Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a Confederação Nacional das Profissões Liberais - CNPL, pelo transcurso de seu quinquagésimo quarto aniversário de fundação.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Confederação Nacional das Profissões Liberais - CNPL, pelo transcurso de seu quinquagésimo quarto aniversário de fundação.
Aparteantes
Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/2008 - Página 18598
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS PROFISSÕES LIBERAIS (CNPL), COMENTARIO, HISTORIA, BRASIL, CHEGADA, CORTE, INICIO, PROGRESSO, CRIAÇÃO, FACULDADE, MEDICINA, INCENTIVO, PROFISSÃO LIBERAL, ELOGIO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Gerson Camata, que preside esta sessão, que visa homenagear a Confederação Nacional das Profissões Liberais pelo transcurso do seu 54º aniversário, Parlamentares presentes, lideranças e autoridades. São tantas que eu poderia esquecer alguns nomes, o que seria imperdoável. Então, saúdo a todos na pessoa do Presidente da Confederação, Francisco Feijó. Brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

A admiração ao Camata é extraordinária. Além de ser do meu Partido, ele simboliza decência na política e a esposa dele empata com Adalgisa. Então nos entendemos, nós somos felizes e tal.

Mas eu queria dizer o seguinte: foi muito oportuno e eu cheguei atrasado. Ele me telefonou cedo, porque era o primeiro inscrito. Deus escreve certo por linhas tortas. Eu estava recebendo profissionais liberais lá do meu Piauí. Eles ali estão, na tribuna de honra. São os odontólogos. O Ailton Diogo Morilhas Rodrigues, que é o Vice-Presidente, mas não é do Piauí; é do Estado do Ramez Tebet, Mato Grosso do Sul. E os piauienses ilustres: Sérgio Pires é o Presidente do CRO do Piauí, Marcondes Martins, CRO do Piauí, e o Procurador José Alberto, que também é um profissional liberal.

Mas, Camata, V. Exª já falou bem. E Cícero disse: nunca fale depois de um grande orador. Mas eu vou dizer o seguinte... E, para igualar-me ao Camata, eu iria buscar John Fitzgerald Kennedy. No seu discurso de posse, com a sua visão de futuro, ele disse que nós precisaríamos ter muita imaginação, muita inovação, muita criação, muita coragem para atravessar uma nova fronteira. Aí ele vai mais fundo: norte-americanos, não perguntem o que o país, o governo pode lhes dar, e sim o que cada um de vós pode dar ao nosso país.

Então, aqui estamos nós, porque eu sou também... Eu sou, fui profissional liberal. E, entre profissional liberal e político, eu traria aqui a imagem de libertador das Américas, essa daí, da Venezuela, que hoje está todo mundo com interrogação. Mas lá surgiu a figura, em Caracas, de Simón Bolívar, que recebeu o aposto de El Libertador, e muito ligada a nós, embora o nosso domínio fosse português, porque a história conta que esse país é novo; nesse país, durante trezentos anos, uma colônia, era proibido industrializar-se, criar, progredir. Muitos poucos eram pinçados para ganhar o saber da metrópole, em Portugal, em Lisboa, em Coimbra. Muito poucos! Só em 1880 é que... Durante os trezentos anos... Ó Marco Maciel, V. Exª que sabe tudo, ou quase tudo, além de ser um dos políticos mais respeitáveis da nossa democracia, um Senador da Academia Brasileira de Letras, durante trezentos anos, nós só tivemos um herói. Atentai bem como nós somos atrasados para as coisas.

Em 1808, chegou Dom João VI. Diziam que ele era tolo. Não, ele era sabido. Napoleão tinha mandado invadir. O que ele ia fazer? Ele ia ser preso? Foi o único que enganou Napoleão Bonaparte! Napoleão Bonaparte saiu derrubando os reis e botando os seus parentes.

Já estava na Espanha, já tinha mandado Junot entrar. Invadiu mesmo! E para este Brasilzão, que era o quintal de Portugal, ele veio, trouxe a Corte, trouxe o progresso. Em 13 anos - atentai, Luiz Inácio -, por 13 anos foi um grande governante. Chegou logo, abertura dos portos; chegou logo, criou a primeira faculdade de Medicina, a burocracia, a imprensa, a cultura francesa, o intercâmbio com a Inglaterra, porque, se nós éramos colônia de Portugal, Portugal já era colônia da Inglaterra. Ele já veio protegido pelos ingleses. Daí a nossa dívida.

Mas, durante os 300 anos, no Brasil, um profissional liberal, só um herói em 300 anos. E um mineiro sabido porque ele lembrava a figura de Cristo: barbudo, cabeludo, magro. Um foi para a cruz, outro, para a forca. Aí botou o Tiradentes. Foi o único herói que nós tivemos em 300 anos. Profissional liberal.

