Discurso durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a volta da inflação, que atinge principalmente os mais pobres. (como Líder)

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA DE TRANSPORTES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre a volta da inflação, que atinge principalmente os mais pobres. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 09/07/2008 - Página 26014
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA DE TRANSPORTES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, AGRAVAÇÃO, ONUS, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, RETORNO, INFLAÇÃO, NECESSIDADE, REDUÇÃO, CARGA, TRIBUTOS, TAXAS, JUROS, COMBATE, AUMENTO, PREÇO, PRODUTO, IMPORTANCIA, INVESTIMENTO, AMPLIAÇÃO, PRODUÇÃO.
  • ANUNCIO, DEPOIMENTO, COMANDANTE, PRESIDENTE, ASSOCIAÇÃO DE CLASSE, PILOTO CIVIL, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG), INTERESSE, ORADOR, QUESTIONAMENTO, VENDA, EMPRESA, TRAFICO DE INFLUENCIA, ADVOGADO, AMIZADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, FAVORECIMENTO, GOVERNO, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, ACUSADO, PARTICIPAÇÃO, AQUISIÇÃO, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu ouvi com muita atenção a última metade do discurso da Senadora Ideli Salvatti, que trazia números auspiciosos com relação à economia brasileira e falava em pânico relativo à questão da inflação, ao perigo do recrudescimento da inflação.

            Devo dizer a V. Exª, Presidente Zambiasi, que fiquei muito feliz ao ouvir de S. Exª a assertiva de que a inflação tem de ser combatida com produção. Tem-se que aumentar a produção. Claro que sim! Claro que sim, Senadora Ideli!

            Eu vi os números que V. Exª exibiu - números positivos -, mas é preciso que, até em nome do contraponto, a verdade que nós estamos vivendo seja também explicitada, porque é muito bom falar, mas é preciso ver e constatar o que está acontecendo.

            Falar é fácil; assistir aos fatos que estão acontecendo é obrigação. Ao que nós estamos assistindo? Lamentavelmente, ao recrudescimento, à volta da inflação, penalizando principalmente os mais pobres. A inflação do último mês, para os mais pobres, foi de 1,3%.

            Senador Jefferson, quem ganha R$10 mil gasta R$500,00 com comida, com conta de água, com conta de luz e o resto gasta com outras coisas. Quem ganha salário mínimo gasta tudo o que ganha com comida, com aluguel, com água e com luz, que é o que está subindo. A inflação está indo na testa do pobre, está consumindo tudo o que ele ganha. O reajuste do salário mínimo foi de 9,4% - de R$380,00 para R$415,00. A inflação dos últimos 12 meses foi de 9,11% - já se foi embora o aumento que se cantou, em prosa e verso, com relação ao salário mínimo. A inflação já o comeu. O ganho do pobre, do salário mínimo, já se foi embora. Contra esse fato, que é verdadeiro, pode-se fazer um milhão de discursos, mas nenhum discurso vai derrubar o preço do arroz, do feijão e do óleo de soja na bodega ou no supermercado.

            É preciso que a gente enfrente o dragão de frente, não com um porrete de madeira, mas com um lança-chamas; não com um discurso falando em investimento para aumentar a safra, mas falando aquilo que é preciso fazer.

            O Brasil não vai sair ileso da espiral inflacionária em que entrou - lamentavelmente, mais uma vez - se não atingir de frente dois problemas que são a causa real da retomada da inflação pela falta de investimentos a tempo: carga tributária e taxa de juros. Carga tributária, em que nós somos campeões no mundo, e taxa de juros, em que somos campeões no mundo.

            Seis bilhões de investimentos em Santa Catarina! É ótimo que aconteça e espero que aconteça, mas quantos piauienses, quantos potiguares, quantos amazonenses desejariam investir nos seus pequenos negócios e não investem porque não é negócio, porque o dinheiro para emprestar, para investir é caro demais e porque produzir paga imposto demais? Alguns investem, mas muitos não investem, e porque não investem é que acontece a inflação.

            Tem dinheiro em circulação, mas não tem produto em volume equivalente, e a lei da oferta e da procura produz a inflação. Como tem pouco produto ou menos produto do que poderia haver e tem dinheiro para comprar, o dinheiro para comprar compra aquela quantidade de produtos que deveria ter crescido. Como não cresceu, valoriza muito o produto e gera a inflação. Se você quiser afrontar, encarar de frente, topar a parada de frente com a inflação, tem de mexer na taxa de juros e tem de baixar a carga tributária.

            Senador Zambiasi e Senador Valter Pereira, lembram V. Exªs que o Governo cantou, em prosa e verso, a auto-suficiência em petróleo? De janeiro a abril, a produção de petróleo foi menor que o consumo de petróleo do Brasil em 185 mil barris diários. Por quê? Porque se consumiu mais do que se produziu. É o que está acontecendo no Brasil.

