Discurso durante a 85ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Jefferson Péres.
Aparteantes
Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2008 - Página 16452
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, EFICACIA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, DEFESA, ETICA, DEMOCRACIA, INTERESSE NACIONAL, COMENTARIO, HONRA, ORADOR, ENTREGA, CONCESSÃO HONORIFICA, PERIODO, GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • ELOGIO, DISCURSO, JEFFERSON PERES, SENADOR, DEFESA, REGIÃO AMAZONICA, CRITICA, INTERESSE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), INTERNACIONALIZAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, LEITURA, TRECHO, APARTE, PRONUNCIAMENTO, ORADOR, DEMONSTRAÇÃO, INTEGRIDADE, ATUAÇÃO, RESPEITO, INTERESSE PUBLICO, TEXTO, POLICIAL, SENADO, HOMENAGEM, ESTADO DO AMAZONAS (AM).

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Rosalba Ciarlini, que preside esta sessão de segunda-feira, Parlamentares presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

            Ô Paim, o grande Senador Cícero disse: “Nunca fale depois de um grande orador”. Vou falar sobre o mesmo assunto depois do grande orador que é Pedro Simon.

            Todos nós nos sentimos diminuídos com a falta de Jefferson; mas todos nós, Paim, nos sentimos engrandecidos pelo privilégio de ter convivido com Jefferson Péres. Ética: temos ouvido falar. Eu sou médico, e Hipócrates fez o primeiro código de ética. Drª Rosalba Ciarlini, o nosso juramento de Hipócrates são momentos de orientação de uma vida profissional ética. Sabemos que Platão escreveu, assim como Max Weber. Felizes somos nós que não precisamos buscar estudar.

            Senador José Agripino, tivemos a vida. Ô Paim, tivemos o líder do nosso partido que está encantado no fundo do mar, Ulysses Guimarães, conhecido como o “senhor das Diretas”. Conhecemos a história de Simon Bolívar, el libertador. O Rui Barbosa poderia se chamar “senhor Justiça”. Paim, V. Exª é o nosso Martin Luther King. Entendo que o Jefferson ficou na história deste País como “senhor Ética”, José Agripino. O “senhor Ética” é daqui, e nós convivemos com ele.

            Eu agradeço a Deus porque quando governava o Piauí conheci um jovem do PDT, Elias Ximenes do Prado, Deputado estadual, que presidiu a Companhia de Habitação do Estado do Piauí e tinha intimidade com Leonel Brizola. O PDT sempre nos apoiou, desde que fui Prefeito da cidade de Parnaíba.

            Toda vez, Paim, que me lembro do Deputado Elias Ximenes do Prado, eu o sinto como Che Guevara. Ele era dessas pessoas iluminadas. Isso que vemos hoje, como a luta de V. Exª pelas cotas no ensino... O Deputado Elias Ximenes do Prado fez aprovar isso muito antes do que aqui no Congresso, Paulo Paim. E eu fiquei temeroso, porque a Universidade do Piauí estava nascendo. A clarividência desse jovem Deputado Elias Ximenes do Prado... Eu lhe pedia que retardasse porque eu tinha medo de que a Universidade do Estado do Piauí, que estava nascendo no nosso Governo e crescendo, sofresse. Eu pedia que ele aguardasse, porque isso era bonito, era belo, mas devia partir do âmbito nacional para o Piauí.

            Essa pessoa exigiu, no dia em que comemorávamos uma das grandes datas do Piauí - segundo a tradição, a comenda maior é entregue pelo Governador a personalidades de grande valor -, que fosse incluído Jefferson Péres. Eu não o conhecia. O Deputado já morreu, eu o chamo de “Che Guevara”.

            Realmente, eu tive o privilégio, quando governador do Piauí, de traduzir a admiração, o respeito que o Estado tinha por esse homem que simbolizava a decência, a ética na política do Brasil. Esse gesto foi uma inspiração do Deputado Elias Ximenes do Prado, que morreu logo depois. Mas são coisas da vida.

            Quando aqui adentrei, Paim, que coincidência! Quando entrei no elevador com a minha Adalgisa, minha mulher, que ele conhecia porque foi homenageado no Piauí e participou de um almoço na casa do Governador, que coincidência: ele subia no mesmo elevador.

