Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 60 anos de existência da Associação Pestalozzi de Niterói/RJ.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 60 anos de existência da Associação Pestalozzi de Niterói/RJ.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/2008 - Página 17164
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, INSTITUIÇÃO ASSISTENCIAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ATENDIMENTO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, ELOGIO, SOLIDARIEDADE, VALORIZAÇÃO, EDUCAÇÃO, OBJETIVO, INCLUSÃO, COMENTARIO, APOIO, CRIAÇÃO, ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS (APAE).
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PERSONAGEM ILUSTRE, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, SUPLANTAÇÃO, DIFICULDADE.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Flávio Arns, que preside esta sessão; as autoridades e lideranças presentes são tantas que peço permissão para saudar a todas na pessoa do Prefeito de Niterói, Godofredo Pinto; saúdo os parlamentares, minhas encantadoras senhoras, meus senhores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado.

Onde está o Romeu Tuma? Um quadro vale por dez mil palavras. Só o Roberto Carlos, com aquele disco “Emoções”. Esse é o homem mais bravo do Brasil, o Romeu Tuma, é o nosso xerife, é o nosso Hopalong Cassidy daqueles filmes; é o Eliot Ness, que prendeu Al Capone. Firme, quando tem que ser - e aqui ele lacrimejou. Ele chorou, porque esta festa é da beleza. Esse homem que está aí...

Tivemos uma transição democrática. Sarney foi muito feliz, o Cirineu dele foi Romeu Tuma. Mais de dez mil greves neste País e, se não fosse o Romeu Tuma, com sua firmeza... Não morreu ninguém. Só na moral dele. E ele chorou aqui. Emoção! Romeu Tuma, a admiração por V. Exª, V. Exª sabe... Até as mulheres são normalistas, a sua e a minha - professorinhas. Estamos em boas mãos.

Mas, Romeu Tuma, outra emoção que eu tive aqui - acho que foram as mais importantes esta e essa outra que vou citar - foi quando este Congresso teve a inspiração e a felicidade de homenagear Oscar Niemeyer. Mais de cem anos, ungido por Deus. Está no Livro de Deus que os escolhidos têm uma longa vida e conseguem exercer sua profissão ate o final. Então, além das obras... O próprio Tiago disse que fé sem obra já nasce morta. E as obras de Niemeyer aqui! Ele não veio, com cem anos, mas apareceu em um telão. E eu, ali, onde está o Romeu, observei ele falar, um homem com experiência. Tem lá em seu Niterói. Que beleza de obra!

Mas eu o vi e sabe o que mais me impressionou? Aquele homem, que é uma vida, disse que a coisa mais bonita que ele tinha que apresentar não eram as obras dele, era solidariedade, que é essencial, é invisível aos olhos. Solidariedade. Podem buscar o vídeo. Isso me marcou. E esta festa aqui é dos que têm solidariedade.

Eu sei, já sabia, todos nós sabemos - e agora muito mais - sobre o Pestalozzi, a Suíça, Jean Jacques Rousseau, aquela geração de iluminados, de educadores que achavam - e como nós temos que entender isto! - que educação tem que nascer na família.

Ô prefeito, prefeitinho - porque eu também o fui e eu gosto: Napoleão Bonaparte, que era de briga também, mas um estadista, um dia estava em Paris, numa solenidade, e, a seu lado, estava uma professora, como as nossas esposas, que tinha sido professora de Napoleão, assim o conhecia na intimidade. Então, ela se virou para o imperador, poderoso, e disse: “Napoleão, você está muito triste, entristecido, com todo o poder, coroas”. Ele disse: “É porque tenho investido muito na França, mas cada vez observo que o francês está mais mal educado”. Aí a professora se virou e disse: “Napoleão, faça uma escola de mães”. Esse é o pensamento de Pestalozzi, ou seja, que a educação começa na família. E não vou falar mais, porque o nosso Paulo Duque já trouxe toda a história francesa, brasileira, de Niterói e está ali.

Mas, baseando-me nisso, agora somos felizes. Ontem, vi muita gente chorar o Jefferson Péres, e o Arcebispo João Braz disse que tinha uma pesquisa que o Senado, e, aí, botou um percentual humilhante. Não creio. Este Senado merece muito respeito, só a figura de Flávio Arns dá 50% de aprovação em qualquer instituição do mundo.

Olha, a melhor coisa é ter líder. Romeu Tuma, nunca me preocuparei com esse negócio de deficiente, só pergunto uma coisa: Flávio Arns, como é que a gente tem que votar? Nunca esquentei a cabeça porque ele... Eu queria até votar, e acho que este Congresso, este Brasil, somos mais felizes, não precisamos aqui invocar, dissecar o Pestalozzi, não; está aqui o nosso Pestalozzi. Acho que era hora, Romeu Tuma, de começarmos uma campanha para Flávio Arns ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Sei que ele descende de D. Evaristo Arns, mas está aqui a beleza desta solenidade.

Mas quero dizer que isso me entusiasma. O Padre Antonio Vieira, que andou pelo Brasil - saiu de Fortaleza, a pé, para São Luis do Maranhão -, caminhava no leito de um rio seco - no Ceará tem rio seco -, passando pelo meu Piauí, fez uma igrejinha. E ele dizia que palavras sem exemplo é como um tiro sem bala. Um bem nunca vem só; vem acompanhado de outro bem.

