Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários a declarações do Presidente Lula, que criticou empresários e a Oposição pelo fim da CPMF.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TRIBUTOS.:
  • Comentários a declarações do Presidente Lula, que criticou empresários e a Oposição pelo fim da CPMF.
Aparteantes
Geraldo Mesquita Júnior.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2008 - Página 16708
Assunto
Outros > TRIBUTOS.
Indexação
  • DIVULGAÇÃO, NOTICIARIO, IMPRENSA, CRITICA, RECLAMAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXTINÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), ACUSAÇÃO, RESPONSABILIDADE, SENADOR, EMPRESARIO, DECLARAÇÃO, JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO, EX MINISTRO DE ESTADO, REPUDIO, RECRIAÇÃO, DEFESA, POLITICA FISCAL, REDUÇÃO, TRIBUTAÇÃO.
  • LEITURA, TRECHO, PRONUNCIAMENTO, ULYSSES GUIMARÃES, EX-DEPUTADO, VALORIZAÇÃO, BUSCA, VERDADE, GOVERNANTE, BENEFICIO, INTERESSE PUBLICO.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Antonio Carlos Valadares, que preside esta sessão, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, primeiramente, eu quero agradecer ao Líder da Minoria, Mário Couto. Eu sou do PMDB, mas nunca consegui representar a sua Liderança. Pela primeira vez, consegui falar em nome da Liderança da Minoria no dia dedicado à indústria. Agradeço a confiança.

            Quero agora falar em nome de quem trabalha no Brasil, dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras. Primeiro, eu queria pedir perdão a todos que trabalham no Brasil, a todos que acreditam no trabalho, naquilo que Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Uma mensagem pela busca do trabalho, por aquilo que o Apóstolo Paulo disse: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”. Rui Barbosa, cujo busto está ali, disse: “A primazia é do trabalho e do trabalhador”. Ele vem antes, eles que fazem a riqueza.

            Então, eu queria pedir desculpa a quem trabalha por infelicidade do nosso querido Presidente Luiz Inácio. Já que ninguém se apresenta do PT, eu que votei nele em 1994, queria pedir desculpa a quem trabalha. Está aqui no jornal O Globo: “Em defesa da CPMF, Lula critica empresários”. Atentai bem! Ô Mário Couto, esta Casa homenageava os empresários da indústria, no seu aniversário em 25 de maio. O Globo - bote bem grande aí, como se fosse para o Mercadante, do tamanho de um outdoor. Dê a ordem aí, Senador. V. Exª está representando o Paraná e aqueles são os melhores políticos do Paraná: vereador... Vereador é o senador municipal.

            Valor: “Lula critica empresários e oposição por fim da CPMF”. Arthur Virgílio, atentai bem! Efraim, Mário Couto... O Luiz Inácio... Outra manchete aqui - bota grande aí: “Presidente faz críticas a senadores e empresários pelo fim da CPMF”. Eu queria pedir desculpa, em nome de nosso Presidente, porque algum aloprado orientou-lhe a dizer essas besteiras.

            Atentai bem! Osmar Dias, V. Exª me apresentou, orgulhoso, os melhores políticos do Paraná. Vereadores! Vereadores são os senadores municipais. Lembrando, Alvaro Dias, lembrando que Giscard D’Estaing ganhou o primeiro turno, perdeu o segundo para a presidência da França, depois de sete anos - governava bem -, perguntaram o que ele queria ser, ele disse: “Vou voltar a minha cidade e ser vereador”. Isso traduz a grandeza dos vereadores no organograma...

            Mas, Luiz Inácio... Ô Osmar Dias, o seu orgulho do Paraná e eu do Piauí! Bota bem grandão aí, para Luiz Inácio, hoje, ver - de noite - na reprise. Economia e Negócios, um jornal aqui de Brasília: “João Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento, considera que reeditar a CPMF é desenterrar defunto”. Em outro trecho: “O Brasil precisa de uma política fiscal que não seja de aumentar a carga tributária, que já é maior do que a dos Estados Unidos”.

