Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a Confederação Nacional das Profissões Liberais - CNPL, pelo transcurso de seu quinquagésimo quarto aniversário de fundação.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Confederação Nacional das Profissões Liberais - CNPL, pelo transcurso de seu quinquagésimo quarto aniversário de fundação.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/2008 - Página 18603
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS PROFISSÕES LIBERAIS (CNPL), ELOGIO, DEFESA, EXERCICIO PROFISSIONAL, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, INCLUSÃO, SAUDAÇÃO, DIVERSIDADE, PROFISSÃO LIBERAL.
  • APOIO, RECLAMAÇÃO, PROFISSIONAL LIBERAL, EXCESSO, TRIBUTAÇÃO, BRASIL, AUSENCIA, QUALIDADE, SERVIÇO PUBLICO.
  • AVALIAÇÃO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, BRASIL, AUMENTO, DEMANDA, ENSINO PROFISSIONALIZANTE.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Gerson Camata, Senadora Serys Slhessarenko, Srªs e Srs. Senadores, Srªs e Srs. convidados para esta sessão tão relevante, esta que homenageia a Confederação Nacional dos Profissionais Liberais, a CNPL, pelo transcurso do seu 54º aniversário de fundação.

Dizia-me ainda há pouco um dos participantes desta reunião que é muito escorchante o esquema de cobrança de tributos sobre os profissionais liberais. E é de fato. Aliás, sobre a Nação brasileira como um todo: 37% como proporção do PIB, o que nos obrigaria a prestar serviços de nação desenvolvidíssima e, lamentavelmente, nos obriga a presenciar o povo recebendo serviços típicos de nações bem mais atrasadas do que a pujança da nossa economia, que é a décima do mundo quando se mede em dólar o que se construiu durante um ano de riqueza no País.

Mas, muito bem.

A CNPL, entidade sem fins lucrativos, existe desde 1953 em âmbito nacional, estadual e interestadual. Ao longo de 50 anos - meio século, portanto - de presença na vida nacional, é órgão representativo de 38 federações e 600 sindicatos de profissões regulamentadas.

Hoje, merecidamente, a entidade é homenageada pelo Senado da República pelo seu 54º aniversário de fundação. Homenagem merecida. Afinal, acompanha os seus representados há meio século. Na verdade, 54 anos, período em que logrou reunir expressivo acervo em favor dos profissionais liberais, categoria sempre lembrada quando o assunto é a prestação de serviços, de natureza técnica ou de assistência à saúde, como no caso dos médicos, ou infra-estrutural, incluídos aqui engenheiros, arquitetos e outros.

Inscrevi-me para saudar a CNPL por reconhecer sua boa caminhada em defesa desses profissionais.

Não há como falar em profissional liberal sem mencionar o significado dessa categoria que, claro, é parcela de homens e mulheres que exercem atividades quase sempre sem vínculos empregatícios ou são formados em categoria assim considerada.

O profissional liberal, tenho a convicção, é, na essência, um trabalhador. E, como qualquer outro, participa do esforço produtivo da Nação. Nele, vejo o cidadão consciente que, nas diferentes áreas do trabalho, aplica os conhecimentos que detém depois de passar por anos de estudos. E, sem dúvida, de sacrifícios pessoais ou familiares.

Vejo, no meu Estado, o Amazonas, o tanto de valor e de dedicação com que os profissionais liberais desempenham suas atividades, num mercado de trabalho, hoje bastante exigente. É ali, Sr. Presidente, que se alcançam vitórias pessoais, pela dedicação e pela competência dos profissionais liberais.

Ainda nesta manhã, ouvi pelo rádio informação dando conta da implantação, no Sul do Brasil, do primeiro núcleo brasileiro dedicado à produção de semi-condutores, componente diminuto mas indispensável à manufatura de bens de alta tecnologia. Explicava a notícia ser essa área carente de técnicos capacitados e à altura de um setor apenas existente em países realmente desenvolvidos. A unidade brasileira será a primeira da América Latina em segmento de tamanho relevo.

Ali, a demanda será por técnicos, incluindo esses que são considerados liberais, ou seja, os que se graduam em universidades e que ainda precisam prolongar os estudos em nível de pós-graduação, em mestrado ou doutorado.

Não se entenda, no entanto, que o profissional liberal seja apenas o técnico pós-graduado. Há também, entre os que compõem essa parcela de profissionais, cidadãos dedicados às vezes a um mister em tudo dependente da vocação pessoal.

