Discurso durante a 139ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do médico e geógrafo Josué de Castro pelo transcurso do centenário de seu nascimento.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do médico e geógrafo Josué de Castro pelo transcurso do centenário de seu nascimento.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2008 - Página 29548
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO, JOSUE DE CASTRO, MEDICO, ESCRITOR, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), LUTA, DEFINIÇÃO, SAUDE, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAUDE (OMS), COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, ESPECIFICAÇÃO, TRABALHO, FABRICA, MUNICIPIO, RECIFE (PE), ELOGIO, ATUAÇÃO, TENTATIVA, REDUÇÃO, FOME.
  • ELOGIO, JOSUE DE CASTRO, MEDICO, JOÃO GOULART, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, BUSCA, PAZ, COMENTARIO, HISTORIA, BRASIL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Cristovam Buarque, brasileiras e brasileiros, peço permissão para não citar o nome das autoridades já citadas: são tantas e tão importantes, que eu poderia esquecer alguns; o que, mesmo involuntariamente seria imperdoável. Assim, eu saudaria a todos, inspirado no Livro de Deus - “a árvore boa dá bons frutos” - na pessoa da Srª Anna Maria de Castro, esse bom fruto da árvore boa Josué de Castro.

Pedro Simon, atentai bem e sentai. Pedro Simon, como naquele Senado de vergonha, em que eles falavam “O Senado e o povo de Roma”, nós temos que falar: “O Senado e o povo do Brasil”, Professor Cristovam Buarque. Mas lá eles não conheciam o Pedro Simon e diziam que Cícero era o maior orador. Não é, não; é Pedro Simon. Mas o Cícero disse: “Nunca fale depois de um grande orador”. Aí é que está.

Essa Itália, que fez tanta confusão - mas, graças a Deus, está o Papa lá -, vê o Renascimento: Leornado da Vinci, Michelangelo, Rafael, Dante Alighieri. E Leonardo da Vinci, o seu líder maior, disse. “O mau discípulo é o que não suplanta o mestre”. Eu sou mau discípulo; o meu mestre é Pedro Simon. Não vou suplantá-lo nunca. Mas eu vou falar.

Pernambuco está aqui, mais vibrante do que quando dança frevo; está mais vibrante do que o Sport, o campeão do Brasil. Era uma obrigação de Pernambuco mostrar ao Brasil esse filho ilustre.

Mas eu venho dar o lado diferente, o de médico, da ciência médica. Aquele fez da ciência médica a mais humana das ciências. E foi, por intermédio dela, o grande benfeitor da humanidade.

E por que ele o fez?

A Organização Mundial da Saúde define o que é saúde: “O mais completo bem-estar físico, mental e social”. Não é apenas a ausência de enfermidade ou doença, é o mais completo bem-estar físico, mental e social.

Então nós, médicos, - ele, o símbolo grandioso da medicina - temos de, buscando o bem-estar social, combater o pauperismo, a miséria e a fome. Essa definição foi a vida de Josué de Castro. Esse é o nosso orgulho. Eu estou aqui como médico.

Este Senado tem melhorado, ô Pedro Simon! No começo - atentai bem, homens de Deus! - eram 42 brasileiros. Olha, havia 22 da justiça. De lá para cá, eles só fazem leis boas para eles. Veja quanto ganha um da justiça e quanto ganham aqueles profissionais, únicos, Pedro Simon, que são chamados mestres, os professores? Assim não nos chamam a nós, Senadores, não chamam aos Ministros, não chamam ao Presidente, não chamam aos banqueiros ou aos fazendeiros. Eram 22 que fizeram leis boas para eles. Basta que se veja o quanto eles ganham e quanto ganha a professorinha.

Até que falo em causa própria porque toda noite eu durmo abraçado com Adalgisa, que é professora. Mas eu sei quanto ganha uma professora.

Então, eu queria dizer que ele se entregou. E olha a escolha: foi fazer Nutrição. Pedro Simon, eram somente cinco doenças naquele tempo para Nutrição, para a especialidade dele: era botar as gordas magras, os magros gordos, era diabetes, gota e umas avitaminoses, como o escorbuto, e acabou. Mas nessa especialidade engrandeceu-se, foi a causa de tudo.

