Discurso durante a 86ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Dia da Indústria Brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2008 - Página 16668
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, INDUSTRIA, REGISTRO, HISTORIA, INDUSTRIAL, REGIÃO NORDESTE.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, ASSUNTO, CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMPRESARIO, MOTIVO, OPOSIÇÃO, RECRIAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF).
  • HOMENAGEM, INDUSTRIAL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PIONEIRO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA.
  • REGISTRO, HISTORIA, INDUSTRIALIZAÇÃO, BRASIL, INICIO, CHEGADA, CORTE, PAIS ESTRANGEIRO, PORTUGAL, HOMENAGEM, VULTO HISTORICO, CONTRIBUIÇÃO, PROCESSO.
  • PROTESTO, AUMENTO, DESIGUALDADE REGIONAL, COBRANÇA, REFORÇO, SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DA AMAZONIA (SUDAM), SUPERINTENDENCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE (SUDENE).

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Tião Viana, pediria permissão para saudar todas as autoridades presentes na pessoa de Armando Monteiro, porque são muitas lideranças empresariais e políticas, eu poderia esquecer alguns nomes. Mesmo involuntariamente, seria imperdoável. E ele, por justiça, é a história industrial de Pernambuco, do açúcar, dos holandeses, dos brasileiros e tal.

Parlamentares presentes, encantadoras senhoras e meus senhores que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, muito feliz o João Tenório em fazer esta sessão, e eu tinha que estar aqui.

Cada um tem sua ligação com a história. Se perguntarem qual o maior industrial do mundo, cada um tem seus critérios para responder. Eu diria: meu avô - sentimental! Mas não sou o certo, não sou a verdade, infelizmente. Quero mostrar intimidade, porque eu o vi pegar uma indústria lá do Piauí, fazer sabão do coco de babaçu e levar para o Rio de Janeiro; também gordura de coco do babaçu e levar para o Rio de Janeiro. Era o nome da família, Moraes, e o mártir mudou: sabão da copa e Gordura de Coco Dunorte. Ela venceu, e eu vi. Eu estudava e fazia cirurgia. Era a gordura de coco carioca da época.

Mas, por que esse encantamento com meu avô? É o maior para mim, e não para os senhores. Vou dizer quem é o maior industrial mesmo - eu vou dizer - da história do mundo e do Brasil.

Eu queria pedir desculpas a V. Exª e ao Tião Viana. Eu disse que o Presidente deveria levar o Tião para ser um Richelieu do Presidente. Eu queria pedir desculpas aos empresários brasileiros.

O jornal Valor Econômico: “Lula critica empresários” por fazerem oposição. E aqui, Tião, eu bem que disse que você deveria estar lá!

Está aqui, marcadinho, Tião. O Globo: “Em defesa da CPMF, Lula critica empresários.” Tião, lembraram do seu irmão, mas era V. Exª mesmo que deveria dizer: Luiz Inácio!

Entendo diferentemente. Votei em Luiz Inácio em 1994. Minha função, a função do Senador é ser o pai da Pátria.

Eu queria dizer por que fui buscar meu avô, Tião! Atentai bem!

Economia e Negócios - Brasília: “Reeditar CPMF é desenterrar defunto! Para ex-Ministro do Planejamento, o Brasil precisa de uma política fiscal que não seja a de aumentar a carga tributária, que já é maior que a dos Estados Unidos” - bota bem grande aí, como se fosse Tião Viana discursando. Isto é um outdoor: João Paulo dos Reis Velloso - atentai bem! -, eis o maior Ministro do Planejamento da história do Brasil, 1º PND e 2º PND.

Agora é que vou buscar meu avô. João Paulo dos Reis Velloso abria a fábrica do meu avô - ele era menor, aos nove anos de idade; depois passou - mania de primeiro lugar, Harvard - para o segundo irmão, que morreu; para o terceiro e para o quarto, que é Raul Velloso.

Esse é o maior Ministro do Planejamento da história do País. Ele foi a luz do regime militar, o farol!

Armando Monteiro, V. Exª é pernambucano, e Pernambuco tem uma história grande. Atentai bem! Bastaria um exemplo - Luiz Inácio, veja: nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade, nenhuma corrupção. Vinte anos. E olhem o que ele disse!

Então, fico, como já estava, com João Paulo dos Reis Velloso, em quem meu avô confiava. Ele dava as chaves da fábrica para ele.

Entendo o seguinte: falo do meu avô porque sou sentimental. Agora, quem é o maior mesmo, a quem temos de reverenciar - calma, Armando, vai chegar sua vez! -, quem é o maior industrial?

Acho que o mundo mudou. Revolução boa - só citei João Paulo dos Reis Velloso, mas não estou defendendo a ditadura militar - foi a industrial. Essa mudou o mundo, trouxe progresso, as utilidades, os utensílios chegaram a todos nós. Isso é a grandeza da civilização da Inglaterra.

Tião Viana, qual o maior industrial do mundo? Tirem meu avô, porque não botaram ele entre as cem maiores personalidades da história. Só um industrial é citado aqui. Então, ele é o maior - se fosse eu, teria posto meu avô; sentimental, sei que estou errado.

