Discurso durante a 165ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

A dimensão estratégica do pré-sal para o Brasil, cuja primeira extração se deu nesta semana.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • A dimensão estratégica do pré-sal para o Brasil, cuja primeira extração se deu nesta semana.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2008 - Página 36897
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • ANALISE, AUTO SUFICIENCIA, PETROLEO, BRASIL, CRESCIMENTO, PRODUÇÃO, ALCOOL, PREVISÃO, SUPERIORIDADE, EXPORTAÇÃO, GASOLINA, MISTURA, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO.
  • SAUDAÇÃO, INICIO, EXTRAÇÃO, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL, POSSIBILIDADE, REFINAÇÃO, PAIS, FORNECIMENTO, RECURSOS, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, AUMENTO, PRODUÇÃO, ALCOOL, OPORTUNIDADE, IMPLEMENTAÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL, DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, APRESENTAÇÃO, DADOS, JAZIDAS, IMPORTANCIA, DEBATE, CONTROLE, MATRIZ ENERGETICA, DEFESA, ATUALIZAÇÃO, LEGISLAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, POSSE, EXPLORAÇÃO, RIQUEZAS, ATENDIMENTO, INTERESSE NACIONAL.
  • ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DE MINAS E ENERGIA (MME), RETIRADA, JAZIDAS, RESERVATORIO, SAL, PROCESSO, CONCESSÃO, CONCLAMAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO, SENADO, GARANTIA, LEGISLAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, ROYALTIES, FEDERAÇÃO, SUGESTÃO, PRIORIDADE, ASSUNTO, FORO, DISCUSSÃO, DECISÃO, RESPONSABILIDADE, ETICA, FUTURO, BRASILEIROS.

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, Srªs e Srs. Senadores, o País levou meio século para conseguir a auto-suficiência de petróleo, com a ajuda da Petrobras. Foi uma longa e dura jornada...

O controle das reservas, bem como de sua exploração e distribuição, é condição crítica para a manutenção e ampliação da competitividade da economia.

Tal controle, Sr. Presidente, representa um fator de desequilíbrio entre as nações. Parte dos conflitos internacionais tem como pano de fundo as disputas por petróleo e fontes alternativas de energia.

A energia é essencial para o desenvolvimento, que vai gerar mais justiça social, aspiração fundamental de todos os países.

Uma das matrizes em que o Brasil se especializou ao longo dos anos é o etanol, uma fonte limpa, renovável e praticamente inesgotável.

            Depois de altos e baixos, o setor vive um de seus melhores momentos, com um plano de expandir a produção para exportá-la em nível global. E Alagoas, Sr. Presidente, como maior produtor de cana do Nordeste, terá, sem dúvida, lugar de destaque.

De acordo com uma pesquisa da Unicamp, o etanol brasileiro poderá substituir 10% da gasolina no mercado mundial em 20 anos.

Tal levantamento indicou que, para o Brasil chegar a essa posição, será necessário investir R$20 bilhões anuais em produção e logística. A estratégia pode ser a de exportar gasolina já misturada com etanol, em até 25%, como no mercado doméstico.

Nessa linha, Sr. Presidente, as novas descobertas do pré-sal ganham uma surpreendente dimensão estratégica para o Brasil.

Suas gigantescas reservas de petróleo leve serão exploradas e refinadas internamente, conduzindo o País a um grande crescimento da produção de etanol para exportação de ambos.

A primeira extração do pré-sal ocorreu nesta semana num poço, no Campo de Jubarte, que estará interligado à plataforma P-34.

Este poço está localizado a 70km da costa do Espírito Santo, com o óleo sendo extraído a 4.700 metros de profundidade. A previsão é de que o poço tenha vazão de até 18 mil barris de petróleo por dia.

De acordo com estimativas, o Brasil possui reservatórios que permitem supor reserva entre 70 bilhões e 90 bilhões de barris de óleo na camada de pré-sal.

Na hipótese mais realista, essas reservas elevariam o cacife brasileiro para 104 bilhões de barris, apenas 10% abaixo do Iraque, segunda maior potência do Planeta.

A produção diária brasileira, nesse caso, poderia evoluir dos atuais dois milhões para até dez milhões de barris, gerando exportações de até US$100 bilhões anuais a partir de 2020.

São números, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que atestam a relevância estratégica do debate sobre o controle de nossa matriz energética. Recentemente, os Estados Unidos anunciaram a reativação de uma de suas frotas justamente em nossa região.

