Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a retomada da inflação. (como Líder)

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Preocupação com a retomada da inflação. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 02/07/2008 - Página 24459
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • APREENSÃO, POPULAÇÃO, INTERIOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), RETOMADA, INFLAÇÃO, PERDA, PODER AQUISITIVO, COMENTARIO, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, AMBITO NACIONAL, FALTA, CONFIANÇA, PROVIDENCIA, GOVERNO, SOLUÇÃO, PROBLEMA.
  • COMENTARIO, GESTÃO, ORADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), DIFICULDADE, PERIODO, SUPERIORIDADE, INFLAÇÃO, REGISTRO, HISTORIA, PLANO, REAL, ESTABILIDADE, ECONOMIA.
  • ANALISE, DESEQUILIBRIO, OFERTA, DEMANDA, EFEITO, INFLAÇÃO, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, PRODUÇÃO, APREENSÃO, SUPERIORIDADE, JUROS, TRIBUTAÇÃO.
  • QUESTIONAMENTO, DESVINCULAÇÃO, INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA (IPEA), MINISTERIO DO ORÇAMENTO E GESTÃO (MOG), ANUNCIO, SUSPENSÃO, DIVULGAÇÃO, TRIMESTRE, DADOS, CONJUNTURA ECONOMICA, PREVISÃO, AUMENTO, ESPECULAÇÃO, MERCADO FINANCEIRO, SOLICITAÇÃO, REVISÃO, DECISÃO.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou ser bastante rápido para manifestar uma preocupação e fazer um alerta e um protesto. Quero falar sobre a retomada da inflação.

            Tenho andado muito no interior do meu Estado e conversado na capital. De três meses para cá, a reclamação da população pela retomada da carestia vem se acentuando. Cada semana que passa, ouço uma quantidade maior de pessoas falando que já não compra mais hoje o que comprava ontem com o mesmo dinheiro.

            Ontem foi divulgada uma pesquisa por um instituto de renome nacional falando da popularidade do Presidente, que se mantém, e de um dado que, para mim, como brasileiro, é extremamente preocupante: fala do temor dos brasileiros com relação à volta da inflação e o descrédito da população do Brasil com relação às medidas que o Governo está tomando contra a retomada da inflação. O brasileiro, portanto, está temeroso da volta da inflação e está descrente das medidas que o Governo está tomando contra a retomada da inflação.

            Sr. Presidente, essa questão me preocupa muito porque a maior conquista da política do Brasil, das instituições político-partidárias, de ontem e de hoje, foi a estabilização da economia com a redução da inflação em níveis de 4%, 5%, 6%.

            Quando fui Governador - de 1982 a 1986, depois de 1990 a 1994 - cheguei, nesses dois períodos, a enfrentar inflação de 20% ao mês. Era um fantasma, para mim, a correção salarial, a indexação dos salários a que me obrigava, como Governador, para evitar o caos na vida dos funcionários públicos. O reajuste trimestral que concedia - e concedi do começo ao fim; e paguei em dia do começo ao fim - era uma coisa angustiante, porque era uma tomada de posição corajosa reajustar-se em 60% o salário do pessoal, em três meses, e esperar que a arrecadação fosse suficiente para pagá-los. Essa foi uma angústia que vivi: a inflação alta, a hiperinflação.

            E o Brasil, com o Plano Real, conseguiu estabilizar a inflação. Só que - e nós quantas vezes falamos desta tribuna - a taxa de juros alta, a carga tributária, isso tudo vem impedindo, no dia-a-dia, que brasileiros façam investimentos no setor produtivo. Pois bem, a massa salarial cresceu, é verdade; a inflação foi contida, e o salário-mínimo pôde crescer; e as pessoas passaram a dispor de poder de compra para comprar. E porque a inflação foi contida compravam também, porque o crédito existia para pagar em até 100 meses.

            Muito bem, com crédito e com massa salarial, as pessoas passaram a comprar. Só que, para comprar sem inflação, era preciso que houvesse produção em níveis suficientes. Aí foi o que ocorreu!

