Fala da Presidência durante a 91ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comenta a precariedade da segurança pública no estado do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Comenta a precariedade da segurança pública no estado do Piauí.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2008 - Página 17659
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, VIOLENCIA, ESTADO DO PIAUI (PI), ESPECIFICAÇÃO, MUNICIPIO, PARNAIBA (PI), OCORRENCIA, CRIME, ADVERTENCIA, GOVERNO ESTADUAL, MANIPULAÇÃO, DADOS, ESTATISTICA, SEGURANÇA PUBLICA, CRITICA, OMISSÃO, POLICIA MILITAR, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Mário Couto, V. Exª faz um dos mais brilhantes pronunciamentos da história desta Casa. Já conheço a história desta Casa, Senador Geraldo Mesquita. Um dos meus prazeres é aquela grande criação de Antonio Carlos Magalhães, que publicou livros, acompanhados de CDs, com os melhores discursos pronunciados nesta Casa. Daí a crença de por que estamos aqui: estamos aqui porque acreditamos na função do Senado de salvaguardar a democracia e de melhorar a Pátria. Nós fugimos a todas as regras; só não vamos fugir ao nosso compromisso com o povo, com a Pátria e com a democracia.

            Quero dizer que estou, na Presidência, analisando o pronunciamento e também ensinando. É o meu dever, é nosso dever ensinar ao País. Temos de ser os pais da Pátria, temos de ter uma sólida formação cultural e nacionalista.

            Neste momento, adentra o plenário o Professor Sarney.

            A bem da verdade, eu digo - e conheço a História do Brasil; a cada dia, debruço-me para entendê-la -, Professor Sarney, entendo que este País, em 508 anos, teve notáveis e extraordinários governantes, mesmo começando pelas Capitanias Hereditárias. Depois, adotou a unidade de comando e de direção dos Governos Gerais.

            Aí está o Presidente Sarney, que sabe mais do que eu, que sabe mais do que nós. É uma bênção de Deus a nossa cultura.

            Aqueles governadores-gerais, já em 1536, quando o primeiro chegou aqui, criaram as Câmaras de Vereadores, que eram chamadas de Câmaras dos Bons, Sarney. Atentai bem! Então, havia esse processo em que a Câmara dos Bons chamava o ouvidor-mor, chamava o responsável pela defesa, conhecido como capitão-mor, chamava todos aqueles auxiliares dos Governos Gerais para prestar contas. Então, isso foi sedimentado. Do próprio D. João VI reconhece-se a inteligência. Em treze anos, ele deu impulso burocrático, administrativo e tal. Todos tiveram sua participação.

            Aí está o Presidente Sarney, que talvez tenha enfrentado o momento mais difícil de uma redemocratização. Aí está também, como V. Exª, ô Sarney... Eu só queria citar um fato, para ensinar os brasileiros e as brasileiras, porque nós estamos aqui é para ensinar mesmo, senão não teria razão de haver o Senado. Geraldo Mesquita, Dutra também enfrentou uma transição. Eu o citaria só para mostrar a grandeza que nós temos de ter com a austeridade. Eu vou terminar no pronunciamento do nosso Mário Couto. Geraldo Mesquita, Eurico Gaspar Dutra, depois de cinco anos, chamou o genro e pediu-lhe que alugasse uma casa para quando entregasse a Presidência. Foi a volta de Getúlio nos braços do povo. Mozarildo, Dutra saiu, entrou no carro e, quando viu que era um sobrado, ele disse: “Eu não posso. Não posso manter esta casa”. Presidente da República! Basta isso para o ensinamento de austeridade. Aí, o genro disse: “Não, mas você não vai pagar. Você me delegou a resolução desse problema familiar, e um amigo seu, empresário, que tem dezenas de casas fez questão de cedê-la. É um amigo que está emprestando”. Ele não quis entrar na casa porque não tinha dinheiro para pagar!

            Então, é essa uma história de grandeza dos grandes governantes.

            Sarney, eu já fui por três vezes - peço a Deus para ir todas com a Adalgisa - à Disneyworld, onde passei dois réveillons. Mas o que mais me empolga lá são todos os Presidentes da República em cera. Falo daqueles que mais se destacaram na História. E, quando termina a apresentação, todos se levantam e batem palmas. Esse é o respeito por todos que fizeram o Estado.

            Aí está o Presidente Sarney, que, como Dutra, conduziu também uma transição, e na paz. Mas Fernando Henrique Cardoso, goste-se ou não - eu nunca votei nele -, é um estadista. V. Exª tem mais cultura do que eu, e Fernando Henrique Cardoso também tem, mas eu tenho mais do que muita gente que está aí e que não sabe o rumo. Quero dizer que eu vi, Geraldo Mesquita, uma entrevista do estadista Fernando Henrique Cardoso - em quem eu nunca votei; eu votei, no meu partido, em Quércia e, depois, por vizinhança, no Ciro Gomes, pois o meu partido não tinha candidato, e Sobral e Parnaíba, eu conhecia -, mas eu vi, Presidente Sarney, ele aconselhando o Presidente Luiz Inácio sobre a gravidade da violência. E, hoje, Mário Couto se engrandece. Bastaria esse pronunciamento para eternizá-lo.