Como o Cristovam Buarque é apressado, ele tem que aprender aqui com a gente. Ele tem que ler dois trabalhos de educação: o livro Escritos da maturidade, de Albert Einstein, e o artigo do seu pai - o Antônio Ermírio é seu pai? -, que foi publicado sobre educação, em São Paulo, que, aliás, está no pau! No pau, não; está desmoralizada - se São Paulo está daquele jeito, avaliem nosso Acre, nosso Piauí, nosso Brasil!

Atentai bem! O Cristovam tem que ler isto para ser o Sr. Educação: Einstein, o livro Escritos da Maturidade, e o artigo do Antônio Ermírio de Moraes. Aí ele será o Sr. Educação - mandei o recado para ele; ele deve estar ouvindo.

O maior está aqui: Henry Ford. Ele está aqui - não sou eu quem o diz - no livro das cem maiores personalidades. Depois, há outros que não estão classificados, mas ele cita. Por quê?

Meu avô também representava a Ford, mas eu queria dizer o seguinte: atentai bem, ele é um homem que trabalhou.

Ô Luiz Inácio, V. Exª foi até mais feliz porque estudou nas boas escolas do Senai. Esse negócio de dizer que o Luiz Inácio é ignorante, não é, não. Conheço o Senai. É uma escola padrão, modelo, eu a conheço profundamente. Meu irmão, continuando a tradição, é o Presidente da Federação das Indústrias. O Senai. Eu mesmo peguei uma escola para fazer uma universidade de engenharia. Fiz uns convênios, e há uma faculdade de engenharia da universidade do Estado dentro do Senai. O Senai é uma escola muito boa. Eu a conheço profundamente.

O Luiz Inácio foi esperto por isso. Havia organização neste País. Este País é sério, este País é organizado. Não foi assim, do nada. Ele estudou. Ele teve foi sorte de, naquele tempo, tratar-se de um País muito sério que zelava pela educação.

Henry Ford, também como Luiz Inácio, não era doutor, não - não vim inventar história, não. Mecânico, o rapaz fez um carro, bolou e continuou a transformá-los em carruagem. Aí um repórter perguntou, depois de ele rico, poderoso: “Você não tem medo de haver um incêndio, de se tocar fogo e de você ficar pobre de novo?” Sabe o que ele respondeu, Armando Monteiro? “Não.” Ele disse - estou orientando o Brasil; aqui, foi o espírito do meu avô que baixou: “Eu iria saber do que a comunidade precisa, iria fabricar esse novo produto, com critério, maior quantidade, menor custo, menor tempo” - não vou ler tudo, o resumo é esse. Filosofia: maior quantidade, menor tempo e menor custo. “Ficaria rico de novo.”

Olha o desafio, Tião! Mas, atentai bem! Um quadro vale por dez mil palavras. Isso tinha que massificar. Tínhamos de nos ajoelhar, Tião Viana! Não era o Poder Executivo, não. Eram os industriais do meu País, porque o que adiantaria o progresso se o conforto não chegasse ao povo, à humanidade? Se chega, é porque existem os industriais. Esse negócio de artesão não chega! Dou o exemplo da nossa cajuína, que é o melhor refrigerante. É artesanato. Cadê as indústrias que estão aí?

Então, olha só o exemplo, Tião Viana, para quando você for Governador do Acre, já, já: em 1926, o preço do varejo - ele obedeceu a Taylor, que não vou citar aqui Administração Pública, todo mundo sabe; Henri Fayol e, depois, Taylor, em larga escala.

Então, um carro chegou a US$290 e foi baixando. O primeiro que ele fez foi US$825, mas com o espírito industrial e a maior quantidade, atentai bem Tião Viana, ele deixou um carro a US$290. Olha aí. Então, não resta dúvida, a eles a nossa homenagem.

Do Brasil falou o Cristovam, mas eu vou dar o diagnóstico: este Brasil começou, mesmo, quando chegou a Corte. Está, aí, o livro 1808, a Corte, o progresso, a civilização, a abertura dos portos, não é? Indubitavelmente, no século, começamos a nascer em 1808, com a Corte portuguesa, com a cultura, com a burocracia européia chegando, e só houve dois homens. Na política, foi o grande D. Pedro II - 49 anos aqui, governando esta unidade, esta grandeza. No seu velório, em Paris, os franceses diziam: “Se nós tivéssemos um rei como esse, ninguém tinha feito a Revolução Francesa, nem rolar cabeças.” Como empresário, foi Mauá, que também, como Reis Velloso, começou a trabalhar muito novo. Deixou o comércio, as comunidades, para enfrentar a indústria. Então, queriam fazer. E, depois, do outro século? Está aqui, mostrando que política...

Ouça, Armando Monteiro: eu não sei como saí lá da minha Santa Casa, com essas mãos guiadas por Deus, fazendo o bem sem olhar a quem. Eu não sei como eu fui entrar neste negócio. Mas há um ambiente tão puro na Santa Casa.

