Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A alarmante denúncia publicada pela revista Época de troca de correspondência entre o Presidente Lula e o líder das Farc Raúl Reyes.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • A alarmante denúncia publicada pela revista Época de troca de correspondência entre o Presidente Lula e o líder das Farc Raúl Reyes.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/2008 - Página 18619
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COBRANÇA, ESCLARECIMENTOS, DENUNCIA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), GRAVIDADE, OCORRENCIA, TROCA, CORRESPONDENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LIDER, GUERRILHA, TERRORISTA, TRAFICO INTERNACIONAL, DROGA, SOLICITAÇÃO, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, GRUPO, OPOSIÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA.
  • QUESTIONAMENTO, DECLARAÇÃO, ASSESSOR, AUSENCIA, RECEBIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CARTA, DENUNCIA, IMPRENSA, COBRANÇA, ESCLARECIMENTOS, DESMENTIDO.
  • REGISTRO, ANTERIORIDADE, EXPERIENCIA, ORADOR, RECEBIMENTO, VISITA, LIDER, GUERRILHA, NEGAÇÃO, INTERMEDIARIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PEDIDO, RECONHECIMENTO, DIPLOMACIA.

          O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, pela ordem. Peço vênia a V. Exª e ao Senador José Agripino para fazer uma comunicação, porque, inclusive, é até boa a presença do Senador Suplicy aqui.

          Gostaria de repercutir, Sr. Presidente - e esperava justamente S. Exª -, matéria do jornalista Rodrigo Rangel, publicada na revista Época da última semana, com algo que para mim é alarmante: correspondências do guerrilheiro - a meu ver, terrorista e narcotraficante - Raúl Reyes para o Senhor Presidente da República. Isso é grave. Três cartas, pelo menos. Um lote de cartas; três foram publicadas pela revista Época em excertos. Se mandasse a primeira e não fosse bem recebida da primeira vez, já não era para mandar a segunda carta.

          O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes. DEM - PI) - Senador Suplicy, V. Exª está sendo citado pelo Líder do PSDB e pediria, se possível, que V. Exª permanecesse em plenário, até para a necessidade de algum esclarecimento.

          O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O Senador Suplicy - que, tenho certeza, agiu de boa-fé, como é de boa-fé sua índole - disse que primeiramente levou as tais cartas ao Frei Betto, que ficou de passá-las ao Presidente Lula. Frei Betto não é nenhum mentiroso.

          Muito bem. Aí diz o Sr. Marco Aurélio Garcia que as cartas não foram recebidas pelo Presidente Lula.

          Mas o fato é que é um tema demasiadamente delicado, para ficarmos no disse-que-disse. O Senador Suplicy diz: “Eu levei as cartas ao Planalto e entreguei nas mãos do Frei Betto, que era assessor do Presidente Lula”. O Presidente Lula, segundo o Sr. Marco Aurélio Garcia, que é assessor especial, não teria recebido as cartas. Mas o fato é que as cartas traduzem uma certa intimidade e chegam a falar coisas que custo a acreditar, Senador José Agripino, que sejam normais, que partam de um cérebro normal. Ele pede para o Presidente Lula permitir o estabelecimento de uma representação diplomática das Farc aqui, como se o Brasil não mantivesse com a Colômbia relações normais de país amigo em nível de embaixador.

          É algo extremamente grave. Há pelo menos uma contradição aqui. O Senador Suplicy diz: “Estou de boa-fé”. E é para ficar bem clara a posição dele; não faço nenhuma acusação a S. Exª, até porque fui uma vez incomodado por essa gente. Recebi, uma vez, um pedido de audiência. Eu não sabia bem o que era Farc; sabia que era uma organização dessas de guerrilha, com cabeça atrasada em relação à economia e tudo. Mas por que não receber? Eu não sabia que se tratava de pessoas ligadas ao narcotráfico.

          Eles são apenas narcotraficantes e, hoje em dia, para mim, cada vez mais bandidos comuns, felizmente, sendo fragorosamente derrotados pelo exército regular colombiano. Mas os recebi na sede do Partido que eu dirigia, que era o PSDB. Foram lá. Foi o Sr. Olivério Medina com um repórter fotográfico de um jornal brasileiro, e eu lhe disse, logo de início, que não gostava dos métodos das Farc, que eu conhecia pessoas que tinham sido seqüestradas e que esse não era um método com o qual eu trabalhasse ou com o qual me coadunasse, mas que estava ali para ouvi-lo. Então, ele me fez dois pedidos: primeiro, que eu aceitasse ir a uma zona que chamava de zona liberada e que já haveria um acordo com o governo colombiano, para que não houvesse conflito durante a visita de secretários-gerais de partidos, como o Partido Socialista francês, o Partido da Social Democracia Brasileira, que era o meu, de alguém do Partido Socialista chileno e por aí afora. Eu disse: “Liminarmente, respondo ao senhor que não vou, não pretendo ir de forma alguma”.

