Discurso durante a 84ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro do falecimento do Senador Jefferson Péres, do Estado do Amazonas.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro do falecimento do Senador Jefferson Péres, do Estado do Amazonas.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2008 - Página 16399
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, INTEGRIDADE, VIDA PUBLICA.
  • COMENTARIO, GESTÃO, ORADOR, GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), CONCESSÃO, COMENDA, HOMENAGEM, JEFFERSON PERES, SENADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Presidente Garibaldi Alves, Senadoras e Senadores presentes, atentai bem, Garibaldi! Nasceu da inspiração de um grupo funcionar o Senado da República às sextas-feiras: Efraim Morais, Antero Paes de Barros, Arthur Virgílio e Mão Santa. O Paim era o Vice-Presidente. O seu Partido não gostava, porque nessas sessões predominam, vamos dizer, pronunciamentos oposicionistas. Mas ele também vinha, apoiava-nos. Mas nós nunca esperávamos que essas sessões, Geraldo Mesquita, fossem tristes ou fúnebres, mas consolidadas na grandeza do Senado. E estamos aqui todos a chorar.

Nós já choramos. Garibaldi, a vida me colocou muito próximo de mortes pela profissão. Tenho 42 anos de médico-cirurgião. Mas nunca elas foram tão sentidas como aqui. Foram poucas, mas sentidas. Lá, era o ambiente. A gente já esperava. Então, a minha atividade profissional me fez enfrentar isso. Aqui, foram poucas, mas muito mais sentidas pela proximidade.

Dois funcionários. O Senado somos todos nós. É essa grandeza de 183 anos, que foram passando e educando o corpo funcional e nós mesmos pelos exemplos dos que nos antecederam, Geraldo Mesquita. Esta instituição chega à beira da perfeição com a Presidência de V. Exª. Há essas dificuldades, mas são muitos exemplos, como Rui Barbosa.

Sentimos esses funcionários. Sinval era muito ligado a mim. Ele era da Diretoria. Foi há poucos dias. Sinval estava ali, colega do Valdeque, que é do Piauí; o Abílio, sorridente, cinegrafista. Três dias antes, eu dizia: “Abílio, focaliza, bota bem grandão aí no jornal.” E foi-se.

Sofremos com a morte de Ramez Tebet, santo; de Antonio Carlos Magalhães, de Jonas Pinheiro e, agora, de Jefferson Péres.

Mas o Jefferson Péres tem um particular. Eu tive o privilégio de, quando Governador do Estado do Piauí, homenageá-lo com a maior comenda do Estado: a Grã-Cruz Renascença. Ele como convidado, o PDT no Piauí era muito forte, tinha um jovem deputado, Elias Ximenes do Prado Filho, por sinal também... Para ver como é a vida. Jovem, da minha cidade, e o apelidaram de Che Guevara. Esse negócio de cotas, esse Elias falou antes de aqui falarem. Eu dizia: “Calma, rapaz, nós não podemos começar pelo Piauí, a minha universidade não está tão consolidada”. Mas ele fez um projeto e me inspirou a convidar o Jefferson Péres, e nós o homenageamos com a Grã-Cruz.

Então, chegando aqui, já tinha essa aproximação com ele, pois eu já tinha colocado no peito dele a maior comenda do Estado do Piauí. E ele era aquela figura: companheiro e conselheiro. Naquele meu pronunciamento, que foi polêmico, tem um aparte dele. E ele chegou e disse: “Não tire uma vírgula”. Eu vi e acompanhei. Foi um ensinamento histórico-cultural. Acho que ele me absolveu perante o Brasil e me tornou os aplausos de todo o Brasil, porque está lá no meu pronunciamento, consolidado por um aparte dele, entusiasmado e completando o informe histórico-cultural que era a firmeza dele.

