Discurso durante a 134ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Importância dos valores democráticos e do equilíbrio entre os três Poderes.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PODERES CONSTITUCIONAIS. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Importância dos valores democráticos e do equilíbrio entre os três Poderes.
Publicação
Publicação no DSF de 18/07/2008 - Página 28033
Assunto
Outros > PODERES CONSTITUCIONAIS. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, DEMOCRACIA, IMPORTANCIA, DIVISÃO, PODERES CONSTITUCIONAIS, CRITICA, EXECUTIVO, JUDICIARIO, DESRESPEITO, COMPETENCIA LEGISLATIVA, CONGRESSO NACIONAL, EXCESSO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), PROVOCAÇÃO, DESEQUILIBRIO, PODER, DESCUMPRIMENTO, ORDEM, HIERARQUIA.
  • COMENTARIO, HISTORIA, BRASIL, DIVERSIDADE, GESTÃO, IMPERADOR, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, CRITICA, ATUALIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXCESSO, PODER, EXECUTIVO, QUESTIONAMENTO, INSUFICIENCIA, NUMERO, CIDADÃO, PANTEÃO.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, INCOMPETENCIA, COMBATE, VIOLENCIA, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, CHILE, URUGUAI, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, SAUDE PUBLICA, FALTA, OFERECIMENTO, MEDICAMENTOS, POPULAÇÃO CARENTE, EXTINÇÃO, CENTRAL DE MEDICAMENTOS (CEME), DIFICULDADE, ACESSO, ESTUDANTE, BAIXA RENDA, ENSINO SUPERIOR, DESRESPEITO, DIREITOS, APOSENTADO.
  • REPUDIO, PROPOSTA, AUMENTO, FLEXIBILIDADE, LEI FEDERAL, RESPONSABILIDADE, NATUREZA FISCAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Jefferson Praia, que preside esta sessão de 17 de julho - dia 18 termina, é o recesso regimental -, parlamentares na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado. Senador Jefferson Praia, esta sessão é boa para fazermos uma análise sobre de que serve o Senado, Senador Augusto Botelho, a função de um Senado.

Nós temos que entender. Eu vou pegar o avião, vou para a minha cidade, Parnaíba. E posso dizer como o Apóstolo Paulo, que disse: “Percorri meu caminho, preguei minha fé e combati o bom combate político”. Nessa cidade, fui Prefeito. E saí da Prefeitura da minha cidade para os hospitais: um que eu construí, Dirceu Arcoverde, a Santa Casa, Maternidade Santa Edwiges e meu consultório. E, aí, fui candidato a Governador do Estado.

Sou o brasileiro que mais votos teve em uma cidade. Antes, fora Juscelino Kubitschek, Augusto Botelho, em Diamantina. Depois, o nosso Ronaldo, poeta, da Paraíba, cujo filho é o Governador, Cássio. Ele que me contou. O Ronaldo Cunha disse que ele teria a maior votação da história. Era em Campina Grande, o caso semelhante. E ele mesmo, Augusto Botelho, me contou que eu o tinha superado - eu nem sabia que tinha. Eu saí, depois de Prefeito da minha cidade, a maior - eu tive 93,84% dos votos, Augusto -, para Governador do Estado.

Então, nós estamos nessa luta política a partir de lá. O meu partido vai disputar as eleições. Augusto Botelho, a candidata é muito melhor do que eu. É a minha esposa, Adalgisa. Eu sei que são três governos contra, mas entendo, Jefferson, que tem uma coisa mais importante do que governo: é Deus e o povo. Eu, quando governei o Estado do Piauí, cantava, Jefferson Praia, como uma reza, com fé: “O povo é o poder”.

Mas isso nos dá a entender o que é o Senado. Jefferson Praia, “o homem é um animal político”. Não fui eu quem disse. Foi Aristóteles, lá na Grécia. Ninguém contestou isto: “O homem é um animal político”. E esse animal político buscou, ao longo da História, formas de governo. Predominou, na humanidade, a monarquia, com o rei, o absolutismo. Os reis governavam o mundo. Tinha sinônimo: faraó, que é rei no Egito. Era como se fosse um Deus na terra, e Deus seria o rei do céu. Mas o povo, que é soberano, não estava satisfeito. Sofrido, enganado, humilhado, maltratado, esse povo foi às ruas e gritou: liberdade, igualdade e fraternidade. Com esse grito, Senador Augusto Botelho, caíram todos os reis.