            Agora, é preciso acabar com a conversa fiada: “Ah, o Brasil é auto-suficiente em petróleo”. Festa! O Presidente da República, com um casaco esporte, a bordo de um helicóptero, pousando numa plataforma para anunciar ao mundo a auto-suficiência... Os números não mentem. De janeiro a abril, o Brasil consumiu 185 mil barris de petróleo a mais do que produziu.

            É isto o que está acontecendo no País: o Brasil está crescendo em demanda, em consumo, e não está acompanhando na oferta da produção, por questões básicas, questões estruturais. Além da infra-estrutura deficiente, que freia a produção e o escoamento da produção, você tem elementos que freiam os investimentos que geram produção ao longo do tempo. Não é de uma lapada, aumentando o dinheiro para a agricultura ou anunciando investimentos no Estado. É no atacado. Eu não quero falar em inflação no varejo, quero falar em agredir a inflação no atacado, combatendo-a com abaixamento de taxa de juros e abaixamento de carga tributária.

(Interrupção do som.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN) - O resto é conversa. O resto é conversa, Sr. Presidente.

            Sei que tenho pouco tempo, mas eu gostaria de dizer que, amanhã, estará na Comissão de Infra-Estrutura o Comandante Enio, da ex-Varig, que vai prestar depoimento sobre a venda da Varig/VarigLog.

            Eu tenho uma pergunta básica a fazer a S. Sª, ele que é comandante da Varig, que é dirigente de uma entidade de classe, que fala pelos desempregados da Varig. Vou perguntar a ele, na experiência dele, no acompanhamento dos fatos que fez, se julga que a operação da venda da Varig foi um bom negócio para quem comprou, ou uma operação para salvar a Varig. Eu quero saber se o que se fez foi uma operação para salvar a Varig - e ele pode responder bem, porque é ex-funcionário -, para salvar os direitos trabalhistas dos mais de 10, 15, 20 mil funcionários, ou o que se fez - Governo - na venda da Varig foi para produzir um bom negócio para alguns. Eu tenho essa pergunta.

            No depoimento do Dr. Marco Antônio Audi, para mim, já ficou claríssimo que houve tráfico de influência; já ficou claro que ele pagou US$5 milhões a Roberto Teixeira, que negou que tivesse recebido os US$5 milhões. Um dos dois está mentindo. E Roberto Teixeira vai ter de voltar ao Senado, de uma forma ou de outra, para ver se Audi está mentindo, ou Roberto Teixeira está mentindo. Não se paga a um advogado US$5 milhões se esse advogado não for capaz de coisas impossíveis, como as que aconteceram para que a Varig fosse comprada por US$24 milhões e vendida, oito meses depois, por US$320 milhões. Tinha de haver um mago, um feiticeiro no meio para mostrar se a venda da Varig foi feita e ajudada pelo Governo para salvar a Varig e os funcionários, ou se para gerar um bom negócio, operado por um advogado que é compadre do Presidente, que entra e sai do Palácio do Planalto na hora em que quer, e teria produzido um bom negócio, às custas de quê? De uma coisa que o ex-Procurador-Geral da Fazenda Nacional, demitido, Dr. Manoel Felipe, precisa vir ao Senado para dizer, dizer por que ele não deu o parecer que alguns queriam que fosse dado, dizendo que a sucessão das dívidas de uma empresa para outra não aconteceriam, no caso da venda da Varig, se a Varig devia R$7 bilhões; vendida, os R$7bilhões seriam evaporados. Ele não quis dar esse parecer, e o seu substituto o deu. E, porque as dívidas sumiram, é que se vendeu a Varig. Comprada por US$24 milhões, vendeu-se por US$320 milhões.

            O Dr. Roberto Teixeira, advogado, que ganhou mais de US$5 milhões, amigo e compadre do Presidente, com acesso fácil ao Palácio do Planalto, vai ter que voltar aqui. Vai ter que voltar aqui, mas vai ter que voltar depois do comandante Enio, do Marco Antonio Audi, do Dr. Manoel Felipe, que é o Procurador da Fazenda Nacional, esses todos vão ter muito o que dizer para que esse fato seja suficientemente esclarecido e para que o Brasil saiba, ao final, se a venda da Varig foi um escândalo, operado por pessoas com gabinete no Palácio do Planalto, ou se a venda da Varig, que teria sido feita para operar um bom negócio para alguns, diferentemente, não: teria sido feita para salvar as questões trabalhistas de muitos brasileiros, que até hoje estão pendurados, desempregados, entregues à rua da amargura, sem nem ao menos direito ao fundo de previdência Aerus, para o qual contribuíram tantos anos e que lhes está sendo negado.

            Quero deixar claro a este plenário que estamos prestes a entrar em recesso, mas o meu partido vai acompanhar de perto, passo a passo, o depoimento do comandante Enio, o depoimento do procurador Manoel Felipe, os depoimentos das pessoas que possam voltar a esta Comissão para trazer mais informações, e o depoimento do Dr. Roberto Teixeira, para passar a limpo um cadáver, que está pendurado no armário, chamado venda da Varig, a VarigLog.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/07/2008 - Página 26014