Atentai bem, Marco Maciel, profissional liberal! Então, é justo, Camata. Vocês traduzem a democracia, que nasceu com o grito: independência! Liberdade! Liberal é isso, são os homens livres. O primeiro grito: liberdade!

D. João VI disse, depois de 13 anos de exitosa administração, a burocracia, a política, que ninguém... As câmaras... As câmaras?! Atentai bem! As Câmaras Municipais eram chamadas, ô Camata, de câmaras dos bons. E lá ia o ouvidor-mor, o ouvidor da fazenda, o capitão-do-mato, o governador-geral depois. Câmara dos bons. Olhe a pureza, olhe a história que nós temos. Não é aquela história: nunca antes, não. Nós viemos a isso. Já fizemos muito. A ignorância é audaciosa. Sócrates já dizia: só tem um grande bem, o saber; só tem um grande mal, a ignorância.

E D. João VI, exitoso administrador, competente, voltou e tomou o reino de novo, Portugal. “O homem é o homem e sua circunstância”. Não sou eu, mas Ortega y Gasset que diz isso.

Ele, antes de sair, disse: filho, coloque essa coroa antes de um aventureiro. O aventureiro, ô Marco Maciel, era Simón Bolívar, que estava derrubando os reis todos ligados ao domínio espanhol e viria aqui.

Mas o que tenho a dizer é que esse Simón Bolívar... Eu fui a Caracas. Sei que o Marco Maciel sabe muito mais, mas, em Bogotá, há uma casinha branca dele, um sobrado, e uma estátua. Eu fui lá, no meio da praça, ver a estátua.

E li, Camata - eu e Adalgisa -, li o que Simon Bolívar disse: “Eu fui soldado, cabo, sargento, tenente, major, coronel, general, comandante das Forças Armadas, comandante e chefe, presidente, el libertador. Mas nenhum título eu troco por ser bom cidadão”.

Quero dizer que não troco também. Sei que Camata foi muita coisa e Marco Maciel mais do que nós. Mas nós não trocamos nosso título de profissional liberal, com muito orgulho de ter sido um bom médico. Tentaram fazer da ciência médica a mais humana das ciências e do médico o grande benfeitor. Mas esse é cada profissional liberal. Cada um na sua grandeza.

Aquilo que Kennedy disse: “Quero saber o que vocês podem fazer”. E o que estamos fazendo por este País? Não são os aloprados, os aproveitadores, 25 mil que entram pela porta larga, sem concurso. Alguns deles, Marco Maciel - talvez você não saiba e quero lhe informar -, com o DAS 6. Sei que V. Exª foi Governador, e lá só existe DAS 4. O DAS 6 ganha R$10.440,00, sem concurso, pela porta larga, como a Bíblia diz, da vadiagem. Esses aqui, não! São aquele sonho de John Fitzgerald Kennedy: dão.

Marco Maciel, V. Exª que é aqui um ícone - se partir de mim, não dá certo, então venho apelar para V. Exª -, vamos trocar esse negócio de poder. O poder é de Deus, é do filho de Deus. Vamos entender, Marco Maciel: Montesquieu não errou. Nós é que botamos, na nossa vaidade, Poder Legislativo, Poder Executivo, Poder Judiciário.

Nós somos, eu entendo... V. Exª citou Tocqueville, agora há pouco. Ele andou estudando esses negócios do Montesquieu. Nós somos, eu entendo, instrumentos da democracia. Poder é o povo que trabalha. É o que Rui Barbosa disse: a primazia é do trabalho e do trabalhador; eles é que vieram antes, eles é que fizeram a riqueza. Nós somos instrumentos da democracia. Poder é o povo que trabalha. E, na pirâmide, como nós somos o ápice do instrumento legislativo, esses profissionais liberais são o ápice desse povo que eu chamo poder.

Quando governei o Piauí - há dois ilustres piauienses aí, líderes -, eu cantava mais como uma reza, com convicção e fé: o povo é o poder.

Agora, Camata, o símbolo maior desse poder, que foi buscar o estudo e, por meio deste, a sabedoria - que, segundo Salomão, vale mais do que ouro e prata -, casado com o trabalho... Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. E o apóstolo Paulo, mais duro do que nós, Camata - mais do que o Camata, e o Camata é durão: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”. Isso aqui, esse casamento do estudo com o trabalho, são esses profissionais liberais, que fazem as riquezas, que pagam a nossa conta - nós, vaidosos. Poder Luiz Inácio, Poder Legislativo, Poder Judiciário; eles que pagam a conta.