Agora, nós, brasileiros, somos um pouco retardatários. Apenas cem anos depois é que caíram os reis do Brasil, mas, em parte, porque o rei era muito bom. Os reis do Brasil foram muito bons. O próprio Pedro I, que fez a independência, tornou-se imperador. Ele era português e foi para Portugal, reconquistar, deixando seu filho, uma figura notável. Aí é que eu contesto Luiz Inácio, quando ele diz “nunca dantes...”. Não! Tivemos bons governantes. Esse Pedro II era uma figura espetacular, preparada, humilde, humano, dedicou-se a este Brasil grande, à unidade. Pedro II foi tão bom, tão bom que, quando se instalou a República aqui... Porque a República veio por força dos exércitos. Tínhamos combatido na guerra paraguaia. Acabou a guerra. Então, havia também o desejo, antes da República, da abolição, que se juntou àquela, apesar de ter sido a Princesa Izabel que libertou os escravos. Mas aquilo causou um problema extraordinário na economia. O povo não estava presente no nascer da República. Dizem os historiadores que ele estava bestializado. O povo nem entendeu; pensou que era um desfile de militares. O povo não participou. Os militares eram contra a Guarda Nacional, que tinha sido criada pelo Padre Feijó, regente de Pedro II, e era mais forte que o Exército.

A República veio, com Deodoro, para fortalecer o Exército, porque havia a Guarda Nacional. A Guarda Nacional era essa Polícia Federal. Sempre houve essas coisas. Tem-se de entender a história. Então, vieram Deodoro e o Marechal Floriano, seu vice. E, nessa primeira eleição da República, Floriano Peixoto era o vice de Deodoro da Fonseca e obteve mais votos que Deodoro. Havia um Parlamento já. Rui Barbosa estava lá - como está aqui. Rui Barbosa fora o primeiro Ministro da Fazenda de Deodoro. Deodoro passou pouco tempo, menos de um ano. Floriano Peixoto - duro, militar, enérgico - pensou em continuar, pensou em botar outro militar. Rui Barbosa iniciou a campanha civilista; foi chamado a apoiar o militarismo que se instalara na República. Ele foi governo. Estava na abolição dos escravos, escreveu a primeira Constituição, foi o primeiro secretário da fazenda: fomentou a indústria, teve essa visão; valorizou a produção nacional, quem trabalhava; demonstrou ao País que o trabalho livre era melhor do que o trabalho escravo, por isso ele está aí.

Mas, quando viu o que queriam os militares que continuaram - não por maldade, mas porque achavam que tinham força e poder -, ele disse: “Tô fora!”. Aí, lhe disseram: “Nós lhe damos de novo o Ministério da Fazenda”. Rui Barbosa disse, Jefferson Praia: “Não troco as trouxas das minhas convicções pelo Ministério”.

Que ensinamento a esses partidos aí, que andam se vendendo por empreguinho, por qualquer lugar, por qualquer mensalão, por qualquer coisa! E está ali.

Ele saiu para a oposição. Nós estamos aqui é para ajudar a Pátria, a democracia, como ele. O maior tempo dele foi na oposição. Esta Casa tem 183 anos. Quantos passaram, Jefferson Peres! Tanta gente boa! Mas o maior mesmo foi ele. E ele saiu. Na campanha civilista é que conseguiram entrar os civis: Prudente de Moraes, Campos Salles. Ele perdeu as eleições, mas foi quem despertou esta necessidade de ser a ditadura militar o nascer da República.

Mas Pedro II era tão bom! Ele foi para seu exílio na França, ô Augusto Botelho, e morreu lá. No seu velório, lá na Notre Dame, os líderes da Revolução Francesa, o povo, as lideranças disseram que, se tivessem um rei como Pedro II, não teriam feito a Revolução Francesa, a guilhotina, que fez rolar cabeças. Era um homem bom! Pedro II fez muitas grandezas neste País. Esta unidade... Olhem que os países espanhóis, dominados pela Espanha, dividiram-se todos; ele garantiu esta unidade.