            Esse homem aqui, Osmar Dias, piauiense da minha cidade, Parnaíba, com nove anos de idade começou a abrir as fábricas de meu avô. Trabalha. Foi o melhor Ministro do Planejamento da História do Brasil. No período ditatorial, Expedito Júnior, esse homem foi a luz, foi o farol. Foi ele que trouxe o desenvolvimento para o Brasil no período ditatorial. Um ensinamento ao partido dos aloprados que aí está: nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade, nenhum roubo repousa na pessoa desse Ministro. Fez ele o primeiro PND e o segundo PND.

            “Reeditar a CPMF é desenterrar defunto”, disse a manchete.

O superintendente-geral do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), João Paulo dos Reis Velloso, ex-ministro do Planejamento, considera que reeditar a Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF) é “desenterrar defunto”.

[...]

Dirigente do Instituto Nacional de Altos Estudos, Reis Velloso, critica duramente a nova tentativa de se criar o imposto do cheque pelo Governo.

            Foi o que ele, que está presidindo o 20º Fórum Nacional do Inae, disse. Então, essa é a verdade. A ficarmos com os aloprados, nós continuaremos a seguir João Paulo dos Reis Velloso.

            Então, eu queria enaltecer aqui neste instante o valor da Oposição. Atentai bem, Suplicy, aqui está o melhor discurso da história política: de Ulysses Guimarães, que está encantado no fundo do mar. Ô Mário Couto, navegar é preciso. Esse discurso tem 35 anos. O Suplicy devia estar lá e ainda deve se lembrar. Atentai bem!

         A Oposição reputa inseparáveis o direito de falar e o direito de ser ouvido. [...] A verdade poderá temporariamente ser ocultada, nunca destruída. O futuro e a história são incensuráveis [é o que Ulysses prega]. A informação, que abrange a crítica, é inarredável requisito de acerto para os governos verdadeiramente fortes e bem intencionados, que buscam o bem público e não a popularidade. Quem, senão ela, pode dizer ao Chefe de Estado o que realmente se passa, às vezes de suma gravidade, na intimidade dos ministérios e dos múltiplos e superpovoados órgãos descentralizados?

            Vai Ulysses e diz: “É axiomático, para finalizar, que sem liberdade de comunicação não há, em sua inteireza, oposição, muito menos partido de oposição”. E continua alçando e tal. Mas, neste momento em que o PMDB se entrega, que o PMDB se acocora aqui, nesta Casa, ressurge, como no tempo dele, os autênticos que criaram a anticandidatura e o renascer da democracia. Aí está Ulysses que disse - neste momento vejo Geraldo Mesquita, companheiro do PMDB, daqueles autênticos, aqui, como também Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon -, Ulysses cantava com muito amor e fé, ele que está encantado, no fundo do mar:

Nossos mortos, levantem-se de seus túmulos. Venham aqui e agora testemunhar que sobreviventes da invicta Nação Peemedebista não são uma raça de poltrões, de vendidos, de alugados, de traidores. Venham todos!

Venham os mortos de morte morrida, simbolizadas em Juscelino Kubitschek, Teotônio Vilela, Tancredo Neves [Ramez Tebet, recentemente].

Venham os mortos de morte matada, encarnados pelo Deputado Rubens Paiva, o político; Vladimir Herzog, o comunicador; Santo Dias, o operário; Margarida Alves, a camponesa.

Não digam que isso é passado.

Passado é o que passou. Não passou o que ficou na memória ou no bronze da História.

O PMDB é também o passado que não passou. Não o enterremos, pois estaríamos calando vozes que a Nação ouviu e esquecendo os companheiros que não se esqueceram de nós.

            Este, Luiz Inácio, é o PMDB de vergonha, de verdade, que nós representamos.

            E nós queríamos dizer neste instante... Atentai bem, Osmar Dias e Geraldo Mesquita, que simboliza o reviver do amor ao Direito de Rui Barbosa. Geraldo Mesquita, quem fala, ó meu amigo Cafeteira, quem fala, quem pensa em terceiro mandato é um idiota. Não aquele do Dostoiévski; esse é um super idiota. É um idiota ao quadrado.

            Atentai! Quis Deus os vereadores... Nesta democracia, Arthur Virgílio, a inspiração da divisão do poder na tripartição, um freando o outro, eqüipotente, isso é importante. Atentai! Os legisladores não erraram, Papaléo. Olhai o outro Poder, o Judiciário. Eles imaginaram, nesse regime, que o Presidente poderia nomear para a Suprema Corte, para o STF. Mas eles nomeariam 20%, nunca 30%. O Luiz Inácio já está com quase 80%. Se derem outro mandato, ele nomeará 100% do Poder Judiciário. Acabou. Ali ele disse que havia trezentos picaretas. E acabou.

