Discurso durante a 101ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao centenário da imigração japonesa para o Brasil.

Autor
Romeu Tuma (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao centenário da imigração japonesa para o Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2008 - Página 19646
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, AUTORIDADE, PRESENÇA, SESSÃO, HOMENAGEM, CENTENARIO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, BRASIL.
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, IMIGRAÇÃO, REGISTRO, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.
  • REGISTRO, EXPERIENCIA, VISITA, ORADOR, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, REFORÇO, APROXIMAÇÃO, COLONIA, IMIGRANTE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Meu querido amigo, Presidente Marconi Perillo, agradeço a V. Exª por ter me inserido na lista de oradores no dia de hoje, em homenagem à colônia japonesa, em que pude encontrar um grande amigo, hoje Brigadeiro, Shibata. Em São Paulo, tivemos oportunidade de trabalhar juntos em várias ocasiões, em benefício da democracia e da sociedade brasileira. V. Sª é um exemplo claro dos filhos de japoneses que conseguiram ocupar um espaço na história e na comunidade dos cidadãos brasileiros e merecem todo o nosso respeito, admiração e carinho.

Quero cumprimentar o Embaixador do Japão, Sr. Ken Shimanouchi; Osmar Serraglio, nosso amigo, Primeiro-Secretário da Câmara; Deputado Takayama, com quem participei de algumas CPIs e também da apuração de determinados crimes praticados no Brasil, desmanche de veículos, principalmente.

Shibata, eu não sabia que você era Agostinho! Fico com o Brigadeiro Shibata, que é como meu coração sempre se refere a V. Sª - está me devendo um café; não esqueça!

Cumprimento também Maçao Tadano, Diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Ministério da Agricultura; Masahiro Kobayashi, Diretor-Geral da Jica. Quero fazer um agradecimento especial a V. Sª, Dr. Masahiro: como Diretor da Polícia Federal e da Polícia de São Paulo, sempre tive oportunidade, por meio da Jica, de receber bolsas de estudo para autoridades policiais se aperfeiçoarem em matéria jurídica de experiência japonesa, principalmente na área de polícia científica. Eu mesmo tive oportunidade, na Academia Nacional de Polícia do Japão, de verificar, pela primeira vez, Presidente Marconi Perillo, a identificação de vozes quando da ameaça de seqüestro por meio de telefone. Havia um professor japonês, meio de idade, meio bagunceiro, mas sua inteligência, seu conhecimento e sua capacidade de mostrar o desenvolvimento de uma tecnologia pessoal na identificação de voz, guardei na memória e tentei importar, mas fui impedido por falta de verba, como sempre. Mas não deixamos de ter cooperação permanente.

Para dizer a verdade, estive mais de seis vezes no Japão e fiquei triste, na última vez, pelo crime praticado por um japonês em Akihabara, um bairro praticamente devotado à venda de produtos para o ocidente pela diferença de voltagem. O comércio é bastante intenso. Acho que continua assim, porque, da última vez que fui, há dez ou doze anos, meu destino era sempre Akihabara, quando não havia atividade voltada para a missão que ia cumprir no Japão.

O Vice-Presidente da Interpol para a Ásia foi meu companheiro como Vice-Presidente para o continente americano. Então, tínhamos um bom contato na esfera da segurança pública, e a Jica colaborava muito com as autoridades brasileiras nessa área.

Os membros das associações nipo-brasileiras vão em quase todas as festas, Shibata, você não vai! Nosso Deputado disse que sou mais japonês do que muito japonês que anda por aí, porque tenho muito carinho pela colônia.

Ainda esta semana, Presidente, estive na Liberdade - porque vou toda semana lá tomar um cafezinho com os membros da colônia, que são meus amigos - e comprei aquele bonequinho da sorte. Como chama, Shibata?

O Sr. Agostinho Shibata (Fora do microfone.) - Daruma!

O SR. ROMEU TUMA (PTB - SP) - Daruma, para dar para cada Senador aqui, para pintar o olho esquerdo e fazer um compromisso unificado pelo bem do País, contra a violência e contra, sem dúvida nenhuma, a corrupção, que se alastra.

