O próprio Cristo, quando Ele falava, dizia: “Em verdade em verdade eu vos digo”. Então, Senador Paulo Paim, V. Exª tem mostrado a verdade. Quando começamos, fomos eleitos Senadores juntos. Eu já o conhecia de fama pelas defesas que V. Exª tinha feito, que atingia todos os trabalhadores do Brasil e do meu Piauí pela luta pelo salário mínimo. Logo chegando aqui, apresentei-me para lutarmos juntos e sob o seu comando.

Acho que foi... Digo ao Luiz Inácio... Aliás, não quero mais nada. Deus já foi tão bom para mim, e o povo do Piauí. Estou com sessenta e cinco anos. Entendo que o Presidente Lula, Luiz Inácio, deveria agradecer a V. Exª. O mais importante que houve aí foi essa distribuição de renda pelo salário mínimo. Foi isso. Nós sonhávamos. Era um sonho. Era igual ao de Martin Luther King o nosso sonho. Eram US$70. O Paim sonhava, e eu sonhava com S. Exª. Cem dólares eram um sonho. Era um sonho! Por isso, chamo V. Exª de Martin Luther King. Passou dos cem, dobrou, e estamos aí. Entendo, Luiz Inácio, que foi o mais importante do Governo de Vossa Excelência. Essa é a verdadeira distribuição de renda.

E valorizou o trabalho. Rui já havia nos inspirado. "A primazia é do trabalho e do trabalhador". Eles vieram antes. Fizeram a riqueza, o capital, os banqueiros. Outros fatos foram importantes. A caridade do Programa Bolsa Escola não vou negar. Eu mesmo, quando governei o Estado, criei o Luz Santa. Quem gastava até 30 quilowatts não pagava. Era um serviço social. Restaurante Sopa na Mão. Fui eu que fiz, no Brasil, os primeiros restaurantes populares. Enchemos as cidades piauienses. Sopa na Mão.

Programas sociais tivemos. Então, aceitamos os programas sociais do Presidente Luiz Inácio. Mas, naquilo que entendemos, na saúde, como todos sabemos, o Sistema Único de Saúde - SUS foi uma grande inspiração, mas vai muito mal, Paim. A saúde só está boa para nós, Senadores, ou para quem tem plano bom como o do Senado. De quando em quando, chega um perguntando “Você não quer ir para São Paulo? Não quer fazer exames?” Nós temos essas garantias. Para quem tem plano de saúde ou para quem tem dinheiro, o padrão médico do Brasil é muito bom; mas está ruim, muito ruim, Paim.

Luiz Inácio, eu me formei em Medicina em 1966. Sou médico há 42 anos. Está muito difícil atuar na Medicina. Tenho aqui o Jornal do Brasil de hoje. Não sei, Paim, como está a vida dele, de trabalho, de operário orgulhoso do exemplo da família.

Paim, eu ia ao Rio de Janeiro e passava por um tal hospital que conhecíamos como Hospital do Fundão. Paim, eu sonhava em fazer medicina nesse hospital, que era igual a esses prédios novos de Brasília. Mas eu era do Piauí e fiquei fazendo medicina no Ceará. Depois fui fazer pós-graduação no Rio de Janeiro, no Hospital do Servidor do Estado, um hospital federal.

Vi o Hospital do Fundão daquela época e vejo o de agora, porque ele está no caminho do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, do Galeão. Paim, a gente passa por lá e vê que falta janela, falta porta. Está todo desgastado. Em minha mocidade, eu sonhava em trabalhar no Hospital do Fundão.

Paim, está aqui o Jornal do Brasil. Vamos ler a matéria: “... cirurgias e transplantes suspensos pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho” - o nome vulgar é Hospital do Fundão - “por falta de material hospitalar para o procedimento cirúrgico...” Cirurgias e transplantes suspensos pelo Hospital Universitário Clementino Fraga, o Hospital do Fundão.