            Nós não podemos. Foi a palavra. Essa é a advertência. E estou aqui porque posso fazê-la. Esse é o meu dever.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - V. Exª me permite um aparte, Senador Mão Santa?

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Geraldo Mesquita.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Senador Mão Santa, V. Exª faz bem em provocar os brios do PMDB. Ultimamente, tenho me preocupado muito com manifestações e movimentos dentro do PMDB. Já vejo pessoas de projeção dentro do PMDB se oferecendo para ser candidato a vice na chapa de algum candidato à Presidência da República. Isso é de um ridículo impressionante! Creio que nosso Partido, de algum tempo já, abdicou, renunciou à perspectiva da conquista do Poder Central pelo voto, que é algo fundamental. Hoje, o Partido que se diz o maior do Brasil perdeu a perspectiva da conquista do Poder Central pelo voto. É um Partido que se satisfaz em usufruir benesses, cargos etc., concedidos, oferecidos e dados. Creio que um grande Partido, que tem história neste País, deve ter em seu horizonte, como perspectiva lógica até, a conquista...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pelo Paraná, dê mais cinco minutos. Ali está todo mundo do Paraná. Os vereadores.

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - Eu já lhe dei, Senador Mão Santa. Eu já lhe dei.

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - Eu dizia, Senador Mão Santa, que o nosso Partido, um grande partido que tem história neste País, deve ter como horizonte, como perspectiva, justa e correta, a conquista do Poder Central pelo exercício do voto, e não dessa forma como partilha do poder, participa do poder, mas de forma concedida. Quem hoje está no poder e o conquistou pelo voto concede ao PMDB alguma coisa. Creio que isso diminui o Partido. Essa manifestação de alguns, hoje, de se colocarem na posição de pretensos candidatos a vice de alguém que venha a ser lançado candidato à Presidência da República é de um ridículo...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - AC) - ... diminui o nosso - não posso dizer o que o Senador Arthur Virgílio sugere -, diminui o nosso Partido. V. Exª está coberto de razão quando provoca os brios desse grande Partido. Precisamos, Senador Mão Santa, mesmo que de forma isolada ou em um quantitativo pequeno, martelar o assunto aqui, no Senado Federal, para que as consciências dentro do Partido se dêem conta de que esse caminho leva ao divórcio com o povo brasileiro, é um caminho que leva talvez até à própria extinção do Partido no futuro, quem sabe até próximo. Parabéns a V. Exª por tocar no assunto.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Um minuto para terminar, como o Pai-Nosso. Cristo fez o Pai-Nosso em um minuto. Agora lá vai, vamos rezar.

            Senador Arthur Virgílio, nossas palavras finais, em um minuto, assim como Cristo fez o Pai-Nosso. Um senador francês, Voltaire, disse - aqui quero deixar; Rui Barbosa está ali, e incorporo Geraldo Mesquita - que a lei e a justiça são a salvação. Eu digo: Presidente Luiz Inácio, o trabalho é a salvação. Um senador, Voltaire, disse que, no mínimo, afasta o tédio, a preguiça e a pobreza.

            Então, quando o Presidente Luiz Inácio vem criticar quem trabalha, os empresários, é uma tristeza. Peço perdão aos empresários, aos que acreditam no trabalho. E terminaria com o poeta do Nordeste, com a música Guerreiro Menino,de Gonzaguinha, Papaléo Paes, cantada por Fagner - que espetáculo! -, lá do nosso Nordeste:

[...]

Um homem se humilha

se castram seu sonho,

seu sonho é sua vida

e vida é trabalho...

            E sem o seu trabalho

o homem não tem honra

e sem a sua honra

se morre, se mata.

Não dá para ser feliz

[...]

            Queria dizer ao Presidente Luiz Inácio... Pedir perdão por ele ter criticado os que trabalham. E entendo, Geraldo Mesquita, que não somos Poder Legislativo, Judiciário e Executivo, somos instrumentos da democracia. Poder é o povo, que trabalha, que paga imposto. A ele a nossa desculpa por essas palavras inadequadas do Presidente da República criticando quem trabalha.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2008 - Página 16708