Então, pensamento único: estarei lá na próxima semana. Já o encomendei, e vão me entregar no sábado. Acho que essas realizações da tradição japonesa têm uma intensidade muito grande para aqueles que as acompanham de perto.

Deputado, eu não falto a uma festa na Liberdade! E, agora, haverá a inauguração de um jardim. Nosso Deputado está liderando um dos movimentos, juntamente com o Prefeito, cujo projeto já está autorizado e em desenvolvimento, e tenho certeza de que teremos um pedaço do Japão no território da Liberdade paulistana.

Desculpem-me estar falando sobre isso, mas é tão grande a emoção de estar aqui, comemorando os 100 anos da imigração japonesa, que não se pode esquecer de tudo aquilo que realmente tem nos ajudado a entender o que representa a colônia japonesa no desenvolvimento tecnológico, industrial, empresarial, pela vontade de trabalhar do povo japonês.

Tenho aqui alguns dados escritos. Eu pediria que V. Exª, depois, mandasse publicá-los por inteiro.

Um dia eu estive no Japão. Peguei o Shinkansen, o trem de alta velocidade. Quando cheguei, desci. Havia um carregador, e ele devia ter idade bem avançada, acredito. Ele veio, pegou minhas malas, amarrou uma corda e pôs as malas nas costas. Fui ajudá-lo, com pena de que a idade, talvez, não desse força. Ele me empurrou, disse que estava recebendo e que a obrigação era dele de cumprir aquela missão a serviço de quem estava pagando.

Certo dia, em Akihabara, com minha esposa, Shibata, fui a uma loja ver um produto, uma daquelas panelas que ainda não existiam aqui no Brasil para fazer arroz. Levei minha máquina fotográfica, pela qual eu tinha muito carinho. Cheguei ao hotel e disse: “A máquina, acho que eu a esqueci na loja de Akihabara.” Eu havia pegado um táxi e voltado para o hotel com um decasségui, Paulinho, professor de português no Japão. Aqui, tínhamos uma ligação muito grande, ele é meu amigo. Ele disse: “Não se preocupe. No Japão ninguém fica com nada que é de terceiro. Vamos ligar para a loja.” Ligou para a loja, e o proprietário disse: “Não, não tem nada aqui.” Pensei: “Puxa vida, como é que sumiu? Alguém passou.” À noite, eu estava naquele bairro que tem muita boate, muita festa, é alegre, no centro de Tóquio, em frente ao New Otani Hotel, do outro lado do New Otani. Eu já havia ido à delegacia de polícia, a uma unidade em frente ao hotel.

Lá, devolveram-me a máquina, perguntaram-me como eram as características, e eu disse. Eles disseram: “Está aqui. Foi entregue por uma pessoa.” Recebi a máquina, fiquei agradecido e falei: “Puxa vida, que bondade da pessoa que a trouxe de volta.” A pessoa disse que dois brasileiros - ele tinha entendido isso - deixaram a máquina no hotel. Mas ele foi entregá-la à polícia.

À noite, eu estava lá. Parou um taxista e perguntou ao Paulinho em japonês: “Eles pegaram a máquina?” Ele falou: “Pegaram.” Disse ele: “Eles esqueceram a máquina no meu táxi. Eu a achei e, imediatamente, fui entregá-la na polícia.” Falei: “Paulinho, pergunta quanto foi a corrida, por ele ter saído do lugar em que estava e ter ido à polícia.” Ele engatou a marcha e disse: “Negativo”, em japonês, e se mandou. Ele cumpriu com uma obrigação moral, que é dom do povo japonês.

Guardo esses exemplos na alma e no coração. Tenho muito orgulho de ser uma pessoa ligada a essa comunidade que tem engrandecido e trazido o progresso econômico para o Brasil.

Tive um colega de grupo escolar com quem estudei 11 anos, desde o primeiro ano até a formação na área de contabilidade. A mãe dele tinha uma chácara, de cujo plantio eles sobreviviam e vendiam os produtos na feira ou no Mercado Municipal de Verduras, em São Paulo, próximo onde nasci. Nasci na 25 de Março. A colônia japonesa tinha muita força no mercado de verduras e não no mercado grande, em que uma quantidade enorme de produtos é vendida em São Paulo.

