Discurso durante a 96ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Anúncio de viagem para representar o Senado Federal em seminário internacional, na OIT, em Genebra, Suíça.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. LEGISLAÇÃO ELEITORAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Anúncio de viagem para representar o Senado Federal em seminário internacional, na OIT, em Genebra, Suíça.
Publicação
Publicação no DSF de 07/06/2008 - Página 18841
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. LEGISLAÇÃO ELEITORAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANUNCIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, FRANCISCO DORNELLES, SENADOR, REPRESENTAÇÃO, SENADO, BRASIL, CONGRESSO INTERNACIONAL, ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT), REALIZAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, SUIÇA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, REUNIÃO.
  • ANALISE, IMPORTANCIA, LEGISLATIVO, HISTORIA, BRASIL, ELOGIO, PRESENÇA, SENADOR, PLENARIO, DIA, AUSENCIA, DELIBERAÇÃO, VIABILIDADE, DEBATE, ASSUNTO, INTERESSE NACIONAL.
  • CRITICA, POLITICO, REPUDIO, PROPOSTA, DEBATE, PROJETO DE LEI, REELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ADVERTENCIA, POSSIBILIDADE, EXECUTIVO, CONTROLE, JUDICIARIO, MOTIVO, COMPETENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESCOLHA, MEMBROS, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), AGRAVAÇÃO, DESVALORIZAÇÃO, LEGISLATIVO.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO, REALIZAÇÃO, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, TRABALHADOR, EFICACIA, LUTA, PAULO PAIM, SENADOR, DEFESA, AUMENTO, SALARIO MINIMO, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Paulo Paim, que preside esta sessão de sexta-feira, 06 de junho, às 9 horas e 7 minutos, Parlamentares presentes, brasileiros e brasileiras presentes e que nos assistem pelo fabuloso sistema de comunicação do Senado, composto pela TV Senado, por suas duas emissoras de rádio, AM e FM, e também pelo conceituado Jornal do Senado.

Às sextas-feiras, falamos para o Brasil.

Geovani Borges, Norberto Bobbio disse que uma das mais importantes funções do Parlamento é sermos a ressonância popular, do povo. Podemos dizer o que o povo sente, o que gostaria de falar, mas não tem condições, por medo, por falta de poder, por falta de um sistema de comunicação.

Este, Paim, é o sistema representativo a que chegamos e que aperfeiçoamos. Lá, onde se iniciou a democracia, na Grécia, era interessante: eles iam à praça pública, Senador Borges, e falavam. Começavam de manhã e, à noite, estavam falando, porque todo mundo tinha direito a falar. Paim, a confusão era grande, de tal maneira que se foi aperfeiçoando. Os romanos avançaram, construindo esta democracia representativa, com muita grandeza. Daí a Itália do Renascimento, a Itália grandiosa. O Senado teve tanta força, e eles falavam. E eles diziam sempre: o Senado e o povo de Roma. Então, assim devemos falar: o Senado e o povo do Brasil.

Paim, que aí está, tem representado o povo do Brasil, e pedi para falar antes dele, que era o primeiro inscrito, porque vou viajar já, já. No início da semana, estarei representando o Senado num seminário internacional que reputo da maior importância, na OIT, em Genebra.

Genebra é uma cidade da Suíça que apareceu para o mundo como órgão centralizador de todas as iniciativas globalizadas. Quase todos os organismos internacionais estão centralizados e convivendo em Genebra.

Paim, eu já conheci essa cidade. E sei que o Paim já esteve lá, nesse mesmo seminário em que eu e o Senador Dornelles vamos representar o Senado. O Senador Dornelles é de grande valia, Presidente do PP, representa o Rio de Janeiro, é mineiro e é um homem de uma visão extraordinária. Este País tem muito respeito a Dornelles; todo mundo se lembra de que ele foi escolhido por Tancredo para ser Ministro da Fazenda, e hoje o povo do Rio de Janeiro o escolheu para representá-lo. Então, nós vamos. O Paim já esteve em congresso semelhante.