Mas o que queremos dizer é que o povo, então, tirou os reis. Os reis eram absolutos, simbolizados pelo maior deles, do mundo, Luís XIV, que fez Versalhes, que disse uma frase que simboliza tudo: L’État, c’est moi, o Estado sou eu. Então, a primeira coisa desse regime que nasceu do povo foi dividir esse poder. Era o absolutismo: L’État, c’est moi. E eles dividiram, de acordo com Montesquieu, em três poderes: um, para fazer as leis boas e justas, inspiradas nas leis que Deus deu para o seu líder Moisés. Não há aquela lei? O outro, para fazer as ações, executar as obras, inspirado no livro de Deus. Tiago: “Fé sem obra já nasce morta”. Assim, nasceu... E o Judiciário, inspirado no próprio Cristo, que discursou nas montanhas e disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. A Justiça. Então, o poder do absolutismo foi dividido em três. Eles tinham de ser eqüipotentes, iguais, harmônicos, para ter sustentação.

A democracia, que é o povo, Abraham Lincoln a definiu com sabedoria: o governo do povo, pelo povo e para o povo. Essa é a verdadeira. Ela se instalou e vem-se aperfeiçoando. Ela vem-se aperfeiçoando.

Somos inteligentes, Augusto Botelho. Talvez o retardamento tenha ocorrido porque Pedro II era bom.

Ele era querido, era humano; o povo nem sequer entendeu por que ele saiu. Essa é a realidade.

Mas, na França, onde ela nasceu, rolaram cabeças na guilhotina, aqueles que a fizeram; depois houve o estadista Napoleão Bonaparte, que fez um código civil e a expandiu. E ela foi se firmando.

A democracia, que entendo ter nascido na Grécia com aquele pensamento de Aristóteles “O homem é um animal político”, foi melhorando. Os Senados melhoraram. Todos se lembram, nessa evolução, da grandeza de Roma. Quando falavam, diziam: “O Senado e o povo de Roma”. O Senado e o povo de Roma derrubaram Nero. O Senado e o povo de Roma derrubaram Calígula, que colocou até um cavalo para ser Senador. Mas havia sintonia entre o Senado e o povo de Roma.

Somos o povo. O Luiz Inácio tem de entender que nós somos o povo. Sei que ele teve um mar de votos, não vou contestar. Teve! Na primeira vez, votei nele, mas nós somos o povo. Somem os votos aqui, para ver se não dá mais do que os do Luiz Inácio.

Então, é isto: nós somos filhos da democracia, do voto e do povo.

Então, essas Casas funcionam assim.

Mitterrand, Presidente da França - e lá existe a reeleição, o mandato é de sete anos... Ô Jefferson, eu tenho saudade do Senador Jefferson Péres, porque ele dava aparte e me corrigia, ele era bem mais culto do que eu muitas vezes. Mas Mitterrand, no fim de sua vida, Augusto Botelho, com câncer, pediu a um escritor amigo, que havia ganhado o prêmio Nobel, para escrever o último livro dele, e eu o passaria a Luiz Inácio. Esse é o presente que eu ofereço, mais do que os aloprados o fariam.. Eu sei que ele está cheio de problemas, governar é complicado. Eu sei, já fui prefeitinho e governador. Então, vou dar de bandeja o que Mitterrand, ao morrer, deixou em seu último livro: “Mensagem aos governantes: fortalecer os contrapoderes”.

Luiz Inácio, ao menos isso! O Presidente tem de fortalecer este Poder e fortalecer o outro Poder. É aí que está o equilíbrio. Não vemos isso no Brasil! O Executivo está muito, muito forte. Está forte demais, é dinheiro demais, é imposto demais, é banco demais, é comunicação demais! Está muito forte! Ninguém pode negar.

A nossa principal razão é fazer leis boas e justas. Nós não as fazemos mais. Vêm umas medidas provisórias, a gente carimba. Vez por outra, se consegue uma melhoria; em caso excepcional, como aquele imposto, a gente derruba.