Toda semana ela me chamava para comer feijão com o arroz - o dela tinha um tempero especial com esse carinho - na chácara, com o meu companheiro de escola. Essa amizade permaneceu até a gente se separar em razão da atividade de cada um.

Havia um delegado, também meu companheiro de trabalho - até hoje mantenho contato com ele -, descendente de japonês, inclusive fui padrinho de casamento dele. Ele foi buscar a noiva no Japão. Casou-se duas vezes: uma no Japão, onde estive presente; e outra no Brasil, para confirmar seu casamento na legislação brasileira. De forma que não posso, não me afasto e não desejo me afastar dessa colônia por tudo o que ela me representa.

            Quando eu estive na direção da Polícia Federal, tive a oportunidade de me relacionar, não só com a Jica, mas com o Ministério de Relações Exteriores, mais precisamente com o setor de atendimento ao seguro trabalhista do Japão, em razão das angústias e dos sofrimentos de alguns decasséguis, que foram, em primeira mão, trabalhar no Japão. E, lá, muitos foram enganados por agências de turismo que ofereciam toda a infra-estrutura. Falei, ontem, com o nosso futuro embaixador do Brasil no Japão, o Dr. Luiz, que aqui está presente para prestigiar esta cerimônia - acredito que será um grande representante do Brasil junto à Embaixada no Japão. Aliás, pude receber uma comissão especial do Japão e iniciar as tratativas no sentido de organizar uma legislação (resoluções) e documentar a possibilidade do tratamento correto aos brasileiros que, a convite de empresas japonesas, lá foram trabalhar. Visitei uma dessas empresas, Deputado. Era uma indústria automobilística do Japão que tem similar aqui no Brasil. E, lá chegando, conversei com um descendente de japonês que era brasileiro. Ele me explicou como funcionava a fábrica, acompanhando-me na visita, a pedido da presidência da indústria. Esse brasileiro era chefe da unidade de montagem daquela fábrica de carros. Ele foi como decasségui e virou chefe de uma unidade importante daquela fábrica. Hoje, algumas dezenas de brasileiros desenvolvem atividades lá. O mal, Shibata, é que, às vezes, eles deixam as esposas brasileiras e se casam novamente no Japão. Isso fica um pouco fora do regulamento. Acredito que isso aconteça pela ausência, pela saudade, por isso, procuram se entrosar com os japoneses. Tanto é que, hoje, há uma harmonia bem maior do que a que havia no início, quando os conflitos se generalizavam e traziam preocupações às autoridades japonesas e brasileiras. Hoje, há uma harmonia e um tratamento condigno, como o que o Brasil tem recebido lá. Há um amor muito grande do povo japonês pelo Brasil. É o que a gente sente, andando pelas ruas de Tókio ou de outras cidades japonesas que visitei. A impressão é sempre agradável nessas visitas, pela amabilidade, pelo tratamento e pela comida gostosa, Hoje, não há um bairro brasileiro que não tenha um restaurante japonês. Até pastelaria chinesa já está vendendo produto japonês. Isso se desenvolveu com bastante eficiência e eficácia.

Tenho um filho que, infelizmente, se separou, mas que atualmente é casado com uma descendente de japonês, que é médica como ele, que me deram três netos que quase têm os olhos iguais aos de vocês - os deles são um pouquinho mais arredondados, sem precisar de cirurgia plástica, mas são apaixonados pela comida japonesa; e a sua avó, que é nossa amiga, é japonesa legítima. Então, está dentro da nossa família. Então, mantenho essa amizade - vocês sabem o quanto eu gosto da Liberdade -, e tenho a certeza de que a recíproca é verdadeira.

Sr. Presidente, peço desculpas a V. Exª, mas, aqui, há uma dose de emoção muito grande por tudo o que eu tenho recebido da comunidade japonesa. Dizem os invejosos que sou o candidato que mais tem votos na colônia, mais do que os próprios descendentes.

Muito obrigado.

Boa sorte.

Foi uma honra estar aqui. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2008 - Página 19646