Discurso durante a 137ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação em defesa dos aposentados e pensionistas.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL.:
  • Manifestação em defesa dos aposentados e pensionistas.
Publicação
Publicação no DSF de 06/08/2008 - Página 29197
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, FALTA, ASSISTENCIA, APOSENTADO, PENSIONISTA, CRITICA, AUSENCIA, REAJUSTE, BENEFICIO, COMENTARIO, INFLAÇÃO, DIFICULDADE, MANUTENÇÃO, QUALIDADE DE VIDA.
  • CRITICA, CAMARA DOS DEPUTADOS, DEMORA, TRAMITAÇÃO, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, PAULO PAIM, SENADOR, PREJUIZO, APOSENTADO, PENSIONISTA, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, ASSISTENCIA, MELHORIA, SITUAÇÃO, IDOSO, CONCLAMAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUMENTO, ATENÇÃO, PROBLEMA.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador João Vicente, que preside esta sessão de 5 de agosto; Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

            Senador Mozarildo, todos nós tivemos, neste recesso, aquilo que Ulysses Guimarães dizia: “Ouça a voz rouca das ruas”.

            Senador João Vicente, no nosso Piauí...

            Juscelino Kubitschek - e está ali o mineiro Azeredo - tem muito a nos ensinar. Ele era médico como nós. Como eu, ele foi de Santa Casa, foi cirurgião, teve sua passagem pela vida militar, foi prefeito, governador, foi cassado. Mas, João Vicente, temos de aprender com a vida de homens ilustres. Ele, em um de seus livros, escreveu uma mensagem que nunca esqueci. Disse que a velhice é triste. Temos acompanhado e visto isso. Juscelino, atentai bem, era um otimista e disse que é melhor ser otimista. "O otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado." Ele, que era um otimista, disse: "A velhice é triste, mas desamparada é uma desgraça.” Está vendo, Mozarildo? Juscelino, o otimista.

            Quero advertir o nosso Presidente, Luiz Inácio, que chegou e já viajou novamente. Olha, eu tenho de lamentar a velhice brasileira desamparada. Senador Carvalho, V. Exª que traz aqui a imagem, a mensagem de Deus, que prega o amor, a solidariedade, o que está acontecendo com nossos velhinhos, João Vicente, nunca aconteceu. Aí é o caso que o Presidente emprega e diz: “Nunca antes”. Pois, Wellington Salgado, agora cabe bem a frase do nosso Presidente Luiz Inácio, imitando Camões, em mares nunca dantes navegados: ele diz “nunca antes”. Nunca antes os velhinhos, os aposentados sofreram tanto neste País.

            Suplicy, Suplicy, o programa de renda mínima é uma generosidade da qual V. Exª foi um ícone. Mas, Suplicy, os velhinhos estão desamparados, os aposentados. Eu acho que Juscelino, quando disse essa frase, a situação era bem melhor, porque nunca vi. João Vicente, não tem aumento para esses funcionários aposentados há décadas. É uma tristeza. Olha, nunca houve tanto suicídio de idosos como agora, porque os nossos velhinhos, Mozarildo, nós que somos médicos sabemos, são pessoas de palavra, como antigamente. Então, eles assumiram os compromissos. Eles assinaram com o Governo um contrato. Eles trabalharam muito, e muito, muito: 35 anos! Contribuíram para a Previdência. E o contrato dizia que eles receberiam dez salários mínimos. Eles estão recebendo quatro. Então, eles fizeram esse planejamento, e que não dá.

            E mais ainda: advertimos que a inflação é uma realidade. Senador João Vicente, nós não vamos, pelas nossas atividades - até gostaríamos -, ao mercado, às feiras, aos supermercados. Mas eu tenho uma maneira prática de ver como a inflação é real. Ó Duque, é aquilo que a gente pega no carro porque a gente tem que viajar, principalmente no Piauí, que tem grande extensão territorial. Olhe, há quatro anos, eu pegava 50 “paus”, cinqüenta reais, rapaz, eu enchia o tanque de gasolina do carro, e tinha que balançar o carro. Agora, cento e cinqüenta não enchem mais o tanque do carro.

            Então, a inflação está aí, gritante. Nós não precisamos ir à feira para ver o preço do feijão pelo qual eles estão chorando; o pão francês cujo preço eles estão aumentando. A energia, João Vicente, nem se fala. Olha que eu tenho andado combatendo o bom combate. Eu posso dizer como o apóstolo Paulo, Mozarildo: “Percorri os meus caminhos, preguei, guardei minha fé e combati o bom combate”.

            Ô Senador João Vicente, eu sei que o Bolsa-Família é uma generosidade, e ninguém é contra a caridade. O apóstolo Paulo dizia: “fé, esperança e caridade”. Faltando a caridade, morre tudo. É o amor da solidariedade!

            Mas, João Vicente, eu tenho andado. Olha, no nosso Piauí, esse povo tem uma saudada do Luz Santa. Eles trazem logo a conta. Dizem: “Eu ganhei aqui, mas aqui está a conta!” É 40, é 50, vai quase o Bolsa-Família. Essa é a realidade!