E eu acho que é um dos mais importantes, porque, Geovani Borges, a gente tem que ter fé. Fé. Acreditar. Sem crença, é nada. E eu tenho as minhas crenças: eu creio em Deus. Aí, aprendemos que Deus é amor, amor é Deus, e eu creio no amor. O amor, no meu entender, é o cimento que constrói a família, e eu acho essa, Paim, a instituição mais sagrada. Mozarildo, tão sagrada é - e eu o respeito pelo amor que V. Exª tem à família, o amor e o orgulho que V. Exª sente dos filhos, juizes -, tão importante que o próprio Deus, depois de muitas tentativas de salvar este mundo, manda um filho especial, Jesus, que está ali. Paim, Ele não desgarra; Ele bota numa família. Eu acho que nós temos de fazer esta reflexão: a Sagrada Família, Jesus, Maria e José. Bota na família de um trabalhador, Paim, de um operário, como V. Exª representou os operários e os trabalhadores do Rio Grande do Sul.

Então, é outra mensagem de Deus: o amor - está escrito que Deus é amor - é o cimento da instituição primária e fundamental, a família. Ele bota seu Mensageiro para nos salvar, depois de muita tentativa, na casa de um trabalhador operário.

Então, está escrito em Seu Livro: “Pelos ungidos, comerás o pão com o suor do seu rosto”. Geovani Borges, é uma mensagem de Deus aos governantes: o trabalho. Esse congresso em que, com muito orgulho, vou representar o Senado da República é do trabalho. Eu acredito no trabalho. Acredito. É crença! Principalmente, quando aquele, ungido por Deus, deixou escrito, o Paulo...

As conversas do Suplicy, as teses do Suplicy, eu as aceito, ele é um homem bondoso. Mas prefiro ficar com o Apóstolo Paulo. Aliás, o pai e a mãe de Paim o homenagearam colocando esse nome em Paim, e eu também tenho um irmão chamado Paulo de Tarso, aquele guerreiro que disse: “Percorri o meu caminho, preguei a minha fé e combati o bom combate”.

Mas o bonito mesmo nesta vida que ele descreveu foi - Paim, esta é uma mensagem -: quem não trabalha não merece ganhar para comer. Com isso, ele não está enterrando o conceito de Deus, que é amor. Ele mesmo disse que devemos ter fé, esperança e caridade, que é amor. Devemos ter, mas ele disse que o trabalho é mais importante.

Paim, Rui Barbosa, que também glorifica este Senado, que nós estamos tornando grandioso por mérito nosso - talvez este tenha sido o melhor Senado da história da República -, por nossa causa, pelo estudo e pelo trabalho com que nós chegamos aqui, é lógico... Se o “senadinho” de Cristo, que eram treze, não teve a perfeição - por dinheiro, a traição -, aqui também há os que traem os propósitos por fraqueza, por interesse.

Mas basta dizer isto: estamos aqui numa sexta-feira, ô Mozarildo, este Senado nunca se reunia às sextas-feiras. Fomos nós, Paim. V. Exª era o Vice-Presidente da Casa, V. Exª abriu, V. Exª passou a fidelidade ao Partido, que não se interessava e que é normal, que é normal, porque aqui lançamos o clamor das oposições, mas V. Exª facilitou. Então, vínhamos para cá, Presidente era o Sarney, vínhamos para cá, Efraim Morais deu a idéia, Antero Paes de Barros, que tive o prazer de rever há dois dias, Arthur Virgílio e eu.

Daí quase sempre eu apareço presidindo, porque o Efraim, fiel ao Regimento, dizia que eu tinha mais idade. Aí, foram aumentando, e V. Exª era o quinto - a mão tem o quinto -, chegava e, democraticamente, dava força. E eu tenho visto aqui pronunciamentos muito importantes. O nosso companheiro Pedro Simon tem oferecido à Nação, à democracia e ao Brasil grandes reflexões. Para não citar todos, ele, que é o nosso Cícero.