E agora o Judiciário! Olha, eu entendo as coisas e entendo bem.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Sei que pode haver erro; eu já fui vítima de erro, já fui vítima de malandragem do Judiciário, eu sei. Mas a justiça não é humana. Errare humanum est. A justiça é uma inspiração divina, de Deus, que entregou as leis para o mundo melhorar, através de Moisés. Não podemos viver sem essa justiça. Precisamos aperfeiçoá-la, aprimorá-la, respeitá-la, resguardá-la.

O que se viu foi muito feio.

Sou oficial da reserva, fiz o CPOR, e essa bandeira está aí pelos primeiros líderes que eram positivistas de Auguste Comte. Eles diziam que o princípio era a família, o meio, a pátria e Deus. Eles botaram aí esse lema Ordem e Progresso.

O que houve no Judiciário é complicado. Quebraram-se a hierarquia e a disciplina.

A hierarquia e a disciplina é que sustentam os exércitos que são fortes. Sem hierarquia e sem disciplina não tem governo, não tem ordem, tem anarquia. Nós temos que estar atentos. Essa é a nossa impressão, e citarei um fato muito recente.

Ontem eu ouvia Marco Maciel, símbolo da honradez, da honestidade, da ética, da decência e da dignidade. Dali eu presidia a sessão. Atentai bem!

Como o Senado é forte, ô Marco Maciel! Foi o melhor vice-Presidente da história da nossa República. Mesmo o Marechal Deodoro tendo sido o vice, tomado o governo em pouco tempo, ele, por assim dizer, governou no estado de sítio. Fechou o Congresso, fechou a Constituição. Marco Maciel dizia que nós temos que nos preparar para comemorar o segundo século da nossa independência. Nós estamos em 2008, vai ser em 2022, mas temos que preparar. O mundo viu como a França comemorou os dois séculos do nascer da democracia.

Nós temos que ter história.

Então, estamos preocupados em saber onde vai ser a Copa, mas, com a nossa história, com o nosso exemplo, nós não estamos.

Em trezentos anos, este país só teve um herói: Tiradentes. Em trezentos anos, um herói cívico. Os mineiros, que são sabidos, viram a semelhança dele com Cristo, magro, cabelo grande, um foi para a forca, o outro foi para a crucifixão.

Temos de preservar, Luiz Inácio, os nossos grandes homens. Todos extraordinários presidentes. A humildade une os homens; o orgulho os divide. Essa de dizer “nunca antes”, não. Cada um teve a sua missão histórica. O Pedro I gritou a Independência, o outro garantiu a unidade. A mulher? E a mulher é extraordinária, as mulheres estão dominando, entrando na política. Isso é muito bom! Só fomos governados poucos dias por uma mulher e ela libertou os escravos. Todos tiveram as suas missões.

Tivemos aqueles dois períodos de exceção, uma ditadura civil, Vargas, um homem extraordinário. Ninguém escolhe a época de governar. Vargas enfrentou três guerras. Uma para entrar - os paulistas quiseram tirá-lo - e depois a Guerra Mundial. Ele saiu e depois voltou nos braços do povo. Tivemos essa seqüência, e veio o período militar.

E quero dizer: eles foram honrados e honestos. Eu vivi nele. Dos militares, eu conheci pessoalmente Castelo Branco, do Ceará, e eu sou do Piauí. Eu conheci pessoalmente Ernesto Geisel - ô homem de moral. E conheci pessoalmente e tomei dois porres com João Baptista Figueiredo. Ô homem puro! Eu tomei, ô Cláudia Lyra...

Eu era Deputado novo, do Piauí, o Governador era o austero Lucídio Portella, que não tomava uísque, mas ele colocava uns amigos para tomar com o Presidente, e eu era um deles, in vino veritas. Mas, ô homem puro! Eu convivi, a gente sabe. Ele era um militar. O Geisel disse: “Vai e faz a abertura”, ele foi e fez. Se tivesse mandado acabar com a guerra do Iraque, ele iria. Ele cumpriu a missão. Mas não conheci Costa e Silva e não conheci o Médici.