            Agora, que vamos perder, vamos, porque nós recorríamos a ele.

            Devido às limitações em Direito, inúmeras vezes eu recorria a ele, Senador José Agripino. Freqüentemente eu recorria a ele para me orientar sobre cultura, sobre pronunciamento.

            No meu pronunciamento mais polêmico, que foi aquele sobre “cacarejar”, houve aparte dele, que incorporei ao meu discurso. Ele, com sua cultura, incorpora conhecimento da história política da Alemanha...

            Em outro pronunciamento polêmico - são vários e vou pegar todos -, ele também me aparteou. Ele sempre, Senador Paulo Paim, tinha participação nos meus pronunciamentos, assim como eu nos dele.

            Aparteando-me certa vez, disse-me o Senador Jefferson Péres:

Péres.

Senador Mão Santa, V. Exª cita, com muita propriedade Graciliano Ramos. Ele não foi apenas um dos maiores escritores da língua portuguesa. Ele foi também um homem de probidade inatacável. Depois de administrar Palmeira dos Índios, como Prefeito, ele apresentou um relatório famoso. Prestou contas de cada centavo gasto - não havia cartão corporativo naquele tempo. Há uma frase que me ficou na memória - eu nunca a esqueci - que mostra a grandeza daquele homem. Como verdadeiro homem de bem, sacrificou até amizades. A frase é a seguinte: “Na defesa do interesse público, perdi alguns amigos. Não me fizeram falta.”

Ele citou isso e eu disse: Incorporo todas as palavras do aparte, que encantam o Brasil e enriquece o nosso pronunciamento. Também incorporei o aparte dele quando ele citava o livro Mein Kampf. Mas, aqui está o Jefferson Péres.

            Paim, eu tinha compromissos no Piauí, e não pude ir ao enterro dele. Eu tinha compromissos agendados em Teresina e, depois, em minha cidade natal. Mas, aí, vi, Senadora Rosalba, o valor de Jefferson Péres. Eu me lembro que eu saí sábado à noite, para jantar em um restaurante, e, quando eu vi, o dono do restaurante, paulista, estava no jantar, emocionado, sofrendo e lamentando. Quer dizer, esse Jefferson é....O barulho não faz bem e o bem não faz o barulho. Ele se irradiou. Eu vi no Piauí todas as pessoas lamentando a perda. Quer dizer, a democracia é de todos nós, Paulo Paim. Todos que sonham com um Brasil democrático melhorado sentiram-se usurpados com essa perda.

            Achamos - e somos otimistas - que ficou o exemplo. Felizes somos nós, José Agripino, que não precisaremos mais buscar exemplos no nascedouro da democracia, na Grécia, na Itália, na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. O exemplo de decência e de ética está aqui. Ética.

            E nos impressionava a oratória dele, contundente, sintética, concisa e objetiva. Um dia, sentado ali, do lado dele, perguntava e ele dizia, Paim:

            “É porque eu li muito Machado de Assis”.

            Os seus escritos são frases curtas e contundentes”. Essa era a oratória dele.

            (O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Deus escreve certo por linhas tortas.

            Eu acho - é quase uma certeza - que quem mais tem presidido sessões neste Senado tem sido eu. Ele nunca falava, José Agripino, mais de cinco minutos. Nunca! Na última sessão, José Agripino, eu estava aí e ele pediu a palavra. Daquele jeito dele, queria saber se ia ter vez, a que horas seria. E o nosso Presidente, naquela tranqüilidade, disse: “Você fala é agora.” E ele já exigindo, e foi. Ele falou mais do que o normal. Nós o acompanhamos a vida toda. Eram cinco minutos, sintético, Machado de Assis...

            (Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Cristo fez em um minuto o Pai-Nosso, como aquele discurso de Abraham Lincoln no cemitério dos heróis combatentes da Guerra da Secessão.

            Ele pregava, tinha uma capacidade de síntese e dizia tudo que era necessário. Mas nesse dia, no último pronunciamento, ele demorou mais. Falou sobre a Amazônia, sobre o que ele mais falou e amou, sobre o que ele mais defendeu. E eu até gostaria, mas não pedi um aparte, porque parece que Deus estava dando a ele aquele momento de se despedir. O pronunciamento dele sobre a Amazônia - quero crer que ninguém mais tinha mais conhecimento da Amazônia, mais amor - foi o último, criticando a internacionalização da Amazônia, publicada por um jornal americano, Senador José Agripino, dizendo os rumos, como devíamos proceder.