Mas, Paim, então, vamos... O próprio Rui Barbosa engrandeceu esta Casa, e nós, nós todos... Eu não acredito nesse negócio de uma mídia comprada dizer, ô Mozarildo... Outro dia, fui à missa, mas o arcebispo deu uma pesquisa em que não acredito. Eu não acredito, pois aqui há tantos valores, e eu tenho acompanhado isso. E tive também, não vou dizer o prazer, mas um misto de tristeza e prazer de ir aos enterros dos Senadores que faleceram e vi o povo de suas cidades, de seus Estados e do Brasil chorar. Assim aconteceu com Ramez Tebet, assim aconteceu com Antonio Carlos Magalhães, assim aconteceu, ultimamente, com Jefferson Péres. Então, eu queria dizer: eu vi o povo chorar e os céus chorarem com Jonas Pinheiro. Choveu. Era o céu chorando por aquele homem que se dedicou tanto à produção da terra, Paim. Então, eu não acredito naquela pesquisa. E, Mozarildo, eu não acredito, porque só recebo manifestações de aplausos por onde ando. Eu nunca pensei que iria dar autógrafo lá em Buenos Aires, saindo de um show de tango. Brasileiro, a metade que assiste é brasileiro: “Ah, é o Mão Santa?” Aí tira um retrato... Então, nós gozamos de bom conceito.

A luta é de V. Exª, Paim, eu não vou ressaltar. Só ela garantia e garante um percentual de aprovação desta Casa, a sua luta pelo trabalho. E quero crer em dizer aqui, Geovani Borges... Desligue o telefone e aprenda isso. Olhe, Geovani, eu sei da popularidade do Presidente Luiz Inácio e desejo e quero. Votei nele na primeira e é o nosso Presidente. Eu não quero e não admito que se fale em terceiro mandato. Quem fala em terceiro mandato é um idiota! Não é O Idiota, de Dostoiévski; é o idiota ao quadrado e ao cubo. E vou dizer por quê. Nós entendemos as coisas, ô Paim.

V. Exª foi constituinte, não foi? Mozarildo também foi? Sábios constituintes! Geovani Borges foi? Sábios constituintes!

Mas eu ia relembrar que lá estava Fernando Henrique Cardoso, que lá estava Mário Covas, que lá estava Ulysses Magalhães, o nosso Vice-Presidente Alvaro Dias. Então, sábios brasileiros comprometidos com a democracia. Eles a fizeram para um mandato presidencial. Atentai bem, ó idiotas!

Eu já ouvi idiotas falarem, na Câmara, de lei, eu já ouvi aqui.Ó idiotas! Não é o do Dostoiévski, o livro, não. É idiota ao quadrado e ao cubo. Os sábios constituintes fizeram a Constituição para um mandato presidencial. Não é verdade? Depois, mudou. Um mandato!

O Presidente da República nomeava os da Suprema Corte. Dois, três, quatro, conforme a aposentadoria, a morte, mas não passava disso. E não passou disso, na história do Brasil. Atentai bem!

Esse é meu dever. Por isso estou aqui. Nós somos os pais da Pátria. Só tem esse sentido. Assim foi criado.

Deus, quando Moisés, querendo desistir, quebrou as tábuas da lei: “Não desista! Busque os mais velhos e os mais experientes”. Aí nasceu a idéia.

Paim, com dois mandatos, o Presidente da República já está nomeando seis. O nosso querido, popular Luiz Inácio ainda não se apercebeu. Ele já nomeou uns oito. Se dermos dois anos apenas a mais, como eu já vi idiota dizer, aí ele vai nomear todos.

Essa democracia foi o povo querendo dividir o poder. Tinha os reis, os faraós, e o povo insatisfeito: “Liberdade, igualdade e fraternidade”. A primeira coisa foi dividir o poder, a tripartição, acabar com o “L’État, c’est moi”. Iguais, harmônicos, equipotentes, um freando o outro.

Aí, se nós sairmos para um terceiro mandato, o Presidente tem o dele, o Executivo é que tem o dinheiro, o Executivo é que tem o BNDES, o Executivo é que tem a Caixa Econômica, o Banco do Brasil e a Casa da Moeda. É forte. Não é forte, Paim, em dinheiro? E o Poder Judiciário, muito forte, ele prende, ele cassa, ele multa. Aí ele vai ter os dois, e nós, sonhando em fazer lei, e hoje já estamos enfraquecidos.