Mas eles tiveram os Ministros bons: João Paulo dos Reis Velloso, Petrônio Portella, que foi piauiense, e deram abertura. Vinha o Tancredo, que não veio, que se imolou, e veio o Sarney, que teve a paciência maior do que a de Jó, da Bíblia.

Olha que nós vemos a televisão. Quantas mortes numa transição! Quantas mortes! E ele, na paciência que Deus lhe deu. E a sua santa mãe o orientava. Ele enfrentou mais de dez mil greves, fez a transição democrática na paz. E o Brasil cresceu na economia, mesmo com a inflação.

Depois, veio o Presidente Collor e cumpriu a missão dele. Eu estou fazendo é história. Não escolhe. Esse garoto que é Senador aí, ele teve muita coisa boa... Eu era Prefeitinho quando ele... Eu fui Prefeitinho, eu governei com o Presidente Sarney, o mais generoso de todos. Generoso: aquele programa do leite, aberto.

Olhem que fazer uma transição da ditadura militar para o governo civil foi muita bênção de Deus: não houve mortos.

O Presidente Collor, o primeiro eleito. Essa globalização aí nós devemos a ele, esse despertar para a indústria. Alguém se lembra da fábrica dele? “São umas carroças”. E eram mesmo. Como modernizou! E muitas coisas: o trabalhador rural ganhava um quarto de salário. Ele botou o salário mínimo, o Funrural, essas coisas. Na parte escolar... E aí a história é complicada. Mas ele cumpriu...

E Itamar com Fernando Henrique Cardoso combateram o monstro da época: a inflação. Eu era Prefeitinho na época. Jefferson Praia, todo mês, eu passava a noite acordado para fazer a folha de pagamento, porque era de 80% a inflação ao mês.

Para que me entendam: se você ganhava R$1 mil, quando você ia receber, valia só R$200,00 no fim do mês. Então, eu passava, todo mês, uma noite toda, calculando para diminuir, vamos dizer, o assalto que a inflação fazia ao povo. Se tinha uma oportunidade, a gente freava aqueles ganhavam mais e dava mais aos que ganhavam menos. Iam reclamar e, no outro mês, já era outro. O negócio era ligeiro.

Então, esse Itamar e, depois, o Fernando Henrique... Com essa inflação, só ganhava dinheiro quem tinha negócio de banco, quem tinha na poupança. Quem trabalhava não ganhava dinheiro. Eram 80%. Se você ganhava R$1 mil, no fim do mês, o valor era R$200,00. Então, imagine: você trabalhava e só quem tinha dinheiro para o baile, para o festival, para a orgia dos bancos, que ainda hoje sabem fazer a orgia, eram os banqueiros.

Então, eu queria dizer que nós passamos por isso tudo, e Fernando Henrique Cardoso - quero dar o testemunho -, primeiro, é um homem abençoado por Deus. Ele é muito preparado - eu governava o Piauí -, é um homem muito preparado. Olhe, Augusto Botelho, eu procuro estudar e entender as coisas, mas o Fernando Henrique é muito preparado. E ele teve uma bênção: primeiro, o Vice dele, essa figura.

Ele viajou menos que o Luiz Inácio, mas muitas vezes, e este Marco Maciel assumia mesmo, na paz, na tranqüilidade, na decência. Não é?

Vou dizer o seguinte - e posso dizer - porque, desta tribuna, quando começaram a falar de um dossiê sobre Ruth Cardoso, eu vim aqui, em vida! Agora, todo mundo reconhece: é uma santa, é o símbolo da mulher digna desta Pátria e que precisa ser homenageada. Quando começaram, vim para dizer que era uma indignidade. Meditem. Sou médico, e Augusto Botelho também, que é do PT. Esse negócio de caluniar, de levantar falso aos malandros dos “aloprados” não dá em nada. Eles não têm vergonha. Agora, a uma pessoa de dignidade, de vergonha, respeitada no mundo, mãe, avó, que se dedicou ao programa da solidariedade, sabemos, como médicos, que isso causa graves repercussões. Não causa? Falo isso para quem está no Governo meditar.

O que nós queremos dizer é que Luiz Inácio está aí e é o nosso Presidente. Quero que ele realize... Votei nele em 94. Diria a ele que fui ao México - procuro aprender - e vi uma frase do General Obregón. V. Exª já foi ao México? Pois é, a história do México é cheia de guerras, de confusão. Para ele se libertar...

