Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, falecido na última sexta-feira, destacando suas qualidades em defesa da ética e da decência.

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres, falecido na última sexta-feira, destacando suas qualidades em defesa da ética e da decência.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2008 - Página 16429
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, REPUTAÇÃO, ETICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), DEMONSTRAÇÃO, FRUSTRAÇÃO, POLITICA PARTIDARIA, MOTIVO, OCORRENCIA, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, MEMBROS.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, INTEGRIDADE, CONDUTA, JEFFERSON PERES, SENADOR, EMPENHO, DEFESA, ETICA, DIGNIDADE, SENADO.
  • CONCLAMAÇÃO, CONGRESSISTA, HOMENAGEM, JEFFERSON PERES, SENADOR, REPETIÇÃO, CONDUTA, DEMONSTRAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, DIGNIDADE, POLITICO, VALORIZAÇÃO, LEGISLATIVO.

            O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, homenagens desta tribuna nós já ouvimos muitas - umas sinceras, outras não. Eu sempre fui muito reservado e falei muito pouco nessas ocasiões, até porque a gente pode mostrar com atitudes o respeito pela pessoa que está sendo homenageada; atitudes, muitas vezes, que são muito mais fortes do que os discursos, as palavras. E elas acabam sendo registradas com uma marca mais profunda se são atitudes sinceras. Então, se a atitude tem que ser sincera, o discurso também tem que ser sincero.

            Eu estava viajando e recebi a notícia da morte do Senador Jefferson Péres. Na terça-feira e na quarta-feira, nós estivemos juntos. Como ele não era de conversar muito, a gente não conversava muito, mas nós nos entendíamos muito.

            O Senador Jefferson Péres entrou aqui junto comigo, no primeiro mandato. Em 1995, nós assumimos e convivemos no mesmo Partido, no PSDB, naquela época, até que, em 2000, ele deixou o PSDB para ingressar no PDT. E eu fiz o mesmo em 2001. Então, continuamos juntos.

            A nossa relação de amizade e de respeito mútuos era tão sincera que o Senador Jefferson Péres, na primeira vez que foi eleito Líder do PDT, indicou-me para ser seu Vice-Líder.

            Concluído o mandato de dois anos, o Senador Jefferson Péres disse-me: "Gostaria que V. Exª levasse o seu nome para a Bancada para substituir-me na Liderança. Gostaria de tê-lo como Líder, já que quero descansar um pouco da Liderança”. Indicou-me ele próprio para a Bancada, que votou e escolheu-me Líder por dois anos. Novamente, ele me escolheu ser seu Vice-Líder.

            Convivemos, então, praticamente durante 13 anos dessa forma, num relacionamento respeitoso, mas de muita amizade. Sobretudo quando tínhamos divergências, elas eram debatidas de forma muito franca.

            Para mostrar um pouco do que era o Senador Jefferson Péres na Bancada do PDT, ele convocava uma reunião para debater determinado tema de interesse do PDT e marcava hora. Normalmente 9h30min era a reunião da Bancada. E eu vi o Senador Jefferson Péres terminar a reunião, muitas vezes, às 9h35min. Se o Senador não chegasse exatamente às 9h30min, não havia mais reunião. Eu gostava desse seu hábito. Nos entendíamos por isso também. Muitas vezes, as reuniões com o Senador Jefferson Péres duravam, no máximo, meia hora, porque, em meia hora, os assuntos eram postos, decididos, e a Bancada estava resolvida em relação aos temas.

            Ultimamente, o Senador Jefferson Péres estava muito chateado com o PDT, magoado mesmo; e expunha isso na tribuna, na reunião de Bancada, expunha isso publicamente. A mim, muitas vezes, disse que era uma decepção.

            E eu quero lembrar que o PDT perdeu duas grandes figuras em pouco tempo. Perdemos Brizola, nosso Presidente, idealizador do Partido, que deixou sua marca na história do País; e, agora, o Senador Jefferson Péres.

            A revista Veja, de ontem, traz aqui uma homenagem na manchete intitulada “Pequeno Grande Homem”. E, de fato, ele foi um pequeno grande homem, um grande brasileiro, porque transformou o seu mandato, aqui no Senado Federal, num instrumento de defesa da ética, num instrumento de defesa da decência, a ponto de colocar, em dois últimos episódios, ocorridos no PDT, firmemente a sua posição, sempre pedindo a nossa sugestão. Eu sempre dei sugestão ao Senador Jefferson Péres. Nas duas últimas, nós acordamos. Trata-se de episódios que preocupam o PDT, que continuam nas manchetes, e ele foi firme e rigoroso, dizendo: “as pessoas que estão sendo denunciadas têm de se afastar do PDT para apresentar sua defesa fora do Partido” - posição compartilhada por mim. Nós defendemos isso na Executiva do Partido. Nem sempre conseguimos a maioria da Executiva. Nesses casos, não conseguimos.

            Mas o Senador Jefferson Péres não passou apenas pelo Senado Federal. Como disse o Senador Pedro Simon, numa matéria de jornal que eu vi hoje, ele conseguia em duas, três frases dizer muita coisa. E, muitas vezes, ele não precisava dizer duas, três frases; com uma atitude, ele mostrava exatamente a sua posição séria em defesa da ética, em defesa da decência. Por isso mesmo, ouso dizer a todos aqueles que podem não acreditar: há gente muito decente na política brasileira.

            (Interrupção do som.)

            O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - O Senador Jefferson Péres foi um desses exemplos, mas temos muitos exemplos de gente decente, de gente que pode se colocar em qualquer ambiente público, Senador Papaléo Paes, com a cara limpa, que será sempre respeitada.

            É preciso, para prestar uma homenagem mesmo ao Senador Jefferson Péres, que a gente crie aqui no Senado essa bandeira, não apenas de ser ético, ser decente, porque isso é uma obrigação nossa, mas de mostrar, como ele pôde mostrar e foi reconhecido agora na morte - pena que as pessoas são mais valorizadas depois que morrem, poderia ter sido mais valorizado quando vivo; foi valorizado, mas podia ter sido mais valorizado. Acredito que o grande desafio que temos para homenagear o Senador Jefferson Péres é mostrar que na política existe muita gente séria, que merece o respeito da sociedade, que merece o respeito da imprensa. E não é porque há gente que não presta na política que todos devem ser colocados no mesmo saco, no mesmo balaio, misturados como se assim a sociedade pudesse fortalecer o regime democrático, que todo mundo defende, mas, na hora de “descer o cacete”, faz isso como se não houvesse gente séria e decente na política.

            O Senador Jefferson Péres é apenas um desses grandes exemplos, um grande exemplo que devemos seguir.

            Eu sigo, mas não apenas sigo; farei do meu mandato aqui no Senado Federal não apenas a defesa da decência e da ética como regra, mas farei como regra também a defesa dos ideais defendidos pelo Senador Jefferson Péres, para mostrar que, na política, existe muita gente séria e que merece respeito neste País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2008 - Página 16429