Discurso durante a 86ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem ao Senador Jefferson Péres.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Senador Jefferson Péres.
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2008 - Página 16727
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JEFFERSON PERES, SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DIRETRIZ, ETICA, COMENTARIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO AMAZONAS (AM), MEIOS DE COMUNICAÇÃO, TOTAL, BRASIL, DEMONSTRAÇÃO, RESPEITO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ANUNCIO, REALIZAÇÃO, SESSÃO SOLENE.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, viajei na quinta-feira, de manhã, para Manaus, com o Senador Jefferson Péres. Estava absolutamente bem. Padecia de um distúrbio de pressão, com tendência para pressão alta. E, apesar de ser uma figura de hábitos espartanos no comer, no beber, no dormir, na sua organização de trabalho, inclusive, seu coração não resistiu ao peso de uma crise de pressão alta, imagino, muito mais do que ao peso de uma idade que ele não tinha. Os seus 76 anos de certidão de nascimento não refletiam a rapidez do seu passo, a lucidez do seu raciocínio, a sua capacidade de ler e continuar analisando criticamente, de maneira magistral, a economia brasileira, a questão institucional neste País.

            O fato é que perdemos o Senador Jefferson Péres. Manaus se tomou de uma comoção muito grande, a ponto de eu me pôr a meditar sobre se as pessoas precisam morrer, Senador Jarbas Vasconcelos, para terem um reconhecimento muito claro do seu valor, a ponto de sua família ter ficado surpreendida com as manifestações. E o Amazonas se surpreendeu com as manifestações do Brasil. Foi o Brasil inteiro - rádios, jornais, Internet, cartas de leitores para os jornais -, o que revela o apreço pelo valor de um prezado companheiro de lutas, um prezado amigo, um querido colega de Congresso, um homem de bem.

            Coloquei-me sob uma segunda reflexão: como, neste País, se comemora a figura de um homem de bem como se tivesse ficado raro esse artigo! Em outra época, talvez, simplesmente se registrasse o falecimento do intelectual, o falecimento do homem de letras, o falecimento do orador correto, o falecimento do político sem jaça, sem a ênfase na questão moral, na questão ética. Mas, hoje em dia, alguém que não tem rasuras na sua biografia passa a ser visto como merecedor - e Jefferson é merecedor - de todos esses elogios, de todos esses encômios.

            Foi muito duro. Tínhamos uma relação de família muito forte, muito expressiva. O meu avô, o Desembargador Arthur Virgilio, era compadre do pai de Jefferson, o juiz Arnoldo Péres. Meu pai era muito amigo do Senador Jefferson Péres. Quando meu pai foi caçado pela brutalidade do AI-5 e devolvido a uma banca de advocacia que deixara aos 25 anos de idade, meu pai sentia momentos de depressão muito agudos, muitas portas se fecharam para ele, mas algumas se mantiveram abertas. Uma delas foi a da família de Jefferson Péres. Sua esposa, Marlídice, abria sua casa para reuniões informais, na verdade visando a fazer o tempo de meu pai passar. Ele tinha pelo casal Jefferson e Marlídice um apreço muito grande.

            Nos encontros que tive com Jefferson, quando se tratava do respeito à coisa pública, muitas vezes havia momentos de divergência. Não vou jamais pecar por insinceridade. Cheguei a ter momentos de choque de opiniões com Jefferson. Não sei não me chocar se eu sinto que tem uma opinião divergente da minha. Estou aqui para manifestar minha opinião sempre, de maneira altaneira, altiva, como era altiva e altaneira a maneira de Jefferson se manifestar. Mas tínhamos um grande respeito um pelo outro e tínhamos muito prazer nas conversas pessoais que mantínhamos sobre literatura, sobre cinema, sobre a vida.

            Nós percebemos que o Senado se dá conta do peso de Jefferson quando se olha para a sua cadeira e a vê vazia neste momento.

            Anuncio, aliás, que o suplente de Jefferson é um homem sério, é um moço de bem, que haverá de cumprir um bom papel nesta Casa. É um economista, é capaz de analisar a economia da Amazônia com muita justeza, com muita correção. Certamente, vai seguir as diretrizes do titular da cadeira, que tanto honrou este Senado.

            A nossa idéia segue a idéia do PDT e de outros Senadores que já haviam pedido uma sessão solene de homenagem ao Senador Jefferson Péres, mas não podíamos deixar de fazer uma, seja pelo PSDB, partido que ele ajudou a fundar no Estado do Amazonas, seja, no meu caso, pessoalmente, como seu amigo, como seu companheiro, como seu admirador, como seu conterrâneo, para traduzir aqui o que é o meu sentimento e o que percebi como sendo fortemente o sentimento do meu povo, da minha gente. Foi-se fisicamente uma figura de enorme peso neste País. Fica um exemplo, a mostrar que não é para se descrer completamente da vida pública do Brasil, porque nem tudo é podridão, nem tudo é corrupção, nem tudo é golpe, nem tudo é esperteza reles, nem tudo é torpeza, porque há figuras como o Senador Jefferson Peres, que nos mostraram à farta que a luzinha da esperança podia continuar acesa. Ele mostrava isso com as suas atitudes. Temos de saber mostrar isso o tempo inteiro, nós, que ficamos, com as nossas atitudes, Sr. Presidente.

            Muito obrigado e até a sessão solene de homenagem, merecidíssima, ao insigne brasileiro que o Brasil perdeu, Jefferson Péres.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2008 - Página 16727