Isso no Rio de Janeiro, Senador José Maranhão! Isso no Hospital do Fundão, onde sonhei estudar, onde sonhei ser médico, onde sonhei viver. Aquele sonho de Martin Luther King... O Hospital do Fundão era o símbolo da grandeza, José Maranhão. O Hospital do Fundão está no caminho do Galeão. Sei que o Senador José Maranhão gosta de avião, que sabe pilotar avião. Pois parecia que as janelas desse hospital tinham caído e não tinham sido repostas, quebradas. Olhem a tristeza do que era um sonho! Isso no Rio de Janeiro! Na Cidade Maravilhosa! Cidade de que o meu amigo Sérgio Cabral é, hoje, o filho político predileto do Presidente Luiz Inácio.

Está aqui: “...cirurgias e transplantes suspensos pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) por falta de material hospitalar para o procedimento cirúrgico”.

Vejam o que diz a direção:

Estamos no compasso de espera, nos reajustando internamente para que possamos voltar a realizar as cirurgias. Ainda é cedo para falar, mas é possível que em 15 ou 20 dias retomemos nossas atividades. [...] O plano operativo anual não fixou reajuste para os procedimentos de média complexidade.

Cirurgias e transplantes suspensos no Hospital do Fundão, no Rio de Janeiro. E o resto, José Maranhão? E como estão as cidadezinhas interioranas da sua Paraíba e do meu Piauí? Aquilo era um hospital modelo, um sonho.

Vai mais.

           Entre os procedimentos cancelados estão os transplantes de órgãos e tecidos, novas internações cirúrgicas eletivas, transferência de pacientes de outras unidades de saúde, consultas de primeira vez - só estão consultando os clientes antigos, porque já estão... Se você chegar lá, Paim, não tem direito a se consultar - (...) os demais procedimentos precisam de avaliação prévia da divisão médica.

           Veja o que dizem os pacientes, Senador José Maranhão:

           Pacientes e familiares que buscam o serviço do hospital estão preocupados com o cancelamento das atividades. Ciente de que é delicado o estado de saúde de seu pai, o aposentado Sebastião de Paula, de 73 anos, o militar Joanatan de Paula está revoltado com a situação da unidade federal.

           Meu pai tem aneurisma nas duas pernas e precisa de uma operação urgente. Em nove dias de internação já cancelaram a operação duas vezes e agora ele foi encaminhado para casa - disse o militar angustiado. A situação dele é uma bomba relógio, não dá para ficar esperando em casa.

           Até mesmo a coleta de sangue foi suspensa. A sensação de frustração para quem depende do atendimento público é grande.

           Outro paciente:

           Minha mãe faz hemodiálise três vezes na semana. Hoje, fui marcar um exame de sangue que a médica pediu e disseram que não tem material para fazer - declarou a técnica de enfermagem Tatiana Gonçalves.

           Hemodiálise, Paim!

           Senador José Maranhão, é o jeitinho brasileiro. Hemodiálise se faz quatro vezes por semana, mas já estão diminuindo. Estão fazendo é de três, é de duas. A sessão é de quatro horas, mas já estão diminuindo para três, para duas horas, não dando uma resposta terapêutica como prevê a Medicina para essa deficiência.

           Isto, Presidente Luiz Inácio, no Rio de Janeiro. Repare, Presidente, já que tem ido tanto lá, pois é no caminho do Galeão. É uma vergonha! O Boris Casoy voltou à televisão, não voltou? Pois, Boris Casoy, diga “isto é uma vergonha!”

           Continuo a leitura:

           - Perguntei qual o material necessário para comprar que ela pudesse fazer o exame, mas ninguém soube me responder.

           Não há ninguém para informar. Não há nem funcionários. No Rio de Janeiro, no hospital modelo, padrão, onde eu sonhei estudar, onde sonhei trabalhar. Pois ele está desse jeito.

           Prossigo:

           Crise atinge o ensino

           Por ser um hospital universitário a oferta de estudantes na unidade é muito grande, mas muitos residentes do hospital estão preocupados com o prejuízo que a crise pode levar a suas formações acadêmicas.

           Sem ter como acompanhar cirurgias e outros procedimentos, a única opção para muitos deles é ir para a biblioteca estudar.