            E os aposentados, além de não terem aumentado nada; além de terem sido enganados, muitos deles contribuíram uma vida toda com contrato para receberem 10 salários mínimos. Os de 10 estão recebendo 4 salários; os 5, recebem 2. E o pior é que o Governo os estimulou a uma previdência privada, Carvalho!

            Aí é que é pior. Aí há a Aplub. Cadê a Polícia Federal que não prende esse pessoal da Aplub do Rio Grande do Sul?

            Aí é que é o descaramento: se ele, o Governo não paga, dá um mau exemplo. Padre Antônio Vieira já dizia: “Palavra sem exemplo é um tiro sem bala”; “O exemplo arrasta”. Essas previdências privadas, João Vicente, são muito piores.

            Olha, anos, anos atrás - eu tenho 42 anos de médico -, entrou um desses corretores da Aplub do Rio Grande do Sul, que é um Estado de dignidade, de grandeza, de vergonha, de Bento Gonçalves, do povo heróico que fez a Guerra Farroupilha, precursor da liberdade dos escravos, precursora da República. A Aplub do Rio Grande do Sul é uma dessas empresas privadas. O exemplo é dado pelo Governo. Eu quero dar essa denúncia aqui como Senador da República: cadê essa Polícia Federal aí? Cadê? Cadê, Luiz Inácio? Manda lá algemar. Eu quero algemar é esses aí.

            Essa previdência eu fiz. Olha, eu fiz, porque, Senador João Vicente, todo esse seguro, se morrer a mulher ganha; se a mulher morrer, ganho. Eu não queria... Eu disse eu vou fazer um para eu usufruir com a Adalgisinha depois, e sair namorando. Atentai bem, Senador Carvalho, eu fiz esse diabo da Aplub do Rio Grande do Sul: cinco salários mínimos. E lá no contrato dizia - porque, naquele tempo, o salário era diferenciado - que seria o maior para eu pagar. Paguei, paguei, paguei.

            Sabe quanto é que os desgraçados estão devolvendo? Ó Deus, ó Deus, eu vos agradeço! Eu não estou precisando disso. Eu sou Senador da República. Mas, João Vicente, sabe quanto é que os desgraçados estão pagando? Cento e dezesseis reais. Apelar para quem se fazem isso comigo que sou Senador? E com os pobres? Quantos? Quantos? Quantos? Eu, não! Eu estou é denunciando porque é o meu papel. Mas esse é o mau exemplo que o Governo dá. Se o Governo da Previdência...Atentai, jornalistas, isso que é imoralidade, isso que é indignidade! Perde muito tempo. É! É isso! Os aposentados, contrato feito. Eu trabalhei na Previdência, fui médico. Isso é uma vida. Esse povo trabalhou trinta e cinco anos - velhinhos - e contribuíram.

            Olha, Carvalho, você que é de Deus, vou lhe dar um exemplo. Eu não vou citar o nome. João Vicente, o melhor homem que eu conheci foi um padrinho que eu tive de Rotary, do Piauí. Não vou falar para não identificar. Ô homem correto, Mozarildo, em todos instantes. Eu saí daqui para prestar uma homenagem a ele no Rotary. Em 1969, esse cidadão me convidou para ser rotariano. Então, eu passei a tratá-lo como padrinho. Um dos homens, sem dúvida nenhuma, o mais honrados que eu vi no Piauí. Foi tudo. E o meu padrinho, no fim da vida, suicidou-se porque não podia pagar conta da esposa no hospital. Homem honrado, digno. Ele está no céu, porque não conheci pessoa melhor do que ele. E Deus não vai julgar por um instante, vai julgar por uma vida.

            Então, o que tem de velhinho se suicidando, porque os compromissos... E eles são dignos, são honrados, eles não sabem ser caloteiros, não. Eles viveram numa geração em que se tinha ética, decência, pecado.

            Então, a situação dos idosos... Ô Wellington Salgado, V. Exª é o Líder do PMDB. É sobre isso que o PMDB deve chamar a atenção do Luiz Inácio e afastar as idéias dos aloprados. E aí ele se vangloria: “Não devo a nenhum banco. Paguei a todos os bancos internacionais - BID, Bird, Banco Mundial”.

            Eu, Luiz Inácio, na Presidência, ia dever a esses banqueiros, mas eu ia saudar a conta com os velhinhos aposentados. Olha, é de chorar! Você deve também ter o mesmo sofrimento e eu tenho que fazer isto. Se eu não fizesse este pronunciamento, porque foi tanto apelo, tanto pedido e tanta esperança, que pelo menos se vê que a gente está como Castro Alves, que diz: “Ó Deus, ó Deus, onde estás que não vê essa miséria?” em O Navio Negreiro. Então, ó Deus...

            E eu queria dizer o seguinte: eu sou orgulhoso deste Senado da República, porque nós o fizemos.