Agradou-me, certa feita, encontrar, entre um grupo de trabalhadores que eram homenageados com a Medalha do Mérito do Trabalho, um profissional circense que circulava pelo País com um pequeno circo a ele pertencente. Era um homem simples que exercia cidadania, valendo-se de seu talento e da arte que aperfeiçoara. Era um palhaço circense. Ele, em seu divertido circo mambembe de lona, percorria o País alguns dias ali e outros acolá. Se lhe perguntavam quem era ou o que era, respondia: “Palhaço liberal! Com diploma da escola da vida...”

Um e outro, o pós-graduado e o artista inato, são, sim, profissionais liberais, que contam com a sorte e a proteção de uma entidade como a CNPL, a Confederação Nacional das Profissões Liberais, que hoje completa seu 54º aniversário. Então, na pessoa do Presidente dessa entidade, Dr. Francisco Antônio Feijó, contabilista e advogado, a quem conheço de longa data, saúdo todos os que, como ele, profissional liberal, emprestam seu esforço e seu trabalho ao esforço nacional.

Sr. Presidente, encerro lembrando a V. Exª uma passagem que me foi contada pelo ex-Ministro e Deputado Almino Afonso, meu conterrâneo, mas que fez carreira entre o Amazonas, no início, e São Paulo. Foi vice-Governador e Deputado em São Paulo e Deputado e Ministro de Estado no Governo Goulart pelo Amazonas. Ele me contou que jamais viu uma cena tão bonita no Parlamento - eu queria me fixar, ao concluir, no palhaço - num debate entre o Deputado Carlos Lacerda, com sua genialidade às vezes impiedosa, e o Deputado Último de Carvalho, que tinha toda aquela malemolência, aquela boa esperteza mineira. Certa vez, Britto Velho, Deputado pelo Rio Grande do Sul, disse: “Respeite-me, Deputado. No Rio Grande do Sul, nós somos todos machos”. Ele respondeu: “Em Minas é melhor, porque lá metade é macho, metade é fêmea”. Carlos Lacerda, leal a Juscelino Kubitschek como ele era, irritado com aquela marcação homem a homem que ele fazia, disse assim: “V. Exª é um palhaço!” Último de Carvalho pediu a palavra, o Presidente obviamente a concedeu para as explicações pessoais, e ele disse que estava impressionado com a sensibilidade do Deputado Carlos Lacerda; que o Deputado Carlos Lacerda, como ninguém, tinha percebido que ele era de fato um palhaço, um palhaço irrealizado. Ele disse: “Meu pai, meu avô, meu tio eram palhaços e educaram-me com o dinheiro que ganhavam sob a lona, me educaram com o dinheiro que ganharam fazendo esse trabalho que era levar as pessoas a sorrirem mesmo quando eles tinham contas a pagar, contas atrasadas e estavam chorando por dentro; então, ninguém aqui percebeu que eu, advogado, Último de Carvalho, tinha aprendido a arte circense por herança familiar. Infelizmente a vida me endereçou para outros caminhos e eu não tive a alegria de ser, como meu pai, meu tio, meu avô, palhaço profissional. Mas eu quero agradecer ao Deputado Carlos Lacerda por ter percebido em mim, quando nada, o espírito do palhaço”. O Lacerda tentou reagir, segundo Almino Affonso foi a única vez que ele não teve resposta - ele sempre tinha resposta para tudo, homem culto e genial que era -, e ficou por ali meio assim amuado. Dez minutos depois ele pede a palavra pela ordem e diz: “Sr. Presidente, eu quero apenas pedir desculpas ao Deputado Último de Carvalho”.

Com isso imagino que homenageio, da maneira mais sentida, os profissionais liberais de todo o País, aqueles que têm - e que temos todos nós - sempre o espírito de luta que revelam aqueles que vão do engenheiro ao palhaço, do profissional não pós-graduado àquele que a duras penas se graduou, aqueles que não contam com nenhuma aposentadoria e que têm que fazer o seu pé-de-meia para garantir uma velhice ao longo de sua vida profissional útil. Sabemos como é dura a vida de todos nós e como é dura a vida de todos aqueles que se dedicam a construir com sinceridade a grandeza da vida nacional.

E ressalto, ainda, o empenho do Senador Camata ao realizar esta sessão, porque revela também toda a sensibilidade de um dos líderes mais relevantes do seu Estado e do País, há muito tempo. O Senador Camata, então, homenageia aqueles que sabe que são responsáveis por muito do que este Brasil já acumulou de riqueza, de conhecimento, de decência, com muita criatividade e com muita fé no futuro.

Então a homenagem é o que podemos fazer, hoje, de coração aos profissionais liberais deste País.

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/2008 - Página 18603