Os Estados Unidos tomaram quase todas as terras dos mexicanos. Tem muito herói. Por isso eu digo que o Brasil, em 300 anos, só teve um. Agora nós estamos cultivando o que merece, Juscelino Kubitschek, não é? Mas eu vi uma frase que não me sai da mente, General Obregón - era presidente e está lá: “Eu prefiro um adversário que me diga a verdade do que um aliado ‘aloprado’ que me engana, que me mente e que me trai”.

Então, eu sou aquele... Posso estar como o adversário que quero para o Luiz Inácio, mas Fernando Henrique Cardoso fez a transição mais bela que houve neste País. Juscelino, olha o que fez, o símbolo do desenvolvimento, do otimismo, da integração. Fernando Henrique, eu vi uma entrevista. Ele: “Luiz Inácio, cuidado! Tem que cuidar da violência”. E está aí. Nós já temos seis anos, e a violência aumentou.

Cícero, no Parlamento romano, disse: Pares cum paribus facillime congregantur, violência atrai violência.

Norberto Bobbio, a Itália, a Itália do Renascimento... E eu acho que devia ter aqui. Eu acho que devíamos ter... eles têm Senador vitalício. Só são cinco... figuras... Norberto Bobbio, o melhor teórico da democracia. Ele foi professor lá no fascismo da Itália. Consolidaram a democracia, e ele era Senador vitalício. Convido cinco. Mussolini ele enfrentou, e hoje todo mundo lê. Eu passei a ler porque ouvi o Fernando Henrique Cardoso falando nesse Norberto Bobbio. Quando a gente vê alguém como Fernando Henrique lendo... Dr. Augusto, ele diz que o mínimo que temos de exigir de um Governo é segurança, à vida, à liberdade e à propriedade.

Façamos uma reflexão se este Governo está nos oferecendo isso. Este Governo é uma barbárie. Eu o convenci, e V. Exª que chegou agora, Jefferson Praia - vi a sua encantadora esposa que empata com Adalgisa, seus filhos -, eu disse: “Vá a Buenos Aires, bem aí; não tem violência. A gente anda às quatro horas da madrugada de mãos dadas na rua, bem aí, no Uruguai, no Chile. O povo diz assim: “Pode andar.” Eu fui com a minha filha Daniela, em negócio de moça, com boate, “Menina, não vai”. Estava preocupado. O povo lá do hotel disse: “A polícia daqui não é corrupta.”

E nós podemos dizer isso, brasileiros e brasileiras? É bem aí. Eu não estou falando de Primeiro Mundo, não estou falando da Suíça, da Suécia; eu estou falando daqui. Segurança, Luiz Inácio, nós temos que melhorar.

Saúde. Eles o enganaram, Luiz Inácio. Vossa Excelência, com toda pureza, disse que a saúde está chegando às raias da perfeição.

Augusto Botelho é do PT. Eu não estou atacando.

Olha, Luiz Inácio, estão lhe mentindo: a consulta está R$2,50; uma cesárea está R$60,00 - para dividir entre o cirurgião, o auxiliar e o anestesista. Essa é a verdade. Vocês trouxeram a Santa Casa do Pará, que não é do Pará, são de todos, todos filantrópicos. Doenças que tinham acabado, como a dengue, como a malária, como a tuberculose, estão aflorando. Enganaram o nosso Luiz Inácio! Eu acho que ele disse aquilo porque disseram para ele.

A saúde está muito boa.... Eu sou médico. Conheci Christiaan Barnard, que fez o primeiro transplante cardíaco; Zerbini; auxiliei cirurgia do Jatene. Eu vi nascer a cirurgia. Temos boa técnica, mas ela só está boa para mim, que o Senado garante - todo dia, um funcionário diz: “Não quer ir para São Paulo não? Fazer exames?” -, para quem tem plano de saúde, para quem tem dinheiro, mas para o pobre são as filas, as dificuldades.

