Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagens de pesar ao operador de câmara da TV-Senado, Alíbio Vieira da Cruz, e ao Senador Jefferson Péres.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagens de pesar ao operador de câmara da TV-Senado, Alíbio Vieira da Cruz, e ao Senador Jefferson Péres.
Aparteantes
Osmar Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2008 - Página 16423
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, SERVIDOR, SENADO, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, SOLIDARIEDADE, FAMILIA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, CONDUTA, DEFESA, ETICA, DEMOCRACIA, FLORESTA AMAZONICA, EFICACIA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, MANIFESTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EFICACIA, ATUAÇÃO, JEFFERSON PERES, SENADOR, CRITICA, GOVERNO.
  • IMPORTANCIA, DISCURSO, JEFFERSON PERES, SENADOR, ESPECIFICAÇÃO, DEFESA, REGIÃO AMAZONICA, CRITICA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CLASSE POLITICA, FALTA, ETICA, COMPROMISSO, PAIS, AUSENCIA, EMPENHO, COMBATE, CORRUPÇÃO.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Alvaro Dias, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, desta tribuna, sempre que tive oportunidade fiz referência à importância do Senado Federal na democracia brasileira e sempre chamei atenção para que nenhum de nós deixasse faltar essa importância do Senado para o nosso País, para o nosso povo.

            Esta Casa é constituída por milhares, digo assim, de servidores, todos cumprindo suas tarefas respectivas, e pelos que estão na linha de frente, falando politicamente sobre o assunto, os Senadores. Mas todos têm a sua importância. Se não tivermos todo este sistema, peça a peça funcionando, não vamos ter um trabalho bem feito aqui no Senado Federal.

            Na semana que passou perdemos duas grandes personalidades desta estrutura toda: no dia 20 de maio, faleceu o - pelo menos meu - querido Sr. Alíbio Vieira da Cruz, operador de câmara da TV Senado que ficava exatamente na câmara ali no fundo, a quem eu sempre cumprimentava e considerava amigo nessa convivência de seis anos.

            Na quarta-feira, quando me retirei, vi outra pessoa substituindo-o, mas eu não tinha noção do ocorrido. A notícia me chegou mais tarde de que ele teria chegado na sua residência e tido uma morte súbita, por infarto agudo do miocárdio.

            O Sr. Alíbio era funcionário da TV Senado desde 1993 e também trabalhou na TVS, na Globo, na Record e na TV Capital. Ele deixou a esposa D. Antônia Maria da Silva Cruz e dois filhos, um deles, o Luiz Vieira Filho, que trabalha conosco também na Casa.

            Então faço este registro aqui, com muito pesar, da morte do Sr. Alíbio Vieira da Cruz, servidor desta Casa e que era o paciente câmera que ficava ali, ultrapassando seu horário de trabalho, acompanhando as nossas sessões. Eu nunca tinha sentido sua falta naquela câmera, porque ele começava o expediente e terminava o expediente junto conosco.

            Quero mandar, mais uma vez, meus pêsames à família, aos servidores dessa Casa, exatamente por esse homem que cumpriu sua missão mas que nos deixa saudades.

            Outra personalidade importante da representatividade política da Casa é o Senador Jefferson Péres.

            O cenário político brasileiro perdeu, na última sexta-feira, um grande homem.

            O Senador Jefferson Péres sempre foi um grande exemplo para todos nós. Sua conduta em defesa da democracia, da ética, do decoro parlamentar e da coisa pública será sempre exaltada por toda classe política brasileira. Defensor incondicional da Amazônia, Jefferson Péres pautou sua atuação parlamentar com posições firmes e decididas. Suas críticas sempre foram bem fundamentadas e sempre causaram repercussão.

            Eleito Senador em 1994 pelo seu querido Estado do Amazonas, foi reeleito por uma excepcional votação em 2002. Ao longo desse período, esteve presente em todas as discussões mais relevantes do Parlamento. Foi membro de Comissões importantes, como a Comissão de Constituição e Justiça, e de Assuntos Econômicos. Foi ainda vice-Presidente da Comissão Mista de Orçamento e Relator da Lei de Responsabilidade Fiscal, instrumento criado durante o mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso, imprescindível para o equilíbrio fiscal de Estados e Municípios. Além disso, teve participação ativa nas discussões sobre a reformulação do Código Civil e do Poder Judiciário.