Esse homem, como médico, teve uma coragem ímpar. Ele teve um emprego numa fábrica grande do Recife. Aí, foi chamado pela diretoria. E ele disse que não dava jeito, porque, como médico, não iria resolver os problemas de saúde. Os problemas de saúde eram conseqüência do mal salário que eles pagavam. Aí, vinha a fome. Tiraram logo o homem. Ele foi na causa, lá, no Pernambuco: “Como vocês pagam mal, estão todos morrendo de fome”. Essa era a causa.

A Marina disse: “Esse é o sintoma; a causa é esta”.

Patrus Ananias, V. Exª é um homem de bem. V. Exª não é aloprado, não. Não deixe os aloprados ganharem dos homens de bem do partido de V. Exª, que é o partido que governa o Brasil.

Olha, eu queria dizer o seguinte: a convivência dele como médico, Cristovam. Eu quero dizer que me formei em Medicina em 1966, há 42 anos - 40 anos de casado e 42 de médico. Mas ele conviveu com um dos melhores médicos. Ô Cristovam - eu não sei se ele é vivo, V. Exª que simboliza Pernambuco. Eu acho que vocês erraram, vocês deviam ter escolhido o Cristovam Buarque para ser candidato único a Prefeito do Recife, ele que simboliza muito a grandeza na história do Recife.

Mas eu acho que tem que ser prestada uma homenagem. Padre Antonio Vieira, que já foi citado aqui, disse que um bem nunca vem só. Com quem ele conviveu na Medicina, o maior amigo dele? Arnaldo Marques. Olha ele tem um livro de Semiologia - naquele tempo havia poucos livros: Vieira Romeiro, Miguel Couto e o livro de Arnaldo Marques, de Pernambuco, o melhor de todos eles. E eu digo que ainda tenho; eu estudei em Fortaleza, depois fiz pós-graduação. A minha filha Daniela terminou agora, e eu ainda dei para ela o livro de Arnaldo Marques, Semiologia.

Era o grande amigo dele, ô Patrus Ananias, que o ajudou a eleger-se algumas vezes Deputado: Arnaldo Marques. Este merece uma homenagem. Estou dizendo porque é o melhor livro brasileiro de Semiologia dos anos 60. Nós íamos comprar livros na Argentina, e o Arnaldo Marques foi pioneiro. Isso engrandece o Nordeste.

Mas o bonito dele é a época! “O homem é o homem e suas circunstâncias”. Quem disse foi outro como ele, Ortega y Gasset. Ele lia muito Ortega Y Gasset. Mas ele viveu a Primeira Guerra. Olhai essa frase, ó representante de Deus, nosso Bispo. Ele viveu a Primeira Guerra Mundial. Escreva, ô Cristovam, no Buarque, nas escolas... Ah, se o Bush tivesse lido um livro dele! “Guerra à guerra”. Atentai bem para uma mensagem dessa! Ah, se o nosso Bush tivesse lido isso! “Guerra à guerra” - após a Primeira Guerra Mundial.

Ele era um profeta, mas não só falava; ele tinha ação. Palavras sem ação de nada valem. Ele nem se diplomou em Medicina porque tinha um compromisso no México. Isso aí é o que a gente sonha, que Simón Bolívar sonhou, esta América junta e reunida, que nós estamos tropeçando no Mercosul.

Aos que se assemelham a São Tomé, ouvi ontem o Pedro Simon contando o que é a Europa de hoje pela unificação. Nós estamos é nos dividindo, Patrus Ananias! Dá juízo a essa gente, esses Chávez da vida. Você é um homem de bem; eu o admiro. Você não é lá de Belo Horizonte? Juscelino Kubitschek. E trago dele aquela mensagem: “É melhor ser otimista. O otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errando”. Eu acho que o bem vai vencer o mal. V. Exª é um homem de bem.

O parlamentar que ele foi, assim como na Medicina tinha Arnaldo Marques, seu irmão camarada, médico brilhante, que precisa ser enaltecido pelos pernambucanos, na política, na política teve Francisco Julião. Devia ser cristão, com um nome como o meu. Meu nome não tem nada de Mão Santa: mão humanas de cirurgião que, guiadas por Deus, salvavam aqui e acolá. Agora, eu sou filho de mãe santa. Ela era Terceira Franciscana. Francisco talvez fosse o nome que atraísse. O maior amigo dele político foi o Francisco Julião. Francisco andava com a bandeira “paz e bem”. Então, acho que isso inspirou muito o nosso Josué de Castro a buscar a paz. E isso o fez admirar João Goulart.