O remédio, que havia no passado… Ô, Luiz Inácio, a Ceme! Eu não sou afeito a dinheiro, não sou, eu gosto mesmo é da Adalgisa. Meu avô foi o homem mais rico do Estado, tinha dois navios. Eu não dou valor, nunca dei. Entrei numa Santa Casa como médico, e andava, no bolso traseiro, sabe com o quê, Augusto Botelho? Era com um livrinho - não era talão de cheque não - da Ceme. O Governo tinha todos esses medicamentos.

Eu atendia sempre os pobres, eu puxava o livrinho para receitar o que o Governo dava. O Governo tinha medicamento de graça para o povo. Luiz Inácio, tenho 42 anos de médico, mais de trinta carregando uma Santa Casa nas costas. Ô, Augusto Botelho, você se lembra do memento da Ceme? Eu não andava com talão de cheque: era o livrinho, que, quando precisava, eu puxava, porque tinha os remédios básicos todos para a pobreza. Tem? Não tem.

Educação: R$950... Estou ali com um e-mail da Universidade Estadual do Piauí: um professor lá estava ganhando trezentos e tanto. Eles pedem menos do que isso, e não deram. E o Governo é do PT!

Proliferaram as faculdades particulares. Augusto Botelho, V. Exª formou-se numa universidade federal. Eu também. Eram boas. Sou médico bom. Fui bom cirurgião. Acho que era o Pelé de lá, também fui bom: pós-graduado em hospital do Governo, o Ipase, no Rio de Janeiro, o HSE.

Hoje tem faculdade de medicina - não vou citar o nome - que cobra mensalidade de R$4 mil. Qual é o pobre que pode ser doutor, médico? Por mês! E os livros? E a comida? E a hospedagem? E se tiver dois filhos?

 Nos Estados Unidos tem. Tem, Luiz Inácio! Porque o trabalho é valorizado, se ganha bem: qualquer garçom ganha 20% no ato. Então, qualquer rapazinho que trabalhe num restaurante, no fim do mês, tem US$ 3 mil, e ele pode pagar U$ 800. Aqui não tem emprego, e quem tem ganha salário mínimo. Quer dizer, cresceu, afastou, diminuiu a faculdade pública dos pobres. Essa é minha preocupação.

E a Previdência? E os aposentados, Augusto Botelho? Estou fazendo um trabalho: nunca dantes houve tantos suicídios entre aposentados. Eles trabalharam, fizeram contrato com o Governo para ganhar dez salários mínimos e estão ganhando quatro - isso tudo é e-mail ali. Os aposentados que ganhavam cinco salário mínimos agora estão ganhando dois. Augusto Botelho, via de regra, o envelhecimento traz doenças, e o aposentado precisa de medicamentos. Aquilo que ele tinha no passado... Ele dividia com a família, com os filhos, com os netos.

Presidente Luiz Inácio, sei que o Meirelles é um gênio nos números, um gênio para ganhar dinheiro - cada macaco no seu galho -, mas eu queria dizer o seguinte. Luiz Inácio, eu sou Senador do Piauí, do povo, da República, não sou de oposição.

Eu sou é Senador do Brasil. Eu sou é Senador da democracia. A democracia tem que ter governo e tem que ter quem faça denúncias.

Presidente Luiz Inácio, Vossa Excelência disse que não deve aos bancos, que pagou ao BIRD, ao Banco Mundial. Deva aos bancos. Eles já ganharam muito. Os aloprados inventaram esses empréstimos consignados. Dos ordenados dos velhinhos, que não tinham nem capacidade de ler, estão tirando 40%. Abraham Lincoln: “Não baseie sua prosperidade com dinheiro emprestado”.

Augusto Botelho, a Princesa Isabel nos libertou da escravidão; Nabuco, o nosso Parlamentar, gritava; Castro Alves, com seu Navio Negreiro... A escravidão hoje, Luiz Inácio, a moderna, na qual estamos atolados, é a dívida. A dívida é a escravidão da vida moderna.

Olha, Luiz Inácio, esses pilantras, empresários, banqueiros... Estimular uma pessoa a comprar um carro em dez anos? Isso é loucura. Dez anos são uma vida. Dez anos! E os acidentes? E os incidentes? E os desgastes? Então, aquela pessoa se torna escrava. A escravatura do mundo moderno é a dívida.

