Discurso durante a 149ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à Maçonaria Brasileira, pelo transcurso do Dia do Maçom, e ao Grande Oriente do Brasil, pela celebração da data de sua criação, no dia 17 de junho de 1822.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à Maçonaria Brasileira, pelo transcurso do Dia do Maçom, e ao Grande Oriente do Brasil, pela celebração da data de sua criação, no dia 17 de junho de 1822.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2008 - Página 31173
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MAÇONARIA, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, LOJA, BRASIL, ELOGIO, ATUAÇÃO, DEPOIMENTO, ORADOR, RECEBIMENTO, AUXILIO, MEMBROS.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mozarildo Cavalcanti, que preside esta bela homenagem que o Senado da República faz à Maçonaria, Parlamentares presentes, eu pediria permissão - tantas são as lideranças maçônicas e lideranças do Brasil aqui presentes neste evento, tantas são que eu poderia esquecer alguns, o que, mesmo involuntariamente, seria imperdoável - para saudar todos na pessoa que, embora hierarquicamente pode não ser de direito, tem muito a ver com o fato. Ali em cima está Rui Barbosa, que nunca chegou à Presidência da República, mas ninguém nunca traduz os sentimentos da República e as bases de ética que ela deve ter como Rui Barbosa. Assim, peço permissão para saudar a todos os líderes maçônicos na pessoa deste extraordinário maçom, Senador Mozarildo Cavalcanti. (Palmas.)

Meus senhores, encantadoras senhoras aqui presentes, Mozarildo, estava lendo apressadamente aquele livro que traz pronunciamentos que traduzem a grandeza deste Senado. Trata-se de pronunciamentos ao longo dos anos feitos, sem dúvida nenhuma, Sr. Grão-Mestre da Maçonaria brasileira, Marcos José da Silva, com significado. Li apressadamente e vi que, nesses 183 anos, nesta Casa, que representa o melhor da história do Brasil, todos testemunhavam a grandeza. Então, ali está o atestado - foi uma feliz idéia do nosso Senador que lidera a Maçonaria aqui, o nosso Mozarildo Cavalcanti com o Efraim Morais - que ficará para a posteridade, esse reconhecimento e essa gratidão do Congresso.

Mas o que eu queria dizer é que tenho vindo aqui acho que quase todas vezes mais pelo encantamento que tenho desde criança. O irmão de meu avô, Francisco Morais Correia, é patrono de uma loja maçônica na minha cidade, mas eu vou falar, com muita franqueza: eu não sou maçom. Hoje estou começando a entender as coisas. Fui muito devotado ao estudo da medicina e da cirurgia depois. E, como o Mozarildo, nós entendemos que a ciência médica é a mais humana das ciências, e o médico um benfeitor da humanidade.

Então, muito devotado, não meditei filosoficamente, mas procurei aprender, e aqui esse estudo se aprofundou. O meu mestre foi Mozarildo, daí a gratidão.

Aprendi, convivi. Lembro-me, Mozarildo, de que, no comecinho do mandato, o Tasso Jereissati, meu vizinho, governamos os Estados - fui uma vez prefeito e duas vezes governador; ele o foi por três vezes do Ceará, então temos a maior amizade - e eu andávamos pelo túnel. Isso, repito, foi no começo - Mozarildo já era estudante aqui do Senado. Nós vínhamos naquele corredor que se chama Petrônio Portella, do nosso Piauí, o túnel, aí o Tasso disse: “Mão Santa, o que você está achando disso?”. Ele, um empresário de ação; eu, um médico cirurgião, que, às vezes, dá certo na política. Juscelino, mesmo cassado, ele estava bem aí, ainda hoje perdura o exemplo. Aí ele perguntou: “O que você está achando disso, Mão Santa?” Aí eu disse: “Olha, Tasso, isto aqui estou aceitando como se a gente fosse fazer uma pós-graduação, um mestrado. Nós acabamos de sair da CAE - Comissão de Assuntos Econômicos, onde se assina ponto, discute-se, são aulas de grupo como numa faculdade, e tem até um diretor, que já está buzinando” - era o Sarney. “Isso parece um curso de pós-graduação”. E eu ainda entendo isto: a gente estuda os problemas brasileiros. E a gente aprende muito. Eu aprendi muito com o Mozarildo Cavalcanti.