            Destacou-se também como membro atuante de várias Comissões Parlamentares de Inquérito, como a do Banestado, a das Ambulâncias e, principalmente, a dos Correios, base de todo o processo aberto pelo Procurador-Geral da República que indiciou os envolvidos no chamado esquema do mensalão.

            O Senador Jefferson Péres destacou-se também como membro do Conselho de Ética, recebendo naquele colegiado missões difíceis que cumpriu de forma exemplar, sempre pautado na Constituição Federal e no Regimento Interno do Senado Federal.

            Sua relação com o Poder Executivo também pode ser considerada única. O jornal Folha de S.Paulo ressaltou, em matéria do último sábado, que S. Exª “atuou como governista crítico e oposicionista duro”, ou seja, jamais cedeu ao canto da sereia, às tentações pelos benefícios em troca da favores ocultos.

            Gostaria também de destacar dois momentos do Senador Jefferson Péres aqui na tribuna. O primeiro é seu discurso do dia 30 de agosto de 2006. Em tom de desabafo e desilusão, critica a postura do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à sua convivência com os escândalos de corrupção, principalmente o do mensalão.

            Critica também a classe política brasileira pela sua postura diante das questões nacionais.

            Disse o Senador Jefferson Péres: “O que está faltando mesmo ao Brasil - e sempre faltou - é uma elite dirigente com compromisso com a coisa pública de fazer neste País o que precisaria ser feito: investimento em capital humano”.

            E continua: “A crise ética não é só da classe política, não, parece que ela atinge grande parte da sociedade brasileira”.

             Após aquele desabafo, lembro-me que tive a oportunidade de falar com o Senador Jefferson e pedir que reconsiderasse sua decisão de abandonar a vida pública, pois se pessoas como ele desistissem, não haveria mais quem fiscalizasse e criticasse os governantes.

            O segundo momento que gostaria de destacar é o último pronunciamento do Senador Jefferson Péres, uma defesa incontestável da Amazônia. No discurso, nosso querido amigo mostra a importância do debate em relação àquela região e contesta as notícias sobre sua internacionalização.

            Então, disse o senador:

“A Amazônia brasileira é nossa e continuará sendo sempre. Mas nós temos uma enorme responsabilidade sobre aquela região da qual eu sou oriundo e que eu represento nesta Casa. (...) O Brasil, por ter soberania sobre a Amazônia, não tem o direito de não procurar investigar, pesquisar e aproveitar em benefício da humanidade, toda a riqueza do bioma amazônico. Se não fizermos isso, se não deixarmos que outros pesquisem, estaremos sendo irresponsáveis também”.

            E finalizou:

“Meus compatrícios, deixem de se assustar tanto com a suposta internacionalização da Amazônia. Isso não vai acontecer. Agora, por favor, acionem as autoridades brasileiras para cuidarem melhor da região. Não tenho tanto medo da cobiça internacional sobre a Amazônia. Tenho medo da cobiça nacional sobre a Amazônia, da ação de madeireiros, de pecuaristas e de outros que podem provocar, repito, o holocausto ecológico naquela região”.

            Ou seja, Sr. Presidente, em seu último ato como parlamentar, Jefferson Péres externou toda a sua preocupação com o Brasil e com a Amazônia.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria, neste momento, de fazer um pedido a todos os Senadores desta Casa: nós não podemos deixar morrer a chama, o exemplo e a correção desse homem público chamado Jefferson Péres.

            Que a sua postura ética e democrática seja sempre um caminho a ser seguido por todos nós.

            Sr. Presidente, esta homenagem que fazemos a Jefferson Péres é justa, lúcida, coerente e faz com que o nosso desejo de termos parlamentares que sejam verdadeiros prestadores de serviços políticos ao povo seja cada vez mais enriquecido de gente assim, para que possamos honrar o mandato que o povo nos concede.