          O outro pedido foi: “Leve ao Presidente da República um pedido nosso de transformar, de dar status de representação diplomática às Farc no Brasil”. Eu disse que não era possível isso, porque a situação das Farc não era parecida com a da OLP. A OLP defendia uma etnia como um todo. Toda uma etnia estava ali engajada sob a sigla da OLP, sob a sua luta, que era diferente, e o Brasil podia, então, manter relações perfeitas com Israel e com os palestinos, e fez isso muito bem. Agora, diferente foi ele me pedir que levasse ao Presidente da República algo pueril desse tipo, que eu dissesse ao Presidente da República que aceitasse que um movimento guerrilheiro fosse tratado desse jeito, em desrespeito às relações boas com um partido como a Colômbia, ao qual o Brasil deseja, e deve desejar, é que aprofunde reformas estruturais, mexa fundamentalmente na sua econômica, até para se verem livres de movimentos guerrilheiros como o dele. Então, a conversa foi essa.

          Ele passou a dizer depois que tinha vários contatos - no PT, um monte - e que tinha como contatos dele a mim próprio. Quer dizer, trata-se de uma pessoa de maus bofes, efetivamente. Tenho certeza de que o Senador Suplicy deve ter sido usado do mesmo jeito.

          Aquele fórum de São Paulo, para mim, aquilo é uma coisa grotesca, parece uma ku klux klan de esquerda, reúne aquelas pessoas com aquela cabeça atrasada, enfim, sonhando com algo que não vai acontecer nunca mais. O Muro de Berlim caiu, e não há como reerguer aquilo dos escombros, enfim.

          Mas o fato, o que quero perguntar à Casa é se nós nos conformamos de não haver uma resposta!

          Ou seja, aqui está dito que o Presidente da República mantém relações epistolares com uma guerrilha que visa a derrubar o governo constitucional de um país amigo. E mais: uma guerrilha que sequer tem aquela aura, aquele glamour que fazia as nossas gerações sonharem quando Fidel Castro desceu Sierra Maestra. Ao contrário, ligados ao narcotráfico, narcotraficantes, que têm como método prioritário de ação política o se seqüestro, a tortura. Estão matando em vida, aos poucos, pela pior das torturas, que é a tortura de não dar assistência médica, a Senadora Ingrid Betancourt. E não é possível que não haja uma resposta!

          Agora, aqui tem alguém mentindo. O Sr. Marco Aurélio Garcia diz que o Presidente não recebeu as cartas. O Frei Betto recebeu as cartas, sim, porque quem entregou as cartas para ele foi o Senador Suplicy.

          Entre o Professor Marco Aurélio Garcia e o Senador Suplicy, que eu conheço muito bem, prefiro acreditar que quem não está falando a verdade é o Professor Marco Aurélio Garcia e que, portanto, o Presidente da República recebeu as cartas, sim, porque recebeu das mãos do emissário destinado por Eduardo Suplicy.

          Ele disse: “Frei Betto, está aqui a carta; entregue-a ao Presidente.” O Frei Betto entregou; disse que entregou. O Marco Aurélio Garcia, então, estaria faltando com a verdade.

          Mas o fato é que não é normal. Não é normal estarmos... Imaginem o que o governo colombiano pensa disso, desse trancetê possível entre o Governo brasileiro e um movimento daquele jaez, daquela baixeza moral, daquela falta de compostura pública, daquela falta de compromisso com a seriedade, até porque fundamenta a sua arrecadação de meios para financiamento de luta no narcotráfico, no seqüestro, e usa como métodos o assassinato frio, a tortura.

          É algo grave. Eu gostaria de ver um desmentido muito cabal do Presidente da República.

          Chega de silêncio! Chega de comícios lançando obras e pedras fundamentais. É preciso falar. E falar dizendo que isso não é verdade. Vou ficar muito orgulhoso se o meu Presidente, o Presidente da República do meu País me disser que isso não é verdade, que ele não aceita esse movimento.

          Porque o Brasil é dúbio: o Brasil não diz que se trata de um movimento terrorista; até hoje vai para um lado, vai para o outro, faz uma negaça, faz outra, mas não diz que se trata de um movimento terrorista.

          E é um movimento terrorista, sim! E mais: já não tem a menor possibilidade de chegar ao poder. Então, sequer são um grupo que aspira ao poder. São apenas um grupo que trafica drogas, e agora está traficando drogas para Miami, em submarinos, em artefatos de plástico. É isso.

          Então, creio que o Senador Eduardo Suplicy deveria dizer, de uma vez, algo que desmascare a desculpa esfarrapada apresentada pelo Professor Marco Aurélio Garcia, porque tenho certeza de que ele entregou a carta, sim, e de que a carta chegou à mão do Presidente República, sim, também.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/2008 - Página 18619