            Esse é um guia, um farol, para o nosso Governo e os nossos Presidentes seguirem e pacificarem a Amazônia, preservarem a Amazônia.

            Presidente Luiz Inácio, o Senado é para isso. Vossa Excelência encontra, neste momento, dificuldade de buscar o Ministro do Meio Ambiente. Acho que ele [Jefferson], deixou o caminho e a luz para melhores dias, a defesa e o enriquecimento da Amazônia, que continua sendo propriedade dos brasileiros.

            Para terminar, buscaria as frases mais interessantes de Jefferson: “Falta ao Brasil uma elite compromissada com a coisa pública”.

            “A classe política brasileira já apodreceu há muito tempo”. Meditai! Atentai bem para isso! “A classe política brasileira já apodreceu há muito tempo.”

            Firme nas posições, duro nas palavras: “Acho que por trás deste Brasil sujo, escuro e ruim há um Brasil limpo e decente. E este Brasil precisa gritar”.

            Essa é a mensagem que ele nos deixou, Paim, que V. Exª representa...

O Estado não deve ser locomotiva de desenvolvimento, mas, sim, um navio quebra-gelos, um removedor de obstáculos.”

O Presidente Lula pode fazer o País decolar, desde que, nos acertos para a composição do próximo governo,

“Não fique prisioneiro do que há de pior no Congresso e não se transforme num administrador de crises. Para mim, chega! Não vou mais perder o meu tempo.”[Ao anunciar que deixaria a vida pública.]

“O Brasil está precisando de um estadista, um estadista não persegue adversário, não protege amigos que cometem desvios.”

            São essas as palavras.

            Um popular, comum, que não é Parlamentar e tem aptidão de poeta escreveu um artigo sobre ele anos atrás. Ele é daqui, policial legislativo federal do Senado. Ele é o povo. Quero só pedir a atenção desse policial legislativo federal do Senado, que está aqui e acompanha. É uma inspiração poética. Não somos nós, não. É o povo do Brasil. Ele fez essa homenagem a Jefferson Péres. Ele é um dos que ouve, que conhece, que julga, que é povo. Não somos nós, companheiros e colegas dele, não. É o povo que ele simboliza.

            Peço só para ler esta síntese desse homem, policial legislativo federal do Senado, que conhece todos nós e conheceu os outros Senadores. Ele já tinha escrito isso.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Concede-me um aparte?

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vou já.

            (Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, apenas mais um minuto para concluir.

            “Prometendo guardar a Constituição e as leis do Brasil...

            (...)

            Assim é o juramento que fizeram

            Ao assumirem seus mandatos no parlamento.

            “Que país e esse?”

            Ao Presidente ele perguntou indignado! [Jefferson PÉres]

            “O que estamos fazendo aqui neste Parlamento?”

            O plenário [um observador aí, está aqui] ficou mudo neste exato

            momento.

            “A atividade parlamentar é muito desestimulante.”

            O silêncio fez ecoar até a mim suas palavras naquele instante.

            [Aí dizia Jefferson Péres:]

            “Creio que, um dia, brevemente, ele falou com arrojo,

            “deixarei a política por desencanto e nojo”. [Um observador aqui.]

            Seus opositores mesmo sabendo que ele estava com a razão,

            Desprezaram o juramento de defenderem a Carta Magna

            E mais uma vez, sabe Deus por que razão,

            rasgaram a nossa Constituição.

            Quisera, em nossos parlamentos...

            Tivéssemos mais Jeffersons,

            Cumprindo com fidelidade seus juramentos,

            Reservas de moralidade, brasilidade e ilibado comportamento.

            Sinceramente, da mesma forma que você, que queria entender,

            Entender o porquê das ideologias da maioria mudaram

            rapidamente

            Esquecendo-se das suas convicções quando assumem o poder?

            Enfaticamente ele registrou com sua costumeira convicção:

            “Os Senadores da República estavam cometendo perjúrio,

            uma vez que juraram, ao tomar posse,

            defender e respeitar a Constituição.”