            Ô Sarney, meu grande Presidente. Está aí o homem. Deus escreve certo por linhas tortas. A santa Kiola disse ao Presidente Sarney - não sabe disso, não? - “meu filho, não deixe prejudicarem os velhinhos aposentados, não deixe”. Ela sabia que a generosidade de Sarney iria... Mas a santa Kiola advertiu e o Presidente Sarney, naquela conturbação, em uma transição, em uma inflação... Nunca houve esse miserável fator de redução previdenciária. Está aí. Eu sou testemunha. Então, Presidente Luiz Inácio pegue o Sarney e o faça um Richelieu, o seu conselheiro, a experiência. Sarney, eu andei... Maquiavel disse: “Use suas armas”. A arma que eu tenho é ir de casa em casa pedir o voto porque minha mulher é candidata. É como Cristo disse: “Procurai e achareis; batei à porta e se vos abrirá; pedi e se vos dará”. Mas o que eu vi de velhinho, Sarney... V. Exª tem obrigação! A santa Kiola é mãe de todos, de todos os governantes. V. Exª tem obrigação de colocar essa frase em todas as prefeituras, em todos os governos, e principalmente no Alvorada. Essa é a verdade. Sarney! Os velhinhos estão se suicidando. Enganaram eles, Sarney, com um negócio desse empréstimo consignado. Abraham Lincoln... Ó, Luiz Inácio, não baseie sua prosperidade com dinheiro emprestado. Os Estados Unidos aí estão fortes. Não é, Mozarildo? Não baseie! Como é que se induzem os velhinhos? Eles não tiveram atualizados os salários; colocaram esse fator de redução para eles tão imoral, tão imoral, tão imoral que um membro digno do PT... Lá tem gente boa. Tem. O Paim.

            Tem um ou dois. É o que você está dizendo, Mozarildo?

            Ele fez a lei nascida do melhor que há no PT. Eu fui o relator. E o Senado aprovou. Nós aprovamos. Ela foi para a CAE, discussão e análise de onde está o dinheiro; foi para a Constituição e Justiça. E está ali, ali, onde - disse Luiz Inácio a grande verdade - tem trezentos picaretas. Eu acho que aumentou porque está lá, estão com medo de discutir, porque está aí o momento eleitoral. Essa é a diferença. Ó Chinaglia! Chinaglia! Chinaglia! Eu digo como Cícero: até quando abusará da nossa paciência, da paciência dos velhinhos, dos idosos? Ó Chinaglia! É isso. Está lá, parada, saiu daqui. O Mário Couto disse que ia fazer uma greve de fome e não ia tomar banho; ficou no discurso. Está lá, Paulo Duque, parada! Vejam quem são esses sobre os quais o Luiz Inácio, na sua coragem, na sua grandeza, disse: a casa dos trezentos picaretas. Está lá! Votamos para quê? Para quê?! Para quê?! Cadê a imprensa? Foi lá que parou, e os aposentados, morrendo!

            Então, eles estão discutindo. Fizeram aqueles contratos dos velhinhos nas letrinhas pequenas. Os velhinhos têm vista cansada - é o que nós, médicos, chamamos de hipermetropia. E agora, além de não ter o aumento, além do fator, estão descontando 40% para os banqueiros. E os velhos estavam comprometidos com os seus filhos, com os netos - os velhos são bons -, fazendo a alegria da família e o sustentáculo.

            Paulo Duque, eu sei que você não é velho; está parecendo o Zidane, novo, robusto, mas vamos nos agregar a essa campanha do Paim e pressionar aquela Casa! Que dêem uma solução. É imoral e é indigno!

            Então, o PT passou a ser PB, partido dos banqueiros. Mas queríamos dizer o seguinte: com esses fatores todos, convocar...

            Agora chegou um do Pará ali, o Senador Flexa Ribeiro. Venha cá! Ó meu amigo do Pará, onde está o Mário Couto? Zoada doida, ia fazer greve de fome... Não ia tomar banho e tal para pressionar. Vamos continuar! Parou! Está morto! Está estagnado na Câmara.

            Aposentados não podem pressionar; eles não podem fazer greve, e estão morrendo, sacrificados, roubados, porque eles contribuíram. Depois daquela medida provisória que não os taxaram de novo... Nenhuma análise para acompanhar a inflação. Então essas são as nossas palavras.

            Olha, Jesus Cristo, quando veio ao mundo, disse - está ali o nosso Pastor Carvalho -: “Vinde a mim as criancinhas”. Demóstenes, se Jesus viesse ao mundo, este mundo perverso do Brasil que está aqui acabando com os nossos velhinhos, Senadora Marisa, Ele diria assim: “Vinde a mim os velhinhos sofridos, enganados, massacrados”.

            Então, convoco aqui todo o nosso PMDB, Wellington Salgado. Comecei com Juscelino Kubitschek e termino com ele por ser inspiração. Aquele otimista, sorridente e alegre homem disse: “A velhice é triste, mas, desamparada, é uma desgraça”. Senador, é o que está acontecendo com a nossa velhice e com os nossos hospitais.

            Vamos juntos melhorar as condições e devolver dignidade e felicidade aos nossos velhos aposentados.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/08/2008 - Página 29197