Então, essa é uma reflexão. Por isso é que nós estamos aqui, porque essa democracia foi uma conquista, Mozarildo, da humanidade, que nasceu lá na Grécia. Aperfeiçoada, o povo na rua, rolaram as cabeças nas guilhotinas. Cem anos depois que derrubamos rei no Brasil, nós não vamos retroceder.

Então, essas são as palavras, Paim, mas queria dizer aqui, dar os meus aplausos e a minha análise ao maior êxito deste Governo: a divisão de renda. Mas isso foi dado, Paim, porque V. Exª teve a coragem e nós aqui tivemos a coragem de apoiar o aumento do salário mínimo. Quando nós chegamos aqui, Mozarildo, V. Exª se lembrava que era de US$70. Paim ousou e disse que ia aos US$100. E nós com ele, e nós lutamos. Teve uma época que nós botamos R$15,00 a mais, lá os 300 picaretas, que Luiz Inácio disse: enterraram os R$15,00. Foi no fim do primeiro ano. Nós continuamos. E hoje esse salário mínimo... Quantos dólares são, Paim?

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Hoje está em torno de US$250.

O SR. MÃO SANTA (PDMB - PI) - Duzentos e cinqüenta dólares! Esse foi o maior êxito deste Governo. Essa é a distribuição, é a compensação do trabalho, é o salário justo. Se não é o que o Paim ainda sonha, mas melhorou muito. E nós temos que reconhecer. Isso foi o que houve, essa estabilidade, essa satisfação que você não vê em países que estão enriquecidos. A China! Eles estão fazendo aí os relógios, os eletrônicos, mas como ganham mal lá na China, não é? Salário mínimo. É a escravidão da vida moderna, escravos, máquinas... Máquinas humanas! E aqui melhorou.

Então é nessa esperança que eu vou, com essas mesmas idéias, absorver o mundo e dizer a grande conquista do nosso Governo, porque o Governo é nosso, o Governo são os três Poderes que eu chamo de instrumento. Isso é que é o Governo. Eu sou o Governo. Não tem mais l’Etat, c’est moi . É desse equilíbrio, um controlando o outro. E nós estamos aqui, cumprindo a nossa missão. É como disse Teotônio, moribundo: “esse é o grande ensinamento”.

Daí eu ser orgulhoso de estar aqui, porque eu vi Ramez Tebet moribundo, eu vi Antonio Carlos Magalhães - não é? - quase sem forças físicas. Eu mesmo recomendei, como médico, que ele não podia subir a escada. Ramez Tebet com a quimioterapia, os cabelos caindo. Os outros foram surpresas, não é? Mas nós vimos.

Mas o Brasil viu o Menestrel das Alagoas, na ditadura, moribundo, com câncer, aqui dizer. É falar resistindo; é resistir falando. Esse foi o grande ensinamento.

Paim, V. Exª simboliza o máximo de ideal aqui e eu vou representar este País no Congresso da OIT com a mesma grandeza que V. Exª representou em épocas passadas, eu e Dornelles. Ciente, levar a mensagem do nosso patrono Rui Barbosa, que brilhou em Haia, na Holanda. Nós vamos levar a Genebra aquele seu conceito muito atual, a primazia do trabalho e do trabalhador. Eles vieram antes, eles que fizeram as riquezas. Não vamos passar os donos das riquezas, os banqueiros, na frente dos direitos.

Eu vou contar, Paim, essa nossa luta, essa nossa história. Martin Luther King teve um sonho, mas ele morreu antes de realizar o sonho. Hoje, V. Exª pode agradecer a Deus, porque foi um grande sonho; esse sonho de V. Exª e nosso era de US$100. Então, V. Exª tem que agradecer.

Essas são as nossas palavras e a nossa saudade de deixar por uma semana esta convivência.

Ó Meu Deus, inspire-nos e abençoe os trabalhadores do mundo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/06/2008 - Página 18841