Esses banqueiros inventam, sempre inventaram isso ao longo da história, sempre se deram bem. Então, o Governo, Luiz Inácio... Onde está aquele seu santo que Deus botou lá? Frei Betto, não é? Mande buscar o Frei Betto. Diante de tantos aloprados, ele disse “Tô fora!” . Ele é uma pessoa boa. Aconselhe-se com Frei Betto, com sua encantadora Marisa, acabe com esse negócio de empréstimo. Abraham Lincoln: “Não baseie sua prosperidade com dinheiro emprestado”. Com essa mentalidade, a pátria dele está forte e rica.

A inflação? A inflação está aqui, a inflação chegou, Luiz Inácio. A inflação foi combatida pelo Plano Real e pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Leia, Luiz Inácio, leia por amor ao Brasil, por amor a Deus, por amor aos nossos filhos, leia o artigo de Jarbas Vasconcelos que saiu ontem.

Luiz Inácio disse certo quando disse que ali havia trezentos picaretas. Estão querendo flexibilizar a maior obra da economia deste País: a Lei de Responsabilidade Fiscal. Sei o que é isso. Vivi isso. Paguei. Isso era uma zorra, Luiz Inácio.

Ninguém sabia quanto devia. Todos os prefeitos tiravam a ARO - Antecipação de Receita Orçamentária. Sabe como funcionava, Botelho? Estava terminando um mandato, o prefeito perdeu, ia ao Banco e tirava a ARO, tirava um empréstimo, ou seja, empenhava o que ia entrar, a receita do ano seguinte. E o outro prefeito ficava atolado. Acabou-se!

Malan, Pedro Malan, honradez e dignidade, fez isso. Não foi mole! Não foi mole! Não foi mole! Eu sofri, sofremos os governantes da época. Fizeram o bolo; vamos pagar a dívida com a renegociação! De acordo com a dívida, pagava-se 15%, 14%, 13%, 12%. Pagamos; eu paguei!

Winston Churchill disse: “Eu vos ofereço sangue, trabalho, suor e lágrimas”. Nós oferecemos isso a este País. E agora deixar voltar a inflação!

Então, para isso é o Parlamento.

Luiz Inácio, nós tivemos um Senador aqui, moribundo, com câncer, cujo filho é Governador de Alagoas, o Senador aqui dizia: “O Senado é para fazer leis boas e justas; é para controlar os Poderes” - eles nos controlam, o Judiciário e o Executivo, e nós a eles - “e para denunciar”.

Então, nós estamos cumprindo esta missão: denunciar.

Moribundo, o menestrel das Alagoas, Teotônio Vilela, pai do Governador das Alagoas, dizia: “Resistir falando e falar resistindo”. E até o fim ele fez isso!

Então, essas são as nossas palavras no final, quando vamos entrar em recesso, pedindo a Deus que elas cheguem ao nosso Presidente Luiz Inácio, para que ele faça uma reflexão e se lembre, como Cristo falava, “em verdade, em verdade eu vos digo”.

De verdade, em verdade eu vos digo, nós temos, Luiz Inácio, que abandonar um pouco a teoria de Goebbels, o comunicador de Hitler, segundo a qual, uma mentira repetida, repetida torna-se uma verdade.

Eu não acredito nisso. Eu acredito naquilo que o povo diz, que eu aprendi no Piauí, com o caboclo do Piauí: é mais fácil tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade!

Essa é a verdade em que se encontra o nosso País.

Terminaria relembrando ao Luiz Inácio um dos novos heróis desta Pátria, Juscelino Kubitschek, que foi prefeitinho como eu, governador como eu, médico, cirurgião de Santa Casa, teve uma vida militar, foi cassado, humilhado. Passo aqui para todos os brasileiros a mensagem de Juscelino: “É melhor ser otimista! O otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errado”.

Então, sejamos otimistas e vamos acreditar, porque, como diz o filósofo, a maior estupidez é perder a esperança. Tenhamos a esperança de que Luiz Inácio saiba governar corrigindo essas falhas que encontramos no seu governo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/07/2008 - Página 28033