           - Nosso aprendizado gira em função dos pacientes e com o hospital vazio não temos substrato para trabalhar, reclamou Márcio Garrison Dytz, há quatro meses residente no hospital.

           Senador José Maranhão, quem diz isso é um médico residente. Eu fui médico residente. Não é a Oposição que está falando isso, mas um médico que sonhou aprender nesse hospital.

           E denuncia aquele médico residente:

           Nosso tempo aqui é limitado e esses problemas atrapalham nosso aprendizado.

           Segue a matéria:

           Residente em clínica médica, Luciana Rego também lamenta a crise do hospital

           - É muito triste ver uma instituição de excelência como esta nessa situação. Para nós é uma perda muito grande, principalmente nas áreas mais práticas.

           Jornal do Brasil. Depoimentos de médicos, diretores de hospital, estudantes, médicos residentes e clientes.

           Entendo que a maior autoridade de um hospital, Luiz Inácio, é o doente. E o doente perdeu sua esperança. Isso no Rio de Janeiro!

           No meu Piauí, inauguraram, com muita festa, um hospital cuja construção foi iniciada em 1991, há dezessete anos, mas fecharam o pronto-socorro do Hospital Getúlio Vargas. Quer dizer, é trocar seis por meia dúzia. É como você, no Rio de Janeiro, criar um hospital de urgência e fechar o Miguel Couto. E essa é a realidade.

           Presidente Luiz Inácio, atentai bem! Medicina hospitalar, Rio de Janeiro... “Dengue: número de mortos na cidade” [já tivemos janeiro, fevereiro, março, abril e maio, está aqui o jornal] já superou o maior número de mortos de dengue e o maior número de casos de toda a história de 2002. Quer dizer, esta é a realidade.

           Paim, aprendi. Eu nunca vi um provérbio, um ditado, uma sabedoria popular falhar. Nunca! Até na Bíblia há os provérbios de Salomão. E há um que diz assim: “É mais fácil você tapar o sol com a peneira do que esconder a verdade”. Aqui está a verdade. Hospital mais majestoso que foi do Brasil, sonho de minha mocidade - está aqui o depoimento... E uma doença, uma doença, que, no início do Século XX, um cientista, Oswaldo Cruz, venceu, acabou, afastou... Souberam vencer um mosquitinho, e, agora, nós estamos derrotados por causa da dengue e da malária.

           Então, essas são as nossas palavras. Mas eu as trouxe aqui, Luiz Inácio, para que Vossa Excelência nunca mais diga que a saúde, no nosso Brasil, está chegando às raias da perfeição. Isso é gozação! Vossa Excelência tem grande simpatia, empatia, carisma, se comunica com o povo, mas faça como Cristo que, quando fala, diz: “em verdade, em verdade, eu vos digo”. E de verdade, de verdade eu vos digo: aqui é no Rio de Janeiro, mas no meu Piauí está pior quem todos os Estados, quem todas as condições dos pobres.

           Então, Presidente Luiz Inácio, viemos aqui pedir uma atenção especial: atenda o nosso Tião Viana, com a Emenda nº 29, que aprovamos aqui. São recursos para a saúde. Os aloprados estão dizendo que não vai passar na Câmara Federal, que vão vetar. Atenda ao apelo, ao reclamo, à luta de Paim, para afastar a nossa nódoa e a nossa vergonha de nos apossarmos do salário de aposentadoria dos nossos velhos, idosos!

           É isso, Luiz Inácio. Nós estamos aqui e voltaremos. Nós votamos em Vossa Excelência em 1994. Deixamos a companhia de Vossa Excelência porque Vossa Excelência deixou de ouvir Paulo Paim e Tião Viana e foi ouvir os aloprados.

           Então, trazemos a verdade. Um estadista mexicano, o General Obregón, disse - está escrito no Palácio de Governo do México: “Prefiro um adversário que me leve à verdade a um aliado puxa-saco que me engane”.

           Vossa Excelência está no meio dos enganadores. Ouça Paulo Paim e Tião, e vamos melhorar o nosso Brasil!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/05/2008 - Página 14693