Mas Garibaldi, nós ali. Olha o destino! Esse ano deu uma preguiça, Garibaldi, nunca mais eu acordei pra andar. V. Exª gritava ali, e eu saía lhe acompanhando, de vez em quando, embora mais tardiamente. O Jefferson Péres, todo dia de manhã, Geraldo Mesquita, encontrava o Jeffersonzinho ali, com boné, sem boné, todo dia de manhã, pequenininho, com aquele jeito dele, não parava pra conversar, não. Era um que... Eu atrasava o cooper de todo mundo porque saía batendo papo aí. Mas o Jefferson Péres era ligeiro, mas todo dia... É como na medicina, Garibaldi, se diz assim: “Toda vez que a matemática entra na medicina é para ser desmoralizada”. Você não pode dar número. E nunca diga jamais e toujours, porque, com aquele biótipo, ele não tinha condição de ter um ataque cardíaco: pequenininho, magrinho, magérrimo, era o biótipo... É essa verdade médica que aprendemos nas escolas: em medicina, nunca dizer toujours, jamais, porque cada doente é um caso. E, de chofre, aparece isso.

Mas, Presidente Garibaldi, para essas coisas a gente só encontra força em Deus. Ele é que sabe das coisas. Adelmir Santana, diante de um caso desses, toda vez eu me lembro da passagem bíblica - acho a mais interessante - de Eclesiastes, “O Pregador”, quando ele diz assim: “Eu sou Qohelet”. Gim Argello, ele diz assim: “Eu sou Qohelet. Ninguém tem mais entendimento do que eu, porque sou neto de Davi e filho de Salomão”. Eles me ensinaram, Geraldo Mesquita, muita sabedoria, muita; tive preceptor, pude estudar o mundo.

Tive ouro, prata, casas, palácio, gado mais do que estrela no céu, terras que os olhos não viam. Mas ninguém entende mais as coisas do que eu. E eu quero dizer que tudo no mundo é vaidade. Tudo é vaidade! A gente nasce nu e morre nu. É querer pegar o vento com a mão.

Olha, sabedoria, Geraldo Mesquita, que V. Exª tem, porque V. Exª representa e diz: tenho observado que tem valia - viu, Gim Argello? -, sabedoria, ele analisando. Mas tenho observado que estulto ou, vamos dizer, gente que atinge a estultice, no fim, às vezes, o sábio fica igual a ele. Era a interpretação daquilo que chamamos de caduco, ou hoje a medicina chama de Alzheimer. Observei que até a sabedoria, no fim da vida, muitas vezes desaparece, fica igual a uma estultice.

Então, tudo é vaidade. O bom mesmo é fazer o bem sem olhar a quem, comer bem e viver bem. Então, isso é o que temos que entender.

Quero dizer que Jefferson Péres viveu e só fez o bem, com aquela firmeza. Ele era um homem firme, firme aos seus princípios, exemplo de amor, de família. Olha, acho que o amor dele pela esposa dele empata com o meu pela Adalgisinha. Olha, o homem falava na família, nas suas raízes, na Amazônia. Esse amor à política ele tinha, mas também anunciava que não ia mais se candidatar, porque a política vive um momento estranho - e V. Exª interpretou muito bem, parecia o Jefferson dizendo na sua entrevista do... -, do jeito em que estão as regras do jogo, a corrupção. Aliás, há um livro muito interessante que eu vou trazer em homenagem a ele, A Mentira das Urnas, colocando como estão as eleições no País.

Mas, então, nós, neste instante, nesta sexta-feira, nunca imaginávamos que hoje seria a sexta-feira mais triste, de pesar, porque eram muito alegres essas reuniões das sextas-feiras. V. Exª mesmo já estava atraído por ela e vinha presidir. O companheiro Heráclito, hoje, está visitando a família fora e chegava a dizer: “É a sexta-feira sem lei, porque aqui a gente fala o quanto quer”.

Então, que nossas palavras, através das ondas desta televisão famosa, da rádio AM e FM cheguem aos céus e a Deus como uma prece, como uma oração, um clamor: Ó meu Deus, receba Jefferson Péres, o melhor dos parlamentares do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2008 - Página 16399