Ô, Cristovam, V. Exª que sabe tudo, ou quase tudo... Pelo menos, tudo que eu perguntei V. Exª soube. E está ali você com sua esposa ali, todo tempo namorando. Parece eu e Adalgisa...

Mas é o seguinte: o que ele admirava no João Goulart? Paz. João Goulart foi um homem da paz. Para assumir no Brasil um mandato que era dele, próprio, todos nós sabemos... Ele chegou pelo Rio Grande do Sul, o cunhado, valente, queria que ele pegasse o III Exército e confrontasse. Ele, na paz, aceitou esse Congresso. Mudaram o regime. Tiraram o poder que ele tinha conquistado pela segunda vez, a sua segunda eleição. E para sair também ele saiu pela via da paz.

É preciso que se saiba História. Todos nós sabemos que foram os poderosos Bush do passado. Todos nós sabemos. O João Goulart tinha ido aos Estados Unidos e tinha, como Presidente, visto o poderio bélico. Ele sabia. Aquela aliança para o progresso foi o tombar da nossa democracia.

Olha, eu não tenho contra o Rio de Janeiro; eu sou é apaixonado e me formei em cirurgia lá, mas eles deram quatro vezes mais dinheiro para o Governador do Rio de Janeiro, que tinha 4 milhões de habitantes, do que pro Nordeste, que tinha 25 milhões. Aquilo foi para fomentar os direitistas.

Então, João Goulart tinha os seus. Quem não se lembra?

Ô Luiz Inácio, a História nos ensina: Brutus era forte; Júlio César, tombado; Marco Antônio faz o discurso; o seu sobrinho Brutus sai pelos fundos: Júlio César... João Goulart - permita-me, Patrus - era mais forte do que o Presidente Luiz Inácio hoje. Dia 13 de março de 1964, Rio de Janeiro, esplanada da estrada de ferro, duzentas mil pessoas; lá da minha Parnaíba, Custódio Amorim, José Tiago, líderes sindicais que foram ao comício. Eu vi! Dizem que ele bateu na cabeça, tinha um discurso escrito, esse negócio aí,... A mulher encantadora, subiu ao palanque, e ele fez um improviso, firme, duro, pedindo as reformas de base de que ainda hoje se fala, combatendo o latifúndio... E como mudou, não é?

Na hora, contudo, ele saiu na paz, apesar de ter muita gente para reagir. Essa era a admiração do Josué de Castro. João Goulart tem que ser visto como um homem da paz.

Eu queria terminar as nossas palavras dizendo que aqui o Pedro Simon falou tudo. Jesus não tinha a TV Senado. Aqui, há uma rádio AM, FM, e as outras copiam; de vez em quando sai na Hora do Brasil - eu saio pouco na Hora do Brasil, porque eles não entendem que a Oposição é necessária. Eu acho que eu sou o melhor amigo do Luiz Inácio. Eu vi, no México, um general que foi presidente, Obregón. Pedro Simon, quando for ao México, leia uma frase dele: “prefiro os adversários que me levam à verdade do que os meus aliados - aliás, que ele reconheceu no momento de muita lucidez, ‘aloprados’ - que me enganam”.

Eu trago a verdade de vez em quando. Eu aprendi com Cristo que disse: “Eu sou a verdade, o caminho e a vida”. E Ele falava e dizia: “De verdade em verdade, eu vos digo”. Ô, Pedro Simon, e o que o Cristo disse: Esse falava melhor do que você; em um minuto fez o Pai-Nosso, com 56 palavras. Você falou muito, mas levou muito tempo. O Cristo, em um minuto, fez o Pai-Nosso. A gente balbucia 56 palavras e nos transportamos daqui aos céus. Então, eu me inspiro no Pedro Simon. E ele disse: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Eu digo: bem-aventurado é Josué de Castro, que combateu a fome da humanidade.

Era o que eu tinha a dizer. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2008 - Página 29548