Para se ter uma idéia, o banco de dados da ANP que armazena os números de sísmica e as informações relativas aos métodos usados nas prospecções são sigilosos. Muitas dessas informações só podem ser divulgadas após determinado prazo, que pode chegar a cinco anos, dependendo do dado.

A descoberta do pré-sal, Sr. Presidente, permite visualizarmos uma nova realidade para o País. A riqueza ali existente poderá reinserir o Brasil, de uma forma diferenciada, no mundo globalizado. Arrisco dizer que a história econômica e social do País poderá ser dividida em antes e depois do pré-sal.

Assim, dependendo das decisões que tomarmos hoje quanto ao tipo de desenvolvimento que queremos para o nosso País, teremos amplas condições de corrigir a difícil situação social do nosso povo.

A exploração dessa riqueza deve ser combinada com uma política industrial nacional, capaz de recuperar a capacidade da produção brasileira e, inclusive, impulsionar também o nosso desenvolvimento científico e tecnológico. A geração de empregos será uma conseqüência inevitável de um ótimo cenário para a economia.

Por tudo isso - volto a alertar -, temos de refletir bem e debater todas as questões relacionadas ao pré-sal.

Quem deverá explorar essas riquezas? Como isso deve acontecer? A quem deve pertencer e para quem os resultados devem ser direcionados? Esses e outros questionamentos são respondidos pela legislação que normatiza a atividade petrolífera no Brasil.

Por isso, Sr. Presidente, o aspecto central e estratégico desse debate está na definição do marco regulatório. É fundamental definirmos uma legislação atualizada para o petróleo. Será por meio do marco regulatório que poderemos garantir a posse e a exploração dessa riqueza, em nome dos interesses nacionais, atendendo às necessidades de desenvolvimento econômico e social do povo brasileiro.

Com esse instrumento, e com o amparo de nossas instituições, também poderemos evitar a dilapidação desse patrimônio. Por isso, Sr. Presidente, considero acertada a decisão do Governo de retirar essas reservas do processo das concessões sob a regra atual.

O desafio agora é garantirmos uma nova legislação, constituída a partir de premissas que dêem ao povo brasileiro segurança de que a sua descoberta energética será explorada. Fica evidente o papel que o Congresso Nacional, especialmente o Senado Federal, terá neste momento, assim como o dos órgãos governamentais que irão gerir esses recursos.

A Petrobras, na pessoa de seu Presidente Sérgio Gabrielli, é um exemplo de empresa moderna e eficiente.

O PMDB poderá contribuir enormemente, através de suas lideranças, de suas bancadas e de seus representantes na coalizão de Governo, como o Ministro Edison Lobão.

Aliás, o Ministro das Minas e Energia tem se mostrado um homem público consciente e antenado com as necessidades de nosso País e deverá, Srs. Senadores, ajudar a conduzir esse assunto com extremo bom senso - tenho absoluta certeza.

Nós podemos e devemos assumir um papel pró-ativo nas discussões do pré-sal, porque questões relativas ao tema, como a distribuição dos royalties da exploração petrolífera, no âmbito federativo, são de competência do Senado Federal, que, como se sabe, é a Casa da Federação.

Os aspectos sociais, econômicos e de segurança jurídica da exploração do pré-sal estão sendo avaliados pelo Governo, por instituições do setor privado e pela comunidade acadêmica também. É chegada a hora de nós, Senadores, participarmos ativamente desse debate.

Estou me associando, neste momento, ao Presidente Garibaldi Alves Filho e a outros Senadores, como Renato Casagrande, Delcídio Amaral e Francisco Dornelles, que já se manifestaram favoravelmente à inserção do Senado da República nas discussões do pré-sal.

Para isso, Srs. Senadores, gostaria de sugerir que, este ano, o Fórum Senado Debate Brasil, evento que já faz parte do calendário desta Casa, trouxesse como principal eixo o pré-sal. Acredito que essa iniciativa, além dos debates nas comissões, ajudarão a democratizar ainda mais essa discussão, que é, verdadeiramente, Senador Alvaro Dias, de interesse nacional.

O Brasil tem pressa. Sua desigualdade social e seu povo não podem esperar. Mas não é e não será por falta de riqueza que faltarão educação, saúde, segurança pública e qualidade de vida para a grande maioria do nosso povo. 

A dimensão das descobertas do pré-sal e a responsabilidade ética com as futuras gerações exigem decisões abertas, em conjunto com a sociedade. E é isso o que pretendemos continuar fazendo aqui no Senado Federal.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2008 - Página 36897