Então, eu não podia faltar.

Mas o que eu queria dizer é da minha: encantado, curso de medicina, o nome do meu tio, irmão de meu avô, nos preenchia de orgulho, aí convidaram e tal, e eu queria era operar numa Santa Casa. Era operar, operar. Lembro-me de que eu operava numa Santa Casa, a freira chegava e dizia: “Doutor, tem cinco”. Eu digo: “Bota cinco”. Santa Casa atendia, naquele tempo, indigente. Era tudo de graça. Dinheiro é bom. Quem vai dizer que não é? Sou do Calvino, aquele que foi o homem, Calvino, o religioso, luterano que dizia que dinheiro, faz bem, na reforma. Não acredito naquela que a minha igreja diz: “É mais fácil um camelo passar no fundo da agulha do que um rico entrar no reino do céu”. Eu sou Calvino. Dinheiro é bom. Mas aí, Mozarildo, eu raciocinava assim: não vou ganhar dinheiro nenhum, mas vou ganhar experiência e fazer o bem. O bem é bom. O meu professor de faculdade e paraninfo disse: “Como é bom ser bom!”. Aí fui levando.

A Maçonaria, eu tinha medo, porque diziam que tinha um tal de um segredo,.e eu pensei que contaria. Todo mundo me conhece lá da minha cidade, não sou baú, não, não me conte segredo, não. Mas fui pensar que isso era defeito, que ia me estigmatizar. Mas aí, eu lendo Tancredo Neves, vi que tem uma passagem muito interessante: um correligionário dele cochichou-lhe um segredo e, quando viu, Tancredo já estava contando ali. E ele disse: “Rapaz, mas eu lhe contei em forma de segredo”. E ele disse: “Ora, se o segredo era teu e tu não guardaste, eu vou guardar?.

Então, eu tinha medo desse negócio, rapaz! Eu vou, jogo esse segredo no mundo aí e depois... Mas aí fui convivendo e eu digo aqui: Cristo passou no mundo, jogaram pedra numa mulher e ele disse: “Atire a primeira pedra quem não tiver pecados”. Todo mundo parou. E eu aqui, sem ser maçom, digo agora: não comemore esse dia aquele que não foi ajudado por um maçom no Brasil. Eu vou cantar as ajudas que tive.

Primeiro, eu, rebelde - este País estava na ditadura mesmo, e Ulysses, encantado no fundo do mar, começou essa história em 74. Em 1972, nós lideramos, na cidade de Parnaíba, a tomada da Prefeitura da ditadura. Foi confusão, muita, isso daria um livro. Está ali o Elmano Ferrer, eu não vou contar. Vocês imaginam o que era eu, novinho, chegando e liderar. Olha a confusão, muito antes de Ulysses. Por isso é que eu bato aqui e digo: o PMDB de vergonha, meu e nosso, de Ulysses, de Tancredo, que se imolou, de Teotônio Vilela, moribundo aqui, com câncer, de Juscelino, humilhado e cassado, de Mário Covas. É este que nós representamos.

Então, confusão houve muita. Aí eu trabalhava muito, muito, sempre.

Eu acredito no que Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. E mais ainda no apóstolo Paulo, que disse: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”. Eu acredito no trabalho, no amor, na família e em muitas coisas que eu vi na Maçonaria.

Mas, Mozarildo - e está ali o Elmano Ferrer, a quem também devo outro favor - eu era cirurgião do INPS, concursado. Mas, com esse feito de tomar a maior cidade do Piauí da ditadura, eles disseram: “Ele só ganha pela operação”. Um negócio injusto, Mozarildo. Os que são médicos me entendem mais. No meu tempo, cirurgião era um clínico que operava. Hoje, é sofisticado, as máquinas fazem o diagnóstico. No me tempo, era a gente. Então, eu tinha que consultar, fazer o diagnóstico e tinha que acompanhar o doente. Mozarildo, se fosse nessa tabela de hoje, já tinha morrido há muito tempo porque hoje está pior. Mas era injusto. De uma facada, eu ganhava ali o ato cirúrgico. Mas aquilo, às vezes, complicava, porque há os acompanhamentos. E não ganhava nada. E a consulta? Não conseguia; pelo contrário, eu fui acusado de subversivo, fui aos tribunais. Aquele Flávio Teixeira de Abreu me defendeu. A nossa estrada foi longa e sinuosa. Elmano Ferrer e eu, sofrendo ali. Aí, um dia, eu disse: “Eu vou dar consultas aqui para valer”. Aí, atendia até de madrugada, pegando os papéis. Mozarildo, você sabe como é. Eu tinha fama como médico, atendia até a madrugada. Olhem, eu tinha uns oitocentos papeizinhos dados pelo INPS.