            Esta entrevista eu vi, em que Fernando Henrique Cardoso, que foi um estadista, que passou a faixa no momento maior da democracia, disse que o Presidente Luiz Inácio deveria cuidar da violência. Cada momento é o seu momento. Ninguém escolhe o momento. O dragão, a inflação... Ele foi lá e disse: olha a violência!

            Mário Couto, eu estava perplexo, porque no Piauí está pior. Senador Sarney, V. Exª é queridíssimo em Parnaíba. Eu fui à Academia de Letras e me comprometi com Renato Bacelar - o filho dele é maranhense, Raul Bacelar, um farmacêutico antigo - a levá-lo. Eu disse: ele adora falar sobre Padre Antônio Vieira. Então, deram-me essa incumbência. Também querem que, na Academia de Letras, o senhor tenha uma estante.

            Presidente Sarney, a violência em Parnaíba está pior. Eu fui lá agora, Geraldo Mesquita, passei ligeiramente na minha casa. Os filhos estavam decidindo fazer uma reforma e colocar um muro alto, porque a do meu irmão já tem, a do meu sobrinho, a do meu vizinho. Olha, Parnaíba era como Coral Gables, como Montevidéu: não havia muro, não; havia jardins.

            Olha, está todo mundo assaltando todo mundo. A violência está pior no Piauí. Nunca dantes esteve assim. A única coisa é que eles mascaram dados. Até um vereador do PT denunciou que eles reduzem a 10% a criminalidade. Mas está muito pior!

            Um grande empresário lá tem uma revenda da Honda. No fim de semana, foram lá, amarraram o vigia e levaram seis motos.

            Está muito pior a violência, Sarney. O meu filho, aquele que o senhor foi lá e fez o discurso, foi com a família - acho que bateu nele o espírito do Jefferson Péres, não quer mais esse negócio de política... Até que eu queria que ele lutasse -, , mas, Sarney, ele foi com a família ao Chile. Apesar do frio imenso, ficou perplexo com a tranqüilidade, com a segurança. Quando a gente chega ao Chile, o povo diz: “A polícia daqui não é corrupta”.

            Tinha uma loja, a minha filha, e roubaram tudo. E ninguém vai, porque a primeira coisa que dizem lá é que, primeiro, não têm telefone, está cortado; segundo, quando vão de carro - este é o Brasil, Sarney, de que V. Exª é o Richelieu, só tem propaganda e mentira, e não era assim não -, chegam e dizem: “Não tem gasolina; dê logo R$100 para encher”! É assim.

            Mário Couto dissertou sobre o tema e, em homenagem a V. Exª, Presidente Sarney, que enriquece o país, eu iria buscar um homem como V. Exª: Norberto Bobbio, senador vitalício. Eu acho que aqui devíamos ter senador vitalício. O senhor, para mim, é um herói. Sabe por quê?

            Geraldo Mesquita, este testemunho é importante, acho que é o mais importante. Este homem, com a satisfação do cumprimento da missão, entregou o Governo em momento... Eu era Prefeito de Parnaíba e fui recebê-lo. Ele ia ao Maranhão, em Araiose, inaugurar um “calçamentinho”, um pequeno posto de saúde... Este homem lutou. Acho que estamos errados. Sarney devia ser como Norberto Bobbio. A Itália, do Renascimento, a Itália, de Cícero, tem os Senadores vitalícios. Acho que é uma injustiça do nosso regime eleitoral fazer o Presidente Sarney ainda buscar votos. A presença dele devia ser garantida.

            Em respeito a V. Exª, eu iria buscar Norberto Bobbio, complementando o discurso de V. Exª. Termino com esta citação. Foi extraordinário! Ouvi Teotônio Vilela dizendo que é preciso resistir falando e falar resistindo. É a denúncia que engrandece. Norberto Bobbio, Senador Sarney, disse que o mínimo que podemos exigir de um governo é o direito à segurança, à liberdade e à propriedade. Segundo as denúncias de Mário Couto, esse Governo pega pau, tira zero. E, no Piauí, está pior.

            Convidamos também um bravo Senador desta República, que se aproxima de Rui Barbosa, do Acre, Senador Geraldo Mesquita, que está sinalizando que cede a palavra a V. Exª, cede ao Presidente. Creio que este Presidente deveria ser como foi Norberto Bobbio. Deveríamos fazer uma lei para termos Senadores conselheiros vitalícios.

            Concedo a palavra, por cessão de todos e admiração de todos que fazem o Senado, ao Presidente José Sarney. (Pausa.)

            Presidente Sarney, eu gosto muito de Montesquieu, autor de O Espírito das Leis. Não há Regimento, não. V. Exª pode usar da palavra pelo tempo que achar conveniente. V. Exª engrandece a democracia do Brasil. “És eternamente responsável pelo que cativas”. Então, V. Exª cativou os homens que fazem a democracia neste País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2008 - Página 17659