Então, os pestalozzianos criaram a Apae. Eu sou testemunho da Apae. Eu vivi a época da Apae. Eu quero dizer que já fiz um bocado de coisas boas e outras que eu errei mesmo - errare humanum est.

Quero dizer que fui Presidente do Rotary da minha cidade e, com os companheiros, construímos uma escola da Apae. Depois, eu fui prefeitinho, Deputado e Governador. Mas o que me deu tanta grandeza foi, com o Rotary, fazer uma campanha e construir uma escola da Apae na minha cidade. Lembro-me da Apae. Então, eu convivi na Apae, na Escola Municipal Professor Cordão, no Piauí.

Flávio Arns, lembro-me de que, na hora da inauguração, o Governador do Estado, que era rotariano... Eu discurso aqui, porque ele tombou nesta tribuna no primeiro discurso: Dirceu Mendes Arcoverde. No primeiro discurso dele como Senador. Era meu amigo, Governador... Nós, então, fizemos a escola. Os outros já morreram. Na semana passada, morreu um. É como a vida aqui. Lembro-me de que eu cheguei com a Adalgisinha às treze horas, porque o Governador iria às dezesseis horas para a inauguração e estava na praia tomando banho de mar. Eu queria dar uma “ferrada” nesse Governador. Aquele negócio do material, professor etc. Fizemos só a casa em si. E fui ver. E um dos companheiros estava lá em cima do telhado botando telha, antes da inauguração. Ele morreu na semana passada. Para ver como é a vida. E esse Dirceu Arcoverde foi inaugurar a obra, era rotariano. Aí, ele doou, como todo Governador, os utensílios necessários. Mas ela floresceu, ela cresceu. E, depois, Deus me permitiu ser prefeito. Eu ajudei. Fui Governador e convivi com a Apae. São extraordinários.

Dia feliz quando o Cordão levava todos ao Palácio de Karnak. Era um dia de alegria, dava-se almoço, favoreciam as olimpíadas.

Então, é aquilo que está no Livro de Deus: o bom é fazer o bem.

Mas, no Piauí, também teve a Pestalozzi, Senador Romeu Tuma. E a minha professorinha chegou e disse: “Não, você vai lá, você fez muita coisa”. Eu retruquei: “Não era a Apae?” E ela disse: “Não, era a Pestalozzi que estava lá. Você deu o prédio, com equipamento, salas de aula, alimentação, o material didático, o pagamento de professores e funcionários de apoio, o pagamento das despesas necessárias ao funcionamento da escola, tais como água, energia, telefone etc.”. Era responsabilidade da Fundação o treinamento de professores e a cessão de um veículo. Quer dizer, estivemos sempre juntos.

Agradeço este instante. Acho que o mais importante disso é o exemplo que a Associação de Niterói deu. Um bem nunca vem só; ele é acompanhado.

Todos sabemos que aos deficientes já devemos muito. O que seria deste mundo sem Franklin Delano Roosevelt, que governou os Estados Unidos numa cadeira de rodas, por quatro vezes? Juntou-se com Churchill, com Stalin, fizeram renascer a democracia acabando com Hitler e com Mussolini.

Aqui mesmo, houve um homem fundamental para renascer essa democracia: Thales Ramalho. E o Azeredo disse - colega do meu pai: “Ajudou a democracia a renascer; andava de cadeira de rodas aqui”.

E tenho um exemplo muito forte. Foi lá, no seu Rio, olhando para sua Niterói. Eu era residente do Hospital do Servidor do Estado e, pasmem: ali, na Sacadura Cabral nº 178, eu ia operar na Casa Santa Rosa e Santa Rita com Frederico Souza, aos sábados, na sua Niterói. Ainda estavam construindo a ponte Rio/Niterói, e dávamos plantão no que, naquela época, chamavam de CTI - morria tanta gente que apelidei logo: “Companhia de Transporte para o Inferno”. Mudaram o nome, hoje é UTI.

Lá em cima, eu via aquela ponte todinha, nos anos de 1967 e 1968. Para aquele que era o sonho, gastei minha adolescência buscando ciência para consciência e com ciência servir ao povo do Piauí.

Romeu Tuma, um quadro do que é deficiente. Vi muito médico importante. Vi. Christiaan Barnard, que fez o primeiro transplante; eu vi; Zerbini, Jatene, Pitanguy, Mariano de Sousa, muita gente, mas um me impressionou. Era deficiente: Francisco Duarte - já está no céu -, professor de Anatomia Patológica, fazia aquelas biópsias, exames patológicos. O fato mais honroso - havia disputa, muitos médicos, num hospital grande - era empurrá-lo na sua cadeira de rodas para o refeitório. Mas mais importante - isto é para se ver que não há deficiente - era colocá-lo no elevador -, ô Romeu Tuma, inclusive minha mãe teve um problema de câncer. Pegava-se Francisco Duarte, colocava-o no elevador, entrava-se na sala de cirurgia e levantava-se para ele olhar a barriga; e ele a olhava e quase sempre dava o diagnóstico sem exame patológico.

Então, quero dizer que os senhores já têm contribuído para a formação de muitos Franciscos Duartes. Assim, nossas palavras só podem mesmo ser dirigidas a Deus: ó Deus, abençoe a Pestalozzi de Niterói e irradie esse ideal por todo o nosso Brasil! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/2008 - Página 17164