            Senador Eliseu Resende, V. Exª foi Ministro da Fazenda e sabe muito mais do que eu : inflação é produto de oferta e procura. Quando a procura é maior que a oferta, você tem a inflação. E, para você equilibrar a oferta com a procura, tem que fazer investimentos. O Brasil, com a taxa de juros que pratica e com a carga tributária que cobra, desestimula permanentemente os investimentos nos níveis em que eles deveriam ocorrer. Ocorreram investimentos? Ocorreram. Mas nos níveis em que eles deveriam? Claro que não! E tanto não que a inflação voltou. Aí está o Brasil apavorado com a inflação!

            Muito bem! Essa é uma preocupação que temos como brasileiros; é uma constatação que está ocorrendo. Evidentemente, o Palácio do Planalto deve estar muito preocupado, porque isso atinge em cheio a popularidade do Presidente. E atinge no atacado, porque isso mexe com a qualidade de vida do Brasil e dos brasileiros, que estão satisfeitos da vida pelo fato de poderem comprar o liquidificador, o rádio, a televisão, até o automóvel que nunca puderam comprar no passado e que é produto de uma coisa chamada inflação sob controle, com financiamento para pagar a longo prazo, com taxa de juros baixa equivalente à inflação. E isso tudo nós estamos correndo um risco pesadíssimo de perder.

            Muito bem, os economistas, as editorias econômicas - o jornalismo econômico do Brasil melhorou como, creio, em nenhum outro país -, os editores econômicos, os jornalistas formados e adestrados em fazer a análise econômica do Brasil são de padrão absolutamente de primeiro mundo. E nós temos um órgão chamado Ipea, que é o grande farol, o grande elemento sinalizador no acompanhamento dos índices da economia para que os ajustes sejam feitos, para que a população do Brasil, de forma transparente, possa acompanhar, para que os analistas econômicos possam fazer suas análises e para que as correções de rumo possam ser cobradas, ou sugeridas, ou exigidas, em função da transparência do processo.

            Senador Romero Jucá, leve um recado para o Presidente do Ipea. O Ipea sempre foi vinculado ao Ministério do Planejamento; mudaram agora para o Sealopra - não entendi o porquê. O Ipea está anunciando que vai suspender a divulgação trimestral da Carta de Conjuntura, que, desde 1980, de três em três meses, é publicada com os dados os mais fidedignos da economia brasileira, para que o Brasil tome oficialmente conhecimento de como anda a economia: a massa salarial, o poder de compra, a inflação, a projeção para o futuro, para que a economia seja uma coisa entendida pelos brasileiros, seja partilhada por aqueles que se preocupam e que têm preparo para se preocupar com a economia, e as opiniões possam ser dadas. Na medida em que a conjuntura econômica do Ipea não for mais divulgada, o farol apagará a luz. O farol que conduz os navegantes à discussão, ao debate e ao melhor rumo vai se apagar. Com medo de quê? Não sei; mas eu sei o que pode acontecer.

            Senador Geraldo Mesquita, na medida em que a Carta de Conjuntura for sonegada aos brasileiros, vai-se fomentar a especulação financeira. Na dúvida, o especulador financeiro vai jogar. E quem vai ganhar? A economia, com certeza, não. Serão os especuladores, os ganhadores com oportunidades, os ganhadores de ocasião, os que ganham dinheiro com dinheiro e com esperteza.

            Estamos vivendo, Sr. Presidente, um momento difícil e complicado em que nós brasileiros todos temos que sugerir atitudes, posições no combate à inflação. Temos que colaborar com o Governo, exigir que o Governo baixe isso, eleve aquilo, mas baixe sim. No entanto, negar-nos a informação preciosa que o Ipea, desde 1980, divulga, de três em três meses, é querer, além de queda, coice para o Brasil, porque vai facilitar a especulação financeira em cima da dúvida.

            Gostaria, portanto, a par de manifestar a minha enorme preocupação com a retomada da inflação, da carestia e do custo de vida, de solicitar às autoridades do Governo que desautorizem o Presidente do Ipea com essa história de não informar mais, de três em três meses, a conjuntura econômica com a divulgação da Carta de Conjuntura. A Carta de Conjuntura é um patrimônio da sociedade brasileira que não pode ser sonegada.

            Gostaria que o Líder do Governo, que está presente e que me ouve, levasse esse apelo e esse protesto que faço em nome do povo do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/07/2008 - Página 24459