Juscelino foi sacado daqui, tirado daqui. Isso traduz a política.

Olha, política é um negócio que é isso mesmo, é essa confusão.

Armando Monteiro, você está encantado, mas vou contar para o Tião, também, que está meio encantado. Sou mais velho do que ele, mais sofrido também. Ele é mais inteligente, mais laureado. Ele é professor catedrático!

Ô Tião, olha, política é um troço tão interessante!

O meu filho também é assim, bonito como o Tião, simpático, aí, eu quis escrever. Eu não sou de escrever, mas fiz um artigo para ele meditar. Está ouvindo, Tião Viana?

Na Turquia, houve uma revolução. A Turquia foi a capital depois da queda de Roma. Lá, tirou-se o rei, o imperador: “Para a forca!” Uma vez, me tiraram do governo, mas eu estou aqui, esnobando, rindo. Lá, tiraram o homem para a forca. Aí, os que dominaram disseram: “Não, mas nós somos tradicionalistas, legalistas. Ele vai ter direito ao último pedido.”. Aí, foram lá. Aí, ele disse: “Por favor, vão atrás do meu filho e digam para ele nunca se meter nesse diabo de política.”. Mas isso é história.

Nós queremos fazer a nossa homenagem a Juscelino, homem do Século XX. Juscelino é lembrado porque imaginou o tripé, industrializou o Sul, botou esta Brasília aqui, no centro, e colocou, lá, os órgãos de desenvolvimento, como a Sudene no seu Pernambuco, para tirar a diferença de renda per capita, que, infelizmente, aumentou.

Era de quatro vezes a diferença entre a menor e a maior renda do Sul para o Norte. No Nordeste, tinha o Piauí... Tudo era pobre. Só eram ricos, mesmo, Pernambuco e Bahia. Então, eram quatro.

Hoje, Tião, quero que V. Exª diga ao Luiz Inácio que fortaleça a Sudene e a Sudam, porque foi o Juscelino que fez o tripé. Essa diferença era de quatro vezes.

Ouvi o Senador João Lobo, ô Armando Monteiro, dizer isso em 1979. Hoje, entristeço.

Luiz Inácio, a diferença é de oito. A maior renda é a de Brasília, esta ilha de riqueza, e a menor, a do Maranhão do Presidente Sarney. É de oito vezes.

Então, está vendo, Armando, aumentou.

Mas nós queremos mudar e, então, agora é o seguinte. Nós queríamos mudar o pensamento do mundo. Sei que o povo, insatisfeito com o L’État c’est moi, com os poderes do rei absoluto, foi à rua e gritou “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, e dividiu esse absolutismo. A maior riqueza é a alternância no poder. E não pode! Quem pensa, quem fala em terceiro mandato é um simples... Não tem aquele livro O Idiota? É um idiota ao quadrado, Tião Viana! Vou dizer por quê. Esses três, nós entendemos. Nós sabemos das coisas.

Ô Armando Monteiro, presta atenção porque eu estou falando. V. Exª é o líder. Esses três poderes têm de ser eqüipotentes, um freando o outro.

Mitterrand, ao morrer, deixou um livro, uma mensagem ao governante: fortalecer o contrapoder, esse equilíbrio. Quem fala em terceiro mandato é um idiota ao cubo!

Atentai bem, quantos o Poder Executivo já nomeou na Corte Suprema, no STF? Quase todos. E os constituintes foram errados? Não. Eles deixaram o Presidente nomear, mas ele só tinha um mandato. Ele nomeava 1/3,1/4,1/5. Agora, já está com mais de 2/3. Se tiver um terceiro mandato... Então, Presidente, tem lá e tem cá. Aqui, você sabe, à Câmara Federal é difícil a gente resistir. Você sabe, Armando. V. Exª é responsável. Eu vim para isso. V. Exª é o responsável.

Antônio Ermírio de Moraes é um herói, mas, no primeiro combate, ele disse: “Que negócio é esse?” Está o neto dele. Ele deve vir, nós devemos exigir a volta de Antônio Ermírio de Moraes para a política.

Quando eu nasci, tinha ditadura. Ouvi um líder bonitão, um tal da UDN: “O preço da democracia, da liberdade democrática é a eterna vigilância.”. E esse é o meu papel.

Sei que o Montesquieu dividiu e chamou de poder. Nós estamos melhor do que Montesquieu. Eu acho que esse nome está errado. Poder é de Deus, poder é o povo. Quando governei o Piauí, eu disse: o povo é o poder. Poder? Nós? Nós somos instrumentos da democracia: instrumento Executivo, instrumento Legislativo, instrumento Judiciário. Poder é quem trabalha, é quem paga a conta, são os senhores.

Então, eu vim, em nome dos brasileiros e brasileiras, agradecer a quem trabalha.

Foi assim que Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto.”. É a mensagem para o trabalho. Foi assim que disse o Apóstolo Paulo, o mais firme: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer.”. E é assim que eu entendo: poder são os senhores, que pagam a conta. Nós somos instrumentos da democracia.

Sejam fortes, ricos e felizes! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2008 - Página 16668