Como disse Rui Barbosa, “quem não luta pelos direitos não merece viver”. Peguei - naquele tempo era um Marimbá - Piçarra/Teresina. Estou falando com Elmano Ferrer porque ele via. Isso era no começo dos anos setenta. Eu disse: “não é possível, eu vou argumentar, não tem jeito”. Sabem como é na ditadura, os chefes, era um negócio meio duro. Eu só ganhava ali o seco, e estava difícil, nascendo os meninos. Levei aquilo, peguei o ônibus, fui ao INPS, subi lá. Deus me ajudou. O chefe mesmo me atendeu, entrei e ele me atendeu. Eu contei isso, disse: “Rapaz, não está direito. Domingo eu vou ao hospital. E só aqui, o ato. Todo mundo ganha”. E levei as consultas: “Estão aqui”. Eu quero agradecer agora a Bernardo Sampaio. Ele é líder maçônico lá, não sei. O Elmano bateu a cabeça ali. Bernardo Sampaio Pereira. Ele olhou assim, não temeu negócio de ditadura, não temeu o fato de eu ser contra eles, eu era PMDB. Ele disse: “Você vai ganhar”. Fez lá uma burocracia, e eu estou aqui. Com isso, eu eduquei com muita dignidade a minha família, meus filhos. Possibilitou-me ganhar por aquelas consultas. O Mozarildo entende bem o que é isso, aqueles credenciamentos. Passei a ganhar. Então, eu tenho uma gratidão por ele.. Ele era líder maçônico, uma figura respeitável. Ô homem bom, ô homem bacana! Depois do meu pai, eu devo mais é a ele, porque isso significou muito para mim.

Aí, de repente, na carreira política, os desígnios de Deus, fui Deputado, fui Prefeito. Aí me botaram nesse negócio de Governador. Quero confessar outra gratidão. Aperreado, diziam que o candidato do Governo tinha 76% e eu tinha 4%. Está vendo, Mozarildo? Aí eu entrei nesse negócio. Acho que eles foram me buscar como boi de piranha, o Dr. Roberto Silva e os outros, “esse cara não vai”. Mas, além dos Partidos, tive uma força muito importante da minha classe médica. Deus me inspirou naquela confusão doida. Tinha um Dr. Valdir Edson, um médico pneumologista, cearense, que morava na minha cidade. Eu via o Dr. Valdir Edson sempre de preto nos enterros, com os maçons. E eu disse a ele: “Valdir Edson, rapaz, estou nessa confusão aí”. Ele era líder, vamos dizer classista, eu nunca me envolvi, sempre votava nele. “Rapaz, faz uma carta para esses médicos do Piauí todos, porque tu és mais culto que eu, mais preparado que eu. Pega a minha assinatura e manda”.

Ele fez isso, e acho que foi mais forte do que partido. Todos os médicos praticamente nos apoiaram. Ele, muito jovem, morreu.

Nesse imbróglio, os outros candidatos tinham estrutura. Aliás um dos candidatos do PT, um homem muito honrado, Nazareno Fonteles, era do Partido, mas o mais forte era do Governo, da estrutura oligárquica. Era um professor, decente, Deputado Federal. Ele tinha uma estrutura muito grande, e vou lhe dizer: eu não conhecia o Piauí mesmo, não. Meu mundo era a Parnaíba. É o melhor lugar do mundo. Os senhores que não conhecem vão conhecer. Parnaíba é lá no delta. O rio não se abre bobamente como o Amazonas. Ele se abre como se estivesse abraçando, lembrando a letra grega “delta”. Ninguém sabe grego, eu não sei, mas vou explicar: ele se abre assim, em cinco rios, lembrando uma mão - com certeza santa - porque forma 78 ilhas. Um terço é do Piauí; dois terços, do Maranhão.

No Piauí, nasceu o maior, o único comparável a Rui Barbosa: Evandro Lins e Silva, na Ilha Grande de Santa Isabel. Quero dizer que viemos dali e que somos orgulhosos disso.