            Naquele momento com a voz embargada a todos

            Ousou perguntar:

            “Vale a pena exercer a atividade parlamentar?”

            Foi um momento de consternação quando desejou

            Seu mandato findar.

Sim, vale a pena, Sr. Senador, sua indignação é natural,

reservas de seriedade e moral não se vêem todos os dias no cenário nacional.

Sim, vale a pena!

Sob pena de as omissões dos bons

serem carta branca para as ações do mal.

            E isso foi no dia em que foi aprovada a Medida Provisória nº 207, que deu ao Presidente do Bacen status de Ministro.

            Quer dizer, esse é um texto desses que nos acompanha, que é Rubens de Araújo Lima, Policial Legislativo Federal do Senado.

            Tem um pedido ali de aparte. Ô Magno Malta, vamos ser breve, porque a paciência da Senadora...

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Dia 18 deste mês foi o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, a que Jefferson Péres fazia coro, juntamente, com todos nós na defesa da criança e o adolescente. Está ali a Senadora Presidente Rosalba, que foi uma Prefeita atuante na questão da criança e que vai conceder o tempo para nós, porque hoje não há votação. Ela está ao lado da Serys, que é também combativa. Além do mais, acabamos de aprovar um projeto na CCJ, que criminaliza a posse de material criminoso. Dessa forma, qualquer posse de material criminoso contra a criança, agora, é crime. A legislação anterior dizia o seguinte, que você pode ter, armazenar, e você não é criminoso, não; você só é criminoso, se for pego teclando. O cara que fez essa lei tinha que ser investigado.

            A SRª PRESIDENTE (Rosalba Ciarlini. DEM - RN) - Senador Magno Malta, vou conceder mais um minuto para que V. Exª faça o aparte ao Senador Mão Santa.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Se eu não conseguir, V. Exª me dá mais um minuto.

            Senador Mão Santa, é muito pouco tempo para falar do Senador Jefferson Péres. Um homem de pequena estatura, mas eu o chamaria de “Gigante da Amazônia”. A grandeza, o comportamento ético de Jefferson deixam um legado extremamente significativo para todos nós. Jefferson Péres lutou pelo orçamento impositivo. Era um homem que, ideologicamente, divergia do Senador Antonio Carlos, mas a discussão do orçamento impositivo convergia para o bem da sociedade e se juntou - porque essa era uma das suas bandeiras e, aqui, lembramos Antonio Carlos Magalhães - porque se juntaram para o bem da sociedade até porque o orçamento não pode ser uma peça de chantagem: se você vota, eu libero. Se você não vota, eu...

(Interrupção do som.)

            A SRª PRESIDENTE (Rosalba Ciarlini. DEM - RN) - Vou lhe conceder mais minuto porque, com certeza, V. Exª ainda tem muito a relembrar, rememorar da vida de quem tanto honrou este Senado, o Senador Jefferson Péres, no seu pronunciamento porque está inscrito para falar após o Senador Paulo Paim.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Agradeço, Srª Presidente, até porque falar depois do Paim é difícil demais. Jefferson Péres era o grande guerreiro das lutas sociais, da agenda positiva do País. Na verdade, não tenho tempo para discorrer sobre o que penso e o que sinto, mas lamento o passamento desse homem público que aprendi a admirar antes de ter o meu primeiro mandato de Vereador e já era fã de Jefferson. E Deus me deu a graça de tornar-me Senador ao lado de Jefferson Péres, esse paredão moral, ético da política brasileira, que o seu passamento a mim trouxe um sofrimento pessoal e sou parte do sofrimento coletivo, do sofrimento da sua família neste momento de muita dor. Obrigado, Senador Mão Santa.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporo as palavras do Senador e diria, através das ondas que chegarão aos céus, as ondas sonoras com que falamos: ó meu Deus, aí chegou o Senador Jefferson Péres.

            E ele pode dizer, Paim, como Paulo, seu patrono, o Apóstolo Paulo disse: percorri meu caminho, preguei a minha fé e combati o bom combate. Essa foi a vida do “Senhor Ética do Brasil”, Jefferson Péres.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2008 - Página 16452