            Quero, mais uma vez, mandar meus sentimentos, meus pêsames, à sua mulher, Srª Marlídice, aos seus filhos Roger, Rômulo e Ronald e aos demais familiares. Que, realmente, neste momento de dor, busquem em Deus seu consolo.

            Ouço V. Exª, Senador Osmar Dias.

            O Sr. Osmar Dias (PDT - PR) - Senador Papaléo Paes, é claro que todos nós estamos muito tristes com o ocorrido. Perdemos um Senador; no meu caso, perdi um Senador amigo, com quem convivi desde que cheguei ao Senado, em 1995. Fizemos a primeira eleição no mesmo ano; a segunda também. Fomos do PSDB por um bom tempo, tanto ele quanto eu. Ele deixou o PSDB em 2000, para ingressar no PDT, e eu o acompanhei em 2001, quando também ingressei no PDT. De lá para cá, nós sempre fizemos um revezamento na Liderança do Partido, o que mostra, de cara, o desprendimento do Senador Jefferson Péres. Ele assumia a liderança por dois anos e me indicava para a vice-liderança. Em seguida, me passava a Liderança para ficar como vice-líder, dando-me, portanto, a oportunidade de liderar o partido. Mas de fato o Senador Jefferson Péres, sempre foi o grande líder do PDT. O PDT perdeu, em poucos anos, duas das mais significativas lideranças: o seu fundador, o nosso saudoso Leonel Brizola; e, agora, o nosso grande líder Senador Jefferson Péres. Para o PDT é, sem nenhuma dúvida, uma perda irreparável, mas para o País também. Todos acompanhavam o trabalho dedicado e sério do Senador Jefferson Péres, assim como as suas posições e a sua capacidade de sintetizar suas idéias. Quero aparteá-lo exatamente no momento em que V. Exª diz que nós não podemos apenas deixar passar para a história as idéias e as posições do Senador Jefferson Péres, mas devemos fazer com que este Senado siga em sua conduta e em seus trabalhos exatamente esses ensinamentos e esses ideais deixados aqui para todos nós, como legado, pelo nosso amigo Senador Jefferson Péres. O que nós podemos desejar é que ele esteja com Deus e que toda sua família possa ter paz nesse momento de dor.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP) - Muito obrigado, Senador Osmar. A muito do que V. Exª falou eu não tive oportunidade de referir. Mas eu quero, pessoalmente, dizer que tinha uma honra muito grande, pois ele sentava ao meu lado, na cadeira onde o Senador Mão Santa se encontra agora. Eu me sentia muito feliz porque a minha experiência político-partidária é curta, não tem longo tempo. E quando vim para esta Casa, eu havia sido apenas Prefeito de Macapá e, depois, fiquei afastado da política por seis anos. Vim a ser, então, candidato a Senador por pedido mesmo de amigos. Fui eleito e cheguei a esta Casa sem experiência parlamentar nenhuma, sem experiência de legislativo, e era com o Senador Jefferson Péres que eu tinha oportunidade de conversar sempre. Eu gostava de conversar com ele em razão da sua honestidade. Ele não falava nada para nos agradar, falava o pensamento dele. Se alguém lhe pedia conselho, ele dava, agradando ou não.

            Minha mãe sempre dizia: “Meu filho, nunca fale que está orgulhoso”. Mas vou contrariar o que minha mãe me pedia. O que me deixava muito orgulhoso com o Senador Jefferson Péres é que eu sentia que ele me respeitava como político. E o seu respeito a mim como político significava confiança e uma honra muito grande em ser reconhecido por alguém como o Senador Jefferson Péres. Hoje, infelizmente, a opinião pública apresenta uma visão muito distorcida da realidade da política, porque não são todos que não cumprem suas obrigações. Muitos as cumprem e, desses muitos, poucos são reconhecidos.

            Agradeço a V. Exª o aparte. Ao PDT, mando meus sentimentos pelo falecimento do Senador Jefferson Péres.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2008 - Página 16423