Entrei na campanha, e o outro era muito forte, tinha estrutura. Eu me lembro de que eu ia ao debate e, por causa do outro, não havia nem lugar para os técnicos no auditório todo.

Aí fui buscar um mestre. Não conheço mesmo esse Piauí, não. Conheço Fortaleza, Rio de Janeiro e Buenos Aires, onde eu ia comprar livro, naquele tempo, espanhol. Casado com Adalgisa, dançava tango, ia por lá, ouvia aquela história da Eva Perón e tal. Conhecia não. Eles começaram a dizer: “Esse Mão Santa não conhece nem o Piauí”. Eu dizia: “Eu não conheço mesmo. Eu não sou hippie.” O Piauí é comprido. O que eu tinha que ir para lá? Eu tinha era que estudar, morar. Tinha sido Deputado na minha cidade.

Quem ia me preparar? Fui buscar aquele Elmano Ferrer, um homem de bem, um homem orgulhoso. Dizem que o Prefeito de Teresina está disparado, mas é porque o Vice-Prefeito é Elmano Ferrer, bem melhor do que ele. Ele é um dos maiores valores. Aliás, ele é do partido do Senador João Vicente Claudino. Eu acho que ele é o camisa dez do PTB lá. Ele está ali. Foi ele que me preparou. Ele tinha sido Secretário de Planejamento. Eu sabia de Medicina, de cirurgia e de minha cidade. Então, é uma gratidão que temos muito grande à maçonaria.

Hoje, quero dizer o que penso: descobri o segredo. Mozarildo, agora, vou botar o segredo de vocês neste mundo. Essa TV Senado... Fico impressionado! Carente o povo brasileiro de uma verdade, os senhores estão longe de imaginar a audiência. E peguei logo isso cedo, cedo.

Campos do Jordão. Um homem muito culto, meu amigo, empresário Ari me disse que era o lugar mais agradável do Brasil. Ari Magalhães foi até meu candidato a Senador, homem honrado, foi Deputado Federal, o melhor Secretário de Fazenda, homem extraordinário. Com minha Adalgisa, chegou julho, e eu aqui, neste Senado, disse: “Vou a Campos do Jordão”. E fui. É uma beleza! Você já foi, Mozarildo? Leve lá sua esposa. Tem que sair namorando por aí. Fomos lá para aquele festival de inverno. Quando saí da igreja - sou católico, meu nome é Francisco, nome cristão, paz e bem -, domingo, com Adalgisa, em Campos do Jordão, quatro pessoas perguntaram: “Você é o Senador Mão Santa?” Pensei: aqui? Se fosse no Ceará, no Maranhão, ali vizinho, mas em Campos do Jordão? Aí comecei a raciocinar. Um tinha sido Deputado Federal do Amazonas, outro era professor, o outro médico e o outro corretor. Fiquei impressionado com isso. Logo em julho. Mozarildo estava aqui, não é? É a TV.

Vivi outro episódio como esse em Miami. Em Buenos Aires, saí. No Señor Tango, começaram a tirar retrato.

Vou dizer o segredo da maçonaria aqui. O segredo vai acabar.

A República, como foi dito, sei da cultura e de toda a história da República, daquele grito por liberdade, igualdade e fraternidade que fez tombar reis, fez o l’État c’est moi ser dividido entre poderes que chamo de instrumentos da democracia - poder é o povo. Eles que trouxeram isso para cá, Gonçalves Ledo e outros. Fizeram um estudo, já o sabemos, já foi bem dito.

Mas quero acabar com esse segredo. Não temo que a mocidade procure e entre de peito aberto, assine o livro da maçonaria. Fiquei temeroso. O segredo é o seguinte: gosto de História. Segundo a História, o filósofo Diógenes andava pela velha Grécia, em Atenas, com a lamparina toda a noite; toda a noite, acendia a lamparina e passava noite adentro percorrendo as ruas de Atenas. Aí foram a ele e perguntaram: “Ó Diógenes, o que tanto você procura? Um homem de vergonha?” Ó Brasil, ó mundo, os homens de vergonha que Diógenes procurava, na velha Grécia, estão na maçonaria do meu Brasil.

Sejam fortes, bravos e felizes. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2008 - Página 31173