Então, o Camata trouxe o espírito de John Fitzgerald Kennedy. E esta Casa engrandece, pela primeira vez, em homenagear esses que são aquele sonho de Kennedy: “Eu quero saber o que vocês podem dar”. E eles estão dando. Eles estão aí orgulhosos, eles amam a Pátria, eles são exemplares.

Essas são nossas palavras. E quis Deus que eu chegasse, embora atrasado, pois vieram profissionais liberais - eu os estava atendendo - do Piauí, de que me orgulho. Sou do nosso Piauí. A bandeira do Piauí, Camata, é mais bonita do que a do Brasil. As cores são as mesmas, mas a do Brasil tem muita estrela, e a de lá só tem uma.

E eu quero homenagear os profissionais de saúde que estão ali. Olha, nós somos muito avançados em saúde, mas isso é causa e efeito, Camata. Isso teve sua razão; não fui eu, não. Eu governei e governei bem, com visão de futuro, plantei a mais importante semente, a do saber, no meu Estado, o maior desenvolvimento universitário. Mas não foi por mim não, Camata. Aqui é citado o discurso de Álvaro Dias: “árvore boa dá bons frutos”. Essa associação nasceu de Vargas. Em 53, não é verdade? Pois ele teve o primeiro período de exceção, de 30 a 45. Marco Maciel é estudioso e sabe que o Getúlio saiu botando tenente Brasil afora. No Pernambuco, era um tenente, não? No período de 30 a 45. Ele saiu colocando tenentes. No Piauí, não aceitamos o tenente e, de repente, toma posse um médico, Dr. Leônidas Melo, sabido todo, havia estudado no Rio, era pneumologista. Colocou logo um hospital e com o nome de Getúlio Vargas. Então, esse hospital foi o pioneiro, e irradiou de tal maneira que o Piauí é um dos ícones em ciências da saúde.

Quando eu era Governador do Estado, eu vi se fazer transplante cardíaco com êxito há alguns anos. Vários Governadores, eu acho que fui reeleito, não pelo Partido, mas porque a classe da saúde é muito forte e respeitada.

Então, nós queremos...

O Sr. Marco Maciel (DEM - PE) - Nobre Senador Mão Santa...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - É um prazer ouvi-lo, Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (DEM - PE) - É uma breve interrupção. Em Pernambuco, o nomeado não era militar, foi um civil, o Professor da Faculdade de Direito Agamenon Magalhães, que fez excelente trabalho, embora o País estivesse sob um governo extremamente autoritário, posto que dissolveu o Congresso - Câmara e Senado. De fato, como V. Exª lembrou, nomeou interventores em todos os Estados, salvo em Minas Gerais.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Em Minas Gerais, era Olegário Maciel. Naquele tempo, ele se chamava presidente também. Getúlio, Presidente do Brasil, e ele se dizia Presidente de Minas. Quando ele morreu, Getúlio ficou morto de satisfeito.

O Sr. Marco Maciel (DEM - PE) - Isso era tradição do Império. Nesse período não havia Estados e sim Províncias, cujo titular do Poder Executivo era o Presidente da Província. Quero apenas ressalvar a questão de Pernambuco, deixar bem caracterizado que, posteriormente, Agamenon Magalhães se elegeu Governador, realizando administração digna de louvor, foi Ministro da Justiça, Deputado Federal em mais de uma Legislatura, enfim, uma figura muito respeitada dentro e fora do Estado. Muito obrigado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Nós lhe agradecemos. Por isso que eu disse que ele sabe tudo. Antes, eu já me penitenciei, porque eu devia ter falado com ele, como sempre faço. Ele é que ensina as coisas. Os erros são meus mesmo, mas os acertos que tenho aqui mereço por ele.

Justamente, Agamenon Magalhães foi um profissional liberal. E desenvolveu-se esse Pernambuco com uma classe liberal brilhante, que tem entre seus profissionais esse seu representante.

Então, nossas últimas palavras são aos céus e a Deus. Que cheguem pelas ondas sonoras até os céus as nossas palavras. Ó meu Deus, fortaleça a vocação dos profissionais liberais do nosso Brasil. Eles é que traduzem essa bandeira, que tem “ordem e progresso”. E mais ainda, ô Marco Maciel, isso é um lema positivista em que quiseram colocar amor na frente. O lema era “amor, ordem e progresso”, mas tiraram o “amor”. Então, esses profissionais liberais traduzem o amor que foi subtraído do lema positivista que deveria estar na bandeira e garantem, pelo seu exemplo de trabalho, a ordem e o progresso do nosso País.

Sejam fortes, bravos, ricos e felizes profissionais liberais do meu País. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/2008 - Página 18598